Este post será curto justamente porque quero seguir o bom senso que o título sugere.
Vem este a propósito de uma notícia do Público sobre a não validação de dois candidatos à Administração da Parque Escolar pela Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública (CRESAP), criada em 2012 para avaliar gestores públicos e dirigentes do Estado.
Esclareça-se que não conheço os candidatos em causa nem tão pouco as suas comepetências profissionais e sou favorável à existência de um crivo de avaliação e imparcialidade na apreciação de curricula para este tipo de cargos.
Mas não posso achar normal que as avaliações feitas - e que deliberadamente não repito - sejam publicadas em jornais, expondo despudoramente os candidatos, com potenciais consequências negativas para as suas carreiras.
Ou terá a CRESAP, para além de um legitimo papel avaliador dos candidatos, a missão de proclamar a moralidade - ou alegada falta dela- dos que são propostos aos cargos?...
As pessoas queixam-se que Mia Couto é "muito aborrecido", e os apreciadores reagem. Dizem que é por maledicência, por inveja, por preguiça, ou por espessura intelectual. Não sou um desses apreciadores intolerantes, e a razão é simples: estou com os primeiros. Efectivamente, nunca li de Mia Couto mais do que cinco linhas de seguida. Mas já ouvi, por razões de etiqueta, outras pessoas lerem excertos "de Mia Couto" em voz alta. E confesso que, se me derem a escolher, prefiro observar uma sapata de betão a ganhar presa.
Já o mesmo não posso afirmar sobre os textos em voz off que se ouvem na televisão. E é com esse pretexto, acima de todos os outros, que faço por não perder um Telejornal. Hoje foi um dia dos bons.
"Depois de José Craveirinha em 91", Mia Couto "é só o segundo moçambicano" a receber o prémio Camões, disse o jornalista da RTP. E o premiado opinou: "Há uma distribuição desigual da maneira como se vive o prémio Camões em Portugal, no Brasil, e nos países africanos. Isso tem que ser resolvido".
Traduzo: Os prémios devem ser, no entender de Mia Couto, distribuidos segundo um critério demográfico. O mérito literário não é para ali chamado.
Compreende-se. A avaliar pelos anteriores premiados, o mérito literário é um factor irrelevante. Só falta corrigir a questãozinha da "desigualdade".
Talvez por isso o jornalista tenha rematado "a peça" dizendo que:
"Para Mia Couto, esse biólogo das palavras com vida" (juro: voltei atrás, ouvi outra vez, confirmei) "vai agora o prémio, o mais importante para quem escreve e difunde a língua portuguesa. 100 mil euros, ou talvez, venenos de Deus, remédios do diabo".
Estranhei a última afirmação. Por motivos que ele lá sabe, o jornalista parece dar por certo que Mia Couto vai gastar tudo em vinho.
Vi num blogue uma receita de um amigo, ilustrada com fotografia, e ocorreu-me que nunca inteirei os leitores das minhas preferências culinárias, uma falha que jamais me foi assacada, seja porque, prudentemente, conhecendo as minhas inclinações políticas, lhes escasseia o desejo de conhecer as gastronómicas, seja porque acreditem que não há cozinha de esquerda e direita, ou ainda por serem tímidos.
Mas há cozinha de esquerda e direita. E a minha, lamento informar, é reaccionária, monárquica, comunista, conservadora e nacionalista. Isto ela é. Não é fast, internacional, elitista, francesa, ou castelhana ou italiana, de autor, exótica, nem de ou para parvalhões com a mania que são finos.
Explico: Reaccionária porque desconfia da novidade, que em geral despreza; monárquica porque as receitas vêm na sua maior parte do tempo em que o país não era presidido; comunista porque os pratos são daquela parte do povo que os podia pagar, que eram os lavradores ricos, e não do povo propriamente dito, que esse comia caldo de unto ou de couves e meia sardinha num bocado de pão de milho, reservando as ementas de luxo para dias santos - ou seja, sendo todo o povo igual, uma parte dele era mais igual, que é uma definição tão boa como outra de comunismo; conservadora porque ao produto moderno e processado prefere o natural e tradicional; e nacionalista porque guarda para o gosto estrangeiro incompreensão e descaso, e para o nacional familiaridade e estima.
Seja assim. E porque a pressão da vida moderna, a macaqueação da abominação estrangeira e o desprezo pelo mos maiorum vai soterrando preciosidades, deixo consignada nesta tribuna obscura a receita do bacalhau fritado.
Bacalhau frito toda a gente sabe o que é: umas postas bem demolhadas (o que levanta aliás problemas - postas de espessuras diferentes não devem ter o mesmo tempo de demolha, e a adição de sal necessária por excessiva demolha é coisa de maçaricos) são envolvidas num polme de farinha e ovo e fritas em óleo. Vão para a mesa com uns raminhos de salsa e azeitonas, em geral daquelas de frasco, inchadas da solução de lixívia em que foram previamente banhadas, a fim de serem perfeitamente higiénicas e insipidas.
Isto não é nada. Porque o bacalhau fritado só pode fazer-se com bacalhau de cura amarela, seco ao vento como já quase não há (o bacalhau, não o vento - desse há sacos, sobretudo na opinião publicada). E o preço deste bacalhau é superior ao da lagosta. Isto é aborrecido, e mais ainda porque, mesmo que se esteja disposto a pagar, não é fácil de encontrar. Eu sei onde comprar, mas só divulgaria se corrompido com convites de valor muito superior ao da informação.
