Terça-feira, 17 de Dezembro de 2013

IVA esburacado

O caso é simples: a parte da província que tem pessoas está coberta de monos, sob a forma de vivendas; nas cidades a monaria tende a ser vertical. Mas não importa: a maior parte deste progresso vai ruir, por causa da má construção, da pobreza dos materiais e da falta de conservação - uma bênção disfarçada.

 

Dos fogos desabitados, da carteira de imobiliário encravado dos bancos, sei pouco e imagino muito mas, mesmo que soubesse bastante, pensaria sempre que a realidade seria pior - são precisos níveis confortáveis de ingenuidade para acreditar nas informações de quem nelas tem interesse.

 

Com financiamento público, com aumentos de capital, com engenharias financeiras outras, com diminuição de crédito concedido e aumento de margens, os bancos lá vão resolvendo o problema, até aos dias benditos da próxima bolha, já com outra geração de ineptos, herdeiros dos actuais; as empresas que não fecharam são diferentes do que eram, e muitas nasceram, das cinzas próprias ou inventando terreno; quem tinha que perder emprego e casa perdeu, e virou-se ou vai-se virando, por cá e sobretudo lá fora; quem tinha que apertar o cinto apertou, na exacta medida dos furos disponíveis, e até para lá deles.

 

Foi, e vai continuar a ser, assim, durante quanto tempo sendo informação reservada de Deus, para quem for crente, e do bruxo de Fafe, para quem não for.

 

Mas as Câmaras, Senhor, porque lhes dais tanta dor? É que a receita diminuiu muito, por causa da quebra na construção civil - o paradigma mudou, diz com argúcia o edil Costa: "Só a receita fiscal diminuiu 129 milhões de euros em relação há três anos. Se regressarmos a 2007, a diferença é de 200 milhões de euros. Isso não é só fruto da crise. É fruto de uma mudança radical no paradigma do imobiliário: regressámos a um paradigma de reabilitação urbana e arrendamento. É bom do ponto de vista urbanístico, mas tem efeitos do ponto de vista fiscal".

 

O maldito paradigma é radical, mas não é achacado a poupanças, cortes ou rigores indevidos - essa parte pertence a quem fica do lado de cá do balcão. Do lado de lá está a bonomia de Costa, a lucidez de Costa e as apregoadas soluções que tem para a crise e o País.

 

Ouçamo-lo com atenção: O autarca defendeu que as alternativas podem estar na revisão de algumas taxas municipais e também na participação dos municípios nas receitas do IVA: "2% da coleta do IVA cobririam a totalidade da derrama em todos os municípios do país".

 

Bom, para já apenas se propõe resolver o problema das autarquias, e só quem estiver eivado de má-fé pode negar que a solução é francamente expedita e credível. O buraco criado na receita do IVA, esse, Costa absteve-se de explicar como o taparia, o que é porventura um pouco estranho, vindo de alguém com farta experiência no ramo.

 

Vamos ter que o eleger, seja para o Governo seja para a Presidência da República: ele não é esquisito e qualquer dos chapéus lhe fica bem. E a nós, se suceder, também nos assentará bem o barrete - merecemo-lo.

publicado por José Meireles Graça às 15:31
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9 comentários:
De Tiro ao Alvo a 18 de Dezembro de 2013 às 17:54
Não estou tão seguro, como o Meireles Graça, de que, "com financiamento público, com aumentos de capital, com engenharias financeiras outras, com diminuição de crédito concedido e aumento de margens, os bancos lá vão resolvendo o problema".
Tendo em conta os prejuízos que têm anunciado e as previsões de mais resultados negativas para o ano, nomeadamente da nossa querida CGD, temo que nos voltem a ir ao bolso, quem sabe se não através do aumento do IVA, que também parece ser a solução que está a ser pensada para os eventuais chumbos do TC.
Se assim for, haveria que mudar o nome a tal imposto que, seguramente, deixaria de ser sobre o valor acrescentado. Penso eu.
De José Meireles Graça a 18 de Dezembro de 2013 às 18:17
Os prejuízos resultam, creio, de imparidades que não estavam reconhecidas como tal, devidas a aventureirismos, além do estrangulamento obtuso de empresas viáveis e incumprimentos no crédito à habitação e às empresas. Tirando porém o caso do BPN e até mais ver, ainda os bancos não foram ao bolso dos contribuintes, porque os financiamentos públicos têm sido remunerados. Quanto à CGD, suponho que não sabemos a verdade, para evitar um surto de AVCs.
De Tiro ao Alvo a 18 de Dezembro de 2013 às 19:01
Caro Meireles, receio que o Banif não consiga pagar os juros e levantar a cabeça, e que o BCP ainda pene por muitos anos, com dificuldade em limpar o balanço e em reduzir o número de balcões e de colaboradores, como dizem ser imprescindível.
Sem discordar da sua posição, faço votos para que as "coisas" se componham sem que nada de grave nos aconteça, muitos menos que surja por aí um surto de males ruins, que já temos cabonde.
De José Meireles Graça a 18 de Dezembro de 2013 às 21:21
Acompanho-o nos votos, aos quais acrescento o de Boas Festas (para nós, não extensivo a banqueiros).
De Tiro ao Alvo a 18 de Dezembro de 2013 às 22:09
Agradeço e retribuo os votos de Boas-festas, não me incomodando que sejam extensivos a toda a gente de bem, incluindo banqueiros, desde que eles sejam dignos de exercer tão importante função, que os há.
De Maria João Marques a 18 de Dezembro de 2013 às 19:08
Cortar ruas sem razão aparente e deixar semáforos fundidos durante uns meses também são especialidades reconhecidas à gestão autárquica de Costa, Zé Maria, e custa-me que não lhes prestes a devida justiça e te centres nuns meros buracos - fiscais e de alcatrão.
De José Meireles Graça a 18 de Dezembro de 2013 às 21:17
Mea culpa, Maria João, mas não vivo em Lisboa, como sabes, nem sei lá navegar sem GPS. Agora, se houvesse bloggers residentes na cidade, muito mais conhecidos do que eu, muito mais prestigiados, e merecidamente com muito maior audiência, e esses, ou ESSAS, denunciassem o caso, já eu não podia alegar ignorância...
De Maria João Marques a 19 de Dezembro de 2013 às 14:17
Nem pensar, menino Zé Maria, se queres informações de Lisboa, tens de vir cá. Além de que se começasse a enlencar as deficiências da gestão de tão prestigiado edil, bem, digamos que nem sobraria tempo para as coscuvilhices do facebook, e isso não se pode aceitar.
De José Meireles Graça a 19 de Dezembro de 2013 às 15:16
Coscuvilhices, vírgula, menina Maria João, que eu uso o Feice para me pronunciar, com profundidade e acerto, sobre assuntos da maior relevância.

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