A senhora chama-se "Ludmila", e apresenta o "Interniet Magázin".
Este número é dedicado ao lançamento do "Çiéri Midel Tréc", de uma "firma" vaga (em russo, "váda").
O "Çiéri Midel Tréc" é um instrumento de trabalho ("lávuôra"). E vem equipado com uma betoneira, que é uma geringonça que serve para mexer o betão ("bêtôna mêchálca").
Pousando a mãozinha em cima da cabine, Ludmila informa que tem doze centímetros ("dzuôdzie çentímiêtra"). Em seguida vira o "tréc" de frente e dá outra medida em "çentímiêtra", parece-me que se refere à distância entre eixos (mas não estou certa, porque a pronúncia é regional).
Apontando para o interior da cabine, lembra o potencial comprador que pode levar consigo a sua bicharoca (em russo: "nacharuóca"). Prepara-se para explicar esta vantagem, e antes de voltar a agarrar no "tréc" diz: "e eu vou passar já".
A explicação não se faz esperar: a bicharoca sempre pode ajudar a mudar um pneu, desde que não tenha calos ("cálôs"). Basta fazer "açim".
Voltando a posicionar o "tréc" de modo a que possamos observar a lateral, diz que tem 3 funções ("tréat fõndçé") ao dispor do operador (não contamos aqui com a função de passear a sua bicharoca).
Uma delas é fazer rodar a "plátfuórma" de um lado para o outro.
Outra função, tal como indicam os admiráveis dedinhos de Ludmila, é subir e descer a escada (presumo que "liêdzniêtzca", termo ao qual não estou acostumada) e usar a pá ("lá pátca"), possivelmente para enterrar algum cadáver que lhe prejudique o normal funcionamento dos trabalhos.
Rodando a manivela, concentra-se agora na betoneira ("bêtôna mêchálca", como já vimos) e aproveita para prevenir que o traço do betão deve seguir as normas russas ("rutchqui"), e pela válvula situada no topo do depósito ("rêzêrvuár") não devem ser expelidos gases com concentrações de CO2 superiores a um determinado valor, tal como previsto na legislação aplicável.
Por fim, mostra que de lado tem "espuma" do tipo "chutnutqui" (não vale a pena deter-me nestas explicações técnicas, caso contrário não saimos daqui).
Ludmila termina despedindo-se "até amanhã", por volta "das três".
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Nota:
Este post nasceu numa caixa de comentários do Malomil, a quem agradeço o mote. Ao dar-me conta da sua extensão, resolvi transferi-lo para esta (vossa) casa.
Para o diabo a crise, que estou a pensar num Bentley Continental Convertible, de côr BRG; em dois pied-à-terre, um aqui e outro ali; um meio de transporte, visto que em qualquer dos continentes há umas visitas que estou aqui estou para fazer. Ah, e dentro das coisas miúdas não me posso esquecer de dar aqui um salto, a ver se têm alguma coisa sem risquinhas, que não estou no ramo da política nem do tráfico de droga.
Gabarolice? De todo: até já comecei a preencher a minha listinha e confesso que estou inundado de felicidade.
Ficou célebre a boutade de Jorge Sampaio: Há mais vida para além do défice! Não é de excluir que este desabafo tolo venha a ter direito a uma nota de rodapé numa monografia sobre a III Républica, a escrever por um historiador que, daqui a cem anos, queira compreender o estranho regime que, em menos de duas gerações, levou o País à falência por três vezes, a última das quais com dívidas, pública e externa, sem precedentes.
O próprio diz que nunca disse o que se diz que disse, tendo antes afirmado: Há mais vida para além do orçamento! - como se fosse muito diferente, valha-o Deus.
Para já, estamos ainda a fazer a história deste período, do qual ignoramos o desenlace.
Cada qual é livre de construir uma lista dos factores que conduziram ao descalabro a que chegámos. Na minha figuram em lugar proeminente o crescimento constante do peso dos direitos económicos que a nossa gloriosa Constituição consagra, a evolução demográfica, a condução geral da economia de modo desfavorável ao investimento privado, o aumento imparável da importância da Administração na vida das empresas e dos cidadãos, e a adesão ao Euro. Este último por ter sido aquele que reorientou a economia para actividades sem futuro e porque permitiu atingirem-se níveis de endividamento, público e privado, que com moeda própria não teriam sido possíveis.
