Domingo, 19 de Janeiro de 2020

O discurso da derrota

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Filiei-me no PSD na semana a seguir às eleições legislativas de Outubro de 2015, quando percebi que não havia meios constitucionais para impedir a formação de um governo sustentado parlamentarmente numa frente de esquerda radical, mesmo que o presidente da república se opusesse, como opôs sem procurar disfarçar a oposição a coberto da equidistância a que se encontrava obrigado, a essa reviravolta constitucional inédita ao resultado das eleições.

E filiei-me para me colocar ao serviço do PSD no combate pelo projecto político que estava a travar e pelo qual eu combatia a título individual e autónomo com os meios que tinha disponíveis como frequentador das redes sociais, o projecto de libertar o país do peso excessivo do Estado que o imobiliza e sufoca e em inúmeras situações condena à mediocridade, uma mediocridade que chega a matar, de viabilizar um Estado Social solidário sustentado em critérios de eficiência económica que lhe permitam disponibilizar a quem precisa os melhores serviços ao menor custo e com menor sobrecarga para a sociedade, de remover obstáculos fiscais e regulatórios à actividade económica que limitam o crescimento económico sustentável, de aumentar a transparência na gestão do Estado para evitar a sua apropriação por interesses privados, nomeadamente os dos detentores de cargos políticos e respectivos séquitos, e o risco de voltar a ruir de surpresa depois de os factores da ruína terem sido criteriosamente escondidos em contas manipuladas, criar um ambiente que permita à sociedade prosperar.

Isto, que qualquer político não socialista com veia poética seria capaz de escrever, e o facto de este projecto do PSD ser liderado por alguém a quem uns anos antes eu não teria dado grande crédito, um jovem telegénico com alguma projecção mediática oriundo das juventudes partidárias mas que quando se viu à frente de um governo sem dinheiro nem soberania que não fosse para aplicar um programa de austeridade negociado entre o governo anterior e as instituições que financiaram um país arruinado e dependente de financiamento para manter o funcionamento mais básico que já não conseguia encontrar mais ninguém que o financiasse, em que a concessão de cada nova parcela de financiamento dependia da aprovação pelas instituições do modo como vinha a ser aplicado esse programa, em que quem governasse não tinha alternativa a aplicar medidas de austeridade que não deixariam ninguém satisfeito, apesar de tornarem possível vir a deixar todos melhores por devolver a viabilidade ao país, não apenas pela tutela das instituições mas porque não tinha dinheiro para gerir de modo menos austeritário, teve a coragem de sacrificar qualquer ambição de prosseguir uma carreira política baseada, como as carreiras políticas em democracia não podem deixar de ser, na popularidade e na empatia com a maioria dos eleitores.

Se qualquer canalha consegue encontrar citações de Francisco Sá Carneiro em que se reveja como se tivessem sido pensadas para o qualificar, há pelo menos duas que, sem ele ter chamado a si a inspiração para Sá Carneiro as ter proferido, retratam precisamente a obra de Pedro Passos Coelho enquanto foi primeiro-ministro:

  • Primeiro Portugal, depois o partido, por fim, a circunstância pessoal de cada um, no modo como sacrificou as suas ambições pessoais e o jogo partidário para fazer o que tinha que ser feito para salvar Portugal, como salvou, nomeadamente ao ter optado em diversas ciscunstâncias por passar além da troika, porque não era a obediência às exigências da troika, mas a aplicação das medidas de austeridade possíveis e necessárias, que resgatariam Portugal da situação de dependência financeira em que estava, e
  • A política sem risco é uma chatice e sem ética uma vergonha, no modo como, mesmo assim, se predispôs a tomar decisões que pareciam catastróficas para as suas ambições pessoais e as do partido, porque a única forma de resgatar o país era tomá-las. 

E não é indiferente que alguns dos que aproveitaram a necessidade de esse governo tomar medidas impopulares para se colocarem ostensivamente ao abrigo de qualquer consequência negativa dessas medidas comentando-as como desnecessárias, consequência da maldade ou incompetência do governo que as tomou, e mesmo uma traição à matriz ideológica social-democrata do PSD, terem sido conhecidos militantes e ex-dirigentes do PSD, e de um desses ter sido o próprio Rui Rio. 

Filiei-me, portanto, para contribuir melhor para lutar por completar, depois de ter conseguido gerir e inverter a crise catastrófica criada pelo governo socialista precedente, um projecto político capaz de colocar Portugal de novo num caminho de prosperidade e de erradicar o risco de futuramente uma crise semelhante voltar a ocorrer. Se quiserem, para combater como soldado ao lado de Pedro Passos Coelho na oposição a António Costa e aos socialistas que tinham mergulhado Portugal nessa crise. Se quiserem ainda, mais por uma questão de simbolismo do que propriamente com esperança de poder desempenhar um papel que ajudasse Passos Coelho e o PSD a regressarem ao poder.

Desde então tenho feito aquilo que qualquer militante deve fazer. Coloquei-me ao serviço do partido e da secção onde sou militante, prestei a minha colaboração sempre que me foi pedida na medida das minhas capacidades e competências, aceitei os convites para integrar a Comissão Política da secção e a lista de candidatos do partido a uma Assembleia de Freguesia em lugar de eleição garantida, e exerço consequentemente funções de Vogal nessa Assembleia de Freguesia. Nem menos nem mais do que isto.

Não vale a pena repetir aqui a história dos últimos anos, nomeadamente o sucesso aparente das políticas de reposição de rendimentos adoptadas pelo governo António Costa que um contexto económico mundial favorável disfarça quaisquer consequências adversas que virá a ter. Os governos populistas de todo o mundo, seja em Portugal, seja nos EUA, tratam de insinuar que sucessos em domínios como o crescimento económico ou a redução do desemprego se devem às suas opções políticas, mesmo que opções de política económica como o aumento do salário mínimo e da carga fiscal ou o proteccionismo reduzam, no imediato ou a prazo, o crescimento económico e o emprego. Um dia será visível, mesmo para quem agora se deixa levar pela dinâmica de sucesso dos populistas, que estas opções foram perniciosas, mas na circunstãncia actual é inútil denunciá-las. Nem a saída da política activa de Pedro Passos Coelho, que resulta também desta dinâmica de sucesso aparente.

A verdade é que a Pedro Passos Coelho e à sua visão e capacidade de liderar a continuação do projecto político libertador sucedeu no PSD Rui Rio, primeiro em eleições onde defrontou Pedro Santana Lopes, depois num desafio à liderança lançado por Luís Montenegro que Rui Rio não quis aceitar, e finalmente nas eleições deste fim de semana que o confirmaram como presidente do PSD nos próximos dois anos.

Rui Rio apresentou-se como candidato à liderança do PSD com uma proposta de estratégia política e de liderança com alguns equívocos graves.

