Terça-feira, 26 de Dezembro de 2017

Afinal quem é que faz greves?

2017-12-26 Greve Metro.jpg

Em Portugal a greve já é legal há quase quarenta e quatro anos e ainda não houve uma única greve de que os jornais conseguissem informar os leitores sobre o número exacto de grevistas.

Na última que chegou aos media, a greve convocada pelos sindicatos de trabalhadores dos CTT para os dias que antecederam o Natal, certamente motivada, uma vez que os CTT prestam um serviço público e foram até há pouco tempo uma empresa pública, pela defesa do serviço público de distribuição de correspondência através da não distribuição numa época em que os consumidores prezam particularmente a distribuição, são misteriosos os desígnios do Senhor, e os dos sindicalistas também, os sindicatos dizem que foi de 70%, um número até mais baixo que a média, porque os números divulgados pelos sindicatos costumam andar na casa dos noventas, e a empresa de 17%.

A diferença entre os dois números é muito grande, e é sempre assim, às vezes com diferenças ainda mais extremadas. Os sindicatos informam sempre que as greves têm uma adesão muito elevada, nalguns casos aproximando-se da totalidade dos trabalhadores, e as empresas, quase exclusivamente as públicas porque nas privadas as greves são muito mais raras, e os organismos públicos apresentam números muito mais modestos.

Para a empolação dos números de grevistas pelos sindicatos há uma boa razão, ou duas: criar no público o receio de que, se as empresas ou organismos não cederem às suas reivindicações, virá a ser muito prejudicado pela indisponibilidade dos serviços, na esperança de que o público exija a quem os gere, a empresa ou a tutela do organismo público, que cumpra as exigências dos sindicatos para voltar a ter os seus serviços de volta; e nos trabalhadores a impressão de que a representatividade dos sindicatos é tão sólida que vale a pena manterem-se ou tornarem-se associados e pagarem a respectiva quotização de 1% do salário, até porque é a única deduçao salarial que proporciona no IRS um abatimento no rendimento colectável, não do valor da dedução, mas com uma majoração de 50% que minora o seu custo final, pelo menos para os contribuintes os escalões mais altos das tabelas do imposto.

Para as empresas e organismos públicos também há uma boa razão para apresentarem números muito menos expressivos, mostrarem aos utentes, e aos eleitores, que conseguem gerir bem a situação e defender bem os seus direitos.

De modo que o público fica sempre sem saber se as greves tiveram uma adesão quase total ou apenas marginal.

Mas no entanto é muito fácil apurar o número exacto de grevistas em todas as greves, e com a precisão da unidade: basta pedir aos recursos humanos das empresas, ou, o que pode ser ainda mais fácil por serem públicos, dos organismos públicos, o número de faltas por greve que apuram quando processam os vencimentos no final do mês. Não é número que esteja disponível para abrir os noticiários da manhã nos dias de greve, naqueles em que os sindicatos conseguem informar a comunicação social das adesões de noventas por cento para cima mesmo antes da hora de os trabalhadores chegarem ao serviço e os grevistas não, e as empresas de faltas menos expressivas, mas é número que pode ser obtido poucas semanas depois e poderá ser útil para calibrar as estimativas do momento pela observação de tendências estatísticas nas diferenças entre os números divulgados pelos sindicatos e pelas empresas ou organismos públicos e os reais e, por essa via, motivar os sindicatos e entidades a fazerem estimativas mais realistas no momento para não cairem posteriormente no ridículo.

Os jornalistas só não informam o número exacto de grevistas em todas as greves apenas porque são incompetentes. Ou isso, ou então porque gostam de participar como figurantes na encenação montada pelos sindicatos de que as greves são sempre um grande sucesso e eles são actores determinantes na vida da sociedade, mesmo quando não passam disso mesmo, de actores?

Senhres jornalistas, se querem continuar a ser úteis à sociedade mexam-se e trabalhem, informem.