Na parte em que estes factores dependeram de decisões políticas não se nota especialmente a influência de Sampaio, dada a sua condição de figura menor até ser eleito Presidente da Républica. Aliás, tirando a famosa tirada de 2003, mais o facto de ter demitido um Governo com maioria parlamentar porque não era do seu partido e tinha uma grande falta de popularidade, os mandatos como Presidente não desmereceram da sua singular vacuidade.
Nestas quase quatro décadas Sampaio esteve sempre do lado errado. E esteve sempre em modo soft, embrulhando as banalidades das sucessivas vulgatas de esquerda que foi adoptando num palavreado que, quando era mais novo, era o mesmo do seu clube partidário, mas traduzido para intelectualês, e, agora que é um senador do regime, para paternalês.
Exagero meu? Não me parece.
O jornalismo "é uma indústria extractiva e transformadora", uma vez que "transforma os factos em notícias e as notícias em actualidade", disse Carlos Magno "à margem" do mais recente jamboree organizado pelos colegas dele.
Defendendo os nossos inestimáveis "conteúdos", preveniu "o regulador" (ou seja, aparentemente preveniu-se a si mesmo) quanto à "guerra" (deduzo que por sofisticados meios de espionagem industrial) "instigada por línguas estrangeiras" (possivelmente camufladas) que "cobiçam o vasto mercado luso".
Este homem é inspirador. Desengane-se quem estiver convencido que o jornalismo português transforma as notícias em factos, e a actualidade num manicómio de rústicos.
Enquanto o dinâmico Carlos Magno se mantiver de sentinela, está garantida a vitalidade "do sector".
Sobre o que se discutiu na conferência "Pensar o Futuro - Um Estado para a Sociedade" sabemos pouco. Não é grave, uma vez que a substância dos assuntos abordados é de interesse muito relativo para a generalidade dos portugueses. Os portugueses são, como é sabido, cidadãos pacatos sem grande inclinação para se interessarem sobre o que não lhes diz respeito. Penso que até existe, perdido numa prateleira poeirenta da Universidade de Coimbra, o registo de um provérbio muito antigo, cujo texto desconheço, mas que não vê com bons olhos que andemos a meter o nariz na vida dos outros.
Subordinados à regra de Chatham House, os admiráveis jornalistas da agência Lusa e da Antena 1 (entre outros) resolveram abandonar a sala. Fizeram exactamente o que se espera dos funcionários ao serviço do "interesse público", cujos salários constam das alíneas do orçamento de Estado português, e são pagos pelo contribuinte: não se deixaram humilhar.
A vitalidade do jornalismo é um dos mais incontroversos motivos de orgulho nacional.
Por exemplo:
Acontecimento
"Raquel Fortunato Bentinho almoçou uma salada de frutos do mar com o marido de Ilda Pereira. O encontro decorreu no restaurante "Gaivota Feliz", sobre a falésia de São Paio da Salema. Adérito Cansado, vogal da Junta de Freguesia de Portacho, Concelho de Galega Velha, e proprietário do estabelecimento, lamentou que a chuva intensa que se fez sentir não permitisse a abertura das portadas de vidro*.
(publicado às 18:37 do dia 15 de Janeiro de 2013)
* Última actualização: 16 de Janeiro de 2013, 13:07"
Títulos da Imprensa
"População Manifesta-se Chocada com Adultério de Galega Velha";
"Ilda Pereira pondera processo judicial contra Raquel Fortunato Bentinho no âmbito da protecção do interesse de menores";
"Idosos de Portacho não compreendem a recondução de Adérito Cansado ao executivo da Junta de Freguesia";
"Hábitos Alimentares dos Portugueses: 50% da população do sexo feminino insiste em abusar de alimentos com elevado teor de poli-insaturados, com graves prejuízos para a sustentabilidade do SNS";
"Galega Velha em ALERTA LARANJA";
"Ministério do Ambiente prepara legislação aplicável à indústria de Hotelaria com vista ao controlo das alterações climáticas";
"AQUECIMENTO GLOBAL - Para quando a responsabilização do sector da Hotelaria e Restauração?";
"Autarca de Portacho acumula o cargo com participação em grupo económico do sector alimentar, com interesses na região";
"Lei-Base das Incompatibilidades: Oposição aponta divergências no seio da maioria".
