Paula Rego, Maçã Envenenada, 1995
"Seu nome é Octávia e não devia comer bacalhau. Octávia sabe que não devia comer bacalhau mas impreterivelmente, de nove em nove dias, faz questão de comer bacalhau. Sempre que Octávia come bacalhau, o seu corpo dispara numa reacção alérgica que lhe entorpece os músculos, lhe enrijece as articulações e lhe paralisa a visão ao longo de nove intensas horas. São para a Octávia nove intensas horas de purgatório, fazendo-se habitar um corpo de tão suplicante dor que até a alma se desmantela.
Octávia sabe que quando come bacalhau são estas as horas purgantes que a esperam e, de nove em nove dias impreterivelmente, Octávia manda a empregada às compras do bacalhau, o da melhor qualidade. Sentada no hall do seu prédio, Octávia espera que a empregada chegue das compras e depois segue-a degrau a degrau até ao nono piso onde mora e fica a observá-la durante toda a manhã enquanto a empregada prepara a iguaria.
À hora certa de almoço, de nove em nove dias Octávia instala-se cerimoniosamente à sua mesa, solitária e gulosa, e garfada a garfada deleita-se com o bacalhau que o seu corpo rejeita porque o faz doentiamente adoecer.
Só nas nove horas de tormenta que se seguem é que Octávia consegue encontrar o descanso na dor proporcional ao da morte da sua filha única de nove anos de vida."
P.L., 2013
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