Quinta-feira, 5 de Abril de 2018

Funcionários da cultura

Ontem uma actriz queixava-se amargamente na SicN de que os actores também precisam de comer, pagar a renda da casa, fazer compras e educar os netos (tinha idade para os ter, e não lhe foi perguntado se essa seria uma obrigação típica dos avós). A senhora falava com o coração nas mãos e inquiria, dramática: se toda a gente tinha um ordenado, se até os empregados dos bancos os tinham, não obstante nós todos passarmos a vida a lá pôr dinheiro, por que razão é que os actores haviam de ficar numa situação desesperada?

 

Sobre os bancos não vou responder à senhora com detalhe, salvo para dizer que o preço de não os apoiar é ainda maior do que apoiá-los.

 

Mas mesmo que haja, e há, boas razões para supor que a gestão desastrada dos bancos não foi, e continua a não ser, adequadamente penalizada; que uma parte (menor) da destruição do seu valor resultou não apenas do rebentar de uma bolha especulativa mas também de negócios de contornos ilícitos ou inacreditavelmente ineptos, que não são denunciados por envolverem um número demasiado grande de indivíduos que pertencem ao grupo da dança das cadeiras dos gestores públicos, académicos da economia e finanças, e políticos e advogados do Centrão: não se segue que todo o cão e gato tenha o direito de viver à custa do Estado sob pretexto de que custa, comparativamente, pouco.

 

E foi isso que a senhora disse: eu tenho o direito que o Estado me sustente já que sustenta outros com muito menos merecimento.

 

Menos merecimento porquê? Porque a senhora, e a caterva dos seus colegas, são agentes da cultura, que é por definição algo de superior. E, como diz este senhor, numa afirmação lapidar que Marcelo, e todos os outros papagueadores de banalidades, decerto subscreve, “não colhe o argumento da subsidiodependência pois só um Estado inculto não investe em cultura”.

 

Se corrermos os jornais por estes dias tropeçamos com um ror de queixas e reclamações, por exemplo aqui e aqui. E indo o clamor em crescendo, e sendo o governo do dia o que é, esta berrata já está a dar resultado, pelo que se alargarão os cordões à bolsa do contribuinte até ao ponto em que, se houver uma companhia de teatro que queira levar à cena Ionesco em Freamunde, para ilustração dos operários da indústria de mobiliário, o Estado investe e os beneméritos actores forrarão as barrigas famélicas com um bom jantarinho de capão, que por aqueles lados se assa de forma superlativa.

 

É claro que o Estado não se deve demitir da cultura. Mas esta, sendo muitas coisas, não é certamente a prodigiosa colecção de piolhosos que gritam em nome dela, e em nome dela se espolinham num palco em peças que ninguém entende e, por ninguém entender, ninguém quer ver; ou a compor peças musicais exotéricas para disfarçar a incapacidade de interpretar os clássicos; ou a preservar teatrinhos de marionetes e promover exposições de lixo sob a designação genérica de arte contemporânea, das quais a melhor parte seria o catálogo, se por milagre estivesse redigido em bom português.

 

Isto poderia ser talvez assim se o país pudesse alocar a estas festividades mais do que os 0,4% do PIB que lhes dedica; e poderia ser sobretudo se não houvesse monumentos em ruínas, bibliotecas onde chove, escolas essenciais, como o Conservatório, num caco, ou investigação séria que não tem patrocínio; mas houvesse educação que formasse para criar uma massa crítica de cidadãos  que garantisse os mínimos de mercado para a existência de formas superiores de cultura, em vez de analfabetos, ignorantes contumazes, duros de ouvido, vesgos e socialistas sortidos, com perdão da amálgama.

 

Desta vez, à boleia do clima económico de euforia, em boa parte artificial, que a propaganda tem criado, não vai fechar nenhuma das prestigiadas associações que a população dispensa, muito menos as companhias de bandeira a que Santana Lopes, numa engenhosa comparação, se referia há dias na televisão, e que não foram contempladas com subsídios; nem aquela malta do Norte, capitaneada pelo presidente da câmara do Porto, deixará de ser servida; assim como Évora, uma cidade comunista, deixará de ver revisto o descaso a que foi votado o teatro local – Jerónimo de Sousa, com ar soturno, já rosnou umas coisas ameaçadoras sobre a distribuição do bolo.

