Uma das consequências da formação de um governo pelo partido que perdeu as eleições para salvar in-extremis o coiro do dirigente que correu com o antecessor, que só tinha somado vitórias eleitorais, com o pretexto que as ganhava, mas por pouco, foi a extinção para sempre das maiorias relativas no sistema político português, que os socialistas e a esquerdalhada sempre consideraram mais virtuosas que as absolutas por, alegadamente, prevenirem os abusos de poder que as absolutas facilitavam.
Outra foi a desgraduação de qualquer debate político com o primeiro-ministro para o nível do esgoto, e esgoto porque o que chega à boca do António Costa lhe vem do tubo digestivo, e não do cérebro, em que qualquer oposicionista com funções institucionais é incapaz de lhe responder adequadamente.
Sugeriu agora ao Passos Coelho que deixe de falar em resgates e "...quem anda à procura de encontrar o diabo mais vale dedicar-se à caça de pokémons, porque caçar pokémons é mais fácil do que encontrar o diabo". E isto é um desafio a que é quase impossível dar uma resposta adequada, simultaneamente na forma e no conteúdo. E o Passos Coelho foi, de facto, incapaz de dar a resposta que a sugestão merecia, tendo-se limitado a, provavelmente por ter recebido dos pais uma educação de pessoa normal, distanciar-se higienicamente da pocilga, evitando comentá-la.
Não tivesse ele as responsabilidades públicas que tem, e poderia talvez ter ensaiado uma resposta adequada no plano da forma. Não é difícil, mesmo a um lisboeta que apenas passou em Melgaço todas as férias grandes da infância e da adolescência, como eu, formular uma. Podia, por exemplo, ter dito algo como "...caçar pokemons? Só se for na cona da mãe dele!". E o Passos Coelho não cresceu como um lisboeta com estágios em Melgaço, cresceu mesmo no Norte, de modo que deve ter competência para, pelo menos, formular respostas como esta.
Mas seria uma resposta como esta, inequivocamente adequada no plano da forma, também adequada no do conteúdo? Infelizmente, não. A resposta adequada no plano do conteúdo deveria ser algo como "...quem anda a falar em resgates são os ministros do António Costa, ele que lhes dê sugestões a eles se não é capaz de lhes controlar as asneiras".
Já a resposta adequada, simultaneamente no plano da forma e no do conteúdo, não está ao alcance de qualquer um, e, mesmo os que são capazes de a formular, nunca o fariam num blogue dedicado à Literatura e frequentado por famílias. De modo que me fico por dizer, pedindo aos leitores algum crédito naquilo que digo, que ela existe e é formulável.
De resto, o António Costa pode ser um dos poucos políticos correctíssimos. Mas só aberrações da natureza como o primo dele é que dão por isso.
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