Apresentou-se com uma proposta de impedir o PS de governar condicionado pela extrema-esquerda, não derrubando o governo socialista e substituindo-o por um governo liderado pelo PSD e por ele, mas oferecendo-lhe um apoio alternativo ao apoio oferecido pelos partidos da esquerda que o sustentavam (e sustentam), o BE e o PCP, na esperança que apoiado pelo PSD o governo socialista se possa tornar menos extremista do que apoiado por eles.

Isto é um equívoco grave por vários motivos. Primeiro, conforma o PSD a um papel que nunca ambicionou ocupar, o de maior partido da oposição com esperança de influenciar o partido do governo, em vez de ocupar o papel do partido do governo capaz de governar, reformar e liderar e fazer progredir e prosperar o país, que assumiu múltiplas vezes no passado.

Depois, assume que o primeiro-ministro possa ter algum interesse na disponibilização da possibilidade de apoio do PSD que na realidade não lhe interessa para nada, por ele, um equilibrista e negociante competente, ser perfeitamente capaz de gerir os equilíbrios entre os socialistas, os bloquistas e os comunistas sem precisar de governar com a rede do apoio do PSD por baixo.

Finalmente, assume que o PS corre o risco de ser puxado para a esquerda por ser condicionado pelos apoios do BE e do PCP quando o PS actual, que não é o de Mario Soares ou de António José Seguro, ser tão esquerdista como eles, ser controlado ou por dirigentes mais velhos que vieram do MES ou mais novos que ingressaram no PS em vez do BE porque o PS, um partido de poder, oferece melhores oportunidades de emprego às suas namoradas que partidos de protesto da esquerda radical, um partido que veta sempre que lhe é dado vetar qualquer celebração do 25 de Novembro de 1975, um partido do lado dos derrotados nesta circunstância determinante da evolução da revolução do 25 de Abril de 1974 para uma democracia liberal em vez de uma "democracia" popular.

Prescindir da ambição de liderança que sempre motivou o PSD para ajudar um governo socialista que não precisa de ajuda a aliviar a influência da esquerda radical quando ele tem a esquerda radical no seu núcleo duro não serve para nada.

Apresentou-se com uma proposta de liderança do PSD populista, nomeadamente ao pretender dar ao partido um "banho de ética" e ao insinuar a qualquer foco de oposição interna "interesses" na defesa de "lugarzinhos", ou seja, ao propor-se combater as elites instaladas. E, como é próprio dos populistas, a insinuar poderes obscuros a essas elites através de organizações secretas, no caso dos oponentes internos a Maçonaria.

Eu tenho desde sempre algum cepticismo relativamente aos políticos que se procuram afirmar mediaticamente através do combate à corrupção. Com algum cinismo coloco sempre a possibilidade de nunca a terem praticado por nunca terem tido a oportunidade de o fazer, por nunca terem exercido funções executivas que atraem, pela capacidade de tomar decisões que envolvem muito dinheiro, propostas de corrupção. Também tenho notado que alguns dos que assumem publicamente o papel de combate à corrupção exerceram funções executivas mas nunca denunciaram casos concretos com que tenham deparado no exercício dessas funções, de que seria mais fácil apresentar evidências sólidas do que as meras insinuações mediáticas de suspeitas de casos que lhes são longínquos. Eu não sou capaz de acreditar que alguém que foi ministro das Obras Públicas ou vereador numa grande Câmara Municipal não tenha um único caso vivido na primeira pessoa para denunciar com conhecimento de causa e mesmo evidências.

A primeira vítima de insinuações vagas como o banho de ética ou a defesa dos lugarzinhos é a reputação de todo o partido que é deitada pelo ralo com a água do banho. De todo o partido, para não dizer de todo o sistema democrático, como os populistas hard não se cansam de tentar. E o primeiro beneficiado é, espera o autor das insinuações, o autor das insinuações, que ao fazê-las espera ficar automaticamente ilibado das suspeitas que lança sobre todos os outros.

Mas a verdade é que a ética praticada pelos dirigentes actuais do PSD não parece ter estado à altura da exigência que se esperaria fundamentar a denúncia de Rui Rio. Desde casos de caciquismo, a negócios obscuros de autarcas, a casos de presenças falsas no parlamento, não se verificou nenhum padrão de exigência ética que distinguisse claramente esta direcção de qualquer direcção de qualquer partido de poder onde a ética nem sempre consegue resistir às tentações que o exercício do poder atrai. E por contrapondo relato aqui uma historieta que se passou comigo. Nos meus primeiros tempos de militante no final de 2015, ainda com Passos Coelho a liderar o seu segundo governo, um secretário de Estado foi à secção onde milito ter um encontro com militantes. Depois da reunião disse a um amigo deputado "os secretários de Estado andam de BMW série 3 e motorista", ao que ele esclareceu "O carro não era do governo, devia ser do partido, porque o Passos não deixa os governantes levarem o carro para essas reuniões".

E a eleição da ética dentro do PSD como tema nuclear da sua afirmação como dirigente e a falha em acompanhar as expectativas de exigência implícitas nessa escolha é especialmente penalizadora para o PSD e proveitosa para o governo, porque desviou o foco público das falhas de ética num governo cheio de casos de nepotismo e corrupção a níveis de que não há memória e que mereceram mesmo os títulos da imprensa internacional para pechas infantis como presenças falsas de deputados do PSD no parlamento.

Um terceiro equívoco é a tentativa de a actual direcção do PSD se desligar da "herança Passos".

O calculismo da opção é evidente, a tentativa de largar o lastro das medidas impopulares que o governo Passos foi forçado a adoptar para resgatar o país da dependência das instituições internacionais. A demagogia tembém, sem essas medidas impopulares, e sem a coragem para as assumir contra tudo e todos, a começar pela popularidade de quem as assumiu, não como a concessão a uma imposição de terceiros mas por serem necessárias, Portugal ainda andaria hoje de resgate em resgate como a Grécia andou em vez de se ter libertado definitivamente da dependência da troika em 2014, como estava planeado e parecia improvável a muitos, a quase todos. Sobra a estupidez de, ao assumir a falta de apoio e mesmo a oposição a essas medidas do governo Passos, a direcção do PSD deixar o governo socialista desligar-se também delas, que no entanto foram adoptadas maioritariamente ainda no tempo do governo socialista anterior, a estupidez de possibilitar aos socialistas designarem por "cortes do governo Passos" cortes que foram de facto deliberados e implementados pelo governo Sócrates.

E pior do que estes erros circunstanciais é renegar a herança reformista do PSD na história da democracia portuguesa que foi determinante para três libertações de Portugal: a libertação da tutela militar, iniciada pelos governos Sá Carneiro, a libertação da economia estatal, levada a cabo pelos governos Cavaco Silva, e a libertação da dependência externa, conseguida contra todas as expectativas pelo governo Passos Coelho. Sem esta memória o PSD é um partido dispensável.

