Vieira da Silva é um prestigiado político reconhecido como especialista em assuntos de segurança social, justa fama adquirida no tempo em que era ministro do Trabalho no primeiro governo de José Sócrates, de saudosa memória. No segundo governo do mesmo estadista foi ministro da Inovação e Desenvolvimento e, após um intervalo de quatro anos em que desperdiçou os seus talentos no Parlamento, como deputado, na sequência de um mal-entendido com os credores que provocou a quase falência do país e o exílio interno do PS, regressou à pasta que lhe pertence por direito, onde se ocupa novamente de garantir as pensões dos actuais e futuros reformados.
Isto é maneira de dizer. Que na verdade havendo vários modos de garantir a sustentabilidade da segurança social não há nenhum que faça ganhar votos. E como Vieira da Silva é um dos principais aguadeiros para a conservação e engrandecimento dos votos no PS e a ideia de estadear na oposição lhe parece contranatura, inventou o engenhoso processo de anunciar a salvação da segurança social, de cinco em cinco anos, para os próximos trinta, e ainda distribuir uns aumentos no momento certo, e na quantidade mínima, para contentar o eleitorado.
O sistema tem funcionado com geral satisfação, salvo o ocasional resmungo de um ou outro jovem com algumas luzes de aritmética e inexplicavelmente preocupado com um futuro que, como é sabido, a Deus pertence.
Infelizmente, há um bancozeco, o Montepio, que está a precisar inconvenientemente de ser salvo, e isto quando é público que o governo corrente resolveu os problemas da banca, sector que hoje respira saúde, salvo pelo detalhe dos resultados magríssimos e das carteiras de crédito duvidosas. A própria Caixa Geral de Depósitos está em vias de se tornar rendível pelo expediente imaginativo de assaltar as contas dos clientes enquanto a Autoridade Tributária, e os restantes serviços do Estado, se certificam que é na prática impossível guardar as poupanças no colchão.
Entra aqui Vieira, que superintende na Santa Casa, um organismo lisboeta que detém o monopólio legalmente imposto de vários jogos em todo o país, e que por isso tem uma enorme abundância de receitas e reservas. Compreende-se: as pessoas jogam, em tempo de crise, porque querem deixar de ser pobres; em tempos bons, porque querem ser ricas; e sempre porque têm muito amor a Lisboa.
O cofre está lá e, na opinião do ministro, o investimento em património imobiliário e obras de arte não é de natureza muito diferente da de outros investimentos, nomeadamente na área financeira, que aliás a Santa Casa já pratica.
Bem visto. O banco abicha os cem ou duzentos milhões, sobram mais dois lugares gordamente pagos para boys do PS e as contas públicas não são afectadas. A Santa Casa não pertence a ninguém e, por conseguinte, é nossa, tal como a Caixa, razão pela qual se vier a ser necessário mais dinheiro aparecerá.
A história vem contada aqui e, como é costume com a banca, é uma grande embrulhada. Mas não precisamos de nos inteirar dos detalhes, sabemos como acabará - podemos confiar em Vieira.
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