Domingo, 19 de Janeiro de 2020

O discurso da derrota

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Filiei-me no PSD na semana a seguir às eleições legislativas de Outubro de 2015, quando percebi que não havia meios constitucionais para impedir a formação de um governo sustentado parlamentarmente numa frente de esquerda radical, mesmo que o presidente da república se opusesse, como opôs sem procurar disfarçar a oposição a coberto da equidistância a que se encontrava obrigado, a essa reviravolta constitucional inédita ao resultado das eleições.

E filiei-me para me colocar ao serviço do PSD no combate pelo projecto político que estava a travar e pelo qual eu combatia a título individual e autónomo com os meios que tinha disponíveis como frequentador das redes sociais, o projecto de libertar o país do peso excessivo do Estado que o imobiliza e sufoca e em inúmeras situações condena à mediocridade, uma mediocridade que chega a matar, de viabilizar um Estado Social solidário sustentado em critérios de eficiência económica que lhe permitam disponibilizar a quem precisa os melhores serviços ao menor custo e com menor sobrecarga para a sociedade, de remover obstáculos fiscais e regulatórios à actividade económica que limitam o crescimento económico sustentável, de aumentar a transparência na gestão do Estado para evitar a sua apropriação por interesses privados, nomeadamente os dos detentores de cargos políticos e respectivos séquitos, e o risco de voltar a ruir de surpresa depois de os factores da ruína terem sido criteriosamente escondidos em contas manipuladas, criar um ambiente que permita à sociedade prosperar.

Isto, que qualquer político não socialista com veia poética seria capaz de escrever, e o facto de este projecto do PSD ser liderado por alguém a quem uns anos antes eu não teria dado grande crédito, um jovem telegénico com alguma projecção mediática oriundo das juventudes partidárias mas que quando se viu à frente de um governo sem dinheiro nem soberania que não fosse para aplicar um programa de austeridade negociado entre o governo anterior e as instituições que financiaram um país arruinado e dependente de financiamento para manter o funcionamento mais básico que já não conseguia encontrar mais ninguém que o financiasse, em que a concessão de cada nova parcela de financiamento dependia da aprovação pelas instituições do modo como vinha a ser aplicado esse programa, em que quem governasse não tinha alternativa a aplicar medidas de austeridade que não deixariam ninguém satisfeito, apesar de tornarem possível vir a deixar todos melhores por devolver a viabilidade ao país, não apenas pela tutela das instituições mas porque não tinha dinheiro para gerir de modo menos austeritário, teve a coragem de sacrificar qualquer ambição de prosseguir uma carreira política baseada, como as carreiras políticas em democracia não podem deixar de ser, na popularidade e na empatia com a maioria dos eleitores.

Se qualquer canalha consegue encontrar citações de Francisco Sá Carneiro em que se reveja como se tivessem sido pensadas para o qualificar, há pelo menos duas que, sem ele ter chamado a si a inspiração para Sá Carneiro as ter proferido, retratam precisamente a obra de Pedro Passos Coelho enquanto foi primeiro-ministro:

  • Primeiro Portugal, depois o partido, por fim, a circunstância pessoal de cada um, no modo como sacrificou as suas ambições pessoais e o jogo partidário para fazer o que tinha que ser feito para salvar Portugal, como salvou, nomeadamente ao ter optado em diversas ciscunstâncias por passar além da troika, porque não era a obediência às exigências da troika, mas a aplicação das medidas de austeridade possíveis e necessárias, que resgatariam Portugal da situação de dependência financeira em que estava, e
  • A política sem risco é uma chatice e sem ética uma vergonha, no modo como, mesmo assim, se predispôs a tomar decisões que pareciam catastróficas para as suas ambições pessoais e as do partido, porque a única forma de resgatar o país era tomá-las. 

E não é indiferente que alguns dos que aproveitaram a necessidade de esse governo tomar medidas impopulares para se colocarem ostensivamente ao abrigo de qualquer consequência negativa dessas medidas comentando-as como desnecessárias, consequência da maldade ou incompetência do governo que as tomou, e mesmo uma traição à matriz ideológica social-democrata do PSD, terem sido conhecidos militantes e ex-dirigentes do PSD, e de um desses ter sido o próprio Rui Rio. 

Filiei-me, portanto, para contribuir melhor para lutar por completar, depois de ter conseguido gerir e inverter a crise catastrófica criada pelo governo socialista precedente, um projecto político capaz de colocar Portugal de novo num caminho de prosperidade e de erradicar o risco de futuramente uma crise semelhante voltar a ocorrer. Se quiserem, para combater como soldado ao lado de Pedro Passos Coelho na oposição a António Costa e aos socialistas que tinham mergulhado Portugal nessa crise. Se quiserem ainda, mais por uma questão de simbolismo do que propriamente com esperança de poder desempenhar um papel que ajudasse Passos Coelho e o PSD a regressarem ao poder.

Desde então tenho feito aquilo que qualquer militante deve fazer. Coloquei-me ao serviço do partido e da secção onde sou militante, prestei a minha colaboração sempre que me foi pedida na medida das minhas capacidades e competências, aceitei os convites para integrar a Comissão Política da secção e a lista de candidatos do partido a uma Assembleia de Freguesia em lugar de eleição garantida, e exerço consequentemente funções de Vogal nessa Assembleia de Freguesia. Nem menos nem mais do que isto.

Não vale a pena repetir aqui a história dos últimos anos, nomeadamente o sucesso aparente das políticas de reposição de rendimentos adoptadas pelo governo António Costa que um contexto económico mundial favorável disfarça quaisquer consequências adversas que virá a ter. Os governos populistas de todo o mundo, seja em Portugal, seja nos EUA, tratam de insinuar que sucessos em domínios como o crescimento económico ou a redução do desemprego se devem às suas opções políticas, mesmo que opções de política económica como o aumento do salário mínimo e da carga fiscal ou o proteccionismo reduzam, no imediato ou a prazo, o crescimento económico e o emprego. Um dia será visível, mesmo para quem agora se deixa levar pela dinâmica de sucesso dos populistas, que estas opções foram perniciosas, mas na circunstãncia actual é inútil denunciá-las. Nem a saída da política activa de Pedro Passos Coelho, que resulta também desta dinâmica de sucesso aparente.

A verdade é que a Pedro Passos Coelho e à sua visão e capacidade de liderar a continuação do projecto político libertador sucedeu no PSD Rui Rio, primeiro em eleições onde defrontou Pedro Santana Lopes, depois num desafio à liderança lançado por Luís Montenegro que Rui Rio não quis aceitar, e finalmente nas eleições deste fim de semana que o confirmaram como presidente do PSD nos próximos dois anos.

Rui Rio apresentou-se como candidato à liderança do PSD com uma proposta de estratégia política e de liderança com alguns equívocos graves.

Apresentou-se com uma proposta de impedir o PS de governar condicionado pela extrema-esquerda, não derrubando o governo socialista e substituindo-o por um governo liderado pelo PSD e por ele, mas oferecendo-lhe um apoio alternativo ao apoio oferecido pelos partidos da esquerda que o sustentavam (e sustentam), o BE e o PCP, na esperança que apoiado pelo PSD o governo socialista se possa tornar menos extremista do que apoiado por eles.

Isto é um equívoco grave por vários motivos. Primeiro, conforma o PSD a um papel que nunca ambicionou ocupar, o de maior partido da oposição com esperança de influenciar o partido do governo, em vez de ocupar o papel do partido do governo capaz de governar, reformar e liderar e fazer progredir e prosperar o país, que assumiu múltiplas vezes no passado.

Depois, assume que o primeiro-ministro possa ter algum interesse na disponibilização da possibilidade de apoio do PSD que na realidade não lhe interessa para nada, por ele, um equilibrista e negociante competente, ser perfeitamente capaz de gerir os equilíbrios entre os socialistas, os bloquistas e os comunistas sem precisar de governar com a rede do apoio do PSD por baixo.

Finalmente, assume que o PS corre o risco de ser puxado para a esquerda por ser condicionado pelos apoios do BE e do PCP quando o PS actual, que não é o de Mario Soares ou de António José Seguro, ser tão esquerdista como eles, ser controlado ou por dirigentes mais velhos que vieram do MES ou mais novos que ingressaram no PS em vez do BE porque o PS, um partido de poder, oferece melhores oportunidades de emprego às suas namoradas que partidos de protesto da esquerda radical, um partido que veta sempre que lhe é dado vetar qualquer celebração do 25 de Novembro de 1975, um partido do lado dos derrotados nesta circunstância determinante da evolução da revolução do 25 de Abril de 1974 para uma democracia liberal em vez de uma "democracia" popular.