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publicado por Manuel Vilarinho Pires às 13:01
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Sexta-feira, 22 de Setembro de 2017

Family guy

2017-09-22 PNR.png

Ontem, em mais uma acção de rua da campanha eleitoral da candidatura que integro, em que paramos para conversar com todas as pessoas que conversam connosco quando as cumprimentamos e lhes distribuimos um prospecto informativo da candidatura ou simplesmente quando vêem que estamos a fazer uma campanha eleitoral e nos interpelam espontaneamente, veio à conversa connosco um eleitor habitual do PNR.

[Para os que não sabem, filiei-me no PSD a seguir às eleições de Outubro de 2015, no dia em que percebi que o golpe constitucional do António Costa com o BE e o PCP seria juridicamente blindado e que sustê-lo forçando um governo formado por quem ganhou as eleições seria politicamente insustentável, com chumbos no parlamento que paralizariam a governação, e quando fui convidado por pessoas íntegras, trabalhadoras e capazes para integrar a lista de candidatos da coligação PSD/CDS à Junta de Freguesia da Venteira, concelho da Amadora, não fui nem seria capaz de dizer que não.]

Não é nenhum cabeça rapada dos que vão para o Bairro Alto agredir africanos pacíficos. É um pai de família, deve andar por volta dos quarenta, trabalhador que se pode designar de operário especializado, com um discurso de conservador, de pessoa que respeita princípios como o trabalho a família e a decência, chamemos-lhe assim porque honra é um termo em desuso. E é natural de Rio Maior, se bem que more e vote na Amadora, e, sendo demasiado jovem para ter vivido o PREC em Rio Maior, tem bem presentes os testemunhos da família sobre o que fizeram, e para resistir a quê, os Riomaiorenses.

E anda chateado.

Anda chateado com o milagre da reposição de rendimentos a quem nunca os chegou a perder, porque nunca teve sequer que se interrogar se num fim de mês qualquer chegaria a receber o salário, ele, que nunca chegou a perder o emprego mas, no pico da crise, chegou a estar três meses sem receber porque a empresa para quem trabalha não tinha dinheiro para pagar salários.

E sobre políticas de rendimentos tem ideias tão claras e cristalinas como qualquer catedrático de Economia que mereça o título que detém. Tem bem claro que austeridade não é uma opção que se toma para fazer mal às pessoas, mas o estado natural quando se acaba o dinheiro. Tem bem claro que a austeridade em Portugal não resultou da má vontade das autoridades europeias, mas do facto de o governo anterior ter estoirado o dinheiro até ao fim e de nos ter colocado à mercê das condições impostas por quem esteve disposto a resolver-nos esse problema emprestando-nos dinheiro que mais ninguém emprestava. Tem bem claro que os cortes de rendimentos resguardaram na medida do possível as pessoas de rendimentos mais baixos e foram violentos essencialmente para pessoas de rendimentos altos ou muito altos, mas de emprego e rendimento garantido todos os fins de mês, e tem bem claro que são estes os maiores beneficiários da reposição de rendimentos. Se um dia houver uma subscrição pública para financiar a construção de uma estátua ao Pedro Passos Coelho pelo modo como salvou Portugal da bancarrota, ele contribuirá na medida das suas possibilidades sem a mais pequena dúvida.

Anda chateado com os grevistas da Autoeuropa que, usufruindo de salários e regalias que mais nenhuns operários usufruem em Portugal, a começar por ele próprio, e acomodados a usufruirem deles em toda a segurança apenas por lá estarem e sem terem que dar o litro para os merecerem, querem recusar adaptar os seus horários de trabalho às necessidades de sucesso e mesmo de sobrevivência futura da empresa, mesmo que essa adaptação implique receberem substancialmente mais sem aumentarem o horário de trabalho.

Anda chateado com o CDS, o seu partido natural de voto alternativo ao PNR, por ter desfeito a coligação em Loures por causa de o candidato do PSD André Ventura ter feito afirmações que ele considera de mera constatação da realidade e de apelo ao cumprimento da lei, ele e a maioria das pessoas, até eleitores do BE, inquiridas numa sondagem de opinião.

