Para fazer meio quilo de seda natural é necessário assassinar barbaramente entre dois e três mil bichos-da-seda. Por aqui já se vê que, para confeccionar um elegante vestido de Verão, daqueles que devastam corações ou que usa a senhora Christine Lagarde, estamos a falar de verdadeiros genocídios.
Os bichos em questão, quando terminam o seu processo de transformação em insectos, têm o desagradável hábito de perfurarem os casulos para se porem na senhora da alheta, e esta perniciosa tendência estraga algumas valiosas fibras. Daí que os criadores, com oportunista prudência, cozam os casulos, com as lagartas lá dentro, em água fervente.
Isto gela o coração: os pobres animais indefesos, os ocelos (ou lá o que é) arregalados de pavor, revendo num instante as suas até aí confortáveis vidas, e os quilos de folhas de amoreira que devoraram. Ai credo!, que se tivesse aqui à mão um formulário, não sei se não era desta que me inscrevia no budismo ou no PAN.
Mas para as (e os) elegantes com um coração de esquerda (esta modernice dos seres sencientes e não sei quê é, como quase todas as causas, uma coisa de esquerda e de lunáticos, com perdão da redundância), há a alternativa da seda da paz: o insecto Eri vai à vida e os locais recolhem os casulos vazios, com os quais confeccionam à mão uma seda extremamente compassiva.
Se porém ainda isto for demais, há uns filamentos de uma árvore, e umas sementes de uma erva - também dão seda, sobre cuja qualidade o artigo, infelizmente, diz nada.
Já estou por tudo, desde que não se estenda o amor pela Natureza até às bactérias maléficas e aos vermes nojentos, e se deixe Braga em regime de extra-territorialidade.
É que hoje encaro a hipótese de jantar arroz de lavagante na cidade dos Arcebispos, num estabelecimento cujo nome não divulgo. E é claro que não tenciono inquirir de que forma, exactamente, se deu o falecimento do infeliz animal.
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