Prescindir da ambição de liderança que sempre motivou o PSD para ajudar um governo socialista que não precisa de ajuda a aliviar a influência da esquerda radical quando ele tem a esquerda radical no seu núcleo duro não serve para nada.

Apresentou-se com uma proposta de liderança do PSD populista, nomeadamente ao pretender dar ao partido um "banho de ética" e ao insinuar a qualquer foco de oposição interna "interesses" na defesa de "lugarzinhos", ou seja, ao propor-se combater as elites instaladas. E, como é próprio dos populistas, a insinuar poderes obscuros a essas elites através de organizações secretas, no caso dos oponentes internos a Maçonaria.

Eu tenho desde sempre algum cepticismo relativamente aos políticos que se procuram afirmar mediaticamente através do combate à corrupção. Com algum cinismo coloco sempre a possibilidade de nunca a terem praticado por nunca terem tido a oportunidade de o fazer, por nunca terem exercido funções executivas que atraem, pela capacidade de tomar decisões que envolvem muito dinheiro, propostas de corrupção. Também tenho notado que alguns dos que assumem publicamente o papel de combate à corrupção exerceram funções executivas mas nunca denunciaram casos concretos com que tenham deparado no exercício dessas funções, de que seria mais fácil apresentar evidências sólidas do que as meras insinuações mediáticas de suspeitas de casos que lhes são longínquos. Eu não sou capaz de acreditar que alguém que foi ministro das Obras Públicas ou vereador numa grande Câmara Municipal não tenha um único caso vivido na primeira pessoa para denunciar com conhecimento de causa e mesmo evidências.

A primeira vítima de insinuações vagas como o banho de ética ou a defesa dos lugarzinhos é a reputação de todo o partido que é deitada pelo ralo com a água do banho. De todo o partido, para não dizer de todo o sistema democrático, como os populistas hard não se cansam de tentar. E o primeiro beneficiado é, espera o autor das insinuações, o autor das insinuações, que ao fazê-las espera ficar automaticamente ilibado das suspeitas que lança sobre todos os outros.

Mas a verdade é que a ética praticada pelos dirigentes actuais do PSD não parece ter estado à altura da exigência que se esperaria fundamentar a denúncia de Rui Rio. Desde casos de caciquismo, a negócios obscuros de autarcas, a casos de presenças falsas no parlamento, não se verificou nenhum padrão de exigência ética que distinguisse claramente esta direcção de qualquer direcção de qualquer partido de poder onde a ética nem sempre consegue resistir às tentações que o exercício do poder atrai. E por contrapondo relato aqui uma historieta que se passou comigo. Nos meus primeiros tempos de militante no final de 2015, ainda com Passos Coelho a liderar o seu segundo governo, um secretário de Estado foi à secção onde milito ter um encontro com militantes. Depois da reunião disse a um amigo deputado "os secretários de Estado andam de BMW série 3 e motorista", ao que ele esclareceu "O carro não era do governo, devia ser do partido, porque o Passos não deixa os governantes levarem o carro para essas reuniões".

E a eleição da ética dentro do PSD como tema nuclear da sua afirmação como dirigente e a falha em acompanhar as expectativas de exigência implícitas nessa escolha é especialmente penalizadora para o PSD e proveitosa para o governo, porque desviou o foco público das falhas de ética num governo cheio de casos de nepotismo e corrupção a níveis de que não há memória e que mereceram mesmo os títulos da imprensa internacional para pechas infantis como presenças falsas de deputados do PSD no parlamento.

Um terceiro equívoco é a tentativa de a actual direcção do PSD se desligar da "herança Passos".

O calculismo da opção é evidente, a tentativa de largar o lastro das medidas impopulares que o governo Passos foi forçado a adoptar para resgatar o país da dependência das instituições internacionais. A demagogia tembém, sem essas medidas impopulares, e sem a coragem para as assumir contra tudo e todos, a começar pela popularidade de quem as assumiu, não como a concessão a uma imposição de terceiros mas por serem necessárias, Portugal ainda andaria hoje de resgate em resgate como a Grécia andou em vez de se ter libertado definitivamente da dependência da troika em 2014, como estava planeado e parecia improvável a muitos, a quase todos. Sobra a estupidez de, ao assumir a falta de apoio e mesmo a oposição a essas medidas do governo Passos, a direcção do PSD deixar o governo socialista desligar-se também delas, que no entanto foram adoptadas maioritariamente ainda no tempo do governo socialista anterior, a estupidez de possibilitar aos socialistas designarem por "cortes do governo Passos" cortes que foram de facto deliberados e implementados pelo governo Sócrates.

E pior do que estes erros circunstanciais é renegar a herança reformista do PSD na história da democracia portuguesa que foi determinante para três libertações de Portugal: a libertação da tutela militar, iniciada pelos governos Sá Carneiro, a libertação da economia estatal, levada a cabo pelos governos Cavaco Silva, e a libertação da dependência externa, conseguida contra todas as expectativas pelo governo Passos Coelho. Sem esta memória o PSD é um partido dispensável.

Tudo junto, não é difícil de entender o apoio que, nos processos eleitorais internos do PSD, tem sido publicamente concedido a Rui Rio por socialistas como António Costa ou por comentadores esquerdistas e ferozes opositores de qualquer papel de liderança do PSD na evolução da sociedade portuguesa como Clara Ferreira Alves ou Daniel Oliveira. Eles podem ser intelectualmente desonestos mas sabem bem quem lhes serve os interesses e quem lhos contraria.

Mas apesar disto que acabei de dizer e das duas derrotas eleitorais em eleições nacionais em 2019, essencialmente a derrota nas eleições legislativas onde é escolhido o primeiro-ministro, e essencialmente devido às grandes distritais do Porto e de Aveiro, os militantes do PSD escolheram reconduzir Rui Rio na presidência do partido.

Eu não me revejo no PSD de Rui Rio e não vejo que ele precise de mim. Não estou e nunca estarei do mesmo lado de António Costa, Clara Ferreira Alves e Daniel Oliveira. O combate que me motivou a filiar-me no PSD já não está a ser travado pelo PSD.

Resta-me, como militante e como membro da Comissão Política da secção, continuar a colaborar como tenho colaborado sempre que me for solicitado pela secção da Amadora ou pelo seu presidente, o deputado Carlos Silva que estimo e admiro, e a procurar servir os eleitores da Freguesia da Venteira na Assembleia de Freguesia para onde fui eleito em 2017. E nas redes sociais continuarei a combater o socialismo como sempre combati, antes e depois de me filiar no PSD. Mas não vou colaborar numa secundarização do PSD face ao PS, não quero colaborar no que pode proporcionar uma mexicanização do regime. Quero combatê-la.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 18:51
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Domingo, 4 de Março de 2018

As saudades que para aí andam do tempo em que se saneavam professores...

Eu sou do tempo em que o cançonetista Zeca Afonso era regularmente impedido pelo Estado Novo de exercer a sua verdadeira profissão, e a que lhe proporcionava o ganha-pão, a de professor do ensino oficial.

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Distraído com coisas menores, só ontem pela madrugada me apercebi, através da leitura circunstancial de uma publicação no blogue de uma amiga, do movimento que se formou espontaneamente para impedir o ex-primeiro ministro Pedro Passos Coelho de assumir um lugar como professor convidado numa universidade pública.

Confesso que, ou por falta de tempo ou por falta de interesse, não dediquei nenhum esforço a descodificar os rosnados da matilha que se formou para tentar perceber se a exigência de expulsão do novo professor se deve à insuficiência das suas qualificações académicas, uma mera licenciatura pré-Bologna, para dar aulas numa universidade, ou às suas qualificações políticas manchadas indelevelmente pelo crime de ter salvado Portugal da última falência socialista, devendo atribuir-se ao adjectivo numeral última o sentido relativo de ter sido a última até agora mas não a última de todas, porque outras se seguirão, e não o absoluto.

Também deixo claro que, relativamente a esta questão de a falência socialista de que o Pedro Passos Coelho nos salvou ser a última até agora mas não a última de todas, não pretendo tentar esclarecer os socialistas e afins, os membros da matilha, que são suficientemente burros para acreditar nos seus próprios números de ilusionismo, mas apenas deixá-lo escrito para um dia poder dizer "eu bem vos avisei". Também sei que não ficarão desassossegados quando a próxima chegar, porque também são suficientemente burros para acreditar que ela se deverá, não às boas políticas socialistas do governo que acarinham e protegem, mas a causas exógenas de que ele não terá responsabilidade nem permitirão colocar em dúvida a qualidade das suas políticas, como por exemplo a pesada herança do governo Passos por ter governado sem dinheiro, a maldade dos mercados financeiros quando deixarem de acreditar nas qualidades do ilusionista por terem percebido o truque, e as crises cíclicas do capitalismo mundial que há mais de cem anos anunciam o seu fim e a sua substituição pelo socialismo.

