O Francisco Louçã diz, com o tom de voz que o Manuel Alegre lhe baptizou uma vez, antes de terem sido companheiros de estrada e de o seu apoio e o do BE terem sido decisivos para, em conjunto com o do PS e o do MRPP, subtrairem mais de 300 mil votos aos mais de 1,1 milhões que ele tinha conseguido antes sózinho e sem nenhum apoio, e a concorrer à esquerda contra o Mário Soares, o Jerónimo de Sousa, o Garcia Pereira e o próprio Louçã, de cardeal, mas que talvez seja mais de pároco de aldeia onde toda a gente se foi embora e só restam os velhotes meio surdos e analfabetos que o ouvem com reverência por não o conseguirem ouvir bem e muito menos perceberem o que ele diz, que "A União Europeia é um projeto falhado".
De projectos falhados percebe ele.
O Francisco Louçã nasceu para a política a idolatrar a 4ª Internacional, que não foi propriamente um projecto de sucesso. Terá andado, especulo sem saber ao certo, mas haverá por aí quem certamente saiba, pelas campanhas do Otelo? até o Otelo ser preso e condenado por terrorismo, e mais tarde aministiado, e da Pintasilgo? que também não foram propriamente projectos de sucesso. Participou na fusão de herdeiros de uma misturada de Internacionais que, num golpe de génio, ou de sorte? pouco interessa, cresceu à custa do mediatismo das causas fracturantes até as causas fracturantes terem sido devoradas ao pequeno-almoço pelo PS do Sócrates e o Bloco se ter transformado num partido, não do taxi, mas do monovolume, que dificilmente se podia considerar um projecto de sucesso quando ele deu lugar a outros. Apoiou vocalmente a aventura do Syriza na Grécia, de quem se tornou mesmo um assessor notável, que se transformou no projecto de sucesso que a história mais tarde veio a revelar na modalidade "bater o pé a Bruxelas enquanto há dinheiro e quando o dinheiro se acaba meter o rabinho entre as pernas", e não apoiou tão vocalmente, mas também não se lhe conhecem desapoios, a revolução bolivariana da Venezuela que se está a revelar num caso de sucesso quase inédito na História da humanidade ao conduzir à miséria o povo do país com maiores reservas de petróleo no mundo com vasta assessoria, paga a peso de ouro, do partido irmão, do regime bolivariano e do BE, Podemos. Até o apoio do BE ao candidato Manuel Alegre foi o caso de sucesso que se viu e depreende da leitura do parágrafo anterior.
Posto isto, e dada a sua experiência de décadas de envolvimento convicto em projectos falhados, qual é o projecto a quem o Francisco Louçã aponta o dedo, cruzando referências de Maquiavel com referências da "Guerra dos Tronos" como falhado?
A União Europeia, esse mesma, o grande projecto democrático do século XX, senão o maior da história da humanidade, que foi eregido como uma muralha de liberdade e prosperidade contra a retórica socialista de todas as internacionais que prometia o jardim do paraíso mas só foi capaz de oferecer penúria e prisão intra-muros aos desgraçados que lhe cairam nas garras, o que aliás continua a fazer aos cada vez menos povos que ainda lhe continuam a cair nas garras.
Dada a preferência demonstrada do Francisco Louçã por projectos falhados, e de democraticidade muito duvidosa, este pessimismo face ao projecto europeu e à sua falta de democracia é uma excelente notícia para os europeístas. Talvez ainda não esteja tudo perdido.
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