 

A grande ambição de toda esta gente é regressar aos níveis de 2009. Ignoro o que se terá passado naquele ano que permita afirmar que a cultura se distinguiu, pelo seu brilho, da sucata que estava antes e do esterco que veio depois.

 

Mas eu, se tivesse a ambição de viver à custa do contribuinte para o efeito de o ilustrar com a minha superioridade mal agradecida, escolhia talvez outra época para comparação: uma em que não estivéssemos às portas da bancarrota.

publicado por José Meireles Graça às 16:39
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Segunda-feira, 24 de Abril de 2017

Agenda cultural

Vivo, desde 1975, num sítio que dantes ficava na periferia da cidade. Antes disso, e salvo umas ausências esporádicas de uns quantos anos no Porto, morei numa freguesia rural e em várias casas, duas delas na praça mais antiga, então decrépita e hoje reabilitada.

 

Comecei a minha vida profissional na Câmara local, e por lá fiquei quase onze anos.

 

Quer dizer que deveria ser um arreigado bairrista, mas não: sempre a minha vidinha me interessou muito, a do país bastante, a do mundo alguma coisa e a do concelho quase nada. Vou a ponto de confessar, compungido, que se o Vitória de Guimarães fosse para a segunda divisão (que agora se chama de Honra, possivelmente pela sua clamorosa escassez) o facto só me aborreceria por ter de aturar a sentida tristeza de alguns amigos; e que dispensaria as honras pacóvias de que os meus conterrâneos se  ufanam (capital europeia disto e daquilo) se elas não tivessem palpáveis vantagens para o comércio, a cujos interesses não sou, em abstracto, alheio, e para a conservação do património.

 

Há uma dúzia de anos saio de casa e viro à esquerda, salvo seja, em direcção ao concelho vizinho, onde trabalho; e como o bar onde durante mais de vinte anos ia ao fim da tarde conviver com parte das forças vivas da terra fechou, pouco menos seria ignorante da vida da terra se vivesse em Phnom Penh.

 

Aos sábados de manhã, vou, há mais de vinte anos, ao outro extremo da cidade, com frequência a pé, à mesma esplanada, pacificamente considerada um lugar fino; e aí lia o Público, quando Vasco Pulido Valente ainda lá escrevia, e leio agora o correio, a blogosfera, o facebook, o Alberto Gonçalves (VPV mudou de dia e de jornal) e coisas várias.

 

Hoje lá fui pachorrentamente, fumando; e, ao passar na rua da Rainha, reparei neste prédio. Pasmei para o cartaz, que anuncia a instalação de "residências para investigadores". E, como fiquei curioso, ao chegar ao destino apropriei-me da agenda cultural do mês, publicação municipal profusamente distribuída cuja leitura habitualmente evito, por razões de higiene, a ver se encontrava notícia do empreendimento. Nada: a agenda em questão, aliás, não se chama assim, dizendo singelamente na capa "Guimarães Arte e Cultura", sobre fundo de fotografia desmaiado em azul ciano de uns piolhosos com ar fortemente artístico.

 

Um portento, o livrinho de quarenta páginas, fora o encarte, com 30, específico do "Centro Cultural de Vila Flor". Logo na capa listam-se alguns dos organismos que, além daquele Centro, se ocupam da cultura dos munícipes: são eles a "Plataforma das Artes e da Criatividade", a "Casa da Memória", o Centro da Criação de Candoso", o "Espaço Oficina", a "Fábrica Asa", o "Centro para os Assuntos da Arte e da Arquitectura" e finalmente o "Laboratório das Artes".

 

Espiolhando a Internet encontram-se notícias do que se faz nestes organismos; e alguns já visitei com a secreta, e desiludida, esperança de não confirmar os meus preconceitos. Dou, pela leitura da Agenda, alguns exemplos:

 

No Grande Auditório vai uma peça de Máximo Gorki, assim apresentada, juro: "Veraneantes é uma tapeçaria de desejo e frustração que autopsia a nossa impotência perante o desenrolar da vida". Deve tratar-se, imagino, de um tapete estragado a embrulhar o cadáver de um cavalheiro que se suicidou em razão de problemas de índole sexual. Passo.