Não sei se a proposta de expulsão do ensino oficial do professor Pedro Passos Coelho tem por objectivo proteger os futuros alunos de uma menor exigência na qualidade do ensino ou proteger a sociedade da presença de um político indesejável por desmentir a narrativa em que ela deve acreditar para ser feliz, pelo menos nos intervalos entre crises e falências em que, se quer sair delas, é mesmo obrigada a chamar políticos competentes? Se o saneamento que exigem é académico ou político?

Talvez o saneamento seja académico?

O Estatuto da Carreira Docente UniversitáriaDecreto-Lei n.º 448/79, de 13 de novembro, alterado pela Lei n.º 19/80, de 16 de Julho, e pelos Decretos-Leis n.os 316/83, de 2 de julho, 35/85, de 1 de fevereiro, 48/85, de 27 de fevereiro, 243/85, de 11 de julho, 244/85, de 11 de julho, 381/85, de 27 de setembro, 245/86, de 21 de agosto, 370/86, de 4 de novembro, e 392/86, de 22 de novembro, pela Lei n.º 6/87, de 27 de janeiro, e pelos Decretos-Leis n.os 145/87, de 24 de março, 147/88, de 27 de Abril, 359/88, de 13 de outubro, 412/88, de 9 de novembro, 456/88, de 13 de dezembro, 393/89, de 9 de novembro, 408/89, de 18 de novembro, 388/90, de 10 de dezembro, 76/96, de 18 de junho, 13/97, de 17 de janeiro, 212/97, de 16 de agosto, 252/97, de 26 de setembro, 277/98, de 11 de setembro, e 373/99, de 18 de setembro, e 205/2009, de 31 de agosto (que procede à sua republicação), alterado pela Lei n.º 8/2010, de 13 de maio, e que me perdoem os que se perderam no parágrafo antes de chegar aqui mas não fui capaz de resistir à citação deste extraordinário preâmbulo, prevê, logo no seu Artigo 3º Pessoal especialmente contratado, a contratação para as categorias de assistente convidado, professor convidado ou leitor, "individualidades, nacionais ou estrangeiras, de reconhecida competência científica, pedagógica ou profissional, cuja colaboração se revista de interesse e necessidade inegáveis para a instituição de ensino superior em causa". A contratação de professores como o Pedro Passos Coelho não apenas não é ilegal como está expressamente prevista na Lei. Mas o facto de ser legal não comprova só por si a virtude ou a conveniência de o fazer.

O meu pai dizia que quem sabe faz, e quem não sabe ensina. Mas há excepções. Na minha passagem como aluno pelo Instituto Superior Técnico tive várias cadeiras ministradas por assistentes ou professores convidados, que se distinguiam dos professores integrados na carreira académica por, por um lado, não serem doutorados nem possuirem qualquer grau académico superior à licenciatura, e por outro, serem engenheiros de profissão que ensinavam no IST aquilo que faziam nas empresas onde trabalhavam. Eram os que sabiam e ensinavam. Pelo que não é inédito as universidades, mesmo as que conquistaram um renome superlativo, recrutarem professores que não têm as qualificações académicas requeridas para a integração na carreira académica mas têm competências profissionais suficientemente relevantes para partilhar com os alunos.

Também é verdade que a matilha que pretende a expulsão do professor Pedro Passos Coelho tende a acreditar em charlatões que, instalados nas universidades, maioritariamente nos departamentos de ciências sociais que se prestam mais do que os das ciências exactas a fingir que opinião pode ser ciência, utilizam o púlpito que elas lhes proporcionam para pregar opiniões como se fossem ciência, os Paes Mamede, os Louçã ou os Boaventura que em bom tempo nos prometeram de ciência certa que a rebelião da Grécia contra os ditâmes do Eurogrupo e da senhora Merkel, e agora permitam-me abrir mais um parêntesis para relembrar que a senhora Merkel é de facto uma senhora que merece o título que é usado para a designar, para além de ter exercido a profissão de investigadora doutorada em Química Quântica antes de se dedicar a tempo inteiro à política, a salvaguardaram da crise em que Portugal caiu com a sua submissão à Europa, postulado que a matilha nunca se lembrou, ou lembrou mas evitou para não se sentir embaraçada com a sua própria burrice, confrontar com os factos que entretanto vieram a ocorrer. O rigor científico também não parece ser o que os move.

Também é verdade que algumas universidades podem cair na tentação de convidar professores especialmente contratados, não para partilharem com os seus alunos as competências adquiridas ao longo da sua carreira profissional, mas para aquilo a que se pode designar, de modo simplista e redutor mas suficientemente claro para comunicar o conceito, por lhes fazer favores políticos. Para dar um exemplo, o politico António Guterres, portador do grau de licenciado, foi admitido quando saiu do governo que liderava como professor catedrático convidado pelo IST, não sei especificar exactamente para que objectivo, nem se chegou a cumpri-lo ou se o seu cartão de ponto na universidade ficou tão virgem de registos como o da entidade petronal onde exercera a profissão antes de ingressar no governo, o Instituto de Participações do Estado IPE. Será esta a motivação para os que agora pretendem expulsar o professor Pedro Passos Coelho do ensino? Acredito que seja, pelo menos para os que agora pretendem expulsá-lo e na época também pretenderam expulsar o professor António Guterres do IST. Que são, tanto quanto me foi dado enumerar até agora, nenhum.

Ah, mas o Guterres teve média de 19 no IST! Pois teve, mas eu não encontrei no estatuto nenhuma provisão que assegura aos alunos com média de licenciatura elevada um lugar de professores convidados na universidade onde se licenciaram. Aliás, se alguém conhecer ou conseguir encontrar essa provisão na lei, gostava que me informasse se a média de 17 é suficiente para também assegurar um lugar de professor no IST? É para um amigo.

Ah, mas o Guterres é de esquerda! Pois é, e nesta explicação eu já acredito. Recrutar para professor convidado um ex-primeiro ministro socialista é louvável, mas recrutar um ex-primeiro ministro não socialista é execrável e merece um movimento a exigir a expulsão do professor.

O saneamento exigido é, pois, político.

E, sendo político, não consegui que deixasse de me fazer recordar o saneamento do ensino oficial do cantor José Afonso antes do 25 de Abril de 1974. Cada matilha inspira-se naquela em que gosta de se inspirar, e esta gosta de calçar as botas do Estado Novo, ou gostaria, se tivesse mais meios para o fazer do que o voluntarismo de alguns militares de Abril já enferrujados que não é acompanhado pelo dos 800 homens que eles precisavam que os seguissem para derrubarem o regime e, no que nos interessa agora, sanearem o Pedro Passos Coelho.

E, recordado, andei à procura de testemunhos históricos desse saneamento, e encontrei alguns de ex-alunos sobre a experiência de o terem tido como professor. Para não correr o risco de os encontrar tendenciosos evitei procurá-los no mural da actriz e internauta Maria Vieira, e acabei por encontrar este no insuspeito e objectivo esquerda.net de uma antiga aluna que registou no seu diário a primeira aula dele no Liceu Nacional de Setúbal a 4 de Outubro de 1967 a uma turma do sétimo ano do liceu. Passo a transcrever.

 

" - Vocês são o 7º A, não são? Desculpem o atraso mas enganei-me e fui parar a outra sala. Não faz mal. Se vocês chegarem atrasados também não vos vou chatear.

Depois das primeiras palavras, sentou-se na secretária, abriu o livro de ponto, rabiscou o que tinha a escrever e ficou uns cinco minutos, em silêncio, a olhar o pátio vazio, através das janelas da sala, impecavelmente limpas.

- Bem, eu sou o vosso novo professor de Organização Política, mas devo dizer-vos que não percebo nada disto. Vocês já deram isto o ano passado, não foi? Então sabem, de certeza, mais que eu.

Gargalhada geral.

- Podem rir porque é verdade. Eu não percebo nada disto, as minhas disciplinas, aquelas em que me formei, são História e Filosofia, não tenho culpa que me tivessem posto aqui, tipo castigo, para dar uma matéria que não conheço, nem me interessa. Podia estudar para vir aqui desbobinar, tipo papagaio, mas não estou para isso. Não entro em palhaçadas.