Foi assim que nos acostumaram. Isto, estimados leitores, é jornalismo sério. Crítico, responsável, e livre de constrangimentos.
Correia de Campos foi odiado enquanto Ministro da Saúde: andava por aí a encerrar maternidades e postos de saúde, para desespero das populações locais, esquerdistas em geral e gente preocupada com a desertificação do interior e os pergaminhos das terras.
Já o antecessor, Luis Filipe Pereira, também não saiu em odor de santidade: um e outro tinham um grande respeito pela obra do Santo conimbricense Arnaut, mas não eram inteiramente alheios ao facto de o SNS, embora com existência imorredoira garantida pela Constituição, reclamar um módico de racionalidade - afinal a coisa é sobretudo financiada por impostos e estes têm uma desagradável tendência a não serem tão elásticos como a procura de saúde a golpes de química, cirurgias e baixas médicas.
A extremosa Ana Jorge, pediatra de formação, veio sossegar os espíritos com o expediente de pouco fazer para além de dar aulas magistrais na televisão sobre como lavar as mãos, a fim de evitar epidemias de gripe. Nos intervalos das lições de puericultura encontrava ainda tempo para dizer coisas sobre o seu pelouro, que se me varreram da lembrança. Suponho que seja lembrada com ternura.
Correia deixou a impressão mais duradoura. E em obediência ao princípio "atrás de mim virá quem de mim bom fará" não é surpreendente que encontre audiência simpática para se aliviar das suas opiniões. Acha, por exemplo, que a única "coisa boa" que o actual sistema de saúde dos funcionários públicos tem é a "livre escolha".
A ADSE, realmente, tem esta coisa boa: a livre escolha. Mas Correia não lhe atribui grande importância, preocupando-se antes com as coisas más que o sistema tem, das quais a principal é "não ser integrado". Este defeito misterioso e fatal parece consistir no facto de o doente andar a saltar de médico para médico, sendo vítima de armadilhas: se tem um cancro e cai nas garras de um cirurgião, faz de chofre uma operação; mas se o médico for um daqueles que fazem quimioterapia (não sei a designação da especialidade, esta parte ouvi na Sic-N), zás - faz quimioterapia primeiro.
Confesso que fiquei perplexo: as clínicas privadas são pelos vistos um covil de patifes - a vigarice começa logo na fase inicial do tratamento. E os funcionários públicos são notoriamente mentecaptos: vão à faca ou não vão dependendo do primeiro que aparece.
A troika terá recomendado o fim deste e de outros subsistemas - não fui conferir, tenho mais que fazer do que espiolhar documentos chatos.
Mas ocorre-me lembrar que os credores não estarão, nem têm que estar, muito preocupados com a saúde dos cidadãos, mas sim com o que ela custa ao erário público. E se demonstradamente a ADSE custasse mais do que o SNS (do que aliás duvido) o que haveria a fazer seria reduzir as comparticipações do Estado, aumentando os descontos para o efeito (actualmente 1,5%, convindo não esquecer que o funcionário adianta a totalidade do custo do acto médico e não ocupa o pessoal e instalações públicas, para o sustento dos quais todavia contribuiu com os impostos gerais). No limite, dar aos próprios funcionários o direito de opção por um ou outro sistema.
Mas não, os funcionários não sabem o que lhes convém - Correia é que sabe. E não hesita em atiçar o resto da população contra os funcionários - malditos, que têm o direito de escolher, uma coisa francamente desprezível; e obrigam o Orçamento a transferir recursos para a ADSE - como se o que o que o SNS poupa por não ser usado não devesse fazer parte da comparação de custos.
Comme quoi, entre Correia, que toma os funcionários por idiotas, e Ana, que toma os cidadãos por juvenis, não há um mundo de diferença, a despeito das aparências.
Declaração de interesses: Não sou funcionário público e não uso o SNS.