Tudo junto, não é difícil de entender o apoio que, nos processos eleitorais internos do PSD, tem sido publicamente concedido a Rui Rio por socialistas como António Costa ou por comentadores esquerdistas e ferozes opositores de qualquer papel de liderança do PSD na evolução da sociedade portuguesa como Clara Ferreira Alves ou Daniel Oliveira. Eles podem ser intelectualmente desonestos mas sabem bem quem lhes serve os interesses e quem lhos contraria.

Mas apesar disto que acabei de dizer e das duas derrotas eleitorais em eleições nacionais em 2019, essencialmente a derrota nas eleições legislativas onde é escolhido o primeiro-ministro, e essencialmente devido às grandes distritais do Porto e de Aveiro, os militantes do PSD escolheram reconduzir Rui Rio na presidência do partido.

Eu não me revejo no PSD de Rui Rio e não vejo que ele precise de mim. Não estou e nunca estarei do mesmo lado de António Costa, Clara Ferreira Alves e Daniel Oliveira. O combate que me motivou a filiar-me no PSD já não está a ser travado pelo PSD.

Resta-me, como militante e como membro da Comissão Política da secção, continuar a colaborar como tenho colaborado sempre que me for solicitado pela secção da Amadora ou pelo seu presidente, o deputado Carlos Silva que estimo e admiro, e a procurar servir os eleitores da Freguesia da Venteira na Assembleia de Freguesia para onde fui eleito em 2017. E nas redes sociais continuarei a combater o socialismo como sempre combati, antes e depois de me filiar no PSD. Mas não vou colaborar numa secundarização do PSD face ao PS, não quero colaborar no que pode proporcionar uma mexicanização do regime. Quero combatê-la.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 18:51
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Domingo, 12 de Janeiro de 2020

A segunda volta

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Na primeira volta apoiei e votei em Luís Montenegro.

A campanha de Rui Rio e dos seus apoiantes focou-se nas insinuações de carácter sobre os opositores, sobre pretensos negócios obscuros ou ligações à Maçonaria. Tratou-os como inimigos como não trata os opositores externos. Como tratou antes o partido como um antro de corrupção ao pedir um "banho de ética". Nunca hesitou em sacrificar o nome e a imagem do partido para se promover pessoalmente.

Com ele o PSD, o único partido que já obteve mais de 50% dos votos em eleições legislativas, conforma-se com a posição de maior partido de oposição incapaz de ultrapassar o PS mesmo com a esquerda fragmentada, incapaz sequer de influenciar o PS que só em caso de necessidade extrema necessitará do seu apoio. Proporcionando ao PS a mexicanização do regime que impõe a um regime pluripartidário os vícios de um regime de partido único.

Primeiro ele, depois o partido, depois Portugal.

Acabado de sair de uma derrota pesada nas eleições legislativas, acusou Montenegro de perdedor em eleições municipais. O mesmo Montenegro que no parlamento deu a cara durante uma legislatura, em que Rio se escondeu, pelos sacrifícios que o povo português teve que sofrer para ultrapassar com sucesso a falência do governo socialista.

O PSD para sobreviver como partido competente para governar Portugal tem que inverter este plano inclinado para a irrelevância. Precisa de ética, competência e capacidade de liderança. Na segunda volta apoiarei e votarei em Luís Montenegro.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 15:41
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Sexta-feira, 23 de Agosto de 2019

Num processo revolucionário as leis fazem-se, não se respeitam

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Quando em 1975, num momento singular e talvez mesmo único de fuga à disciplina férrea que toda a vida se impôs e o fazia falar através de cassete, ele que era capaz de falar com eloquência, fluência, e erudição em qualquer estilo que quisesse sobre qualquer coisa que quisesse, disse estas palavras e outras cheias de fanfarronice para impressionar a jornalista italiana Oriana Fallaci na célebre entrevista, Álvaro Cunhal estava a fazer em Portugal a revolução comunista.

Quando em 2019, depois de pedir um parecer à Procuradoria-Geral da República sobre a existência de incompatibilidades puníveis com anulação dos negócios e demissão dos governantes nos negócios que as famílias próximas dos membros do seu governo Pedro Nuno Santos, Francisca van Dunen e Graça Fonseca mantém com o Estado, diz "Vou analisar o parecer e, se concordar homologo, se não concordar não homologo" António Costa está a dizer exactamente a mesma coisa que Álvaro Cunhal mas a revolução que está a fazer é outra, a revolução vigarista e, se ninguém o pára, a começar pela Procuradora-Geral da República que ele impôs a Marcelo depois de se livrar da anterior que não tinha capacidade de controlar, não será ele a parar.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 23:10
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Corrupção, nepotismo, incompetência e casas de banho

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Quando eu for primeiro-ministro quero ter a capacidade de, quando me der jeito que me larguem a perna por ser apanhado todos os dias a traficar nomeações e adjudicações directas com amigos, amigos da família e famílias de amigos e a dar cabo do país por incompetências múltiplas, encontrar um osso para atirar à oposição que consiga fazer toda a oposição correr para o osso em vez de me discutir a mim.

O osso não precisa de ter carne. Não é preciso haver o risco de os meninos passarem a ir espreitar as meninas à casa de banho das escolas, ou irem mais do que vão agora, porque as célebres casas de banho são destinadas aos alunos transexuais, que são muito poucos em Portugal mas existem, e não as que os alunos que não são transexuais têm à sua disposição. Para o osso criar na oposição um sentido de urgência que a faz lançar-se em massa para o lado para onde foi atirado basta espicaçá-la com palavras de ordem como "ideologia de género" para ela acreditar na ameaça e largar tudo para saltar a persegui-la.

Eu neste ponto tenho que confessar que acho que sou a única pessoa que não consegue perceber o que é "ideologia de género".

Primeiro porque ideologia é uma coisa que se tem, não uma coisa que os outros dizem que se tem, e não vejo ninguém a assumir que tem ideologia de género, só vejo pessoas a denunciar a ideologia de género noutras. Até a ideologia do neoliberalismo sei pelo menos de uma pessoa que a assumia, que sou eu, mas a ideologia do género ainda não vi nenhuma assumir.

Depois porque não percebo, ou se calhar percebo muito bem, o motivo porque lhe chamam ideologia e não teoria ou outra coisa qualquer, na mesma medida em que não se chama ideologia, mas teoria, ao evolucionismo, ao heliocentrismo ou à relatividade.

Depois ainda porque não sei quantos géneros há nem é assunto que me tire o sono nem me levante interrogações sobre o meu, mas não me identifico com o género do/a socialite José Castelo Branco nem gostava de entrar numa casa de banho onde ele estivesse. Mas quem se identifica e goste, ou simplesmente ache que deve ser assim porque a ciência biológica o determina, que se divirta.