Voltámos a rir, numa sonora gargalhada, tipo coro afinado, mas ele ficou impávido e sereno. Continuava a mostrar um semblante discreto, calmo, simpático.

- Pois é, não vou sobrecarregar a minha massa cinzenta com coisas absolutamente inúteis e falsas. Tudo isto é uma fantochada sem interesse. Não vou perder um minuto do meu estudo com esta porcaria. ".

 

Espero não escandalizar os que vêem no José Afonso um homem santo, mas tenho algumas dúvidas sobre a qualidade desta pedagogia, e admito que mesmo numa democracia madura, como vai sendo a nossa, ela pudesse ser suficiente para os pais reclamarem à instâncias próprias e para se ponderar o afastamento do professor?

Uma das conclusões possíveis de retirar disto tudo é que a exigência do saneamento do Pedro Passos Coelho tem motivações aparentemente académicas mas também podem ser políticas, e o saneamento do José Afonso teve motivações aparentemente políticas mas também podiam ser académicas.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 14:11
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Sexta-feira, 7 de Abril de 2017

MBA rápido em Jornalismo, na especialidade Entrevista Política

2017-04-07 Pacheco Pereira Bom trabalho, mau traba

Hoje lanço aqui um MBA rápido em Jornalismo, na especialidade de Entrevista Política, com uma garantia de empregabilidade de 100% na Impresa, o grupo de comunicação social do dr. Pinto Balsemão. O curso é gratuito, mas ofereço a garantia de devolução das propinas se o candidato não conseguir o tão desejado lugar nos quadros deste afamado grupo.

O curso é suportado cientificamente numa investigação empírica exaustiva conduzida ao longo de anos na observação de percursos profissionais de sucesso de jornalistas lambe-botas e lambe-cus, fundamentação científica que permite assegurar os resultados prometidos.

O estudo de caso que se propõe como exercício é preparar um guião para uma boa entrevista ao líder da oposição. Para os alunos não gastarem os neurónios, a abundância de neurónios não é um pré-requisito para o ingresso no grupo Impresa, a resolvê-lo, apresenta-se desde já a solução e despacha-se o curso mais repidamente.

 

Guião para uma boa Entrevista ao Líder da Oposição.

  • O senhor está com raiva por causa dos sucessos do Governo a resolver problemas que o senhor deixou por resolver?
  • O senhor, que disse que o governo nunca conseguiria atingir o deficit, o que é que diz agora, engole as palavras?
  • O senhor continua a torcer para haver a necessidade de um segundo resgate?
  • O senhor está à espera de a geringonça estoirar para conseguir finalmente regressar ao governo?
  • Se voltar ao governo, o senhor vai voltar a cortar os salários e as pensões?

[Se incluiu estas perguntas na sua solução, o entrevistador já obteve a aprovação no curso e um lugar garantido nos quadros da Impresa. A resposta seguinte permite ascender à classificação de Aprovado com louvor e Distinção e dá acesso directo ao ingresso na Quadratura do Círculo e a sete mil e quinhentos euros por mês a título de direitos de autor, que pode acumulaar com outros rendimentos e lhe dá um desconto no IRS]

  • O senhor continua a ser um neoliberal que faz tudo para desvirtuar a matriz social-democrata do PPD/PSD e a herança ideológica do dr. Sá Carneiro?

Obrigado pela vossa comparência no curso, espero que vos tenha sido útil e proveitoso, e deixo-vos a sugestão de levarem sempre convosco a imagem de São Pacheco, o santo padroeiro dos vira-casacas, que neste mundo nada é imutável e a capacidade de adaptação a circunstâncias que se alteram dinamicamente é crucial para os lambe-botas e lambe-cus de sucesso.

 

* Imagem do santo tomada de empréstimo ao seu suposto autor, o blogue wehavekaosinthegarden.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 11:50
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Terça-feira, 17 de Janeiro de 2017

Os trabalhos do Pedro Passos Coelho

Estas linhas destinam-se a uma espécie em vias de extinção, a fazer fé na generalidade dos jornalistas e comentadores de quase todos os jornais e canais de televisão, incluindo os que foram dirigentes e até presidentes do partido mas deixaram de o ser por, entre outros motivos, nunca teram conseguido ganhar eleições legislativas, os militantes, dirigentes e eleitores do PSD. Se já não houver nenhum entre os leitores, há pelo menos este que as escreve.

Está em plena execução uma campanha mediática com exactamente o mesmo objectivo, remover a liderança de um partido incómoda para os autores da campanha, o mesmo alvo, os militantes, dirigentes e eleitores desse partido, o mesmo argumentário, sugerir fragilidades e isolamento dessa liderança para sustentar a ideia que ela não é suficientemente forte para ganhar eleições apesar de as ter ganho sempre até aí, os mesmo actores, jornalistas e comentadores notáveis de diversos partidos e has-been e adversários internos do mesmo partido, todos unidos no incómodo que o sucesso do dirigente a remover lhes proporciona, e os mesmos meios, uma série conhecida de jornais e canais de televisão que dão palco aos actores, que a que foi montada, e resultou, para derrubar o anterior líder do PS António José Seguro e o fazer substituir pelo actual, o António Costa. E o mesmo autor, o mesmo António Costa que, na altura, tinha deixado o Seguro fazer sozinho a travessia do deserto de uma legislatura na oposição e construir uma alternativa credível ao governo e estava na altura de colher os frutos antes que ele mesmo os colhesse, e agora perdeu as eleições e preferiria disputar as próximas contra um adversário a quem as consiga ganhar, e até tem uma proposta bem definida nesse sentido. O objectivo da campanha, os leitores já identificaram, é a remoção e substituição do Pedro Passos Coelho como presidente do PSD.

A campanha contra o Seguro resultou, apesar de ele ter ganho todas as três eleições a que o PS concorreu enquanto foi liderado por ele, duas delas de âmbito nacional, as autárquicas de 2013 e as europeias de 2014, e o PS, infectado pelo receio de que ele ser incapaz vir a ganhar as legislativas de 2015, substituiu-o em eleições directas pelo Costa, que depois as veio mesmo a perder.

A campanha actual, lançada pela equipa do Costa ainda antes das eleições legislativas ao identificar como seu adversário preferido no PSD o Rui Rio, para além da participação natural de agentes da política, do jornalismo e do comentariado dos adversários políticos, envolve inimigos políticos na definição de Winston Churchill, os do próprio partido, inúmeros figurões do PSD incluindo a maioria dos antigos presidentes do partido ainda vivos, começando pelo Pinto Balsemão com a sua máquina de propaganda declaradamente criada para vender presidentes como se fossem sabonetes, se bem que nunca o tenha conseguido vender a ele como presidente, o doutor Rebelo de Sousa, que tem usado todo o magistério de influência que as actuais funções colocam à sua disposição para louvar e defender o primeiro ministro e criticar e menorizar o líder da oposição, a Manuela Ferreira Leite e a sua facção, incluindo o Pacheco Pereira, o mais esforçado detrator do Passo, e o Rio, o mais interessado na substituição dele por si próprio, e até o Marques Mendes no seu programa semanal de divulgação de mexericos da política. Dos ex-presidentes vivos, só se têm matido de fora da campanha o Cavaco Silva, que ganhou três eleições legislativas, o Durão Barroso, que ganhou umas, os únicos ex-presidentes do PSD vivos que, tal como o Passos por duas vezes, ganharam eleições legislativas, e o Santana Lopes e o Luís Filipe Menezes, que nunca ganharam nenhumas, tal como todos os que participam na campanha.

Mas a campanha tem o handicap do dejá vu que filtra os que caem nela segundo o princípio da ciência das campanhas na primeira caem todos, na segunda só cai quem quer.

Mesmo assim, e apesar de o Passos ser, lado a lado com o Sá Carneiro e o Cavaco, o único presidente do PSD que conseguiu ganhar segundas eleições legislativas depois de ter governado, e em condições de submissão a um programa de assistência financeira externa incomparavelmente mais duras do que aquelas em que eles tinham governado, a campanha actual tem conseguido inocular alguma dúvida entre militantes, dirigentes e eleitores do PSD, para além, obviamente, dos que participam nela de alma e coração por pretenderem devorar o cadáver se ela resultar, sobre a sua capacidade de ganhar eleições legislativas. E por três razões:

  • As sondagens, que dão vantagem sistemática ao Costa e ao PS, nalgumas delas suficiente para formar maioria com apenas o apoio parlamentar do BE, noutras poucas próximo da maioria absoluta.
  • A aparente inabilidade política do Passos, ou indisponibilidade para fazer demagogia, que parece afugentar eleitores que, com um bocadinho mais de manha, seria possível reter ou conquistar.
  • A aparente passividade do modo de estar e fazer oposição do Passos, que a alguns chega a parecer saudosismo ou ressentimento por ter sido afastado do governo apesar de ter ganho eleições, e inaptidão para recuperar a maioria a partir da oposição. 

