Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se hoje a Rui Machete como um fundador do PSD (na altura PPD) que foi "muito próximo de Sá Carneiro" e o seu "braço direito". Não é verdade.
Rui Machete opôs-se a Sá Carneiro juntando-se ao grupo dos "inadiáveis", uma dissidência do PPD da qual também fizeram parte Sousa Franco, Guilherme Oliveira Martins, Sérvulo Correia, e Magalhães Mota. O documento "Opções Inadiáveis", que apresentaram em Junho de 1978, criticava Sá Carneiro e defendia "a socialização crescente da economia (...), rejeitanto tanto o liberalismo capitalista como o estalinismo colectivista", uma posição que pretendia colocar o partido no centro-esquerda e que valeu aos seus defensores largos anos de entendimento com o PS. Foi o que aconteceu com Rui Machete, e foi exactamente por essa razão que Passos Coelho o foi buscar para o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Marcelo Rebelo de Sousa sabe disso. Sabe que Rui Machete não foi chamado para fornecer ao Governo avisados pareceres constitucionais. Nem para carimbar uma garantia de descendência dos princípios políticos de Sá Carneiro, com os quais Rui Machete nunca se entendeu.
Rui Machete está lá para representar o "acordo" inventado por Cavaco Silva, para calar os pomposos perús velhos do PSD, e para fazer aquilo que sempre fez melhor: entender-se com o PS.
Tudo isto é suficientemente claro para a perícia de Marcelo. Mas exibir Sá Carneiro na identidade política, ainda que falsificado, é uma tentação que se percebe abordando o tema de outra maneira.
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Fotografia daqui.
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