Por razões profissionais abri um processo de recrutamento para professores.
Tem sido como fazer pelo menos duas novas cadeiras neste infindável curso da Escola da Vida, a saber: "Mitos quebrados, mitos reforçados - ou como as generalizações são estúpidas" e "Teoria de Jogos revisitada: all-lose-games" (suspeito que, em ambos os casos, deva aplicar um "I" no final da designação...).
Atender-me-ei apenas à segunda porque sendo as generalizações estúpidas, o comentário sobre casos individuais é indiscrição.
O que tem sido então a matéria em "Teoria de Jogos revisitada: all-lose-games"? Tem sobretudo versado sobre a "contratação de escola" que é a possibilidade que as escolas têm de, segundo regras estabelecidas pela DGAE, contratar professores para completar horários ainda por preencher.
Então o que acontece?
Existe uma lista de professores de cada grupo disciplinar, seriedada por critérios complexos - baseados sobretudo em antiguidade - a que todas as escolas recorrem para recrutar professores. Podem chamar 5 de cada vez. Telefonam ao primeiro, chamam-no para entrevista - sendo que a escola pode ser em Lisboa e o candidato da Guarda - a entrevista acontece e o "colega" tem 48horas para decidir se quer ou não aceitar o horário. Durante esse tempo a escola espera. E por escola, entendam-se os alunos.
Se o "colega" aceita, então tem que apresentar-se na escola no dia a seguir. Se não aceita - porque teve uma proposta de outra escola mais próxima de casa, por exemplo - no final das 48 horas referidas, então a escola telefona ao segundo da lista e recomeça o processo. Isto repete-se até que a escola encontre alguém, algures na lista, que aceite aquele horário naquele local.
Ouve-se, numa sala da Escola da Vida, uma voz de genuína dúvida: "Então mas não seria possível abrir um recrutamento, aceitar CV, selecionar de acordo com as preferências da escola e começar em 5 dias no máximo, antes ainda do começo das aulas?"...Parece que não, por causa da seriação e das regras. Porque seria uma potencial injustiça para os "colegas". "E os alunos sem aulas?", repete a mesma voz, mas já sem resposta...
Vejamos então, em jeito de síntese da matéria dada: estamos em outubro. Os alunos não têm professores e aguardam em ciclos de 48horas. As escolas não têm professores e têm a carga administrativa de uma empresa de seleção de RH sem ter o grau de liberdade da escolha - ah pois, a seriação tem destas coisas. Os professores da lista não sabem se vão ser chamados, de onde vão ser chamados e o que vão estar a fazer e onde vão estar a viver no final do mês.
Pergunta-se: quem ganha neste jogo? Aprendi na cadeira acima mencionada que a resposta é "ninguém", todos perdem. Bem que a Ciência poderia revisitar a Teoria deste Jogo...
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