 

Estreia absoluta de "Vespa", de Rui Horta, um solo interpretado pelo próprio, após 30 anos de ausência do palco. "Vespa é uma peça sobre uma cabeça a explodir, sobre o que nem sequer falhámos porque nos coibimos de cumprir. Na dupla condição de voyeur, a do outro e a de si próprio, o público compõe o tétris do personagem em cena, desafiando a sua própria concepção do registo público e privado". Não li o resto, e portanto não estou em condições de explicar o que Rui se propõe fazer em palco (nem possivelmente estaria mesmo que lesse porque nem sequer o primeiro parágrafo entendi). Não obstante, a referência aos trinta anos de ausência lança sobre o artista uma luz favorável, por não ser impossível que tenha estado em meditação num mosteiro budista. Mesmo assim, o risco é demasiado grande: passo.

 

Há muito mais: Numa coisa chamada "Bufos", um tal José Almeida Pereira, com a participação de Cristina Mateus e Max Fernandes, propõe-se "contra a fugacidade do tempo incitar a imaginação do observador e convidá-lo a demorar-se no espaço sensível da sua subjectividade para escapar à luz estroboscópica das imagens". Ainda li mais um bocadinho, a ver se não seria um ménage à trois com luzes psicadélicas, caso em que o assunto mereceria alguma ponderação, mas parece que se trata de pintura: "O que se coloca diante de nós são simples espectros, pequenos vestígios, rastos de um conjunto de imagens que teimam em permanecer para sempre na memória".  Uma coisa destas ficar na memória não parece um perigo muito plausível, mas a prudência aconselha a não menosprezar a ameaça: passo.

 

No meio da cangalhada, há uma ou outra coisa com interesse: teria sido capaz de ir ver a Orquestra de Guimarães, para ouvir Mendelssohn, desde que arranjasse um lugar na coxia, para o caso de a orquestra em questão, que não conheço, ter som de cana rachada, e poder dar à sola discretamente. E é com certeza impossível que ninguém faça, nesta floresta de organismos, obra de mérito e trabalho respeitável. De resto, este esparramar de dinheiro com o que se toma por cultura, e esta abundância de vacuidades, não são um exclusivo da terra, nem português.

 

Mas não preciso de ver contas para saber que tudo isto dá prejuízo; e não se requerem grandes rasgos de lucidez para perceber que o fio condutor destes organismos é a criação de empregos públicos e o sustento de artistas que o mercado não alimenta.

 

Pessoas que o poder nomeia para terem empregos permanentes na vaca marsupial pública, e que escolhe para terem apoios e subsídios que são negados a outros, como se houvesse outro critério que não seja a filiação partidária e o amiguismo. E isto numa amálgama pornográfica (no caso de Guimarães) com a recuperação do património, que tem sido feita com sucesso, critério e resultados.

 

Conservar e restaurar o património é função do Estado. Patrocinar o ensino da música ou das artes plásticas, também. Mas a produção artística - não. É claro que o Estado pode ocasionalmente comprar peças de Arte contemporâneas, para efeitos de arranjo ou enriquecimento de espaços, como sempre fez; assim como mandar fazer edifícios, quando necessário, não sendo indiferente que seja o arquitecto A ou B a projectar. Isto mesmo tendo presente que a única maneira segura de investir em Arte contemporânea seria a de pagar com promissórias a validar em 100 anos, no caso improvável de os nossos trinetos subscreverem o que sobre Arte se pensa agora.

 

Mas no nosso país falido, muito mais do que num país normal, o rateio dos dinheiros públicos deveria estar ao abrigo de equívocos. Quem quer pintar que pinte, quem quer representar que represente, quem quer escrever que escreva, quem quer esculpir que esculpa, quem quer compor que componha. Mas quem quer mamar que espere - espere pelo restauro dos monumentos a cair, dos acervos de museus e bibliotecas que se deterioram e não crescem, pelas obras nas escolas que não se fazem. Espere, em suma, pela cultura que não tem voz e por isso não berra, não reclama, não faz reivindicações nem, graças a Deus, exposições, workshops e agendas culturais.

 

Então os seis investigadores da Rua da Rainha, para cujo alojamento se vai gastar à cabeça para cima de um milhão de Euros, vão investigar o quê? Isso é segredo, o que a notícia diz é que vão "interagir" com a população local.

