Lembram-se da sociedade de advogados que tem o timbre no contrato do Siresp negociado pelo António Costa que inclui a já célebre cláusula 17 que blinda o consórcio contra quaisquer responsabilidades pelo não funcionamento da rede em situações de emergência?
Lembram-se do secretário-geral do Partido Socialista que uma vez disse numa entrevista "Há, em Portugal, um partido invisível, que tem secções sobretudo nos partidos de Governo, que capturou partes do Estado, que tem um aparelho legislativo paralelo através dos grandes escritórios de advogados e influencia ou comanda os destinos do País"?
Sabem qual foi a sociedade de advogados escolhida pelo governo do António Costa para estudar se há volta a dar na cláusula 17 do contrato do Siresp?
“Não seria de esperar outra coisa. Conhecendo-o como conheço não é de estranhar. É a única posição digna. O que se pretendia? Que fosse para a sexta fila da Assembleia da República?”
Tal como Álvaro Beleza, também eu compreendo a aversão de Seguro pela sexta fila da Assembleia da República. Uma indignidade. Quase tão degradante como se António Costa, agora que é líder do PS, acabado de eleger por uma base tão alargada, descesse à condição de comentador e regressasse à Quadratura do Círculo, a trocar perspectivas políticas em igualdade de circunstâncias com dois assalariados.
Tenho acompanhado com deleite a quezília na família socialista e desejo sem esperança que ela se aprofunde e agrave: veria com bons olhos que Costa e Seguro não se falassem durante anos; que sobre estes senadores do partido alguém com inside information viesse para a praça pública denunciar os podres; que Galamba e Brilhante se pegassem à estalada; que a enfurecida militante portuense que reclamava de Costa ("seu badalhoco") que fosse mazé para a Câmara de Lisboa tivesse sublinhado a objurgatória com uma canasta de sardinhas despejada pelo lombo abaixo do edil; que aparecesse alguém a denunciar Soares, a fundação de Soares e as tropelias de Soares, com a divulgação que o livro de Mateus nunca chegou a ter; que todos, de um lado e outro, e não apenas estes, protestassem o seu desamor a Sócrates, a sua aversão a Sócrates e a confissão de que só o apoiaram em nome da unidade do partido e à espera da oportunidade para lhe fazerem a cama; e que de forma geral o PS se estilhaçasse numa orgia de maledicências sortidas, casos de polícia, reputações na lama e peixeiradas a granel.
Não viria daí nenhum mal à democracia: muitos notáveis, depois de um período de nojo, iriam fazer companhia aos outros socialistas no PSD, que os receberia de braços abertos e aproveitaria para ficar ainda mais marcadamente social-democrata, marginalizando um ou outro liberal que ande por lá; outros fundariam um novo partido, ao qual agregariam uns restos do BE, e que passaria a ser o novo, e verdadeiro, partido socialista, ainda que sem figuras de proa, excepto Ana Gomes e Isabel Moreira, para fazer as despesas do berreiro e lágrimas incontidas, respectivamente, num grupo parlamentar entretanto substancialmente diminuído; o CDS talvez crescesse com o influxo de gente afugentada do PSD; e o PCP continuaria diligentemente a cuidar do seu jardim fossilizado.
Que clareza, santo Deus: um partido para federar as direitas, outro social-democrata abrangente, outro pequenito especializado em causas fracturantes para a gente se entreter e os comunistas, que fazem parte da mobília.
Não vai suceder, é claro: Costa e a sua falsa bonomia; a sua inegável habilidade para o jogo político e o seu ar, e tiradas, de intelectual moderno da esquerda bem-pensante; o seu europeísmo convicto que em Portugal passa por realismo - ganharão o dia. Os inimigos de hoje serão os amigos de amanhã, e em Costa ganhando eleições haverá lugares no aparelho de Estado para a maior parte - Seguro, por exemplo, daria um óptimo embaixador em qualquer lado.
Daqui a uns meses o eleitorado esquecerá. E à boleia de um evento emocionante (a morte de Soares, por exemplo, que não desejo e talvez não seja elegante referir mas está na ordem natural das coisas) a família socialista reconciliar-se-á e cairão os militantes ministeriáveis nos braços uns dos outros, murmurando: disse que eras uma besta, mas nunca tive dúvidas sobre a tua capacidade para servires o nosso partido e o nosso país!
Entretanto, se a Europa deixar, Costa semeará no país o mesmo lixo, desleixo e endividamento que deixará em herança na Câmara de Lisboa. E virá talvez o tempo em que o eleitorado que ainda não emigrou, e que se vai distraidamente entretendo com estas coisas, experimente uma súbita compreensão pela senhora do Porto, que talvez não seja, mas pareceu - uma peixeira.
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