Anda chateado por ver perseguidas pelas autoridades e mesmo criminalizadas opiniões que ele tem e que considera tão legítimas e respeitáveis como as opiniões opostas que tendencialmente têm vindo a ganhar terreno como únicas o obrigatórias, como, por exemplo, as do comentador que disse que não queria as bloquistas para casar, nem dadas, ou as do André Ventura sobre a impunidade de facto que é tolerada aos membros da comunidade cigana que não cumprem a lei.

Anda chateado porque sente que a sociedade, empurrada por uma pequeníssima elite minoritária que sempre teve tudo sem conquistar nada e é desproporcionalmente acolhida, acarinhada e exibida na comunicação social, e com uma capacidade de intervenção política ainda ampliada pela configuração actual da base de sustentação do governo, anda a ignorar, encurralar e perseguir gente como ele que, em bom Português, se pode designar como a regular, decent, working, God believing, family guy.

Anda chateado, e com razão.

Da conversa connosco resultou ele ter acabado por afirmar que votaria na coligação PSD/CDS nas eleições autárquicas do dia 1 de Outubro, ficando cá nesse fim-de-semana em de o ir passar à sua amada terra. Não por ter assumido que estava a falar com racistas, xenófobos, sexistas, homofóbicos, nacionalistas ou adeptos da ditadura, os lugares-comuns que a opinião pública dominante politicamente correcta cola automaticamente a qualquer eleitor habitual do PNR sem sequer procurar saber o que ele pensa, mas simplesmente por ter sido escutado com atenção e respeito, e acordo naquilo que suscitou acordo em quem falou com ele.

E da conversa com ele resultou também uma certeza. Gente mais do que normal que se anda a sentir ignorada, encurralada e mesmo perseguida por uma sociedade manipulada por elites minoritárias com quem a esmagadora maioria da sociedade nem sequer se identifica, se não se vir minimamente escutada e respeitada pelos partidos do sistema, quer por lhes ignorarem as preocupações, quer por simplesmente os ambicionarem erradicar, vira-se para os partidos dos extremismos, que se apercebem da sua existência e do seu descontentamento, quando não medo, e se posicionam com oportunismo em posição de o canalizar para conquistarem um poder que depois não têm competência nem capacidade para exercer. Gente mais do que normal, repito.

E eu, que não sou trumpófilo, nem sequer moderado, gostava que a estupidez dos extremistas do politicamente correcto que, por trás de uma fachada de luta pelo direito à diferença andam de facto a lutar pela imposição de ser igual, fosse moderada, em vez de encorajada por oportunismo político, pelo bom-senso dos moderados, pelo menos dos que o têm, que no PS parecem escassear cada vez mais, mas no PSD e no CDS deviam ser mais assertivos do que têm sido, para não parecerem menos representativos do que são.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 13:50
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Domingo, 23 de Outubro de 2016

Pré-aviso de greve

* Luta Popular, nº420, 18 de Outubro de 1976, gentilmente roubado a 1969 Revolução Ressaca

 

Camaradas, e camarados, pá!

Ao abrigo do artigo 57.º da Constituição da República Portuguesa e nos termos dos artigos 394.º a 396.º da Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, aprovada pela Lei n.º 35/2014 de 20 de junho, convoca-se uma Greve Nacional de autores do Gremlin Literário para amanhã, juntemo-nos aos padeiros e aos trabalhadores do comércio grossista textil, do comércio retalhista, e da construção civil da Madeira, e aos electricistas do aeroporto, derivado a trabalharmos ao sol e à chuva, em dias úteis e fins de semana, de dia e de noite, sem receber os 3.550 euros por mês que recebem os nossos camaradas do Câmara Corporativa, nem um ajuste directo para uma unidade de missão, nem uma assessoria na Câmara de Lisboa, nós nem sequer recebemos o passe social, caraças, pá!

Pela igualdade, não há exploração do homem pelo homem, abaixo o patronato, pelos direitos dos trabalhadores!