 

Não deve ser para apurar o destino que a Câmara dá ao IMI que rouba. Isso já sabemos.

publicado por José Meireles Graça às 23:17
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Quinta-feira, 8 de Setembro de 2016

Verdadeira oposição

 

Museu de Arte Antiga-03.jpg

 

Se o Estado fechasse 4 ou 5 desses pseudo-museus que ornamentam os panfletos "culturais" do país sem absolutamente nada para mostrar, pegava em 18 inúteis e dava-lhes préstimo no Museu de Arte Antiga. Um por sala aberta ao público, a juntar aos 64 que já lá trabalham. E outros tantos para ajudar a manter, limpar, programar, tratar da burocracia (que é muita), e cuidar de um dos poucos museus nacionais com toda a razão de existir.

 

Mais: o Museu de Arte Antiga tem (ou tinha?) um excelente departamento de restauro (ou laboratório, não sei como lhe chamam), com óptimos profissionais, que podia não só ocupar-se das peças do próprio museu como vender os serviços a coleccionadores, antiquários, e particulares que têm (como vi em Agosto) quadros espantosos de autores respeitáveis (não são Mirós) a estalar escurecidos nos solares portugueses.

 

Ainda que tivesse de lá meter uns milhares para actualização do equipamento; ainda que tivesse de fechar outras tantas "fundações" para arranjar os milhares, e vendesse os edifícios ao McDonalds - para gáudio do povo e desmaio da Catarina Portas. Governar é conhecer os assuntos e fazer escolhas.

 

Há um par de semanas, a direita chocou-se a propósito da ex-ministra Rodrigues; agora chega-nos este Pimentel. O CDS está imparável no combate às esquerdas, crescendo como um fenómeno na consideração do eleitorado, a acertar em cheio nos seus convidados.

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 16:54
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Sexta-feira, 19 de Agosto de 2016

A escola portuguesa de jornalismo

 

Agressão-Ponte de Sor-01-640.jpg

 

Estranhei na quarta-feira à noite, quando ouvi no noticiário da Sic. A história começou com um desacato entre bandos de miudagem; depois de separados, dois deles seguiram um miúdo de 15 anos, apanharam-no sozinho, e aplicaram-lhe um ensaio de pancada com toda a brutalidade. Foi encontrado, sem sentidos, pelos homens do lixo. Sabemos que os bombeiros o trouxeram de helicóptero para um hospital de Lisboa, onde ficou internado entre a vida e a morte.

 

"Os agressores, ambos estrangeiros, já foram identificados", dizia a voz do jornalista. Mostrava a fachada do prédio, esticava o depoimento do padrasto que, confirmando a tradição da grande escola portuguesa de jornalismo, não tinha visto nada nem sabia de coisa nenhuma. E a reportagem não desistia, era facto atrás de facto, e o bocado de alcatrão ensanguentado onde o miúdo tinha caído com o crânio desfeito por dois estudantes da escola de pilotos, "ambos estrangeiros".

 

E a nacionalidade dos "estrangeiros"? Nada. E o que fazia um par de "estrangeiros" na escola de pilotos de Ponte de Sor? Nada, e mais nada, nem a mais pequena pista. O canal do "interesse público", compreensivelmente, em lugar de notícias passava um jogo de futebol. Já o dr. Balsemão paga às suas redacções para lhes dar soltura, deixando-as ao critério de quem calha publicar notícias de fancaria aldrabadas pelos códigos do politicamente correcto.

 

Quem quiser saber o fim da história pode agradecer ao Correio da Manhã. Os jovens criminosos são iraquianos, filhos do senhor embaixador.

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 13:44
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Domingo, 19 de Junho de 2016

Não somos sequer parecidos

 

NYC-Vago-640.jpg 

A direita "dos negócios" deixou cair Ricardo Salgado e o grupo Espírito Santo. A esquerda da "transparência" limpou o BANIF com dinheiros públicos e tratou de o entregar ao Santander.

 

A direita "trauliteira" quer saber como e quem estoirou a Caixa Geral de Depósitos. A esquerda "unida" levanta obstáculos à comissão de inquérito, em nome da "estabilidade" do sistema financeiro e da "reputação" do banco do Estado. E assim mesmo, às escuras, subiu para 19 o número de administradores, aumentou-lhes os ordenados, e prepara-se para lá meter mais 4 mil milhões dos nossos euros.