Todas estas razões são importantes e têm indícios a sugeri-las, pelo que todas merecem ser analisadas para perceber até que ponto são mesmo fundamentadas, ou meros enganos que a campanha inocula habilmente nas suas vítimas.

 

As sondagens

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Depois de nas eleições de Outubro de 2015 a coligação PàF ter derrotado claramente o PS, com 38,5% dos votos contra 32,3%, neste primeiro ano de governação socialista o PS tem conseguido recuperar nas sondagens essa desvantagem e ultrapassar, não apenas o PSD, mas até o PSD e o CDS somados, obtendo actualmente uma média próxima de 40% das intenções de voto declaradas contra cerca de 30% do PSD e 7% do CDS.

Esta recuperação de intenções de voto parece sugerir que o governo está a governar de modo popular, e bem, e o PSD está a fazer oposição de modo impopular, e mal, e suscita dúvidas com algum sentido em dirigentes, militantes e eleitores do PSD, que não os que participam na campanha, sobre a capacidade da actual liderança do partido dar a volta a uma desvantagem que já é significativamente expressiva. E tanto mais quanto a ambição do PSD é voltar a governar e, para isso, com a mudança de paradigma operada nesta legislatura em que a esquerda radical passou a estar disposta a apoiar governos do PS e o PS a acolher as exigências que esse apoio lhe custa, tem que conseguir uma maioria absoluta de deputados nas eleições legislativas, pelo menos em conjunto com o CDS com quem consegue tradicionalmente entender-se para formar governo.

Uma análise um pouco mais ponderada revela que a desvantagem actual do PSD (e do CDS) face ao PS não é muito, ou mesmo nada, diferente da desvantagem que teve ao longo de toda a legislatura anterior desde que o programa da troika entrou a doer no bolso dos portugueses, sendo natural que muitos atribuissem as dificuldades por que estavam a passar, não ao governo que tinha mergulhado o país na crise, mas ao que estava a tentar tirá-lo da crise, e que não impediu a vitória da PàF nas eleições de Outubro de 2015.

Uma análise um pouco mais atenta revela que as sondagens em Portugal tendem a convergir para o resultado das eleições apenas nas últimas semanas antes da sua realização, o que parece atestar o rigor e a seriedade das empresas que as realizam, mas a ter resultados muito diferentes até poucas semanas antes das eleições. O que sugere que a predisposição para responder a sondagens não se distribui sempre de modo uniforme por todo o espectro político, parecendo que às sondagens distantes das eleições os eleitores da direita tendem a recusar responder mais que os de esquerda, o que faz os resultados terem um peso exagerado da esquerda face à realidade, e à medida que as eleições se aproximam tendem a aceitar responder, proporcionando resultados bastante fiáveis nas últimas sondagens que precedem as eleições. Ou seja, sugere a existência real de uma maioria silenciosa, até para efeitos de resposta a sondagens.

Revela ainda que, mesmo sem permitir aferir as consequências que poderia vir a ter nas eleições seguintes, até porque ele foi afastado antes de elas ocorrerem, uma campanha de descredibilização como a que foi lançada sobre o Seguro resulta numa violenta queda nas intenções de voto declaradas nas sondagens, como se pode verificar imediatamente a partir do desafio à sua liderança que o Costa formalizou no dia seguinte às eleições europeias de 2014, assinalado pela seta mais à esquerda na figura. Ou seja, demove pelo menos os eleitores dispostos a responder nas sondagens.

Lição? Deduzir dos resultados das sondagens actuais que o PS se prepara para obter uma vitória eleitoral em 2019 e que a actual liderança do PSD é incapaz de o levar à vitória eleitoral é uma previsão de grande risco não sustentada pelos factos verificados em eleições passadas.

 

A inabilidade política

O Passos distinguiu-se em toda a legislatura anterior por fazer o que pensava que era preciso fazer para resolver o gravíssimo problema financeiro, económico e social que tinha que ser resolvido em Portugal, mesmo que isso lhe viesse a custar o apoio de grupos de interesses importantes na sociedade portuguesa e a simpatia dos eleitores e, consequentemente, a reeleição, modo de estar na política que resumiu cristalinamente na frase

  • "Que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal".

A frase evidencia uma coragem política rara e o traço de carácter mais nobre que se pode ter na política: colocar os interesses de Portugal e dos portugueses à frente do seu interesse pessoal como político que pretende continuar a ser eleito, e do do partido. Muitos políticos disseram coisas nobres como esta, mas raros foram capazes de ser tão coerentes com este princípio como ele foi. Até porque a coragem política nem sempre é apreciada na política. Na série Yes, minister, quando um dos assessores comentava com o ministro que uma decisão sua mostrava grande coragem política, o ministro tratava logo de a mudar para não correr riscos. Era mesmo o melhor argumento que eles tinham para o fazer mudar de ideias a propósito de qualquer iniciativa dele de que eles não gostassem. O Sá Carneiro definiu a sua posição sobre este tema, correr riscos para lutar pelas suas convicções, com outra frase cristalina,

  • "A política sem risco é uma chatice e sem ética uma vergonha".

Apesar de ter corrido o risco de governar com ética, o Passos Coelho acabou mesmo por ganhar as eleições. Não conseguiu obter maioria absoluta, e por isso foi derrubado no parlamento. A vitória não foi suficiente para o novo paradigma inaugurado pelo governo actual, de que não se consegue governar com maiorias relativas. Mas não deixou de ser uma vitória impossível, a primeira de um primeiro-ministro português ou europeu que teve que governar sujeito a um programa de assistência tão violento, e impondo tanto dano e sofrimento aos portugueses como o da troika. A ética e o risco compensaram.

Mesmo assim, podem-lhe ser apontados alguns excessos de honestidade política que alguns consideraram ingénuos e pensam que lhe podem ter feito perder votos e, desse modo, impedido de obter a maioria absoluta que necessitava para vir a assegurar a sobrevivência do segundo governo. E um dos exemplos que lhes parecem mais gritantes desta inabilidade política foi o anúncio pela Maria Luís Albuquerque em 16 de Abril de 2015, a menos de seis meses das eleições de Outubro, da necessidade de cortar mais 600 milhões de euros anuais na despesa da Segurança Social para assegurar a sua sustentabilidade. O anúncio foi um dos temas mais usados pelos socialistas e por toda a esquerda durante a campanha eleitoral, e ainda hoje continua a ser.

É verdade que se pode dizer a quem aponta ao Passos falhas como esta que não se pode ambicionar ter um candidato que consiga ganhar as eleições por ter um sentido de ética e de risco ímpares, e ao mesmo tempo desejar que fosse um bocadinho demagógico para as ganhar por mais. Isso não existe.

Mas, mais do que isso, vale a pena tentar perceber se, como parece evidente, este anúncio terá mesmo afectado negativamente o resultado das eleições? Sendo impossível de determinar sem perguntar a cada eleitor se deixou de votar na PàF por causa dele, pode-se, no entanto, testar a hipótese olhando para os resultados das sondagens, e para o modo como foram afectados pelo anúncio, que está marcado na figura pela seta da direita. E o que se pode verificar é que o anúncio não alterou em nada, nem os níveis de resultados, nem as suas tendências, que se mantiveram estáveis até ao início de Setembro antes de convergirem para valores próximos do resultado real das eleições. O anúncio provocou grande alarido mediático e a condenação unânime dos do costume, mas não há evidência de ter feito perder votos.

Lição? A honestidade não é tão penalizadora na política como se costuma pensar.

 

A passividade a fazer oposição

Alguns militantes, dirigentes e eleitores do PSD têm manifestado alguma inquietação relativamente ao modo aparentemente demasiado passivo como o PSD liderado pelo Passos tem feito oposição ao PS.