Pacheco Pereira tem uma grande biblioteca, a reputação de ter uma formação filosófica, imagino que sólida, e de ser um leitor ávido. Isto num espaço público onde a maioria não chega sequer a ter consciência da própria ignorância mas tem um respeito instintivo pelos intelectuais, mesmo quando os despreza, intimida. Depois, sempre se envolveu no combate político, sempre teve simpatias partidárias declaradas e, a partir de certa altura, cedo, migrou da nebulosa comunista para a zona democrática, acolhendo-se na balbúrdia congénita do PSD, onde ganhou estatuto - os partidos políticos adoram ornar-se de intelectuais e houve um momento na nossa história recente em que um ex-comunista era recebido de braços abertos, por conferir uma espécie de legitimidade "revolucionária" aos partidos "burgueses". Éramos assim, anteontem, e não creio que sejamos muito diferentes hoje.
Desde que Passos apareceu na corrida para disputar a liderança do PSD que Pacheco escolheu outros cavalos; e pôs nesse combate a suficiência e a jactância que lhe são naturais.
Perdeu: tem mais vocação para perder do que para ganhar, o que, se não diz nada sobre o que quer que seja que defenda como doutrina política para o nosso País, diz alguma coisa sobre a sua competência tática para a luta partidária.
Mas Pacheco não gosta de perder. E tem das suas tribunas perseguido tenazmente o Governo actual, a tal ponto que na Quadratura, por exemplo, o seu discurso só se distingue do do edil Costa quando falam do passado: Pacheco acha, com razão, que Sócrates foi um demagogo que pôs o País de joelhos; e Costa entende que, se Sócrates tivesse sobrevivido, não haveria Memorando, nem austeridade, mas antes "apostas no crescimento", e mais "solidariedade", "Europa" e outras piedades. Que são precisamente as mesmas, mais a renegociação, que defende para a situação presente.
Fosse eu um malévolo blogueiro e diria que, se Pacheco tivesse algum lugar no aparelho da Situação, não abandonaria a sua aversão ao líder da maioria mas seria bem mais compreensivo dos constrangimentos terríveis que este Governo herdou; e que, longe de escrever textos imbuídos de um espírito de finis patriae, daria algum contributo para o desenho de uma solução.
Mas não, não dá: o título do artigo de ontem (sem link) no Público era: O peixe apodrece pela cabeça. E nele condena com veemência, e muitas vezes com propriedade, na governação actual, o estilo, as práticas, as maçãs podres e a Refundação. E conclui: "Sempre podem cortar a cabeça ao peixe, deitar o peixe fora e arranjar outro. É difícil, mas não é impossível".
É no que dá um pensador envolver-se na guerrilha partidária: prefere discutir pessoas e lugares, não políticas. E, como de costume, nem nisso acerta: o peixe do PSD é decerto pouco fresco; o do PS, herdeiro natural, mesmo que envolvido em folhas frescas de salva, despede um fedor que empesta o mercado.
Sobre a reforma da frota de pesca, Pacheco diz nada. Confere.
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*tirado daqui
Deus nos livre de ver "o papel do Estado" ser sobretudo "pensado" e "discutido" por "pessoas ligadas à Universidade portuguesa", como gostava Artur SANTOS Silva.
Tenho dúvidas que os nossos académicos saibam distinguir o Norte do Sul. E receio que insistam em dirigir-se a Braga de biquini, e de sotaina à Praia da Oura, obstinados em embaraçar-nos com as figuras tristes que a sua cintilante inteligência nos tem vindo a acostumar.
Pessoalmente, mais depressa gostava de ver "o papel do Estado" pensado e discutido por um cardume de carpas.
As declarações foram louvadas n'O Insurgente. José Manuel Fernandes, no facebook, apreciou a "coragem" e a "frontalidade" de Silva Lopes, por defender uma posição "que o prejudica pessoalmente", e que lhe "retira benefícios".
As pensões de "alguns deputados" e "agentes políticos" são obscenas, é um facto. Outro facto é que ninguém "merece" as pensões que aufere, quando o critério de "merecimento" se baseia nos descontos efectuados. E segundo esse critério, os que recebem pensões mais baixas são quem menos as "merece".
