No pântano a água anda agitada e, com a agitação da água, solta-se o lodo do fundo e fica cada vez mais turvo.
Mas, se lá no fundo está tudo cada vez mais turvo, cá em cima, no fundo, é claro como a água. É um jogo de cadeiras romanas. Na primeira jogada o mundo era todo deles, até os engolidores de sapos estavam com eles, e prometeram mundos e fundos a quem colaborasse.
Quando a coisa deu para o torto, os sapos puseram-se todos ao fresco e sacrificaram o banqueiro, o único que ficou apeado. Até lhe exigiram que entregasse a declaração. Ficou para a história como o oportunista cujo principal objectivo na vida era esconder o seu património da população que lhe ia pagar o ordenado. Um sacana! Pode não ter sido brilhante como estratégia de jogo ter queimado alguém que sabia mais do que dizia, mas quando se tem o rei na barriga a teoria dos jogos deixa fazer tudo, e tudo acabar bem. E, de facto, na primeira jogada foi ele que saiu do jogo. Mas o jogo não acabou.
A segunda jogada foi mais renhida. Apareceram comunicações à superfície, esconderam-se as comunicações de novo no lodo, mas há sempre um Correio da Manhã que as consegue descobrir, e, no que parecia um jogo em que já havia cadeiras para todos, com todos a torcer para a coisa ficar por ali, até porque havia coisas mais importantes para tratar e não havia documentos a comprometer os jogadores ainda na roda, veio-se a reveler que não, que afinal faltava uma cadeira, e que mais um dos jogadores ia ter que ficar apeado.
Quem? Obviamente, o mais totó, o que tinha sido incumbido pelos outros de conduzir a marosca sem, por não ser político nem advogado, se prevenir contra deixar provas documentais espalhadas pela cena do crime. E deixou, será ele a saltar fora. E é uma boa estratégia de jogo jogar fora o jogador que conhece mais por dentro o processo e sabe o que cada um dos que restam sabiam, mesmo sem ter os documentozinhos assinados a provar o que eles sabiam? Pode não ser...
E o jogo acaba aqui? Não, este jogo só acaba quando todos os sapos ficarem apeados, inclusivamente o último. Os dois jogadores que restam são virtuosos naquilo a que se chama o tacticismo político. Qualquer deles merece ficar em jogo até ao fim, mas um deles vai ter que perder nesta jogada. Qual deles? O Correio da Manhã ditará com as suas fugas de informação a conta-gotas. Mas um deles foi à vinha enquanto o outro ficava à porta, é mais provável que seja o que foi à vinha a saltar. O futuro o dirá.
Neste jogo só há uma coisa fatal como o destino. Tanto os que saltam, como os que ficam, estão cheios de lama até ao pescoço.
Quando foi convidado pelo nosso querido governo para vir um dia no futuro a ocupar o lugar de presidente dos conselhos de administração, o executivo e o completo, da Caixa Geral dos Depósitos, logo fossem removidos pelo ministro das finanças e com a nossa ajuda pecuniária todos os obstáculos que se erguiam entre os desafios do empreendimento e as exigências dele para os enfrentar, nomeadamente de ter à sua disposição cofres cheios, os da CGD e os dele, acumular o lugar de presidente do CA com o de presidente executivo, para poupar ao presidente executivo a humilhação de ter alguém acima dele a fiscalizá-lo, e de poder manter discreção sobre o seu património para evitar o incómodo de ser vasculhado como os políticos são, a McKinsey foi convidada para fazer um plano de negócios e capitalização para a CGD, recomendando, nomeadamente, as necessidades de reforço de capital que nós gentilmente lhe devemos proporcionar, o modelo estratégico e organizativo, em suma, as coisas do costume.
Quem a contratou?
Ninguém. A administração da CGD corrida para lhe vagar o lugar, certamente que não. O Ministério das Finanças, népia!
Quem lhe vai pagar?
Os otários do costume. Eu e os meus amigos e leitores. Três milhões de euros, nada de especial. O banqueiro chegou ao banco e a primeira coisa que fez com a sua nova autoridade foi mandar o banco pagar a conta.
A questão é que é surpreendente a McKinsey aceitar uma encomenda informal de 3 milhões que não foi encomendada por ninguém. Se o António Domingues desistisse a meio do processo de admissão, nomeadamente por o esforço e diligência incansáveis do ministro Mário Centeno não serem mesmo assim suficientes para atingir os objectivos que lhe estabeleceu de remuneração e opacidade, e ainda não é garantido que venham a ser, assim como os de nível enchimento dos cofres, que também não é,
a) seria ele a pagar à McKinsey?
b) a McKinsey arriscou um eventual calote, uma encomenda de alguém que podia não a pagar?
c) algum governante se atravessou como fiador clandestino do negócio com o nosso dinheiro?
Eu cá não sei ao certo, mas tendo a acreditar na hipótese c).
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