Parece-lhes pouco, nomeadamente, o PSD não desmentir todas e cada uma das mentiras e enganos dos governantes, dos deputados socialistas e dos outros partidos da esquerda, e dos militantes e porta-vozes desses partidos, para não falar de todos os jornalistas e comentadores que participam na sua disseminação, para louvar e justificar as medidas do governo e desculpabilizar os seus insucessos atrás de responsabilidades do governo anterior, não propor permanentemente alternativas para as propostas políticas do governo e da maioria que o apoia, até não mandar para a puta que os pariu os governantes e deputados socialistas que dedicam as suas intervenções no parlamento a fazer piadolas e insultar os dirigentes dos partidos da oposição, a que o Passos normalmente reage levantando-se e saindo da sala em vez de confrontar directamente os seus autores como fez em tempos, por exemplo, o deputado comunista Bernardino Soares, num episódio semelhante com um governante socialista. Parece-lhes pouco, no fundo, o PSD não se deixar orquestrar pela batura do governo e da maioria parlamentar que o sustenta na definição da sua agenda política, e não procurar ganhar no espaço mediático todas as discussões que lhe são propostas e todas as sondagens.

Acontece que, ao contrário do que podia parecer previsível no início da legislatura, até porque a maioria parlamentar exige o apoio permanente do BE e do PCP, partidos com interesses antagónicos, até mais do que posições divergentes, a coligação de apoio ao governo socialista tem-se mantido muito coesa, mesmo quando encena fracturas em domínios especialmente impopulares para os eleitorados de um ou outro dos partidos minoritários em que eles contrariam o governo no parlamento, e basta um deles não o apoiar para o fazer perder uma votação, esperando que a oposição de direita a viabilize, e basta a abstenção de um dos partidos da oposição para a viabilizar, para não haver disrupção na governação. Deste modo conseguem fazer parecer aos seus eleitorados que as medidas populares se devem à sua influência na governação, e as impopulares aos socialistas que eles tentaram sem sucesso demover e à direita que apoiou os socialistas. Para eles é um bom negócio. Para o Costa, que salvou politicamente a pele in extremis quando se preparava para ser esfolado por ter perdido as eleições que tinha prometido ao partido ganhar, e ficou com os negócios públicos à mão de semear para distribuir pelos seus melhores amigos pessoais e políticos, ainda melhor.

Pelo que, a não ser que os partidos de esquerda o decidam e cumpram a decisão, o governo não será derrubado e a legislatura durará os quatro anos até 2019.

Ora, tal como uma maratona não é uma sequência de 421 sprints de 100 metros e um de 95, mas uma corrida contínua que é ganha por quem chega à frente ao fim dos 42.195 metros, uma legislatura de 4 anos não é uma sucessão de vitórias diárias em debates no parlamento e na opinião pública e mensais em sondagens, mas um processo longo e continuado em que o vencedor só é apurado nas eleições legislativas para a legislatura seguinte, no caso actual em 2019.

Mesmo assim, os militantes, dirigentes e eleitores do PSD mais apreensivos têm-se deixado invadir pela dúvida  se a falta de resposta imediata e permanente do partido às provocações e humilhações regulares dos socialistas e dos outros será apenas estratégica, ou se indiciará uma falta de combatividade que, a arrastar-se até ao fim da legislatura, lhe poderá ser fatal nas eleições. Deixavam. Na última semana tiveram direito a três decisões inequívocas sobre a capacidade de afirmação política do Passos como político na oposição:

  • O PSD garantiu que se vai opor à nacionalização do Novo Banco, mesmo que temporária.
  • O PSD negou terminantemente a possibilidade de viabilizar no parlamento a redução da TSU para as empresas que pagam salário mínimo, uma das partes do acordo de concertação social apresentado mediaticamente como um sucesso brilhante da capacidade negocial do governo, apesar de o governo ter oferecido o que não podia cumprir, e também uma das fracturas encenadas entre o governo e os partidos da esquerda para lhes permitir desresponsabilizarem-se da medida, impopular entre os seus eleitorados, contando no entanto com a sua viabilização pelo PSD e o CDS.
  • O PSD desfez qualquer equívoco relativamente à hipótese de apoiar a candidatura da Assunção Cristas à Câmara de Lisboa, que foi uma excelente iniciativa do CDS para marcar território mas foi lançada como facto consumado à revelia de qualquer acordo prévio com o PSD para fomalizarem uma candidatura conjunta, o que faria do eventual apoio do PSD uma mera submissão seguidista à iniciativa liderada pelo CDS.

Estas decisões levantaram um coro de indignação universal que juntou em uníssono todos, de esquerdistas radicais a dirigentes de associações empresariais, de banqueiros a jornalistas, de dirigentes costistas ao presidente da república, de economistas anti-austeritários à aristocracia ressabiada do PSD, de sondagens a centrais sindicais, todos a apelarem ao Passos para dar mais uma vez colinho no parlamento ao Costa em vez de o obrigar a negociar com os partidos que o apoiam o apoio que precisa para concretizar a promessa que fez e não estava em condições de fazer, ou a sugerir-lhe uma candidatura suicida, porque seria facilmente derrotável como candidatura oportunista para ocupar o lugar a prazo até voltar a concorrer a primeiro-ministro nas próximas eleições legislativas, à CML. Todos a apelarem-lhe à coerência para respeitar os seus princípios, que eles detestam, a quebrar o seu isolamento político, que eles sonham promover, e a salvar a credibilidade do PSD, que eles tentam demolir.

Todos? Todos menos os militantes, dirigentes e eleitores do PSD, para quem estes anúncios, e o repúdio generalizado que resulta do receio que eles suscitaram nos adversários e inimigos do partido, foram o sinal que precisavam para acordarem, perceberem que têm mesmo liderança para levar o PSD à vitória que necessita para voltar a governar, e voltarem a galvanizar-se em torno desse objectivo. Ou seja, todos, menos todos os que realmente interessam, que são os que vão estar até ao dia das eleições a lutar pela vitória necessária para afastar esta gente manhosa e ressabiada do poder.

Por uma excelente razão, aliás, ou mesmo duas: esta gente está de má-fé e pretende enfraquecer o PSD, ao contrário do que lhe acena nas sugestões que lhe faz, e tem experiência, não em ganhar eleições legislativas, mas em perdê-las, e é nisso que tem capacidade de lhe dar lições.

Lição? A melhor coisa para eles, para os portugueses e para Portugal, que o PSD e o Passos Coelho podem fazer com os apelos e conselhos desta gente que não vota nem nunca votará neles é agradecê-los e fazer exactamente o contrário do que lhes sugerem.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 21:00
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Domingo, 18 de Setembro de 2016

A arte de escrever um best-seller

Hoje o Gremlin Literário vai-se dedicar ao serviço público de apoio à criação literária, oferecendo um conjunto de preciosas sugestões aos jovens escritores e editores que queiram escrever e editar um best-seller, atingindo rapidamente um sucesso de vendas que lhes permita acumularem dinheiro a tempo de o pôr a salvo num paraíso fiscal antes que a ministra das finanças em exercício perca a vergonha de o ir buscar.

Escrever sobre sexo

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O sexo vende. Ninguém está interessado em saber o que é que o escritor pensa, ou sente, ou as conversas que teve com outras pessoas. A gajada quer é sexo. Querem um sucesso de vendas? Escrevam sobre sexo.

Garantir que toda a gente sabe que é sobre sexo

Além do conteúdo do livro, o marketing é essencial. Se o livro fala sobre sexo mas o público não sabe, não vai a correr comprá-lo, e o livro nunca será um best-seller. O filme "The Seven Year Itch", cuja personagem principal é justamente um editor, mostra um bom inventário de técnicas de melhorar o potencial de vendas de um livro apimentando-o, e aconselha-se o seu visionamento aos jovens escritores e editores com ambições de sucesso.

O lançamento é crucial

O lançamento do livro é crucial para garantir o sucesso de vendas, principalmente quando se querem resultados rápidos. Quanto mais reacções apaixonadas suscitar, sejam de voyeurismo, sejam de indignação, mais vai mais rapidamente vender. Que é o que se quer.

Como conseguir essa reacção do público? Não queremos enganar ninguém com sugestões ligeiras, opinativas e não baseadas em factos, de modo que vamo-nos basear no estudo científico empírico para escolher as soluções que funcionam comprovadamente.

O livro "Eu e os Políticos" do jornalista arquitecto José António Saraiva, é já um caso de sucesso, apesar de ainda não ter sido lançado. É o relato de conversas privadas que políticos tiveram com o jornalista ao longo dos anos sem acautelarem se corriam o risco de um dia ele vir a publicar as coisas que lhe estavam a dizer, toda a gente sabe que há conversas que expõem a vida sexual de pessoas famosas, não se sabendo se é só uma de um político a falar da homossexualidade do irmão, se é o tema central de quase todas as conversas, como se pode deduzir dos títulos de todos os jornais que falam do livro, e relata conversas com pessoas que, por já terem morrido, não estão cá para contradizer que lhe disseram o que ele diz que lhe disseram. E vai ser apresentado pelo Pedro Passos Coelho, que aceitou o convite do autor sem conhecer o conteúdo da obra mas já fez saber que, tendo aceitado, não voltará com a palavra atrás e não deixará de o apresentar. Esta conjugação de circunstâncias suscitou uma explosão de reacções de indignação que garantem que o livro vai ter vendas fenomenais, que vai ser um best-seller.