 

A direita "determinista" quer que as crianças pobres tenham escolas com qualidade. A esquerda "das pessoas" quer ter os seus filhos nos colégios privados e atirar com os pobres para a bagunça do sistema público. E argumenta: “a liberdade existe", quem quer melhor "que pague do seu bolso".

 

A direita "autoritária" quer dar às famílias pobres o direito a escolher o ensino dos filhos, laico ou religioso, público ou privado, comunista, clássico ou experimental. A esquerda da “diversidade” quer as crianças pobres “protegidas” da Igreja e do “lado errado da história”, impondo a FENPROF, o sr. Nogueira, o Plano Nacional de Leitura (uma lista de livros “certos”), e as matérias politicamente correctas escritas com os pés. Explicando que a liberdade de ensino deve ser distribuída com precaução, reservada aos esclarecidos, uma vez que nem todos estão “filosoficamente preparados”.

 

Curiosamente a Igreja, que devia ter neste assunto uma posição oficial, pede licença para vir aos jornais gemer baixinho a sua perda de influência.

 

A esquerda chega ao poder aos encontrões e faz o que quer, com uma cartilha infantil. A direita espera quieta pelo resultado. Ou apresenta a sua cordura, a sua “moderação”, sem perceber que escolhe o caminho mais curto para se diminuir; a “moderação” não é um plano nem uma identidade, é uma maneira secundarizada de reconhecer a virtude da esquerda.

 

A natureza de uns e outros é hoje visível, talvez mais do que alguma vez foi nos últimos 40 anos. Quando a direita apanhar os restos da sua decepção tem de interpretar o país, descrever o arranjo que está a mandar nisto, explicar os riscos, fabricar uma proposta clara e construir uma retórica para se definir. Não existe “centro” (nem “moderação”) quando as pessoas estão aflitas e precisam de escolher a quem entregar os seus sacrifícios.

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 13:51
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Terça-feira, 31 de Maio de 2016

Erudição de analfabetos

 

António Araújo-02-640.jpg

 

José Rodrigues dos Santos é apresentador de televisão e escreve novelas de série B.

 

António Araújo, hipotético "historiador", é o boneco do "intelectual" português. No blog enfrenta gigantes literários como Isabel Moreira, ou Domingos Freitas do Amaral; sobre as grandes fraudes que a "cultura" leva a sério, nem uma única linha.

 

Se António Araújo tivesse algum estatuto aparecia em polémicas relevantes. Ou profissionais, como por exemplo aquela que opôs Rui Ramos a uma matilha de zelotes da 1ª República. Mas não. Senta-se no jornal Público a meter na ordem uma personagem menor. Na prosa mais chata de Portugal, típica de "académico", um saco de citações e notas remissivas para opinar por interposta pessoa.

 

Talvez António Araújo tenha ganho um convite para outro "colóquio". Talvez lhe sirva para apresentar serviço, neste tempo de "afectos" e "consensos". De resto não se compreende a utilidade do exercício. Quem é que aprende marxismo com o José Rodrigues dos Santos?

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 17:37
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Domingo, 22 de Maio de 2016

Malefícios do tabaco

 

Dando cumprimento à legislação que entra agora em vigor, os maços de tabaco serão vendidos com imagens terríveis para dissuadir as pessoas de continuar a fumar. Veja o que lhe pode acontecer:

 

 

 Maço-Carlos Andrade.jpg                    Maço-Carlos Andrade.jpg

 

 

Maço-Manuela Ferreira Leite-02.jpg                      Maço-Catarina Martins.jpg

                                                                                                    (*)

Maço-Tiago.jpg                   Maço-Constança Urbano de Sousa.jpg

 

 

Maço-Vasco Palmeirim.jpg                   Maço-MBP.jpg

 

  

__________

* O maço de Marlboro é de autor desconhecido; foi encontrado no facebook.

