Hoje oferecemos mais uma edição do nosso interessante passatempo "Descubra as diferenças", que alguns dos mais velhos de nós recordarão do saudoso "Diário Popular".
Em Angola, um bando de patetas decidiu reunir-se para fazer a leitura colectiva de um guião para a insurreição, uma espécie de "Que fazer?" do Vladimir Ilitch Ulyanov com um século de atraso, de sua graça "Ferramentas para destruir o ditador e evitar nova ditadura — Filosofia Política da Libertação para Angola" da autoria de um deles. Quando estavam na leitura do capítulo 7 apareceu a polícia e levou todos presos, com receio que aquele grupinho de tontos a conspirar para derrubar a ditadura fosse uma ameaça real ao regime. Os regimes comunistas não brincam em serviço. Fizeram greve de fome em protesto contra a prisão e o Bloco de Esquerda inaugurou a legislatura em Portugal com uma pantomina de apelo à sua libertação, abundantemente fotografada e mostrada por todos os jornais.
Em Portugal, um bando de patetas decidiu reunir-se para fazer a rentrée política do partido do governo e assistir à apresentação de um guião para a insurreição, uma espécie de "Que roubar?" do José Sócrates Pinto de Sousa, e, além de ovacionar a oradora Vladimira Ilitcha Mortaguanova (*) quando ela os desafiou a "perder a vergonha de ir buscar dinheiro a quem está a acumular" e lhes lançou o repto de "pensar sobre o que representa o capitalismo e até onde está disposto a ir para constituir uma alternativa global ao sistema capitalista", ainda lhe dedicaram olhares de desvelo e carinho que qualquer um de nós não desdenharia dedicar aos nossos animais de companhia quando fazem gracinhas que nos enternecem.
Enquanto em Angola, o país da engrenagem e da enxada, o governo prende os insurrecionistas com medo que façam uma revolução, em Portugal, o país da rosa, o governo adopta-os como animais de companhia e encanta-se com as suas gracinhas. Portugal vai muito mais à frente no campo da insurreição.
* Nome propositadamente alterado para proteger a privacidade da oradora.
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