Para os poucos que ficaram quietos pode-se ainda lançar outro osso, por exemplo um apelo ao primeiro-ministro para impedir uma Câmara Municipal de abrir um museu municipal para expor o espólio que detém de António de Oliveira Salazar, osso que também é duvidoso que tenha carne porque não é claro que o governo tenha competências para interferir, impedindo, na abertura de um museu municipal.

Entre um e outro, os desejados ossos, poucos terão ficado sossegados e continuado atentos à governação. Hoje, por exemplo, ainda não veio a público nenhuma nomeação de padeiro para um gabinete governamental nem adjudicação directa de lenços de protecção inflamáveis, mas foi noticiado que o Ministério das Finanças impediu o INEM de adquirir 75 novas ambulâncias apesar de fazerem parte de um plano plurianual aprovado pelo ministro da Saúde anterior e de o INEM ter fundos para o fazer, proibição que o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses qualificou como "deixar pessoas a morrer na valeta"

Pessoas a morrer na valeta? Who cares? Falta um mês e meio para as eleições que o costismo vai ganhar por falta de comparência da oposição mas não incomodem a direita com minudências, porque a direita agora está toda ocupada a resolver o problema das casas de banho das escolas.

Quando eu for primeiro-ministro quero uma oposição assim.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 12:47
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Segunda-feira, 12 de Agosto de 2019

Quanto vale um boy?

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Um assessor de um gabinete governamental, além de tirar fotografias em pose de empreendedor com os braços cruzados, ganha entre três mil e tal e quatro mil e tal euros por mês.

Se for um puto, ou uma puta, que também as há, que nunca fez na vida a ponta de um corno para além da militância partidária, às vezes nem estudou, é uma fortuna. Se for alguém com uma carreira profissional sólida pode ser uma ninharia. O que os move quando se dedicam à causa pública para além do natural apelo de a servir? 

O porta-voz da ANTRAM, André Matias de Almeida, antes dos 30 anos já coleccionava lugares de nomeação política em empresas e instituições públicas controladas pelo amigo, o falecido secretário de Estado da Indústria João Vasconcelos. Cargos que ajudam a compôr o fim do mês dos titulares mas nada de especial, a não ser atestarem a sua condição de boys.

Contratado para porta-voz pela ANTRAM, a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias, os patrões dos motoristas de transporte de combustível que iniciaram hoje a greve, conseguiu colocar ao serviço da associação todo o governo, as instituiçoes tuteladas pelo governo como a GNR e a Polícia de Intervenção, e mais tarde talvez a direcção-geral dos Serviços Prisionais, toda a máquina socialista dedicada a investigar e expôr os podres de quem se mete com o PS, e ainda o presidente da República que nunca deixa passar uma oportunidade de aparecer como figurante nas encenações do governo actual de António Costa, ora ameaçando os motoristas de consequências a que a impopularidade da greve os poderá sujeitar, ora incitando os automobilistas a abastecerem antecipadamente as suas viaturas e a participarem nas zaragatas nas filas para os postos de abastecimento antes do início da greve.

Quanto vale então um boy para uma confederação patronal? Vale tudo, principalmente num regime em que vale tudo. A ANTRAM não podia ter escolhido melhor.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 15:44
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Sexta-feira, 19 de Julho de 2019

Uma história de teclados

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Eu vou contar uma história.

Quando acabei o curso comecei a carreira numa multinacional de informática e o primeiro cliente com quem trabalhei depois de um período de formação inicial foi a Polícia de Segurança Pública, que tinha acabado de montar um centro de informática no Comando Geral na Penha de França, e que tinha começado a informatização da sua actividade com a criação de uma base de dados de armas.

Na época os teclados normais não tinham cedilhas nem acentos, constituindo o suporte de hardware e software a teclados com esses caracteres uma opção que se chamava National Language Support que se pagava cara, na época tudo o que tinha a ver com informática era inimaginavelmente caro, e se tinha que instalar em acrescento ao sistema operativo.

Um dia perguntei ao pessoal da informática da PSP [e o pessoal da informática da PSP é outra história à parte que também merece ser contada, por ser quase exclusivamente composto por mulheres, porque tinha sido seleccionado entre os agentes que concorreram ao concurso interno através de testes psicotécnicos, e enquanto a maioria dos agentes tinha a escolaridade obrigatória muitas das agentes tinham o ensino secundário completo e estavam colocadas em locais onde o conhecimento de línguas era valorizado, como os aeroportos, e muitas delas estavam a completar o 12º ano para se candidatarem a cursos superiores, ou a candidatar-se à Academia da PSP para se formarem como oficiais da PSP, ou a frequentar universidades como trabalhadoras-estudantes] o motivo porque tinham optado pelo NLS.

Responderam-me "por causa das armas de caça".

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publicado por Manuel Vilarinho Pires às 14:55
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Sábado, 13 de Julho de 2019

O Serviço Nacional de Saúde é para ricos

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Fulana (nome fictício), que não tem ADSE nem seguro de saúde nem dinheiro para pagar do seu bolso cuidados de saúde no privado, e que persiste em engravidar contra o bom-senso da matriz cultural europeia de inspiração cristã, atingiu as 40 semanas de gravidez no início da semana e dirigiu-se à Maternidade Alfredo da Costa onde lhe disseram que se não entrasse em trabalho de parto até ao final de domingo regressasse lá para lhe induzirem o parto e a mandaram embora.

No domingo à tarde dirigiu-se à MAC onde tirou uma senha e foi vista por uma enfermeira na triagem às 4 da tarde e depois de esperar a sua vez por um médico às 8 da noite, que lhe disse que se não entrasse em trabalho de parto até terça-feira regressasse lá pare lhe induzirem o parto e a mandou embora.

Na terça à noite regressou à MAC, onde lhe disseram que estavam lotados e não a podiam atender, e lhe entregaram uma carta a dizer que devia ser acolhida com urgência numa unidade de saúde para lhe induzirem o parto e a mandaram embora.

Foi tentar a sorte no Hospital Amadora-Sintra, que queria evitar por ter tido lá a primeira filha e o parto ter sido particularmente penoso, onde lhe disseram que estavam lotados e não a podiam atender, e lhe deram uma carta a dizer que devia ser acolhida com urgência numa unidade de saúde para lhe induzirem o parto e a mandaram embora.

[Estas sucessivas idas e vindas e ordens de ir embora tentar a sorte npoutro lado foram vividas, lembro aos mais distraídos, por uma grávida de 41 semanas]

Fez as contas com a família e depois de inventariarem as poupanças que podiam mobilizar foi para o Hospital CUF Descobertas. Onde foi acolhida na terça à noite, o parto lhe foi induzido na quarta de manhã e decorreu rapidamente e sem qualquer problema, e de onde teve alta com o bebé na sexta-feira.

