Vi a Quadratura em diferido, dado que ontem à hora da emissão valores mais altos se alevantaram.
O tema principal foi o Tribunal Constitucional, com o desempenho habitual dos protagonistas: Pacheco espumando ódio aos responsáveis políticos actuais, culpados de o ignorarem, e, no caso do Primeiro-Ministro, também por às vezes ter sorrisinhos enquanto vai fazendo maldades, Costa rebrilhando de satisfação porque todos os dias se sente mais próximo de um destino glorioso, e dizendo aquelas coisas redondas que sabe dizer; Lobo Xavier suando as estopinhas para ir salientando algumas evidências sem ofender nenhum dos parceiros.
Já perto do fim, Pacheco rapa de um argumento de tomo: imaginem que um governo chavista (sabem, aquele de Chávez) resolvia confiscar 70% dos bens de todos os ricos por causa da situação difícil do país; diriam que isso ofendia o direito de propriedade, constitucionalmente protegido, sim ou não? Por que razão então acham mal que o Tribunal se oponha ao confisco dos rendimentos de uma maioria (a que menos tem) da população?
Pacheco ficou sem resposta, porque o tempo não chega para tudo, e chegou a vez de Costa falar, que veio a despropósito com uma historieta sobre a hierarquia das leis.
Sucede que a propriedade é rendimento disponível (pós-impostos) passado e investido, em vez de consumido; e o rendimento é actual e futuro. Donde, confiscar a propriedade não é a mesma coisa que impostar o rendimento, do trabalho ou de outras fontes. Depois, o que o Governo tem feito é cortar nas despesas do Estado, a eito e criticavelmente decerto, mas pouco; e aumentando os impostos - muito. Mas isto não é o cavalo de batalha de Pacheco, as suas investidas são outras:
Gosta muito de Cavaco, que todavia entende não fazer o que deve; quer a demissão do Governo, que tem apoio parlamentar maioritário, para, em nome da estabilidade, termos um novo, que não o terá; dá a sua caução à reunião da Aula Magna, mas não é comunista, nem revolucionário, nem soarista, nem da CGTP, nem abrilista; quer que o país pague o que deve, e que se mantenha na UE e no Euro, mas sem recessão; que se reforme o Estado, mas sem despedimentos nem cortes de salários; e, sobretudo,
Quer eleições, mas não quer saber do PS, que acha um desastre, para nada. Parece que, em havendo eleições, surgirá um novo Primeiro-ministro do PSD, da facção pachequiana, possivelmente Manuela Ferreira Leite, não obstante as ganhar o PS, o qual, entretanto, depois de consultado Pacheco, se livrará da não-pessoa que actualmente o capitaneia.
Tudo isto é muitíssimo subtil. Quem me dera ser filósofo, morar na Marmeleira, e ser especialista na história do PCP - podia ser que percebesse.
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