Tenho dificuldade em sintetizar na dimensão de um post o que vai pela Itália. Não é que seja complexo ou haja enormes decisões nacionais que dificultem a explicação. Antes pelo contrário, nada de substancial acontece na governação.
Os italianos habituaram-se a testemunhar uma discussão permanente por motivos novos que surgem todas as semanas. A maior parte desses motivos actualmente e nos últimos 20 anos estão relacionados com Berlusconi e as suas desventuras. Vai preso? Perde o mandato de senador? Recebe a graça do Presidente Napolitano? Como vai a sua queixa ao Tribunal dos Direitos do Homem? Como dizem os meus “amici”: “non c'è più sacco”.
O governo não aparece, a não ser para anunciar novas “reformas” da educação, da segurança social, decretos “fare” (fazer) que demonstram uma grande sensibilidade social, grande preocupação com a simplificação da burocracia estatal (onde já vimos isto), decretos com vista a combater o violência sobre as mulheres e etc., de grandes causas que não saem do papel. As grandes promessas eleitorais de todos os partidos, reforma da lei eleitoral, custos da política, pagamentos das dívidas do estado às empresas italianas, foram todas metidas na gaveta.
Enquanto discorre a discussão perene, muito mediática e que oferece autênticos espectáculos circenses no parlamento, senado e programas televisivos, o país continua com impostos nórdicos e nível de serviço público grego, a ter uma das mais elevadas dívidas do mundo com um serviço (juros pagos) altíssimo e sem poder reformar ou investir no que quer que seja. Única certeza italiana: o que diz a Alemanha comanda a agenda.
Evidentemente, os políticos deixam correr a situação enquanto a Itália não voltar de novo à ribalta da comunicação internacional. Aí, aparecerão de novo em grandes declarações, mas a discussão e a conflitualidade são de nível tão gravoso que não se conseguirão entender jamais. Nem entre partidos, nem dentro dos partidos, todos profundamente divididos em várias correntes internas. Berlusconi e Grillo conseguem manter uma aparente mas frágil união nas suas hostes.
Face ao panorama governativo, verdadeiramente lastimável, o que faz correr a Itália? Tal como em Portugal, uma “sociedade civil” lutadora, profundamente resistente, que apesar da força que o estado faz para mandar abaixo todos os esforços de crescimento, labuta, produz, vende e distribui a riqueza que ainda vai resistindo ao saque público.
A Itália é o exemplo mais puro de país do Sul da Europa, onde: quanto mais estado menos riqueza. Naturalmente, o governo poderá cair a qualquer momento, dependendo dos caprichos de Berlusconi que continua a impor a sua vontade. Espantoso.
Itália e Aliados face à Síria
Entretanto o governo italiano já afirmou que só participa no ataque à Síria se a ONU sancionar. O que não sucederá. Posição estranha da Itália que terá sempre de dar as bases aéreas e deixar passar os bombardeiros e aviões de reconhecimento dos “aliados”.
Naturalmente o impacto do ataque e da situação internacional será tremendo na situação interna económica e no custo de gestão da dívida.
Blogs
Adeptos da Concorrência Imperfeita
Com jornalismo assim, quem precisa de censura?
DêDêTê (Desconfia dele também...)
Momentos económicos... e não só
O MacGuffin (aka Contra a Corrente)
Os Três Dês do Acordo Ortográfico
Leituras
Ambrose Evans-Pritchard (The Telegraph)
Rodrigo Gurgel (até 4 Fev. 2015)
Jornais