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 01:20
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Quinta-feira, 19 de Maio de 2016

Simplex menos

 

Duque de Loulé-2015-09-04 (500x333).jpg

 

Sobre o "Simplex+", das duzentas e cinquenta e tal medidas:

 

Suponhamos: criação de galinhas. Suponhamos outra vez: estão lá 3 medidas. Dá um certo trabalho a avaliar; é preciso estudar com atenção cada uma daquelas 3 medidas. Se é ou não vantajoso calcular o volume em metros cúbicos da crista do reprodutor; se cacarejam antes ou depois de ouvir as músicas do Vasco Palmeirim; se as penas junto ao pescoço obedecem ou não a um intervalo cromático estabelecido em edital, disponível na plataforma online "Deixa Aqui o Teu Có-coró-cocó".

 

Suponhamos agora outro assunto. Por exemplo, cultura. Não é preciso supor mais nada, porque na verdade estão lá medidas até vir a mulher da fava rica (no pun intended). Mas não dá trabalho nenhum a avaliar, porque são todas magníficas e todas dirigidas ao financiamento simplificado de "obras" de "arte", sempre de excessiva irreverência e rebeldia, com que os nossos Leonardos se bajulam a si mesmos e aos governantes do PS.

 

Por fim, suponhamos: reabilitação. Mais especificamente, no capítulo dos licenciamentos urbanísticos. Ainda pensei encontrar por lá umas fraudezinhas cosméticas, umas decisões espantosas de substituir papelinhos por assinaturas electrónicas. Mas não. As medidas simplificadoras dos processos urbanísticos ascendem a zero. Li o relambório de uma ponta à outra e confirmei que ("palavra dada, palavra honrada") o dr. António Costa está apostado em simular que faz reabilitação com "investimento" público. Lá facilitar, simplificar, encurtar os prazos de resposta, compatibilizar regulamentos, confiar nos cidadãos para reabilitar as suas casas com dinheiros dos seus próprios bolsos, pagando ao Estado quantias régias em taxas de apreciação de projectos e alvarás de licença de obras - nem uma medida. Zero.

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 20:02
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Sexta-feira, 15 de Abril de 2016

Lições de hipocrisia

 

Graffiti-01.jpg

 

Ontem foram muito claros: os senhores comentadores da Quadratura do Círculo não se ocupam de tudo, nem escolhem os assuntos ao calhas. Há assuntos comentáveis; e há, por outro lado, motivos de tumulto inconsequente, não vale a pena gastar com eles tempo e prestígio. Uns e outros distinguem-se de acordo com uma escala de importância medida pela probabilidade de acabarem (ou não) por derrubar ministros. Um bom critério.

 

Sucede que na semana passada caíu um ministro, e caíu com estrépito. À excepção de Lobo Xavier, que mencionou a coisa pela superfície (e meio de lado, como quem passa por um embrulho num corredor estreito), ninguém abriu a boca. Deixemos as “bofetadas”, que importam mas pouco. E deixemos também de parte a rudeza da prosa que o Ministro da Cultura, sem medo do ridículo, classificou de “queirosiana”. Nenhum dos comentadores teve o juízo de explicar ao povo que o pensamento (ou a ciência, e em rigor “a cultura”) não evolui sem irreverência e até, muitas vezes, sem uma certa dose de brutalidade. Faltou-lhes em matéria o que lhes sobrou em cobardia.

 

O senhor Ministro mostrou que a crítica lhe era insuportável, que a encarava como um insulto pessoal, e lhe fazia saltar uma mola de incapacidade e desorientação. Decidiu exibir-se em público neste estado de alma, fazendo o que as elites portuguesas (sobretudo do PS) fazem melhor sempre que são contrariadas pela opinião dos outros: atribuem a crítica a motivos exteriores. O problema nunca está no comportamento deles, nem nos seus erros, abusos, ou prepotências, mas sim nas circunstâncias dos autores, que estão “bêbados”, ou “dementes”, sofrem “degradação cerebral”, ou “foram pagos” para dizer o que dizem. A crítica, nas cabeças inseguras dos ministros socialistas, cuja dignidade vem exclusivamente do cargo e se liberta deles ao mais pequeno pretexto, nunca é legítima nem salutar. Este queria uma cultura mansa e reverente. E há quem diga que “não houve um problema político”.