Um acto de coragem seria dizer que o problema principal não se encontra no topo da pirâmide. Encontra-se na base: no volume incomportável de salários, pensões, e subsídios, médios e baixos, que foram garantidos pela criação artificial de empregos no Estado, e benefícios oferecidos em nome de um "Estado Social" completamente adulterado, destinado a comprar votos e manter a rapaziada relativamente entretida.
Estranho este novo figurino, que retira pertinência aos interessados para se pronunciarem sobre os assuntos que lhes dizem respeito. Seguindo o modelo mais fashion, os doentes não podem pronunciar-se sobre a saúde (cabe aos médicos), os alunos sobre educação (cabe aos professores), e os habitantes sobre as cidades (cabe aos arquitectos). Os velhos não devem falar sobre os jardins (cabe aos urbanistas) e espera-se dos proprietários de automóveis que se abstenham de dar palpites sobre o trânsito (cabe aos ambientalistas).
É admirável (mas não é surpreendente) o nível de insanidade que se observa em Portugal. Importa sobretudo que ninguém se pronuncie sobre o que interessa ao país; estamos todos inibidos, uma vez que somos todos interessados. A não ser que se soltem meia dúzia de inanidades e irrelevâncias.
O caminho mais seguro para a decência fica agora garantido ao cidadão mais capaz de se aliviar de opiniões que o prejudiquem "pessoal e directamente". Em qualquer repartição está um funcionário atento, ansioso por carimbá-lo com um selo branco de credibilidade.
O Relatório está aqui. Mas não o vou ler: tem 76 páginas e o palavreado é o de um paper de economia, uma coisa intensamente fastidiosa. Não faz mal: na minha lista de favoritos, os blogues com economistas são mais de uma dúzia; e como os blogueiros que não são economistas falam com frequência de assuntos económicos, e a minha lista tem uma divisão equânime esquerda/direita, acabarei por saber mais do Relatório do que se o tivesse lido. Ademais, era o que faltava se para me pronunciar sobre qualquer assunto tivesse que o estudar - do que ouço e leio dos especialistas felicito-me com frequência pela minha abençoada ignorância: os porcos, quando estão com o focinho enfiado na gamela, não veem nada do que rodeia o curral; e é facílimo tresler quando se estudam ciências que se declinam em esquerda e direita.
Acresce que haverá gente que vê detalhes dos quais nunca me aperceberia. Por exemplo, a coisa chegou hoje ao espaço público e já houve quem topasse que o Ministro Relvas não esteve para maçadas. Um pormenor irrelevante, decerto; mas outros hão-de aparecer.
Gostaria de pensar que a parte reformista da Esquerda se vai convencer de que o Estado dos direitos económicos e sociais de valor crescente acabou; e que, a bem ou a mal, o nível de despesa pública terá que baixar, dado que a carga fiscal pode ainda subir no papel mas a receita não.
Gostaria de pensar que a parte da Direita que tem uma receita ideológica pronto-a-vestir percebesse que a espiral recessiva não é uma possibilidade apenas teórica; e que, mesmo que o fosse, há um limite para o sofrimento sem esperança, pelo menos se não quisermos que a Democracia vá pelo ralo.
Precisamos de crescimento. Tão ou mais importante do que a discussão em torno dos cortes é a descoberta da pedra filosofal do crescimento.
Esta receita não dá - foi testada no consulado do autor, quando a Europa ainda acreditava que mini-Planos Marshall haveriam de pôr os países relativamente atrasados a crescer muito mais do que os outros, e deu como resultado a obesidade do Estado, um himalaia de desperdício, um karakorum de corrupção e um crescimento abaixo da ambição e da necessidade. De toda a maneira, quando se pedem esmolas pode-se talvez sobreviver; mas não se pode enriquecer - e esmolas seria do que a agora UE estaria disposta, na melhor das hipóteses, a abrir mão.
O investimento público, mesmo para quem acredite, contra toda a evidência, que pode ser a solução, está-nos vedado por falta de crédito.
A descoberta de petróleo, gás ou de metais preciosos é improvável; e o mar, essa grande riqueza, continuará teimosamente a ser refractário ao papel que empresários de proclamações lhe destinam.
Vou gostar da discussão. Ou talvez não: não é impossível que se veja mais do mesmo.
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