Acho bem a greve de hoje, pela mesma razão que compreendo a necessidade das válvulas nas panelas de pressão. E quanto mais entusiastas forem os jornalistas, criativos os cartazes, veementes os insultos, confiantes os comunistas que dirigem a coisa e os socialistas que se lhes colaram, bem como a massa anónima de funcionários que está em luta - melhor. A greve é uma festa, pá.
Porque realmente quem não está a trabalhar são funcionários públicos, e uns quantos do sector privado que ou são comunistas, ou têm genuínas razões de queixa, ou não têm outro remédio porque não se podem deslocar. E, sendo as coisas assim, para a maioria das funções (as excepções óbvias são a saúde e os transportes), um dia a mais ou a menos não faz diferença. E até, no que toca a uma quantidade razoável de funcionários, se entrassem definitivamente em greve seria um grande benefício, não para eles, coitados, que não escolheram povoar serviços inúteis ou daninhos, mas para quem é obrigado a sustentá-los.
Isto é, em parte, retórica, claro. Que, conforme ficou demonstrado com a recentíssima greve dos professores, a berrata e a intimidação surtem algum efeito, ao contrário do que imaginei sucederia.
Mas uma coisa é os professores fazerem uma listinha de reivindicações e darem um chega-pr'a-lá na reforma, nos outros funcionários e na troica, e outra os gerais, incluindo portanto os privados, fazerem o mesmo. Porque, se são todos, não fica ninguém para comprimir. Donde se deduz que os Arménios desta vida, e na circunstância os idiotas que lhes servem de compagnons de route, o que querem é agitação e instabilidade, reivindicando eleições não porque imaginem que as vão ganhar, mas porque o PS não fará nada de substancialmente diferente. E, não fazendo, confiam em que, de exclusão em exclusão, as massas se voltem para eles, sob a lúcida direcção do camarada Jerónimo.
Jerónimo, meu chapa, esquece: não vai suceder. Esta multidão que engrola a Grââândola vai-te cravar um facalhão nas costas nas eleições próximas, e nas seguintes, e nas outras, dando-te uma vitória histórica, com pouco mais de 10% dos votos. E mesmo acrescentando os votinhos do teu alter-ego verde, e os dos teus doentes infantis bicéfalos, não chega.
Entretanto, vamos cantando neste dia de comunhão, e chorando nos restantes.
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