Vai um escarcéu sobre os vencimentos da turma que vai descomandar a Caixa Geral de Depósitos. Compreende-se: aquele banco é nosso, não cessamos de meter lá dinheiro, e de cada vez que uma administração dá com os burros na água (todas dão, desde a crise de 2008) o governo do dia nomeia outra revoada de gente que lhe seja mais simpática, ou mais flexível por ficar grata pela nomeação. Esta vai custar, no mínimo, e só na parte da Comissão Executiva, 2.465 milhões de Euros por ano. Os inúteis não executivos, que se reunirão periodicamente para apreciar o café, comentar a actualidade, informar os restantes de como lhes corre a vidinha, e fingir que vigiam os executivos, custarão, cada um, 49 mil Euros - uma pechincha portanto, embora o seu número, ainda que desse para fazer uma equipa de futebol, corra o risco de sobrecarregar o serviço de catering.
Salvo por dois ou três casos, não faço ideia de quem sejam os novos milionários da parasitagem. O presidente apresenta-se com o cartão-de-visita de ter sido vice-presidente do BPI durante longos anos, uma contraindicação: o BPI foi salvo com empréstimos e garantias do Estado, já foi o grande banco que agora não é, e tem como única distinção ser presidido por um bancário de arribação que com frequência se alivia publicamente de opiniões surpreendentemente razoáveis, razoabilidade que todavia esteve sempre ausente da sua gestão. Do elenco faz parte Emídio Rui Vilar, uma rolha do regime especialista em consensos, banalidades e chulices várias e, se ainda não caiu fora, Leonor Beleza, que faria bem não se meter nestas alhadas que lhe deslustram o nome.
Sabemos o que vai suceder: ou o BCE cria condições para a banca recomeçar a ganhar dinheiro (o assalto aos depositantes e clientes cativos, com a conivência do Banco de Portugal, não chega) e à nova administração serão atribuídos os prémios previstos, que anularão os impostos que pagarão sobre estes salários, ou, daqui a uns anos, cá estaremos para novo aumento de capital. No intervalo, a natureza das coisas fará com que os balcões sejam cada vez menos, cada vez menos os funcionários, e cada vez mais impessoais os serviços. E isso acontecerá inelutavelmente, quer o saibam quer não estes gestores de aviário. Só não aconteceu ainda ao ritmo que sucederia naturalmente porque os mecanismos de selecção de empresas e de concorrência que regulam a actividade económica não estão presentes no sector bancário, nem a administração depende realmente dos clientes ou dos accionistas, nem a sua escolha se faz exclusivamente por critérios de mérito. Não é impossível que a actividade bancária venha a revestir formas inesperadas, nem que haja um regresso a formas caídas em desuso de relacionamento com as empresas, mas a inovação, a acontecer, não virá por um banco público, nem por gestores viciados na mesmice que conhecem.
Como deve então o cidadão que paga este forró, quer saiba quer não saiba que do que estamos aqui a falar não é de capitalismo mas da sua variedade crony, encarar este momentoso assunto?
Ponderei longamente. E com o intuito de indicar o caminho às massas anelantes, e de subtrair aos senhores deputados o trabalho de reflectirem, poupando-nos a nós o risco de tropeçarmos em mais um diploma redigido com os pés, elaborei uma proposta de lei que regula estas matérias de forma satisfatória.
Está aqui, mas levanto o véu: logo no artº 1º aparece a frase "... não podem perceber remuneração superior à atribuída aos Ministros de Estado".
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