Mas qual destes três factores é mais determinante para o sucesso que o livro está a ter medido pela indignação que suscita?

  • Expor a vida sexual de pessoas famosas sem o consentimento delas

Sujeitar pessoas famosas ao voyeurismo do público sem o seu consentimento parece um excelente motivo para ultraje e indignação, para além de ser um excelente apelo ao voyeurismo.

Mas este não é o primeiro livro que expõe a vida sexual de pessoas famosas sem o consentimento delas. Nos últimos anos, foram lançados, pelo menos, o "Bilhete de Identidade" da socióloga Maria Filomena Mónica, que descrevia (não me peçam para confessar que não o li e que isto não é mais do que conhecimento de diz-que-disse) o desempenho dos seus vários maridos (pelo menos os anteriores) e namorados na cama, sem o consentimento deles, e "Os Homossexuais no Estado Novo", da jornalista São José Almeida do Diário do Governo Público, que revela listagens e histórias de pessoas famosas do Estado Novo que, sem o terem assumido em vida, eram afinal homossexuais.

Nenhum destes livros suscitou a indignação do "Eu e os Políticos", de modo que não será a exposição da vida sexual de pessoas famosas sem o consentimento delas o factor chave para o sucesso de vendas desejado pelos nossos jovens escritores e editores.

  • Citar pessoas que, por já terem morrido, não podem contradizer a citação

Citar conversas privadas com pessoas que já morreram também é um excelento motivo de indignação. É mais cobarde do que citar conversas privadas com pessoas vivas, que podem contradizer a citação ou, simplesmente, desprezar o autor da citação por violar a privacidade dessas conversas.

Mas, também neste domínio, o "Eu e os políticos" está longe de ser inédito. "Os homossexuais e o Estado Novo" é, todo ele, baseado em testemunhos e relatos de pessoas que já morreram. "O Botequim da Liberdade", livro do escritor Fernando Dacosta a recordar conversas com a grande Natália Correia é todo isso mesmo, a citação de conversas privadas com uma pessoa que já morreu. Tem até citações que tudo leva a crer que sejam imaginárias, como a crítica ao neoliberalismo, que traduz a orientação política actual dele, supostamente feita por ela, que morreu muitos anos antes de o termo "neoliberalismo" se ter começado a usar, nomeadamente com o sentido que tem hoje. Mas ela não está viva para contradizer o autor do livro.

Indignação? Zero. A citação de pessoas que já morreram não é também um factor suficiente para levantar a onde de indignação necessária para fazer do livro um best-seller.

  • O apresentador do livro

O livro "Eu e os políticos", com sucesso de vendas já garantido pelos níveis de indignação conseguidos mesmo antes do lançamento,  vai ser apresentado pelo Pedro Passos Coelho. O "Bilhete de Identidade" foi apresentado nos nossos vizinhos do Grémio Literário pelo Rui Ramos, o João Bénard da Costa e o Lourenço Correia de Matos. Um horror, indignação zero. E "Os homossexuais e o Estado Novo" pela Raquel Freire e a Ana Luísa Amaral. Nem se deu pelo lançamento.

Afinal, o único factor distintivo do estrondoso nível de indignação que vai garantir o sucesso de vendas do "Eu e os Políticos" é, não a exposição da vida sexual de pessoas famosas sem o seu consentimento, nem a citação de pessoas que já não estão vivas para confirmar ou renegar as afirmações que lhes são atribuídas, mas sim a apresentação pelo Pedro Passos Coelho.

E é este o conselho, relembramos que fundamentado num estudo científico empírico, que deixamos aos jovens escritores e editores que querem atingir um sucesso de vendas rápido através de uma explosão de indignação que torne os seus livros conhecidos e apetecíveis:

  • Convidem o Pedro Passos Coelho para apresentar os vossos livros.

Bons livros e melhores sucessos!

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 18:39
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Terça-feira, 30 de Agosto de 2016

Le petit Nicolas, encore...

O jumento que o Dr. Balsemão não despediu com justa causa quando sujeitou à humilhação pública o seu grupo de comunicação social arrastando-o para o golpe do vigário em que ele próprio caiu que nem um patinho, por motivos que o Dr. Balsemão conhecerá, mas que não andarão longe de ele sonhar o seu grupo de media mais no domínio da propaganda do que no da informação, e jornalistas burros e rafeiros serem os ideais para rosnarem às canelas de quem o chefe os manda morder, lembrou-se de, mais uma vez, tentar ajudar o PSD a aumentar a sua votação num próximo acto, ou ato, como ele escreve, eleitoral, substituindo o Pedro Passos Coelho por, não chega a esclarecer mas pode-se subentender? outro fantoche do chefe, como ele, ou o que o chefe conseguiu vender para primeiro-ministro como vende sabonetes, se bem que não para ganhar nenhuma das eleições a que concorreu desde que foi conduzido aonde chegou, ou mesmo um fantoche deste fantoche. Enfim, escreveu:

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O PSD, e é o PSD e as suas estruturas de militantes que escolhem o presidente do partido e não os jornalistas, comentadores ou governantes que gostariam de o escolher, não liga a ponta de um corno a este jumento, mas isso nem é importante, porque ele nem se apercebe bem do que anda cá a fazer.

Mas as pessoas desse imenso povo, não o oprimido das favelas, mas o indignado dos condomínios privados e do eixo Príncipe-Real - Estrela, que estão borradas de medo do resultado que o Passos Coelho possa vir a ter nessa tal eleição, quando ela tiver lugar, sentem-se reconfortadas com rezas como esta e republicam-nas e republicam-nas na esperança de que, repetida muitas vezes, a reza acabe por resultar. Seria tão bom se o PSD lhes fizesse a vontade. Bem hajas, Nicolau.

Na próxima reza vou ajudar a encontrar um substituto para a Assunção Cristas no CDS.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 00:26
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Segunda-feira, 2 de Março de 2015

Para que servem os gabinetes?

 

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Pedro é primeiro-ministro, devia umas misérias à Segurança Social, e pagou a correr quando percebeu que os jornalistas encontraram a dívida antes dele. A culpa foi, com toda a probabilidade, "dos serviços". António era ministro da justiça, comprou uma casa para se instalar em Lisboa, não pagou sisa nem contribuição autárquica, e a culpa é "do banco", "da secretária" que lhe preencheu a declaração de rendimentos, e "de uma série de lapsos". Preside alegadamente a Câmara Municipal de Lisboa e prepara-se para nos chefiar a todos.

 

Formaram gabinetes com abundância de cavalheiros sábios e prudentes, do mais recomendável que há em matéria de aptidões para extorquir fotocópias à "Europa", que é no que consiste o exercício designado em Portugal pelo eufemismo "governar". Não se lembrou Pedro nem António de os mandar investigar o seu passado contributivo, em todos os cantinhos da nossa administração, à procura de vergonhas destas. E consertá-las antes que nós soubéssemos.

 

__________

 

Actualização:

 

António enviou um desmentido ao jornal Expresso.

(2015.03.03, às 02:10)

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 22:51
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Sexta-feira, 11 de Outubro de 2013

Enfrentar a RTP

 

(*)

 

A aldrabice que mansamente nos impuseram anteontem, na forma de um programa de "perguntas", deu pretexto ao sr. Primeiro-Ministro para falar do que lhe apeteceu fingindo que enfrentava "o povo". Passos Coelho estava radiante. No seu fatinho de domingo, cabelo apartado ao lado, dirigiu-se às pessoas pelo primeiro nome e não se inibiu de perguntar a uma senhora desempregada se era "mãe solteira". Fiquei com a impressão que Pedro se tornou primeiro-ministro por insistência (ou chantagem?) da avó dele, e um pouco contrariado. Por sua vontade, Pedro seria apresentador de televisão e passaria as manhãs a entreter os acamados, num programa diário transmitido a partir de Trás-os-Montes.

 

Há um par de semanas o sr. Vice-Primeiro-Ministro serviu-se do mesmo apetrecho para "esclarecer" o país sobre os resultados do último encontro com a tróica. Nestas coisas convém deixar tudo muito bem explicado, e por isso contrataram uma loira indecifrável e um moço dócil para estabelecer o necessário contraste. Paulo Portas apresentou-se bem disposto e sorridente como se tivesse boas notícias para nos dar. Respondeu aos jornalistas como se fossem (ele lá sabe) uma turma de crianças. Confortável e mundano, tratou a "dignidade humana" com familiaridade e garantiu que ninguém soubesse o que vem no orçamento.

