(Originalmente publicado no Senatus, em 17 de Setembro 2011)
Para Carlos Abreu Amorim, a situação na Madeira "não é assim tão diferente daquela que Portugal viveu em 2010, com números de défice sucessivamente alterados e corrigidos para cima". Estas palavras desiludiram o Diogo e levaram-me a fazer contas. À merceeiro, porque chega perfeitamente; quem me dera que "os decisores políticos", imortalizados nas palavras do grande estadista Cavaco Silva, recorressem a este método com mais frequência para "conduzir políticas orçamentais correctas".
Números gordos, a Madeira conta 250 mil habitantes. A dívida "omitida" por Alberto João Jardim soma 1,7 mil milhões de euros. Fazendo a proporção para 10 milhões de habitantes, a "omissão" correspondente seria de 68 mil milhões de euros.
Este montante, de 68 mil milhões de euros, seria o valor da gentileza se Jardim fosse, Deus me perdoe, Primeiro Ministro. E se tratasse de acarinhar os portugueses com o mesmo enlevo com que zela pelo bem estar dos madeirenses.
Jardim não é, portanto, comparável a Sócrates. Jardim é muito maior. Também no método, porque Sócrates, tanto quanto se sabe, foi fazendo passar as suas contas pela Assembleia da República. Jardim não desperdiçou recursos com intermediários inúteis e perniciosos.
Aguardo, com ansiedade, a actuação de Passos Coelho. E a "magistratura de influência" de Cavaco Silva. Até lá, suspendo a emissão de recibos, os pedidos de facturas e a prestação de quaisquer contas ao Estado português. Primeiro gostava de perceber se estou dispensada de formalidades incómodas e se posso, à imagem dos nossos governantes, dar mimo ao meu agregado familiar. Depois não se fala mais nisso, como se usa agora: o que lá vai, lá vai. Ou se a dispensa dessas formalidades é uma benesse concedida pelo Estado português aos responsáveis madeirenses como política compensatória para equilibrar os famosos "custos de insularidade".
Era conveniente que não demorassem a tomar uma decisão. Enquanto espero, posso ser presa.
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