A recusa do acolhimento nas duas unidades de saúde do SNS, que no entanto custam os olhos da cara aos contribuintes, custou à família cerca de 3.200 euros. Se não os tivessem, teria tido que parir na rua.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 11:49
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Sexta-feira, 12 de Julho de 2019

Os novos mártires

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A direita não tem, graças aos bons préstimos do comunismo, falta de mártires, exactamente como a esquerda não a tem graças aos bons préstimos do fascismo, ou dos regimes autoritários de direita, para não melindrar os que por falta de rigor técnico ou por defesa da reputação própria não gostam que se designe genericamente de fascismo qualquer regime autoritário de direita, mesmo se o termo, mesmo que possa estar ferido de alguma inexatidão teórica, seja adequado para designar aqueles que designa por ser perfeitamente claro que são eles, e não outros, os nomeados.

Mas hoje em dia há uma direita que não se satisfaz com os mártires do comunismo, que no entanto ainda continua a produzir mártires, nem se revê mais no combate da direita clássica ao comunismo em defesa da democracia liberal com economia de mercado, até prova em contrário a organização de sistema político e de sociedade mais livre e próspera de todas quantas foram experimentadas ao longo da história da humanidade, mas se reclama vítima de outros totalitarismos que encontra exactamente nas democracias liberais com economia de mercado do mundo ocidental em que vive e que se dedica a combater. A direita clássica combatia em defesa deste sistema, esta nova direita combate-o. O mais denunciado de entre eles é o totalitarismo do politicamente correcto.

Infelizmente para quem quer à viva força encontrar mártires, e felizmente para os mártires propriamente ditos, o politicamente correcto não dispõe dos instrumentos clássicos do comunismo e do fascismo para os produzir. Não prende nem tortura nem assassina as suas vítimas, não lhes arranca unhas nem olhos nem lhes parte ossos para lhes arrancar confissões ou declarações de arrependimento ou de conversão, não as obriga sequer a passar horas ou dias de pé em torturas de sono, não as condena a trabalhos forçados em regiões inóspitas onde a probabilidade de sobreviver ao cumprimento da pena é quase nula nem a internamentos em instituições psiquiátricas de onde se sai doido ou morto. A ofensa mais frequente com que o politicamente correcto os martiriza é do domínio do name calling: chama-lhes racistas, xenófobos, homofóbicos, misóginos, ou mesmo fascistas quando os quer injuriar genericamente sem se dar ao trabalho de procurar a injúria mais adequadas a cada circunstância específica.

É verdade que os vigilantes do politicamente correcto se eriçam e exigem punições exemplares para os que, por descuido ou com dolo, dizem coisas que lhes violam a exigência de um discurso bactereologicamente puro de focos de racismo, xenofobia, homofobia, misoginia ou outras fobias que combatem, por vezes formando grupos de linchamento verbal, mas apenas verbal, é verdade que os governos formam Comissões para satisfazer as exigências destes grupos preenchidas por gente que pensa do mesmo modo que eles, é verdade que as campanhas mediáticas de sensibilização para essas desigualdades estimulam as queixas e fazem aumentar o seu volume de ano para ano, mas também é verdade que quando chegam a tribunal a esmagadora maioria das punições aplicadas por essas comissões são neutralizadas. São mais as vozes do que as nozes.

Podemo-nos queixar de eles serem irritantes, podemo-nos queixar de lhes ser dada mais trela do que merecem, podemo-nos queixar da evidência de que se pudessem e dispusessem dos meios de repressão apropriados nos infernizariam a vida, e se viessem a conquistar o poder o fariam, mas dificilmente nos podemos queixar de vivermos martirizados por eles. Até porque não têm esse poder.

E portanto, sentindo necessidade de apresentar mártires e à falta de vítimas de ossos partidos ou olhos arrancados, ou escondidas em valas comuns, ou desaparecidas no oceano depois de terem sido lançadas de helicópteros, esta direita que combate o sistema tem de recorrer à criatividade para criar os mártires do politicamente correcto. E o melhor que tem arranjado é um inglês que se tornou conhecido como Tommy Robinson.

E quem é Tommy Robinson?

É um activista político inglês da classe operária, de 36 anos, de nome verdadeiro Stephen Yaxley-Lennon, que fez parte em tempos da English Defence League, um movimento de protesto da extrema-direita com historial de activismo violento contra o Islamismo militante, que significa mais ou menos um grupo de jovens que dedicam o seu tempo a andar à porrada na rua com grupos de jovens muçulmanos. Tem cadastro com condenações por diversos tipos de crimes, da violência em recintos desportivos, ou hooliganismo puro e duro, à fraude hipotecária, passando por uma tentativa de entrar nos EUA com um passaporte falso para contornar a impossibilidade de obter visto para o seu passaporte com o cadastro criminal que conseguiu acumular. Em suma, não é flor que se cheire, nem ninguém que se ambicionasse para genro. Mas tem, para a extrema-direita populista, e eu chamo-lhe assim sem preocupações de grande rigor taxonómico mas porque identifica bem aqueles de quem estou a falar, a vantagem de personificar a virtude das origens humildes que combatem os pecados das elites, e o curriculum vitæ de denúncia persistente do islamismo reforçada com doses industriais de cacetada em muçulmanos.

E de que é vítima Tommy Robinson?

De limitações da sua liberdade de expressão, uma forma de os seus defensores designarem uma série de desobediências a ordens de tribunais, por exemplo por ter organizado uma manifestação à porta de um tribunal onde eram julgados muçulmanos por crimes de pedofilia que o tribunal proibiu por assumir que poderia ser aproveitada pela defesa para pedir a anulação do julgamento por pressão ilegítima sobre o juri, ou por ter sido apanhado em sessões de um julgamento de gangs violentos a filmá-lo e transmiti-lo online, ordens que eles consideram serem motivadas para calar as suas denúncias dos crimes dos muçulmanos e da protecção que o sistema lhes proporciona.

Ora nas ordens jurídicas das democracias liberais ocidentais, e exceptuando as sentenças dos tribunais cíveis a ordenar o pagamento de dívidas que não são automaticamente assimiladas a ordens do tribunal para as pagar mas apenas a um pretexto necessário para os credores instaurarem novos processos de execução com mais custas judiciais e de patrocínio, e estas são a aberração e não a virtude, a desobediência a ordens de tribunais é tratada com mais dureza do que o conceito que parece relativamente inócuo de desobediência sugere, com penas de prisão. E o Tommy Robinson, com a acumulação de desobediências a ordens de tribunais, acabou por ser mesmo condenado a uma pena de prisão nesta nova vida de activista político. Correndo, defendem os seus defensores, risco de vida por ficar internado em estabelecimentos prisionais onde também estão internados os seus arqui-inimigos, os muçulmanos, como se ele fosse uma flor de estufa frágil e não um calmeirão que passou boa parte da vida a rachar cabeças a golpes de matraca, e até já as veio rachar a Guimarães.