 

Estou convencida que não tive um único cliente que se abstivesse de me dizer: "Eu também sou um bocadinho arquitecto". As pessoas gostam de mostrar os seus talentos, às vezes imaginados, e contam com isso para obter a admiração e o respeito dos outros. Ainda que a natureza dos talentos não venha a propósito e a plateia, obrigada a assistir, não esteja interessada em conhecê-los.

 

É imoral reduzir os ordenados dos funcionários públicos e não eliminar organismos do aparelho administrativo. É demagógico, errado, e politicamente desonesto, apresentar medidas de "contenção estrutural" e não tocar no mapa dos municípios. É manhoso defender a "reabilitação urbanística" mas manter os licenciamentos na dependência de várias entidades incompatíveis; e o "enquadramento" e o "traçado" como conceitos jurídicos (a decidir por burocratas). É uma vigarice chamar "eficiência energética" a uma legislação que obriga os consumidores a gastar mais energia. É um insulto chamar "requalificação" ao purgatório dos desempregados do Estado. É irresponsável manter a Educação numa bandalheira mas considerar que o entretenimento do povo (como festas, cantorias, teatrinhos, "instalações", fungagás, piquenicões, concertinas e foguetórios) é uma função do Estado Social. É inconcebível cortar na saúde e subsidiar, a níveis dementes, as empresas de transportes. É miserável cortar os víveres aos velhos mas manter a RTP.

 

No entanto, a RTP não pode fechar. Uma direcção de informação domesticada, meia dúzia de "jornalistas" dispostos a representar um papel humilhante, e 200 milhões de euros por ano, não são dispensáveis quando se trata de exibir os comportamentos narcisistas dos governantes em funções.

 

__________

 

* Imagem: The Spectator, 27 July 2013

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 19:56
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Quarta-feira, 3 de Julho de 2013

Tragédia à portuguesa

 

 

Mário Nogueira, sem esforço, fez o que melhor sabe e deitou ao chão o primeiro pino. Ganhando, sem concessões, a greve dos professores ao ministro Crato, obteve para a sua corporação todas as exigências e impossibilitou que se tocasse no resto dos funcionários públicos. Em matéria de "reforma" do Estado a conversa acaba aqui.

 

Vítor Gaspar, derrubado por Mário Nogueira com a ajuda de Crato, regressa a Bruxelas (ou a Frankfurt?) onde continuará a mandar em nós sem se incomodar com "negociações" e pessoas em geral. Dependerá, como gosta, dos seus frascos de teorias, do sr. Schäuble, e das condições meteorológicas. Demitiu-se publicamente, deixando uma carta em que reconhece o fracasso da sua política económica e em que diz que o Primeiro-Ministro não tem capacidade de liderança.

 

Assim saíu aquele que era "evidentemente" o "número 2" do governo, segundo Passos Coelho, e que aos olhos do país era efectivamente o número 1.

 

O Primeiro-Ministro não se inquietou e, no mesmo dia, contra a vontade expressa do parceiro de coligação, decidiu substituir Gaspar (a quem agradeceu os serviços prestados à pátria) pela subordinada de Gaspar, como quem vai à feira de Estremoz e compra uma ministra por 2 euros. Portas demite-se "irrevogavelmente". Num discurso solene, Passos Coelho comunica ao país a gravidade do problema e aplica-se a tranquilizar os portugueses com o seu sentido de Estado: não aceita a demissão de Portas e garante que vai conversar com o CDS, fazendo "tudo o que está ao seu alcance" para evitar "esta instabilidade" (deduz-se que provocada por Portas).

 

Por outras palavras, o "número 2" vira Portugal do avesso, insulta publicamente o Primeiro-Ministro, e sai pelo sossego da tarde levando na algibeira uma carta de recomendação. Foi fácil substitui-lo por uma serviçal. O "número 3" é, no entender do estadista, um irresponsável.

 

Assiste-se agora ao espectáculo sinistro da execução. Entusiasmadas, as tricotadeiras comentam a degolação de Passos Coelho. As mais feias temperam Portas com borrifos de cicuta rançosa. A ver Portugal ruir.

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 01:13
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Sexta-feira, 7 de Dezembro de 2012

Persistir no erro, evidentemente

 

 

Há uns dias, numa entrevista à televisão, o Primeiro-Ministro disse que o nr. 2 do Governo era "evidentemente" o Ministro das Finanças. E quando lhe perguntaram pelo "parceiro" de coligação, respondeu que Paulo Portas era o nr. 3. A Lei Orgânica do Governo, publicada a 12 de Julho de 2011, confirma.

 

Não está, como é natural, nos hábitos dos portugueses ler o Diário da República. Nem interessa, neste momento, o aspecto jurídico do problema. Interessa o significado político desta afirmação, de cuja substância já toda a gente desconfiava. O que as pessoas perceberam agora, algumas com espanto, foi a naturalidade com que o Primeiro-Ministro persiste no aborto que criou.

 

Se houvesse jornalismo em Portugal, o "detalhe" tinha feito um escândalo no dia em que se conheceu a constituição do Governo. O que agora veio a ser do conhecimento público é um erro grosseiro e um ataque à democracia.

 

Em caso de coligação, os dirigentes máximos de cada partido têm obrigação, perante o eleitorado, de ser os principais responsáveis pelo Governo que formam. Ninguém elegeu o Ministro das Finanças. Vítor Gaspar é um funcionário, e sobre ele deviam ter autoridade Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Por esta ordem.

 

Estava escrito que isto tinha de azedar. De resto, azedou no passado; o erro repete-se, com mais gravidade. Como se não bastasse a este Governo ter a oposição exterior, inflacionada pelas presentes circunstâncias, ainda conseguiu arranjar-se para ofender o seu próprio eleitorado. É legítimo que quem votou no CDS se sinta ofendido pela submissão de Paulo Portas a um técnico contratado. Esta submissão nunca é exclusivamente "formal", porque (como ficou provado) a forma é indissociável do conteúdo. Por maioria de razão, é legítimo que quem votou no PSD se sinta humilhado de ver o primeiro-ministro subordinado a um funcionário. Resta que nenhum destes "detalhes" será indiferente no apuramento de responsabilidades, que não poderão ser atribuidas a quem, formalmente, não as tem.

 

Não vem ao caso a proporcionalidade dos votantes em cada partido (podia ser de 1 para 9 sem abalar o conceito: se o partido mais pequeno lá está é porque o partido maior precisou dele). O Ministro das Finanças é um "funcionário", na medida em que são "funcionários" todos os membros do Governo quando não foram eleitos. Independentemente da sua contratação corresponder ou não a uma opção política. Não faço parte do coro de "críticos" que lhe apontam a "burocracia" e a "tecnocracia" como pecados principais. Efectivamente, nem lhe aponto pecado nenhum; mais do que fazer o papel dele, está a fazer o de Primeiro-Ministro - por delegação de competências. A ideia de "responsabilidade piramidal" impede-me de me referir a ele. Porque ele, perante o eleitorado, não é ninguém.

 

A centralidade da pasta das Finanças justifica-se sempre na articulação com os restantes Ministérios. Agora tanto ou mais do que no passado. Nunca se justifica a sua sobreposição aos responsáveis políticos. Agora mais ainda do que em qualquer Governo anterior.

 

Todas as alterações ao Memorando têm sido negociadas ao nível do Ministro das Finanças com os funcionários da "troika". Muitas delas já deviam ter sido negociadas a um nível superior. E Paulo Portas, enquanto representante máximo do segundo partido da coligação, tinha o dever e a obrigação de estar envolvido nelas. É grave que Paulo Portas não tenha sido ouvido no que estas negociações têm de fundamental, porque delas depende a liberdade do Governo para decidir sobre a vida do país. O eleitorado não tem ferramentas institucionais para responsabilizar politicamente um Ministro das Finanças que não depende do seu voto. Paulo Portas não pode ser responsabilizado pelas decisões de um Ministro que lhe é hierarquicamente superior.

 

Esta história não vai, evidentemente, ficar por aqui. Paulo Portas não deve a sua formação política à escola da JSD. A "carta fechada" que vai enviar à "troika" com as suas recomendações mostra que as responsabilidades que aceitou perante o eleitorado não lhe são indiferentes.

 

O tempo dirá quem tinha razão. Como sempre acontece em política.

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 02:34
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