Luciano Amaral disse aqui o que lhe ia na alma, não sobre Nelson Mandela, mas sobre as motivações de muitos que se pronunciaram sobre a morte do grande homem.
Como gostei, partilhei no Facebook; e gente que aprecio caiu-me em cima.
Mal. Porque o reconhecimento da grandeza de Mandela não implica simpatizar com este unanimismo louvaminheiro e peganhento, cosido a banalidades, nuns casos, a aproveitamentos politiqueiros, noutros, a ignorância muitas vezes, e, quase sempre, acentuando o perfil humano e psicológico do falecido, como se a estatura do estadista e pai da pátria fosse tributária do que ele era na intimidade, da qual aliás nem tudo se sabe, e pouco ou nada das suas concepções, referências políticas e circunstâncias históricas, na África do Sul e sobretudo fora dela.
Um país não é a Casa dos Segredos. E é perfeitamente possível ser um mau pai de família, um poço de maldade, um sacana para os amigos, ter um coração de pedra, e ser ainda um estadista; como é possível ser um santo civil e, em posições de mando, causar os maiores estragos.
Que fique claro: eu também acho Nelson Mandela um grande homem. Mas não por ter um sorriso encantador e irradiar bondade: por ter impedido uma guerra civil, por ter deitado fora as concepções económicas comunistas que teriam destruído a economia do seu país, atrelando-o aos países falhados do continente, por ter rejeitado o racismo anti-branco e por ter renunciado à garantida reeleição no termo do seu mandato, como Washington fez. Com isto lançando - talvez - as bases para a construção de um estado plurirracial e de direito.
Vai funcionar? Não sei. Mas se na África do Sul vier a florescer uma sociedade ocidental, com igualdade dos cidadãos perante a Lei e uma economia de mercado, com as suas crises e os seus problemas, mas também com a normalidade que na Europa, ou nos EUA e noutros poucos lugares, se dá como adquirida, Nelson Mandela merecerá, como Gandhi ou Churchill, ser considerado como um dos grandes estadistas modernos.
Não há muitos.
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