De pé, ó vítimas da fome, trá lá lá, trá lá lá, trá lá lá...

 

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 21:03
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Terça-feira, 24 de Maio de 2016

Por onde é que anda o COPCON?

Por onde é que anda o COPCON quando a Catarina precisa dele?

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 23:57
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Sexta-feira, 8 de Maio de 2015

Calculismo e cobardia

Ontem, a seguir ao almoço, ouvia distraidamente as notícias na SicN, um canal socialista que, por preguiça e hábito, costumo seguir.

 

Estava a dar uma conferência do simpático e eficiente Ministro da Propaganda, acompanhado do Secretário de Estado dos Transportes.

 

O prato de resistência era a greve dos pilotos e o secretário Monteiro abundou nas críticas ao sindicato e aos prejuízos da greve, não deixando de chamar a atenção para o falhanço parcial desta, visto que mais de dois terços dos voos continuam a realizar-se. Mas, na sequência das perguntas insistentes de uma jornalista, que não ouvi bem, explicou por que razão o Governo não decretou a requisição civil.

 

Fiquei a saber que a greve é um direito fundamental, mas tão fundamental, que só em casos extremos pode ser prejudicado com uma requisição civil - cuja aplicação o Governo ponderou, mas rejeitou. Este, em estando em causa os valores de Abril, sofre: por um lado, a periclitante situação do país, os prejuízos indirectos para este, e directos para a TAP, uma empresa falida que, a meu ver, será cara se privatizada por um Euro, a delirante reivindicação dos pilotos, um grupo de meninos mimados -  recomendariam que se pusesse cobro, no ovo, à loucura; por outro, a requisição civil abriria uma frente de combate com a esquerda, os comunistas confirmados nas suas alegações de fássismo, o PS a afectar pose de Estado, garantindo que, com ele, não haveria crispação - o PS e o redondo Costa são bons nisso, a descrispar, já o fazem há quatro décadas e três falências.

 

Sucede que este paleio dos direitos fundamentais não tem qualquer sentido se estes forem absolutizados. O direito à greve nasceu do gritante contraste entre as miseráveis condições de trabalho da mole imensa de operários, incluindo crianças, que foram para as fábricas na sequência da Revolução Industrial, e o trem de vida dos proprietários fabris e plutocratas. E foi acomodado porque o capitalismo descobriu que os operários também eram consumidores, portanto clientes, além de que as ideias social-democratas, na sua versão mais realista, começaram, com boas razões, a inculcar a tese de que é melhor dar-lhes alguma coisa, senão fazem a Revolução.

 

A greve, onde hoje existe, é pouco isto, e muito um instrumento de barganha negocial para os sindicatos, quando lhes parece que o patronato recalcitrante pode ser espremido.

 

Lá fora, nuns sítios mais e noutros menos. Mas não aqui: entre nós a greve é um instrumento de chantagem do PCP, que o usa para frear o distanciamento que o país vem ganhando dos valores de Abril, o santo-e-senha de uma sociedade pré-comunista que preenche o imaginário de quanto lunático radical viveu aqueles tempos de 1975, e dos que sobre isso leram três larachas; e o recurso a que também estão dispostas a recorrer as estruturas sindicais de outras obediências quando se lhes firam os interesses, que são os de viver à sombra do Estado, das empresas públicas e das estruturas ditas representativas (sindicatos, federações e Conselho de Concertação), onde os sindicalistas encontram o estilo de vida que não teriam se fossem trabalhadores como os outros.

 

Mas o PCP não apoia esta greve, pois não? Não, os burros dos pilotos, em vez de dizerem apenas que são contra a privatização, caso em que teriam o apoio entusiástico de toda a gente, do PS, inclusive, para a esquerda, e da sociedade civil, com o cineasta Vasconcelos e outros acéfalos liderando manifestações de patriotas, lembraram-se de uma promessa criminosa do ex-ministro Cravinho, que lhes ofereceu, como bom socialista, o que não lhe pertencia nem podia oferecer - 20% do bolo. E os patetas, não se sabe se de boa-fé, reivindicam o cumprimento da promessa do inimputável, ao mesmo tempo que envidam esforços para que o bolo se reduza a nada.