Acresce que ele recebeu convites de activistas da alt-right americana para visitar os EUA que não lhe foi possível satisfazer por estar impedido de entrar nos EUA, por causa de ter sido apanhado a tentar entrar com passaporte falsificado como se devem lembrar. O que junta às limitações à liberdade de expressão e ao encarceramento com risco de vida as limitações à liberdade de circulação.

E ficou instituído o mártir desta direita, censurado, encarcerado em risco de vida, impedido de voar para o mundo livre, como se estivesse num Gulag.

Só que não está.

Ser objecto de name calling pelos vigilantes do politicamente correcto, mesmo sabendo que eles, se pudessem, lhe limpavam o sebo, não faz de ninguém mártir, tal como ser olhado de lado por declarar homofobia não faz de ninguém vítima de heterofobia, tal como ser condenado em tribunal por crimes cometidos não faz do réu mártir, mesmo sabendo-se que as prisões estão cheias de criminosos, alguns deles violentos, mas apenas um criminoso aos olhos do tribunal que o condenou.

E se esta direita a que eu chamo por economia de palavras a extrema-direita populista anda à procura de mártires entre quem não é realmente martirizado como tantos foram ao longo da história por razões religiosas, políticas, raciais ou mesmo sexuais, e alguns ainda são, mostra uma pieguice insuportável. E se os procura entre hooligans anda mesmo aos caídos.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 10:20
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Quarta-feira, 3 de Julho de 2019

Os europeus, uma espécie em vias de extinção

2019-07-02 Ursula Von der Leyden.jpg

No dia em que foi escolhida para presidir à Comissão Europeia uma mulher com sete filhos, Ursula Von der Leyden, tenho andado a discutir nas redes sociais aquilo a que alguns gostam de chamar, e eu não, a invasão muçulmana.

Queixam-se os denunciantes da invasão muçulmana que a permeabilidade das fronteiras à imigração ilegal, o acolhimento de refugiados e os brandos costumes dos europeus, que não obrigam como eles pensam que deviam obrigar os imigrantes e refugiados muçulmanos a adaptarem-se à cultura europeia, ou àquilo que chamam a matriz cultural europeia de inspiração cristã, por exemplo impedindo o uso de vestes religiosas muçulmanas como as diversas formas de véu, que está em curso uma cruzada de islamização da Europa baseada na invasão do continente por muçulmanos, imigrantes e refugiados. Que por seu lado justifica um controlo rigoroso dos imigrantes e refugiados que se deixam entrar, numas versões, ou mesmo ao fecho hermético das fronteiras, noutras.

Tese abundantemente ilustrada nas redes sociais por histórias terríveis e odiosas, desde países em guerra civil travada pelos imigrantes e refugiados muçulmanos contra as populações locais, a surtos de crime, e de crime do mais odioso, como as violações em massa de mulheres brancas ou os casamentos forçados com crianças, a movimentos políticos organizados de imigrantes muçulmanos a exigir a instauração da sharia nos países europeus ocupados por eles. Histórias que raramente chegam aos mainstream media, ou não com a extensão e profundidade que as redes sociais lhes dão, para esconderem do povo as consequências do globalismo e do multi-culturalismo, dizem os que as divulgam nas redes sociais, porque são imaginadas, dizem outros que visitam esses países e não dão por guerras civis nem violações em massa nem casamentos de crianças. Ou através de teses que defendem que os voluntários que dedicam o seu tempo a tentar salvar náufragos no Mediterrâneo estão afinal coordenados com as redes de traficantes de imigrantes ilegais que lhes pagam a peso de ouro para levarem para portos europeus os imigrantes ilegais que eles embarcam em praias do norte de África.

Estas teses inspiram nas redes sociais inúmeros activistas anti-imigração, de que se podem destacar como exemplos conhecidos em Portugal a actriz Maria Vieira e a, não lhe conheço uma actividade certa mas posso-lhe chamar assim porque escreve em blogues, blogger Cristina Miranda, de que não estou em posição de identificar o perfil do Facebook por me ter bloqueado e portanto não lhe ter acesso mas que me dedicou estas simpáticas palavras que lhe agradeço publicamente, e partidos como o PNR ou o novo Chega (ou Basta? que me perdi nas mudanças de nome).

Para atalhar razões, defendem que o movimento de imigrantes e refugiados faz parte de uma conspiração muçulmana para invador e islamizar a Europa. E terão fundamento para pensar assim?

Do propósito e da orgânica do movimento migratório tanto podemos acreditar como acreditar que é uma teoria da conspiração. Eles, os imigrantes e refugiados, lá saberão se são soldados de um exército invasor para instaurar o islamismo na Europa, se meros seres humanos a fugir da miséria ou dos horrores de guerras mortíferas para tentarem oferecer às suas famílias um local decente onde consigam levar uma vida decente, como tantos portugueses fizeram em décadas passadas emigrando para a Europa e a América.

Sobre as consequências há quem tenha feito estudos.

Este, do Pew Research Centre, sobre o crescimento da população muçulmana na Europa, além de fazer um retrato da presença de muçulmanos em 2016, elaborou previsões baseadas em diversos cenários de políticas públicas relativamente à imigração, incluindo as mais radicais, a de fronteiras completamente abertas e a de fronteiras completamente fechadas à imigração.

2019-07-02 Pew 2016-2050.jpg

Sobre a presença de muçulmanos na Europa em 2016 apurou que ascendem a 4,9% da população, sendo o país onde ela é mais importante a França, o que é natural numa antiga potência colonial com colónias no norte da África, com 5,7 milhões de muçulmanos correspondentes a 8,8% da população. Os outros países onde há maior peso percentual de muçulmanos são os países prósperos do centro e norte da Europa que historicamente atraem imigração, nomeadamente a portuguesa, como a Alemanha, o Benelux, o Reino Unido, a Suíça e a Suécia. Com menos peso a Itália, que no entanto assumiu a vanguarda da resistência à entrada de imigrantes com o governo Salvini que criminaliza o salvamento de náufragos no Mediterrâneo a pretexto de os barcos que os salvam estarem envolvidos nas redes de traficantes de imigrantes ilegais. E com um peso próximo de zero e só semelhante ao dos países de leste Portugal, o que sugere que os portugueses que fazem da imigração muçulmana uma obsessão, e há-os como os que enumerei antes, parecem tomar como suas preocupações que têm relevância noutros países mas nenhuma em Portugal, ou seja, parecem engravidar pelos ouvidos nas redes sociais.

