O estudo? Qual estudo? O artigo não diz mas ficamos com fortes suspeitas de que seja da Ordem dos Nutricionistas, um conhecido organismo cuja bastonária está aflita com a situação dos pobres velhinhos e lhes quer acudir.
O jornalista, esse, pergunta sem rodeios, indo com argúcia ao cerne do problema: "É preciso criar uma estratégia de intervenção?"
E aqui a gente, que esperava que a senhora bastonária dissesse que sim, é preciso dar de comer aos velhos, proporcionar assistência odontológica aos que têm "problemas de mastigação" e estabelecer um plano que garanta que os responsáveis pelos lares são devidamente expulsos se com culpas próprias no descaso, ou pendurados pelas orelhas os supervisores públicos que por preguiça ou incúria nada fizeram para tentar resolver o problema, lê com surpresa:
Que "era importante" que os lares que ainda os não têm (e a maior parte está nessa lamentável situação) tivessem nutricionistas, visto que nos Centros de Saúde há apenas cem; que exista um "diagnóstico precoce" (quer dizer, presume-se, antes de o velhinho morrer de fome); e que, finalmente, "o que importa é um plano desenhado à medida de cada um. Essa é a grande nota".
Grande nota, realmente. Se bem que, no fim da vida, o "plano" talvez devesse ser cada um comer o que lhe apeteça, até onde for possível porque decerto os recursos disponíveis não permitem luxos. E ainda os permitirão menos se forem desviados para pagar salários a gente que quer fazer planos para dizer a velhos indefesos o que podem e não podem comer.
É possível, como existe a promessa de criação de 55 vagas para esta especialidade, que a agudeza do problema venha a esbater-se. Razão por que sugiro que o jornalista, na mesma senda de se ocupar com as preocupações das classes profissionais, entreviste o senhor Bastonário da Ordem dos Técnicos de Parqueamento Automóvel, cuja situação é dramática: existe uma absurda, e impune, quantidade de utentes que se abstêm de contribuir para o sustento daquela prestigiada classe, por a achar inútil.
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