 

A explicação de Sérgio Monteiro para não ter havido requisição civil, por tudo isto, não convence. O que houve, da parte do governo, foi calculismo e cobardia.

 

Calculismo de que o eleitorado haveria de antipatizar com os pilotos, como está a suceder; e de que o PS não conseguiria aproveitar o desastre para benefício da sua propaganda - o que também se está a verificar.

 

Cobardia porque fazer o que é melhor para o país, mesmo que a opinião pública não goste, requer coragem mas é sentido de Estado; e a falta dele quase nunca é uma boa aposta - a prazo, não me parece que o eleitorado respeite quem o aldraba, de mais a mais com arroubos líricos sobre direitos fundamentais.

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publicado por José Meireles Graça às 12:04
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Quinta-feira, 11 de Dezembro de 2014

Take another plane

Num comunicado conjunto, a plataforma que reúne os 12 sindicatos da TAP refere que a greve tem como objectivo "sensibilizar" o Governo para a necessidade de travar o processo de privatização. Não sabemos se o Governo, esfregando as canelas doridas, se mostrará sensibilizado. A maioria dos milhares de passageiros que a greve vai atingir, porém, decerto demonstrariam a sua sensibilidade, se pudessem, pelo expediente de submeter os sindicalistas preocupados com o país às maiores sevícias, com o propósito de lhes ensinar que causar um considerável prejuízo (36 milhões, diz-se por aí) a uma empresa pública com um passivo gigantesco, atrapalhar a vida de emigrantes numa quadra de férias, prejudicar o turismo e os milhares de pequenos e não tão pequenos negócios que dele dependem, e embaratecer o preço da privatização, poderá ser muitas coisas mas "salvaguardar o interesse nacional" não é com certeza.

Claro que ninguém, nem os próprios, acredita nesta retórica. Do que se trata é de precaver a mais que provável hipótese de os novos patrões despedirem pessoal e diminuírem as regalias dos que ficarem, em nome da sobrevivência da empresa e dos negregados lucros. Mas, se é isso, porque não o dizem?

Um paisano obscuro, como eu, pasma. Desde quando os sindicatos têm que ter uma ideia do que seja o interesse nacional, de mais a mais permitindo-se em nome dela fazer greves? Os cidadãos têm o direito a ter essa ideia (embora normalmente raciocinem com o estômago e vísceras adjacentes) e têm-na; uma ideia diferente do que é o interesse nacional é justamente o que explica que haja partidos; e jornalistas, comentadores, opinantes sortidos, todos obedecem a uma ideia geral do bem comum, que nem é o mesmo para toda a gente nem, quando o seja, as opiniões deixam de divergir na forma de o realizar.

Mas os cidadãos, enquanto tal, não fazem greve, nem os jornalistas, quando a fazem, reivindicam que o Estado lhes nacionalize os jornais, para o efeito de lhes garantir os postos de trabalho; e quanto a comentadores a ideia de uma greve seria porventura bem acolhida pela população at large mas nem por isso jamais se verificou.

Razão, por uma vez, tem por isso o cómico que se prepara para vir animar as sessões mais tediosas da Assembleia da República: Alberto João "defende que seja decretada requisição civil porque a greve não é um direito absoluto".

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publicado por José Meireles Graça às 21:24
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Sexta-feira, 21 de Junho de 2013

Fugiram de casa de seus pais?

 

 

Aos oito deputados da JSD presentes no grupo parlamentar do PSD pareceu relevante perguntar quanto nos custam os sindicatos "do sector da educação". Para efeitos práticos, queriam tornar pública a sua preocupação com os custos dos sindicatos dos professores. E conseguiram algumas proezas paralelas. A mais previsível foi provocar a pergunta de sinal contrário: "Quanto custa a JSD?". Mas as consequências da "intervenção" são maiores do que isto e levantam outras perguntas.