 

Acima deste estardalhaço está a maneira como o Primeiro-Ministro despediu o indigente, começando por desautorizá-lo na televisão, dizendo dele que não sabia comportar-se “nem à mesa do café” (toda a gente percebeu que “à mesa do café” foi uma elegância de António Costa para não dizer “na taberna”). No dia seguinte, surpreendido com a demissão, agradeceu-lhe os serviços e louvou-lhe os talentos, “lamentando” que o ministro “não tivesse tido a oportunidade” de cumprir o mandato até ao fim. Tal como disse, quando inviabilizou as negociações com o PSD e o CDS, que Passos Coelho “não foi capaz” de se entender com o PS. São os processos de Costa, de quem a hipocrisia tem muito a aprender.

 

Restam os ministros que andam agora a agitar o conformismo do povo. A Defesa dá pretextos magníficos, desrespeitando os oficiais do Exército; e a Educação, tutelada por um rústico fanático, promete festa com fogo-de-artifício. Para mencionar os que se alinham na primeira fila. Em matéria de sarilhos Costa já tem abundância: quando se levanta tem sarilhos à espera dele, de manhã com a extrema-esquerda no Parlamento, à tarde com a “Europa”, todas as horas de todos os dias desde que armou esta espécie de governo. Quando o próximo ministro se expandir Costa terá para ele o mesmo tratamento, com o mesmo molho de lisonja e desconsideração, e o infeliz vai voltar para casa com as orelhas baixas e a latir a indignidade de ter sido um instrumento descartável na “união das esquerdas”.

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 22:55
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Quinta-feira, 26 de Novembro de 2015

S. Exa. o Ministro da Cultura

 

João Soares-640.jpg

 

No dia 30 de Maio de 2012 escrevi e publiquei um texto chamado “O autarca sensível”, contando a história de uma decisão tomada uns anos antes pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Não disse, mas digo agora, que o herói se chamava João Soares - a partir de hoje, o nosso abençoado ministro da cultura.

 

Republico:

 

“Nesta altura do ano rebentam as flores dos jacarandás. A cidade fica muito bonita, cheia de manchas azuis que estão primeiro penduradas nas árvores, decorando as fachadas, recortadas nas ruas, entretendo o trânsito. Depois estão no alcatrão, nos relvados, nas calçadas, nas varandas, nos telhados, e no tecido de memórias azuis que tenho no meu cérebro, em cima de um móvel de canto onde guardo os anos felizes que passei na Câmara Municipal de Lisboa.

 

As casas de banho novas do Parque Eduardo VII estavam quase acabadas. Só faltava decidir sobre a pintura final. Chamada a dar o meu palpite, desloquei-me à obra e pedi ao empreiteiro que fizesse um teste com três cores diferentes, numa parte da parede exterior do conjunto. Passados uns dias, após a secagem das amostras, voltei à obra para uma reunião com "os responsáveis". A fim de tomar a decisão, apresentaram-se o arquitecto (o projecto não era meu), o construtor, uma série de vereadores, e o próprio presidente da Câmara, que não quis faltar uma vez que estava "pessoalmente muito empenhado" no processo e queria assegurar-se que tudo estaria pronto para inaugurar na Feira do Livro, dali a uma semana ou duas.

 

Foram os últimos a chegar, e vinham do lado de cima. Ouviam com atenção a aula de história que o presidente desenvolvia, gesticulando, parando para apontar, provocando gargalhadas espontâneas e acenos de cabeça. Pareciam um grupo de crianças, as gravatas a esvoaçar, os casacos desapertados como os bibes no recreio. "De maneira que isto, por aqui fora, era tudo putas", foi a parte que ouvi quando já estavam a poucos metros.

 

De seguida, deram-se as apresentações. Trocaram-se apertos de mão e os vereadores trocaram olhares cúmplices e divertidos. De pé, todos dispostos em bateria, semicerraram os olhos e fizeram silêncio por uns segundos, contemplando os rectângulos de tinta colorida, concentrados a apreciar. Da boca socialista do presidente que, apesar de calado, nunca tinha chegado a fechá-la, saiu uma decisão: "Vermelho está fora de questão. Epá, para vermelho já me basta as gajas uma vez por mês".

 

Aturdida com a sensibilidade do poeta, com o coração enaltecido por sentir os destinos da cidade entregues a este homem enorme, distraí-me das razões que levaram à exclusão da outra cor. Mas foi assim que em Lisboa, ao fundo do Parque Eduardo VII, para servir a Feira do Livro e os aflitos do ano inteiro, nasceu um edifício de casas de banho da cor das flores dos jacarandás.”

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 20:35
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