O meu colega Carlos Fiolhais (colega porque somos ambos físicos e professores, excepto eu, e ambos com opiniões abalizadas sobre política, excepto ele) não gosta do CDS mas aprecia muito o PSD. É um direito dele, e podia aliás ser muito pior: não faltam em Coimbra professores (inclusive de economia, possivelmente por serem muito económicos de senso) que navegam nas águas do BE.
Pois Fiolhais censura asperamente o recente aumento da importância do CDS no Governo, que acha uma "perversão da democracia". E, baseando-se na vitória de Merkel, que varreu do parlamento o Partido Liberal e não permitiu a entrada do AfD, faz um paralelo com a situação portuguesa e sugere uma grande coligação entre o PSD e o PS, "naturalmente com outros líderes", cujos nomes, com louvável franqueza, revela aos leitores.
Talvez tenham passado despercebidas ao senhor Professor algumas partículas que tornam a tese um tanto, vá, discutível: i) O SPD alemão não é o PS português - na década em que entre nós se aprofundaram políticas expansionistas, a Alemanha de Schroeder, esse traidor aos verdadeiros ideais socialistas, pôs o seu eleitorado a apertar o cinto, tal como a sua sucessora no lugar de chanceler, e o SPD tem um sagrado horror ao défice, que o PS não partilha; ii) A CDU, tal como o SPD, é fortemente europeísta, e nisso não se distinguem nem do PSD nem do PS. Sucede porém que o PS quer a "Europa" da solidariedade, ou seja do plante que o Fritz garante; e o PSD tem dias, dependendo da clique que o governe - Passos não é a dra. Ferreira Leite, os dois diferem muito do dr. Rio, e os três não são iguais a cerca de 137 putativos primeiros-ministros de que o PSD dispõe nas suas coudelarias; iii) O bloco central já foi experimentado e não deixou boa memória.
Acresce que as duas personalidades que são sugeridas para a solução salvífica do País são tão diferentes, e com tão distantes opiniões sobre o que deve ser feito que, salvo uma situação catastrófica, que aliás não é impossível, não se vê como poderiam juntar-se num composto estável.
E, com catástrofe ou sem ela, de táxi ou até de lambreta, o CDS não pode ficar "irrevogavelmente de fora". Ou melhor: pode ficar fora do Governo; mas não pode ficar fora do país.
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