Estes números para a proporção de muçulmanos e a sua diferença face à percepção das populações estão em linha com os resultados do inquérito realizado pela Comissão Europeia em 2016 sobre a assimetria entre o número de imigrantes percebido pelas populações dos diversos países da Europa e o real, que explicam melhor do que o número real de imigrantes a orientação das políticas públicas face à imigração.

2019-07-02 Perceived proportion of immigants.jpg

Mas a aferição da adequação e eficácia das políticas públicas faz-se pelos seus efeitos.

E o estudo prevê que no cenário radical de encerramento das fronteiras à entrada de novos imigrantes, que nem na Itália de hoje em dia está a ser praticado, a proporção de imigrantes na Europa crescerá dos 4,9% actuais para 7,4% em 2050, um aumento de 50%, e na Itália mais de 70%, de 4,8% para 8,3%.

Porquê? Por uma razão muito simples, os imigrantes continuam a ter filhos a taxas normais, enquanto os europeus têm cada vez menos e abaixo da taxa que garante a reposição dos níveis demográficos.

Para garantir a reposição dos níveis demográficos e a estabilidade da população todas as pessoas devem ter em média dois filhos. O número requerido é na realidade um pouco superior para compensar efeitos adversos para a demografia como a mortalidade antes de começar a ter filhos, mas para efeitos de simplificação pode-se admitir que são dois por casal. O que significa que por cada casal com apenas um filho deve haver outro com três. Ou por cada casal sem filhos, ou por cada duas pessoas que não chegam a formar casais, dois casais com três ou um com quatro. E significa também que se uma geração de casais tiver em média apenas um filho em vez de dois a população se reduzirá para metade a longo do ciclo de vida dessa geração, para um quarto ao fim de duas gerações, e para um milésimo ao fim de dez. E este parágrafo é simplesmente Aritmética que não está sujeita a opiniões nem preferências. É assim.

Já no caso extremo de a Europa escancarar as portas à imigração a população muçulmana na Europa poderá atingir os 14%, uma em cada sete pessoas, curiosamente a proporção que será atingida na Itália, com valores mais elevados na Suécia onde se aproximará de um terço e nos países mais ricos do centro da Europa onde se aproximará de um quinto. Cerca do dobro dos valores esperados com fronteiras fechadas, por seu lado 50% superiores aos actuais.

O que significa que mesmo com fronteiras abertas a população muçulmana ainda estará muito longe de ser maioritária em 2050, e com fronteiras fechadas ainda será substancialmente superior à actual. A invasão muçulmana está longe de parecer votada ao sucesso, e o fecho da Europa aos imigrantes não estancará o crescimento da população muçulmana na Europa.

Porquê? Pela razão apontada antes. A ameaça que a Europa enfrenta não é a invasão muçulmana para substituir a prazo a população europeia ou para lhe impor os seus valores, é a extinção da espécie por não se conseguir ou não se querer reproduzir aos níveis mínimos para assegurar a sua subsistência.

E porque é que os europeus têm cada vez menos filhos? Não é fácil encontrar uma explicação. Talvez porque se apaixonaram pela prosperidade material inédita na história de que usufruem actualmente e prefiram gastar o dinheiro em casas e carros bonitos e férias em destinos exóticos a gastá-lo em fraldas e pediatras e colégios se tiverem filhos? E água muito mais cara por metro cúbico, já agora? Talvez se tenham convencido que ter filhos é um serviço prestado à comunidade que não devem prestar gratuitamente, sem apoios, sem subsídios, sem condições? Por uma razão não é certamente, pelas condições materiais que têm à sua disposição, porque os imigrantes ganham em média muito menos, têm em média muito menos estabilidade laboral, e continuam a ter filhos a níveis normais. A razão da queda de natalidade dos europeus parece ser mais cultural do que material.

O problema da Europa não se resolve proibindo a imigração e deixando os imigrantes naufragarem e morrerem no Mediterrâneo, o que aliás está em grave contradição com os valores humanistas da matriz cultural europeia de inspiração cristã de cuja defesa contra a ameaça muçulmana se reclamam os detractores da imigração, não se resolve adoptando políticas de imigração adequadas às necessidades de mão-de-obra das economias, o que soa a planificação da economia que sempre foi um método de não resolver problemas mas de criar outros que se somam aos originais, e não se resolve submetendo os imigrantes à aceitação dos valores culturais europeus ou aceitando-os em função da proximidade entre os seus valores e os europeus. O problema da Europa resolve-se tendo filhos.

Se os europeus não os passaram e ter sistemática e sustentadamente a níveis que asseguram a reposição dos níveis demográficos, os tais mais de dois filhos em média por casal, continuarão a abrir voluntariamente um vazio demográfico que um dia será ocupado por quem lhes sobreviver, não lhes caberá a eles escolher quem os deverá substituir quando um dia se extinguirem, e é até patético pensarem que têm legitimidade e capacidade para o fazer. Se desaparecerem a Europa será de quem ocupar o vazio deixado por eles.

Em que é que os ajuda fecharem a imigração ou controlarem-na a níveis adequados às necessidades da economia e garantirem a integração cultural dos imigrantes? É um cuidado paliativo. Tem a vantagem de controlar a dor a níveis suportáveis ou cómodos e a desvantagem de retirar ao doente o sentido de urgência da cura para garantir a sobrevivência. É um engano, uma perda de tempo e energia que atrasa o ataque ao problema real.

Se a Europa quer sobreviver não tem que resistir à invasão muçulmana, tem simplesmente que ter filhos em vez de continuar a não os ter ao mesmo tempo que os imigrantes os continuam a ter, porque nesta história são eles as pessoas normais guiadas pelo sentido mais básico da biologia, o sentido de preservação da espécie.

Se não os tiver tanto lhe dá que quando se extinguir venham muçulmanos, como coelhos, ou moscas. Foi incacaz de sobreviver e não estará cá para saber quem lhe sucederá. Não mereceu sobreviver.

Neste cenário sombrio, muito mais negro, por conduzir a uma morte certa, do que o de uma invasão muçulmana, é de celebrar a nomeação de uma presidente da Comissão Europeia, um dos lugares com mais influência na definição de políticas públicas na Europa, de uma mulher com sete filhos. Talvez não esteja tudo perdido.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 00:52
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Sexta-feira, 28 de Junho de 2019

Já não há Minhotas

Eu nasci e vivi toda a vida em Lisboa, não há ninguém mais lisboeta do que eu, mas sou minhoto dos dois costados, do Alto Minho, das vilas banhadas pelo Rio Minho de Melgaço e Monção, passei todas as férias grandes até ao fim da adolescência em Melgaço, e sou do tempo em que os minhotos sovavam militantes e incendiavam sedes dos partidos políticos que desconfiavam, com razão ou sem ela, na medida certa ou com algum exagero, que lhes ameaçavam o património.

