No Vale do Silicone situam-se à volta de 1700 firmas de alta tecnologia, entre as quais o Facebook, YouTube, Google, Wikipédia, etc.
Diz o artigo que, se esta região fosse um país, ocuparia, pelo volume de negócios, o 10º lugar como potência económica mundial.
Situaram-se aqui, antes dos professores Tornesol, os maiores pomares do mundo (a autora é americana, e portanto as coisas são sempre as maiores do género ou então medem-se aos milhões) e os edifícios ultramodernos e as amplas mansões suburbanas de gente rica substituíram, com grande dano para a paisagem, renques de árvores fruteiras e canteiros a perder de vista.
Ali trabalham mais de 40.000 pessoas. Mas a maior parte destas não ganha as fortunas que auferem os executivos e os capitalistas de risco que financiam as aventuras informáticas - uma grande injustiça.
Daí que, não podendo pagar as loucuras que custa uma casa na região, escolham viver em S. Francisco, aí a uns 70 km. Mas não se deslocam das suas casa para os locais de trabalho em automóveis, vão antes nos autocarros privados que as empresas disponibilizam - a rede pública de transportes deixa a desejar.
Sucede que estes autocarros são muito superiores, em conforto, aos públicos; e utilizam sem pagar nada as paragens daqueles - um escândalo.
Justamente indignada, a população (enfim, uma parte, suponho) de S. Francisco tem tentado bloquear estes autocarros de luxo porque, inteira-nos a socióloga Crystal Shepeard, "the targeted buses of Apple, Google and Twitter have come to represent gentrification and city policies that favor the tech industry".
Gentrification, realmente, não se admite; e políticas públicas de favorecimento da indústria tecnológica ainda menos.
As empresas privadas objecto desta atenção resolveram comprar sossego: "Now the Google, Apple, Facebook and the remaining 27 companies will pay a daily per stop fee. The $1 per stop could cost up to more than $100,000 annually for the companies." O meu palpite é que isto não vai chegar porque as companhias ganham milhões; as municipalidades nunca foram, nem serão, ricas - uma entidade pública, lá e cá, gasta sempre, no mínimo, tudo o que cobra, e sempre fica aquém do que entende que deve fazer; os autocarros privados continuarão a ser melhores que os públicos; e quem anda dentro deles, não ganhando tanto como os seus patrões, ganha sempre mais do que os manifestantes, o que tudo constitui uma longa lista de iniquidades.
Não sei se não seria de encarar a hipótese de transplantar tudo mais para Sul, de preferência um lugar com excelente clima, população ordeira e disciplinada, inexistência de problemas de trânsito, e ainda com o benefício de grande apetência para deslocalizações e investimentos - é só esperar que o ícone da Revolução local vá fazer companhia no Inferno aos outros diabos vermelhos e o ícone do liberalismo à americana cumpra a promessa de encerrar Guantánamo - já libertava espaço aí para uma meia dúzia de sedes de símbolos do capitalismo.
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