 

Onde é que a JSD quer chegar? Estes deputados sabem que os sindicalistas têm os ordenados pagos pela entidade patronal, e é nesta medida que o Estado contribui para as despesas dos sindicatos. Como também são as empresas privadas que pagam os ordenados aos seus sindicalistas, e consta que os da Auto-Europa não ganham nada mal. O resto é pago pelas cotas dos trabalhadores sindicalizados, e neste assunto a Assembleia da República não pode (nem deve) meter o nariz.

 

Talvez a JSD esteja convencida que os sindicatos são dispensáveis, o que é legítimo. Mas até hoje não se conhece à JSD uma posição sobre o assunto. Se assim for, devem os jovens deputados apresentar uma proposta política forte, coerente, e bem fundamentada. Talvez queiram desgastar, aos olhos da opinião pública, a imagem dos sindicatos. Argumentar, como parece ser a sua intenção, que os sindicatos são prejudiciais porque significam um custo demasiado elevado nas contas do país, seria politicamente pobre e filosoficamente patético. Fundamentar estas contas no peso que têm no Orçamento do Estado os ordenados dos sindicalistas é uma estratégia tosca, desatenta, e pueril.

 

Desconheço quais são os custos que a JSD considera "razoáveis". A actuação pública dos petizes leva-me a desconfiar que esses custos seriam zero. E ainda assim a existência de sindicatos permaneceria uma concessão incómoda àquilo que parecem entender como caprichos da democracia, uma vez que nunca lhes ouvi apontar nenhuma vantagem. Não sei com quem é que a JSD pretende que os governos portugueses passem a negociar as medidas que afectam o trabalho e a vida dos assalariados.

 

O papel dos sindicatos tem-se traduzido em custos incalculáveis para o país. Ninguém sabe dizer quanto perdemos com a greve dos estivadores. As sucessivas greves dos professores, uma espécie de maldição sazonal que cai sobre os portugueses várias vezes ao ano (com perspectivas de se intensificar), representam custos económicos e sociais que estão acima de todos os luxos.

 

Em 1969 o Reino Unido vivia um pesadelo nas mãos dos sindicatos e Barbara Castle, várias vezes ministra e um dos mais destacados membros do Partido Trabalhista, concebeu uma proposta chamada "In Place of Strife" que previa alterações profundas à lei da greve. Não conseguiu, enquanto esteve no governo, que o seu projecto fosse executado. Foi preciso esperar 10 anos, até que Margaret Thatcher foi eleita e aplicou quase todas as alterações contidas nesse documento. Entre outras regras, a partir daí as greves tinham obrigatoriamente de ser decididas, através de voto secreto, por todos os empregados da empresa. Como é evidente, esta alteração tirou poder aos sindicalistas e reforçou o poder dos trabalhadores.

 

Em Portugal, os sindicatos representam as corporações (com os danos à vista). E estes deputadinhos resolvem contabilizar os ordenados dos dirigentes sindicais. Fizessem eles o que lhes compete, que é conhecer a sociedade portuguesa e representar efectivamente os interesses dos trabalhadores (que são a esmagadora maioria da população), e cada euro gasto em Nogueiras e Avoilas seria abençoado.

 

Espera-se da Assembleia da República que represente o povo português. Compete-lhe contribuir para o alívio das nossas dores. Se é para reflectir a nossa fraqueza, a nossa ignorância, e a nossa pesporrência, proponho para a próxima legislatura que os lugares de deputado reservados à JSD sejam sorteados entre os cidadãos que escrevem nas caixas de comentários da internet. Calculo que "os custos" em moeda sejam equivalentes. E o espectáculo de cabaré ganha outro viço se representado por degenerados livres.

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 03:19
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Sexta-feira, 14 de Junho de 2013

O recuo voluntariamente coagido

Não contesto o direito à greve: por razões históricas (foi um direito duramente conquistado lá onde foi conquistado - entre nós veio com a quartelada do 25 de Abril, dado que, tirando alguns episódios a que a historiografia de esquerda atribui a importância que não tiveram, o povo era sereno); por razões práticas - o preço de negar com repressão o exercício do direito é maior do que reconhecê-lo; e porque permite ajudar a resolver situações de abuso, que existem quando a vara esteja na mão do vilão, como muitas vezes está.