E aprendi desde novo as histórias das heroínas do Alto Minho que se distinguiram, invariavelmente, na liderança da resistência das populações das vilas fortificadas aos sitiantes castelhanos. A Inês Negra de Melgaço que, depois de um cerco tão longo que tanto sitiados como sitiantes estavam exaustos, propôs resolver o cerco andando à pancada com uma das mulheres sitiantes, e depois de a sovar eles levantaram o cerco e retiraram, e a maior de todas, a Deuladeu Martins de Monção que, perante a iminência de acabar a farinha, andou pela vila a recolher toda a que havia, cozeu pão e foi para o alto das muralhas atirá-lo aos castelhanos e anunciar que de onde aquele vinha havia muito mais, o que, também exaustos como estavam, os convenceu a levantar o cerco e a ir embora.

Isto eram as Minhotas que cresci a evocar e admirar, e a ter a prudência de não me meter com elas.

Hoje as minhotas elegem governantes e autarcas do Partido Socialista.

Quando um certo governante socialista megalómano e nem sempre demasiado honesto decidiu deixar para a posteridade a sua marca passando um rolo compressor no país que estava e eregindo no seu lugar um país moderno, líder na nova economia, nas competências tecnológicas e nas energias verdes, as minhotas foram-lhe na cantiga e, dos vinte e quatro deputados eleitos pelos distritos do Minho, ofereceram-lhe doze.

Do país moderno fazia parte também, e desde que ele, chegado da província e habilitado e experimentado nas artes do projecto de habitações, tinha conseguido socializar com as elites culturais da capital, uma exigência arquitectónica que o país que estava não estava à altura de satisfazer. E nomeadamente o prédio Coutinho de Viana do Castelo. E tratou de lançar um projecto ambicioso para alindar as cidades portuguesas, talvez por motivos de exigência estética, talvez para estimular a actividade económica no sector da construção e nos sectores associados como os dos projectos de arquitectura e engenharia, o programa Polis. Através da criação de uma rede de empresas como, para alindar a cidade de Viana do Castelo, a VianaPolis (assim tudo pegado).

A VianaPolis decidiu que o maior problema que era necessário resolver para alindar a cidade era o prédio Coutinho.

Eu nunca reparei por aí além no prédio Coutinho, se bem que ele seja visível à distância, e nunca estive próximo nem dentro dele, não tenho uma ideia precisa da qualidade de construção. Esteticamente não me parece extraordinariamente feio nem bonito, não me parece muito diferente dos edifícios de bairros construídos em Lisboa como a Portela. Se eu fosse um traficante de droga disposto a investir em património imobiliário preferiria investir o meu dinheiro em solares, que não faltam na região. Mas se fosse de classe média, ou imigrante com algum dinheiro amealhado depois de anos de trabalho lá fora mas insuficiente para comprar a empresas sediadas em paraísos fiscais apartamentos em prédios reabilitados com classe e sem olhar a custos, não me pareceria aberrante comprar lá um apartamento. Uma coisa assim para remediados.

E os moradores que lá compraram as casas viram-se de repente ameaçados pelo governante-rolo-compressor que lhes queria demolir o prédio e libertar espaço para eregir a sua utopia arquitectónica através da empresa VianaPolis criada para o expropriar e demolir, para além de albergar ou contratar à peça gente para desenhar a nova cidade. A maior parte, provavelmente ponderando que não tinha capacidade para resistir à investida de uma empresa muito mais poderosa do que eles e propriedade do governo e do município acabou por ceder à ameaça e aceitou entregar os seus apartamentos, mas uma minoria resistiu ao longo de décadas às investidas do governo, da Câmara Municipal e dos tribunais que a queriam expulsar e expropriar compulsivamente.

Até que acabou o prazo determinado para serem despejados.

2019-06-28 Prédio Coutinho.jpg

Não vale a pena repetir a história que tem sido sobejamente relatada, como aqui, por um proprietário de uma fracção no prédio. Os moradores estão barricados nas suas casas e não permitem a entrada aos burocratas que lá estão para tomar posse administrativa delas protegidos por agentes da autoridade e empresas de segurança privadas, e sabem que se sairem as portas das suas casas serão arrombadas, as fechaduras mudadas, e não conseguirão voltar a entrar. Pelo que permanecem dentro de casa há dias. Cá fora a sociedade VianaPolis mandou-lhes cortar a água, a luz e o gás, e não deixa entrar ninguém no prédio, nem para lhes levar alimentos nem para prestar cuidados sanitários e de saúde aos moradores de idade avançada que lá estão barricados. E os familiares só lhes têm conseguido fazer chegar água e alimentos através de sacos içados por cordas das varandas. Como num cerco medieval.

Como num cerco medieval como os de Melgaço e Monção.

Nesta luta desigual e degradante o sitiante é protegido pelo anonimato. Ao contrário dos políticos e dos autarcas que são, estando a comunicação social virada para o fazer, escrutinados até aos fundilhos, os burocratas da empresa VianaPolis que dirige o cerco e a guerra aos moradores são anónimos, não são interpelados nem questionados pelos jornalistas pelas indignidades que ordenam, não são reconhecidos nem apontados na rua, na escola dos filhos ou na missa como os facínoras que querem matar os velhotes do prédio. São anónimos.

Mas os anónimos também têm nome, e se a comunicação social lhes preserva o anonimato e a privacidade não temos motivos para a secundarmos. Olhemos então para o presidente da sociedade VianaPolis e deixemo-lo sair do anonimato.

O presidente executivo da VianaPolis chama-se Tiago Moreno Delgado e é irmão do secretário de Estado das Infraestruturas do ministério liderado pelo marido da chefe de gabinete do secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Parlamentares. É portanto um socialista instalado na teia. Mas a teia das famílias socialistas é tão densa e confusa que dela não se podem extrair grandes conclusões sobre as qualidades técnicas e humanas do gestor. Mas tem uma qualidade que no PS actual é muito valorizada. É um grande mamão nas tetas dos contribuintes. Em 2010 conseguiu impingir por ajuste directo de 75.000 euros a "Prestação de serviços no âmbito da coordenação dos projectos e empreitadas previstas no âmbito das actividades desenvolvidas pelo Programa Polis Litoral Norte" durante o prazo de 365 dias à Parque Expo ao mesmo tempo que era director da Parque Expo. Estando dotado da competência de mamar nos dois lados ao mesmo tempo e fazendo parte das famílias certas pode-se considerar perfeitamente integrado no regime socialista.

E as minhotas?

As minhotas, em vez de lhe invadirem o palácio para o sovarem e expulsarem violentamente da cidade, estão muito caladinhas a assistir ao cerco, a deixar exaurir os velhotes de solidão, escuridão, fome e fraqueza até se renderem e entragarem as suas casas ao sitiante.

As minhotas de hoje não são as Minhotas do meu tempo.

 

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 18:03
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