Domingo, 28 de Agosto de 2016

Projectos falhados

O Francisco Louçã diz, com o tom de voz que o Manuel Alegre lhe baptizou uma vez, antes de terem sido companheiros de estrada e de o seu apoio e o do BE terem sido decisivos para, em conjunto com o do PS e o do MRPP, subtrairem mais de 300 mil votos aos mais de 1,1 milhões que ele tinha conseguido antes sózinho e sem nenhum apoio, e a concorrer à esquerda contra o Mário Soares, o Jerónimo de Sousa, o Garcia Pereira e o próprio Louçã, de cardeal, mas que talvez seja mais de pároco de aldeia onde toda a gente se foi embora e só restam os velhotes meio surdos e analfabetos que o ouvem com reverência por não o conseguirem ouvir bem e muito menos perceberem o que ele diz, que "A União Europeia é um projeto falhado".

De projectos falhados percebe ele.

O Francisco Louçã nasceu para a política a idolatrar a 4ª Internacional, que não foi propriamente um projecto de sucesso. Terá andado, especulo sem saber ao certo, mas haverá por aí quem certamente saiba, pelas campanhas do Otelo? até o Otelo ser preso e condenado por terrorismo, e mais tarde aministiado, e da Pintasilgo? que também não foram propriamente projectos de sucesso. Participou na fusão de herdeiros de uma misturada de Internacionais que, num golpe de génio, ou de sorte? pouco interessa, cresceu à custa do mediatismo das causas fracturantes até as causas fracturantes terem sido devoradas ao pequeno-almoço pelo PS do Sócrates e o Bloco se ter transformado num partido, não do taxi, mas do monovolume, que dificilmente se podia considerar um projecto de sucesso quando ele deu lugar a outros. Apoiou vocalmente a aventura do Syriza na Grécia, de quem se tornou mesmo um assessor notável, que se transformou no projecto de sucesso que a história mais tarde veio a revelar na modalidade "bater o pé a Bruxelas enquanto há dinheiro e quando o dinheiro se acaba meter o rabinho entre as pernas", e não apoiou tão vocalmente, mas também não se lhe conhecem desapoios, a revolução bolivariana da Venezuela que se está a revelar num caso de sucesso quase inédito na História da humanidade ao conduzir à miséria o povo do país com maiores reservas de petróleo no mundo com vasta assessoria, paga a peso de ouro, do partido irmão, do regime bolivariano e do BE, Podemos. Até o apoio do BE ao candidato Manuel Alegre foi o caso de sucesso que se viu e depreende da leitura do parágrafo anterior.

Posto isto, e dada a sua experiência de décadas de envolvimento convicto em projectos falhados, qual é o projecto a quem o Francisco Louçã aponta o dedo, cruzando referências de Maquiavel com referências da "Guerra dos Tronos" como falhado?

A União Europeia, esse mesma, o grande projecto democrático do século XX, senão o maior da história da humanidade, que foi eregido como uma muralha de liberdade e prosperidade contra a retórica socialista de todas as internacionais que prometia o jardim do paraíso mas só foi capaz de oferecer penúria e prisão intra-muros aos desgraçados que lhe cairam nas garras, o que aliás continua a fazer aos cada vez menos povos que ainda lhe continuam a cair nas garras.

Dada a preferência demonstrada do Francisco Louçã por projectos falhados, e de democraticidade muito duvidosa, este pessimismo face ao projecto europeu e à sua falta de democracia é uma excelente notícia para os europeístas. Talvez ainda não esteja tudo perdido.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 00:23
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Sexta-feira, 14 de Dezembro de 2012

Parar o progresso

 

Eu não disse? As instâncias europeias que superiormente nos regem sabem onde estão os melhores; e põem-nos asinha a dar palpites.

 

Teremos portanto entre 500 e mil novos funcionários pagos a peso de ouro e com estatuto fiscal de excepção; e nos bancos nacionais ninguém será despedido - se estiverem a mais na supervisão mudam-se para a previsão económica, após a adequada formação na leitura das entranhas de animais de cor branca, devidamente imolados.

 

Ou seja, a Europa está dando fortes sinais de encarar o problema do desemprego. São apenas 500 postos de trabalho, mas de grande qualidade - e as dunas, mesmo as grandes, são feitas de grãos de areia.

 

Mas isto são os postos de trabalho directos. Porque, para responder às exigências do novo organismo, haverá um acréscimo de custos com papeladas, informática, viagens, inspecções e informações - e gente para se ocupar de tudo isso.

 

Nada que os clientes dos bancos não possam pagar. E não é mesmo isto que define as economias avançadas - economias de serviços?

 

O diabo é se os bancos com práticas pouco recomendáveis se derem ao trabalho de as esconder; e se as informações não forem fidedignas. Conforme Constâncio esclareceu aquando do caso BPN, como é que podia adivinhar práticas ilegais, nos milhões de informações que recebia?

 

Mas não vamos ser pessimistas: em falhando a supervisão, reforça-se a supervisão; e se isso falhar, cria-se um novo organismo. Agora o que não se pode é parar o progresso - do asneirol. 

