O caso é simples: a parte da província que tem pessoas está coberta de monos, sob a forma de vivendas; nas cidades a monaria tende a ser vertical. Mas não importa: a maior parte deste progresso vai ruir, por causa da má construção, da pobreza dos materiais e da falta de conservação - uma bênção disfarçada.
Dos fogos desabitados, da carteira de imobiliário encravado dos bancos, sei pouco e imagino muito mas, mesmo que soubesse bastante, pensaria sempre que a realidade seria pior - são precisos níveis confortáveis de ingenuidade para acreditar nas informações de quem nelas tem interesse.
Com financiamento público, com aumentos de capital, com engenharias financeiras outras, com diminuição de crédito concedido e aumento de margens, os bancos lá vão resolvendo o problema, até aos dias benditos da próxima bolha, já com outra geração de ineptos, herdeiros dos actuais; as empresas que não fecharam são diferentes do que eram, e muitas nasceram, das cinzas próprias ou inventando terreno; quem tinha que perder emprego e casa perdeu, e virou-se ou vai-se virando, por cá e sobretudo lá fora; quem tinha que apertar o cinto apertou, na exacta medida dos furos disponíveis, e até para lá deles.
Foi, e vai continuar a ser, assim, durante quanto tempo sendo informação reservada de Deus, para quem for crente, e do bruxo de Fafe, para quem não for.
Mas as Câmaras, Senhor, porque lhes dais tanta dor? É que a receita diminuiu muito, por causa da quebra na construção civil - o paradigma mudou, diz com argúcia o edil Costa: "Só a receita fiscal diminuiu 129 milhões de euros em relação há três anos. Se regressarmos a 2007, a diferença é de 200 milhões de euros. Isso não é só fruto da crise. É fruto de uma mudança radical no paradigma do imobiliário: regressámos a um paradigma de reabilitação urbana e arrendamento. É bom do ponto de vista urbanístico, mas tem efeitos do ponto de vista fiscal".
O maldito paradigma é radical, mas não é achacado a poupanças, cortes ou rigores indevidos - essa parte pertence a quem fica do lado de cá do balcão. Do lado de lá está a bonomia de Costa, a lucidez de Costa e as apregoadas soluções que tem para a crise e o País.
Ouçamo-lo com atenção: O autarca defendeu que as alternativas podem estar na revisão de algumas taxas municipais e também na participação dos municípios nas receitas do IVA: "2% da coleta do IVA cobririam a totalidade da derrama em todos os municípios do país".
Bom, para já apenas se propõe resolver o problema das autarquias, e só quem estiver eivado de má-fé pode negar que a solução é francamente expedita e credível. O buraco criado na receita do IVA, esse, Costa absteve-se de explicar como o taparia, o que é porventura um pouco estranho, vindo de alguém com farta experiência no ramo.
Vamos ter que o eleger, seja para o Governo seja para a Presidência da República: ele não é esquisito e qualquer dos chapéus lhe fica bem. E a nós, se suceder, também nos assentará bem o barrete - merecemo-lo.
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