Na sequência do que escrevi aqui, fiquei inquieta com uma nova reflexão que de seguida enunciarei.
Surgiu da circunstância de estar em casa a ver as notícias - em particular aquela em que a FNE anunciava que "vai aderir à greve de professores às avaliações e no primeiro dia de exames nacionais do ensino secundário" - no mesmo momento em que uma das minhas filhas, que está no 6.º ano e vai fazer exames nacionais, me entregava uma carta do colégio onde estuda, a dar nota das aulas de preparação para esses mesmos exames, precisamente nos dias de greve.
Vamos então por partes:
- Sou consciente da dureza das opções que estão a ser colocadas aos professores e às escolas. Concordo com algumas das medidas, de outras dúvido da eficácia, mas, de fundo, percebo que num cenário de redução do peso do Estado este setor não poderia - nem seria justo - que ficasse incólume.
- Aceito - nem poderia ser de outra forma - que se utilizem meios legítimos como a greve, para fazer valer posições, embora prefira a mesa de negociações para o mesmo fim;
- Escolher como datas para o exercício desse meio legítimo justamente aquelas que põem em causa o trabalho de um ano parece-me estranho. Mais ainda quando os principais visados não são os próprios, mas os alunos que estes acompanharam durante um ano ou um ciclo, os seus alunos, os seus educandos, a sua razão de ser na missão como professores.
E eis que chego então à reflexão de ontem à noite: os alunos das escolas privadas estão salvaguardados. Só os alunos da escola pública - estatal, para ser rigorosa - serão potencialmente afetados.
Gritante desigualdade. Será esta greve anti-constitucional?...
De Filipe Carmo Ferreira a 22 de Maio de 2013 às 20:02
O decreto da greve não é exclusivo para professores da escola pública ou estatal - serve para todos os professores qualquer que seja o empregador.
Maldita a vontade de confrontação público/estatal e privado, demo e deus, defeito e virtude, indigência e inteligência...
Deve ter havido algum equívoco ao escrever "Será esta greve anti-constitucional?..."
Olá Filipe,
O decreto serve, é certo, mas veremos qual a incidência da adesão num caso e noutro. Se se provar igual, retiro a pergunta :)
De resto, como sabes, não tenho esse estigma de público vs privado. Mas convoco essa tentação aqui porque costuma ser usada em defesa da escola pública justamente por aqueles que aqui estão - caso se verifique o meu pressuposto - a prejudicá-la.
E não houve equívoco. Houve ironia :)
De Filipe Carmo Ferreira a 22 de Maio de 2013 às 22:19
Olá, Ana Rita.
Claro que a adesão de professores da escola pública será bem maior do que a dos seus colegas - não têm a espada de Dâmocles sobre a sua cabeça. A relação empregador-trabalhador é ainda mais desigual. Aqui não há novidade.
O que não quer dizer que não tenham razões (até mais e há mais tempo) para fazer greve...
Tenho duas filhas, uma no 4º ano, outra no 6º ano. Uma já fez os exames nacionais, outra ainda os fará em junho. Não fazer o exame em determinado dia ou não o fazer de todo não é, não será e nunca foi o fim do mundo.
Desde o século passado que não havia exames nacionais nestes anos e, no entanto, "Eppur si muove!" sem traumas para as criancinhas....
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