Renzi fez a jogada da sua vida.Aquela que o legitima. E sim, porque ele tinha falta de legitimidade ao nunca ter sido eleito primeiro-ministro de Itália.
Para se entender a necessidade da reforma, que versava vários aspectos, não apenas o prémio de maioria, é preciso olhar para os 60 governos italianos em 70 anos de república. 70 anos de fragmentação multipolar partidária em que a governabilidade foi sempre uma miragem.
Com o Euro, a Itália enfrenta o maior desafio económico-estatal da sua história recente. O país da inflação e desvalorização crónica deve viver em equilíbrio orçamental e reduzir a sua dívida com imprescindível saldo orçamental suficiente. Ora, o sistema partidário impede qualquer reforma num país que todas as semanas anuncia novas reformas.
Renzi é apoiado pela juventude liberal pragmática do centro. A juventude que leu "Il liberismo è di sinistra" e que acredita que a Itália precisa de se modernizar liberalizando uma sociedade desde sempre dominada pelos mais velhos, pela esquerda oriunda do velho comunismo italiano, e pela hierarquia católica mais retrógrada.
Fazer eleições agora é mais difícil do que não as fazer. O mais provável é que a nomenclatura do velho PD se organize em torno de uma figura consensual e protele ao máximo o voto. Entretanto, o PIB a crescer 1%, com estabilidade política, estagnação e crescimento zero a 15 anos, 8 bancos à beira da resolução, crise na segurança social e na organização do Estado tremendamente burocrático, irão deteriorando cada vez mais a situação até ao ponto insustentável.
Então, quando as inevitáveis eleições tornarem evidente que o futuro irá pertencer ao Movimentos 5 Estrelas e à Liga Norte (nem os qualifico) o PD entrará em agonia e, ou Renzi é escolhido, como reserva única do PD para reformar, ou Renzi funda novo partido e será mais um para o pântano.
De duas coisas podem ter a certeza: a Itália 'boa' está com Renzi e a Itália má está contra Renzi.
Pena que a lição de maturidade para Renzi tenha sido tão cara. Poderia ter lançado o referendo sem o tornar numa guerra de vai ou racha. Mas, sem quebrar, também não seriam possíveis as reformas.
Fez bem e rachou. Quanto à Itália? Está aí para se ir partindo segura e inexoravelmente.
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