O departamento do PCP para assuntos sindicais resolveu fazer uma manifestação que atravessa a Ponte 25 de Abril.
Não se sabe - eu, pelo menos, não sei - porquê atravessar aquela ponte e não uma das praças, ou avenidas, habituais. Talvez o vermelho das bandeiras ganhe com o azul do céu em fundo, talvez os manifestantes, com os semblantes irados, segurando virilmente cartazes com censuras ásperas ao governo fascista, deem excelentes photo-opts sem o enquadramento habitual dos prédios lisboetas - vá-se lá adivinhar.
Sucede que as autoridades competentes acham o percurso perigoso, mas as razões, decerto ponderosas, não foram divulgadas: pode ser que as palavras de ordem, sincronizadas, tenham um efeito deletério no aperto das porcas, tornando-as soltas; ou libertem, por influência das vibrações, os rebites; ou se admita que um ou outro manifestante possa ser mais liberal no consumo de mines, e, influenciado pelo clima de desgraças e falta de futuro, que a manifestação justamente verbera, vá a ponto de amplificar o impacto da manifestação pelo efeito de se atirar ao Tejo.
Seja como for, a CGTP não aceita a sugestão de se ir manifestar para uma ponte mais consensual e encasquetou nesta. E, sem dizer nada sobre as verdadeiras razões da importância da Ponte Salazar, rebate com bons argumentos os das autoridades.
Pense-se o que se pensar da CGTP, não há dúvidas de que não há perigo de aquela organização não saber controlar uma multidão; e que é perfeitamente capaz de avaliar os riscos em presença e coarctá-los.
O Governo pode portanto poupar-se o risco de um confronto inútil ou, pior, dar pretextos a queixas de perseguição, ou ainda evidenciar um temor para o qual não tem razões.
A CGTP pode perfeitamente bloquear o trânsito naquele sítio, em vez de outro qualquer, tanto mais que o dia não é útil. E, embora não tenha credenciais na área da segurança, creio estar em condições de poder afirmar que, ainda que fosse o dobro a quantidade de autocarros que virão a Lisboa despejar manifestantes, sempre a ponte, que já aguentou uma mudança de nome e de regime, pode bem aguentar uma manifestação.
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