 

publicado por José Meireles Graça às 17:48
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Quinta-feira, 13 de Dezembro de 2012

Em estando longe vê-se melhor

 

Uau, agora é que vai ser: A mesma entidade vai proceder à supervisão dos bancos, seja uma casinha discreta como o BANIF seja um gigante alemão. Ainda ficam de fora à volta de seis mil bancos, mas o tempo deles chegará - era o que faltava uma nova burocracia ter terreno para crescer e não o fazer.

 

Diz o indispensável Costa: "Para os bancos portugueses, a decisão tomada pelos ministros das Finanças da União Europeia (UE) na última madrugada significa que ficam em igualdade de circunstâncias com os seus parceiros europeus. Potencialmente, pelo facto de serem supervisionados pelas mesmas instituições e da mesma forma, deixarão de ser prejudicados pelo facto de serem portugueses e de existir um risco maior associado ao Estado, o que lhes pode facilitar o acesso aos mercados".

 

Portanto, o tipo de créditos que os bancos detêm, a maior ou menor exposição a dívidas soberanas duvidosas, as suas disponibilidades de capital e de crédito, numa palavra, a sua solidez - os mercados não vão olhar para isso. Cada uma das entidades que constitui "os mercados" (o Instituto de Gestão dos Fundos da Segurança Social, o equivalente da Cochinchina, bancos e todas as inúmeras instituições e pessoas que, em todo o Mundo, têm disponibilidades e as querem aplicar) vai olhar para o vizinho, reflectir, cair-lhe efusivamente nos braços, e dizer aos corretores, suspirando de alívio: aplique-me aí x milhões numas obrigações de um banco. Qual banco, excelentíssimo senhor - há várias emissões? Ora, no que der mais - é tudo de confiança.

 

Não duvido nada que para encabeçar esta supervisão se recrutará do melhor que o próprio sector oferece. E havendo milhares de candidatos com o perfil adequado, não resisto a dizer que Vítor Constâncio teria um óptimo desempenho, não obstante um ou outro deslize, como o do BPN; um ou outro frete, como a previsão do défice orçamental no tempo do negregado Santana; uma ou outra previsão errada, como todas as que fez; e algum deslize teórico, como a afirmação de que, com a adesão ao Euro, se virava uma página no capítulo das dívidas externas dos países aderentes.

 

Em todo o caso, parece líquido que aquilo que a supervisão americana não conseguiu, donde o sub-prime; ou a supervisão inglesa, donde o Northern Rock; ou a portuguesa, donde o BPP - será conseguido se o regulador estiver longe. E compreende-se porquê: em estando longe vê-se melhor.

 

Por mim, ficaria contente se este novel organismo levasse a que os bancos portugueses abandonassem certas práticas de banditismo, como taxas de juro alucinadas ou débitos por inexistentes serviços; e se o financiamento chegasse onde é necessário (aquela coisa meio obscura da exportação de bens transaccionáveis, por exemplo).

 

Se me é permitida uma nota pessoal indiscreta, estou com fortes esperanças. Nisso e no renascer dos cabelos que perdi nos últimos dez anos. 

 

publicado por José Meireles Graça às 23:18
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Sexta-feira, 23 de Novembro de 2012

Duas moralidades

 

 

Pacheco Pereira indigna-se com a "imoralidade" e a "mentira" do primeiro-ministro por este se opor ao orçamento da União Europeia, exigindo mais dinheiro para Portugal.

 

Opina o "erudito" que Passos Coelho "devia" ter a posição do primeiro-ministro britânico, que é a oposta. Se o governo português defende cortes orçamentais internos, Pacheco Pereira considera que também devia defendê-los na "Europa".

 

Pacheco Pereira não vê diferença entre política interna e política externa. Se os gastos previstos no nosso orçamento são pagos pelos contribuintes portugueses, e os gastos previstos no orçamento europeu são maioritariamente pagos pelos países mais ricos (como ele quer), isso não constitui para Pacheco Pereira uma diferença substancial.

 

Pacheco Pereira não percebe nada da lógica das relações entre os países? Está convencido que Cameron defende os cortes orçamentais na União Europeia porque também os defende no Reino Unido? Não lhe ocorre que o Reino Unido defende os cortes porque paga mais do que recebe, ao contrário de Portugal que recebe da União Europeia mais do que paga?

 

Não o ouvi expressar desconforto com, por exemplo, as quantidades de dinheiro que a França continua a receber em nome da política agrícola "comum". Deduzo que, no seu entender, isso é um assunto que não nos afecta.

 

Por "uma questão de coerência", Pacheco Pereira argumenta que Portugal, sujeito a um programa de austeridade que lhe causa tantas "preocupações sociais", deve defender a redução dos seus "apoios". Em nome dessa "coerência", Pacheco Pereira abdica da "solidariedade" europeia e deixa os portugueses apeados.

 

É certo que Pacheco Pereira sempre desconfiou da "construção" desta "Europa". Talvez pelas mesmas razões que levam os portugueses a desconfiar da "solidariedade" na boca destes "eruditos" de moralidade impecável.

