Imaginemos uma jovem, casada de fresco, que se candidata a um lugar de faz-tudo num escritório de uma pequena empresa. E suponhamos que o patrão, ou alguém por ele, é suficientemente imprudente para declarar que não está para correr o risco de dar emprego a uma candidata que, mal acabe de conhecer os cantos à casa e os fios do negócio e do serviço, se põe na senhora da alheta por mor de dar à luz e se ocupar dos primeiros tempos de um novo cidadão endividado.
Imaginemos que a candidata rejeitada apresenta queixa. E que, perante o magistrado, o arrogante patrão diz que sim senhor, efectivamente recusou provimento à menina porque bem vê, senhor doutor, não é só o prejuízo de ter que encontrar outra pessoa, e novamente lhe dar formação, é também que o substituto sabe que está a prazo, e entre o que não desenvolve enquanto aprende e o saber que vai de vela quando a feliz mãe regressar (pelo que não cessará de procurar colocação noutro lugar), perde-se talvez aquele rendimento que ele, patrão, espera... está o senhor a ver?
Nesta maré, o magistrado, se for pessoa da esquerda anti-capitalista, já está fervendo de indignação; e se for de outras inclinações poderá ter alguma compreensão para o dilema do patrão ingénuo mas o resultado será o mesmo: condenação. Discriminação sexual se chama à decisão deste empresário obsoleto e sexista e nem as legislações nem a opinião pública a consentem.
A mim me parece que não pode haver discriminação senão perante situações iguais, e da avaliação da igualdade de situações faz parte também o risco potencial que cada candidato evidencia para a estabilidade da relação laboral.
Porém, é social e humanamente intolerável que as mulheres sejam penalizadas por o serem; e mesmo que isso não fosse razão bastante sempre a renovação das gerações será condição de sobrevivência da colectividade.
Há por aí uma maioria, porventura esmagadora, que acha que o problema se resolve a golpes de leis, proibições e multas. E que supõe que em países avançados ele não existe. Mas existe, claro, que por toda a parte se sabem fazer contas.
Daí que a solução para a qual aponta o autor do artigo seja atribuir aos pais os mesmos direitos das mães - desaparece, como por encanto, o incentivo para a discriminação.
Brilhante, não? Excepto pelo facto de a discriminação se passar talvez a fazer em relação a jovens de ambos os sexos, precisamente a faixa da população mais afectada pelo desemprego.
Mundo complicado, este.
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