 

E portanto acho muito bem que os sindicatos dos professores decidam fazer greve - são lá coisas deles, e dos agitadores profissionais a la Mário Nogueira ou Pasionaria Avoila, e dos partidos de que são os braços para o mundo do trabalho.

 

E que os professores adiram, porque compram o discurso do PCP, ou do BE, ou do PS, que por este então está esquerdista mêmo mêmo, ou por oportunismo, ou por ingenuidade - também acho bem.

 

O que não acho bem é o diálogo. Porque o tempo do diálogo não é o tempo da greve - ela representa precisamente a falência dele.

 

E como desta vez há miúdos cuja serenidade e interesses fazem parte da equação; e como, quaisquer que sejam as ideias que tenhamos sobre o que sejam esses interesses futuros, não se admite que se os ofendam desde já; e como a luta não é entre interesses profissionais legítimos e autoritarismos patronais abusivos, mas entre o modo de ver as coisas que os derrotados nas eleições têm e a que têm os que as ganharam:

 

Apreciaria que a Crato não doessem as mãos. E que, no diálogo que toda a gente recomenda para todas as situações, usasse apenas uma frase:

 

A comunidade, que representamos, agradece o vosso recuo.

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publicado por José Meireles Graça às 21:21
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Quarta-feira, 22 de Maio de 2013

Os professores não vão à escola...pública.

Na sequência do que escrevi aqui, fiquei inquieta com uma nova reflexão que de seguida enunciarei.

 
Surgiu da circunstância de estar em casa a ver as notícias - em particular aquela em que a FNE anunciava que "vai aderir à greve de professores às avaliações e no primeiro dia de exames nacionais do ensino secundário" - no mesmo momento em que uma das minhas filhas, que está no 6.º ano e vai fazer exames nacionais, me entregava uma carta do colégio onde estuda, a dar nota das aulas de preparação para esses mesmos exames, precisamente nos dias de greve.

 

Vamos então por partes:

  1. Sou consciente da dureza das opções que estão a ser colocadas aos professores e às escolas. Concordo com algumas das medidas, de outras dúvido da eficácia, mas, de fundo, percebo que num cenário de redução do peso do Estado este setor não poderia - nem seria justo - que ficasse incólume. 
  2. Aceito - nem poderia ser de outra forma - que se utilizem meios legítimos como a greve, para fazer valer posições, embora prefira a mesa de negociações para o mesmo fim;
  3. Escolher como datas para o exercício desse meio legítimo justamente aquelas que põem em causa o trabalho de um ano parece-me estranho. Mais ainda quando os principais visados não são os próprios, mas os alunos que estes acompanharam durante um ano ou um ciclo, os seus alunos, os seus educandos, a sua razão de ser na missão como professores.


E eis que chego então à reflexão de ontem à noite: os alunos das escolas privadas estão salvaguardados. Só os alunos da escola pública - estatal, para ser rigorosa - serão potencialmente afetados. 
 

Gritante desigualdade. Será esta greve anti-constitucional?...

publicado por Ana Rita Bessa às 09:48
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Sexta-feira, 17 de Maio de 2013

Os professores não vão à escola

Está marcada uma greve de professores para o primeiro dia de exames nacionais de 12.º ano. Calha a ser o dia do exame de Português - só um dos exames que movimenta mais alunos.

 

Segundo o Público: "Os professores não têm nada a perder", declarou Mário Nogueira, presidente da Federação Nacional de Porfessores (FENPROF), no final do encontro que reuniu os representantes dos principais sindicatos nacionais de professores."


Faz sentido. Aliás a escola existe para haver emprego para professores. Os alunos são uma coisa acessória. Parece.


publicado por Ana Rita Bessa às 10:22
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