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 02:32
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Segunda-feira, 22 de Outubro de 2012

A bicicleta

Redescobri um blogueiro, que costumava ler com agrado e que perdi de vista - não sabia que tinha um novo blogue. Activei aquela coisa do RSS Feed, e pimba: o primeiro post que recebo é este.

 

Quer-se dizer: aqueles de nós que têm emprego procuram empurrar para a parte profunda do cérebro a ideia de ficar sem ele; os que são patrões têm medo de deixarem de o ser, mesmo que as coisas para alguns não estejam a correr mal; todos os que pagam impostos olham à esquerda e à direita a ver se há maneira de fintar o Estado, ao menos numa parte - a maior possível mas se for poucochinho migalhas são pão; o Governo não chega ao fim da legislatura, nem o Orçamento ao fim do ano, e a UE parece cada vez mais um gigante com pés de barro; a dívida pública cresce, a incerteza já não - quase todos sabem que assim não pode ser, embora ninguém saiba ainda como pode ser.

 

E Luciano Amaral vem dizer que o pior desta crise é capaz de estar aqui ao lado, em Espanha. E não, não é de economia que está a falar.

 

A UE, o Euro, eram passos necessários para o enterrar definitivo da ideia obsoleta da nacionalidade. E a famosa bicicleta do aprofundamento não podia parar, porque é da natureza das bicicletas caírem em parando.

 

Porém, do velocípede em questão já ninguém cura da velocidade: está feito num oito.

publicado por José Meireles Graça às 01:34
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Terça-feira, 5 de Junho de 2012

Aachen

A União Europeia é hoje o conjunto de egoísmos nacionais que durante o tempo de um espirro histórico pareceu que não era.


Entendamo-nos: enquanto o espaço europeu foi um de aprofundamento sucessivo do comércio livre, fosse com seis, nove, dez ou doze países, os cidadãos e empresas prejudicados pelo estabelecimento da comunidade foram sempre largamente suplantados pelos muitos mais que benefíciaram. E outro tanto sucedeu com a passagem a quinze membros, não obstante já então estar em vigor o Tratado de Maastricht, de 1992, que incorporava matérias que só indirectamente tinham a ver com as quatro liberdades (circulação de mercadorias, de serviços, de pessoas e de capitais).


Em 2004, mais dez países de uma assentada; e três anos depois os dois restantes, para os actuais vinte e sete.


Houve outros tratados, claro, para lidar com uma estrutura decisória crescentemente complexa, levados a bom termo; e falhanços (do ponto de vista europeísta), como a reiterada recusa da Noruega em aderir, a falta de unanimidade em torno de Schengen, o falhanço da Constituição do assanhado Giscard d'Estaing, etc.


Em 1999 veio o Euro. E houve quem, já então, achasse a construção bizarra, por falta de políticas orçamentais e fiscais comuns e por dúvidas sobre a razoabilidade de impôr a mesma moeda a espaços com diferenças abismais de competitividade e desenvolvimento.


A história de sucesso da CEE; o horror às guerras intestinas que sempre fizeram parte da paisagem europeia; a memória recente das duas guerras mundiais e o problema alemão; o medo do urso Russo; a corrente de fundo europeísta que desde o início distante na década de 50 subjazia às instituições comunitárias: tudo facilitou a vida aos engenheiros de pátrias que por aquele então acharam boa ideia ignorar umas quantas objecções de guarda-livros e nacionalistas retrógrados, e dar um passo irreversível no sentido da federalização. Se o Euro tinha os defeitos que alguns diziam que tinha, a correcção só se poderia fazer aprofundando a integração da qual as opiniões públicas desconfiavam e que, aqui e além, já claramente rejeitavam, em referendos de resultado politicamente incorrecto.


Que sabem os Povos, afinal, do que lhes convém? Não sabem evidentemente nada - quem sabe são as élites e todo o burro come palha, em havendo quem a saiba dar.


Entretanto, veio 2008 e a crise fez descobrir que o Euro foi o manto por trás do qual muitos Estados se endividaram muito para além do razoável. Isto, que já seria muito, não é ainda concludente, porque outro tanto sucedeu com Estados que não estão no Euro, a começar pelos EUA que todavia têm uma moeda de refúgio, mas também com o Reino Unido, que não tem.


As élites são ainda bastantemente as mesmas. E sendo as coisas confusas, como sempre acontece a quem vive no meio de processos históricos conturbados, fogem para a frente para não se suicidarem politicamente. E que podemos nós ler em prosa curta e leve, aqui à mão, que nos ajude a ver no meio do nevoeiro?


Bem, talvez isto, e isto e isto e isto e isto e isto. Ainda é pouco? Leia também isto.

 

Cada um verá porventura coisas diferentes. Eu vejo a sombra de Carlos Magno, sem a espada longa, chata e mortífera, e com um ar contrafeito, por lhe cair no colo o Império que desta vez não queria. Os Franceses acham que Carlos Magno era um deles. Mas tinha a capital em Aachen.

publicado por José Meireles Graça às 23:30
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