Temos então o bacalhau xpto, embrulhado em jornais e guardado sem frio artificial meses a fio. Cortado em postas sobre o pequeno, vai a fritar em azeite, depois de envolvido em ovo de quinta batido mas sem farinha triga, ao contrário do outro.
O azeite pode ser, mas não precisa ser, novo - usado de frituras anteriores de bacalhau serve perfeitamente. A sertã não precisa de estar irrepreensivelmente limpa: se tiver sido lavada às três pancadas não vem daí mal ao mundo, desde que não haja resíduos de detergentes. Durante a fritura há que virar as postas, mas a operação deve ser feita com um gancho de cabelo, e convém que este esteja embebido de algum leve resquício de gordura natural. Hoje tal operação é praticamente impossível, por não se encontrarem cozinheiras de puxo enrolado no cocuruto da cabeça, de onde um gancho providencial possa ser retirado para este fim imprescindível.
Após a fritura, o bacalhau vai repousar, disposto numa travessa de cerâmica, eventualmente craquelée pelo uso e esbotenada, para um armarinho em lugar fresco (frigorífico nunca), protegido de excesso de luz, e dos insectos por uma rede, a fim de o ar circular. Pode consumir-se logo, mas o estágio no armário melhora-o para os dias seguintes.
As azeitonas, curtidas em casa e conservadas no respectivo cântaro (atenção: usar apenas colher de pau) ou em frasco com azeite, acrescentam-se na hora. O raminho de salsa fresca pode também acrescentar-se, por haver sempre quem aprecie paneleirices.
Simples, não é? Quem não gostar - do bacalhau ou do texto - pode pôr na beirinha do prato.
As tecnologias avançam sempre mais rápido que os costumes. Depois é preciso ter paciência e esperar que as pessoas aprendam a usá-las sem episódios de humor involuntário. Primeiro foi com o telemóvel:
- "Tou, Zémanel? Onéque tás?"
- "Fodaçe, tou aqui."
- "Ah, já tás aí?"
- "Não meu, tou quase a chegar."
- "Tranquilo, puto, conde chegares aí avisa."
Agora é com o facebook, designadamente, nas mãos dos políticos. Não há nenhum que não tenha uma "página oficial". E depois aparece a fotografia do catita (com o seu fatinho à marujo), alinhada com o nome, e os dizeres mais protocolares a falar dele na terceira pessoa. Por exemplo, assim:
Adérito Perninha
"Adérito Perninha fez um saldo positivo do trabalho desenvolvido pela Associação 24 de Maio para a divulgação de mapas cadastrais em ponto de cruz. Em visita às suas instalações, considerou prioritária a atribuição de verbas do QREN com vista ao levantamento de todo o concelho de Mangualde."
Segue-se a fotografia do "evento" numa sala com um tecto falso cheio de perfis em alumínio rebitado, e uma espécie de boiserie feita com ladrilhos cerâmicos, colocados "à meia esquadria", com uma barra por altura das barrigas. Em cima da mesa estão taças, medalhas, galhardetes, e uma bandeira de Portugal. O candidato apresenta-se de pé, acompanhado de três pançudos, uma jovem obesa, e a notária local que o instantâneo apanhou com os olhos fechados.
Por fim, temos os comentários ao post:
Rogério Baltazar - "Devias era estar caladinho..."
Tibúrcio Vieira - "Mais um discurso vergonhoso roubaram e querem voltar ao poder para nos roubarem mais àja vergonha na cara !!!!!"
J.L Penteado Cirilo - "E a escola da C+S da Monte Covões, ó porco? Levas um bilhete que até levantas os pés do chão depois diz que faz mal á saude..."
Mendes Araújo - "Gostei de ouvir, dr. Perninha. Finalmente um discurso de conteúdo excécional fiquei muito agradado. Parabéns."
Alves António Alves - "Ladrão!!! Andas-te a servir-nos de cubaias para as tuas intenssões temos que colocar em cima deles (governo) uma carga de porrada ainda querias os terrenos da Motenjil... o porblema é MUITA FALTA DE MEMÓRIA deste povo há beira mar plantado DE BRANDOS COSTUMES, ACORDEMMMM...!!!!"
Vítor Mário Bernardo - "Não concordo. Ontem assistimos ao nascimento de um novo partido (partido dos Pinóquios) e mais não digo. Estas pessoas deviam ser todas exclúidas da sociedade."
Suzéte Lopes - "Bom trabalho Sr. Presidente! Conte com o meu voto."
Jorge Almeida - "O Cirilo deves tar é bêbado. Antes perfrias a corja de amiguinhos do compadrio como era no tempo do sócas e agora estes MENTIRÓZOS do (des)governo mas eles andam todos querem todos chegar ao pote o que não aconteçia no tempo da outra senhora... mas as verdades ninguém as quer ouvir à cada vez mais miséria e não me vanham enrabar com a merda dos pretos, dos monhés, dos panilas e, dos cumunas esta terra ótrora tão NOSSA"
Celeste Guerreiro - "E os pais biológicos????????"
Eduarda Pestana - "Uma coisa é as pesoas respeitarem-se outra coisa é insultos. Cada um tem direito à sua opinião e se não gostam deviam saber onde manifestar-se com educação. É triste."
Alexandre Da Costa Paulos - "Concordo com o senhor luis miguel garrido."
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Nota: A senhora em bikini serve propósitos exclusivamente comerciais, na óptica da publicidade enganosa, e destina-se a assegurar índices de audiências. O Gremlin Literário declina toda a responsabilidade pela eventual inconsonância entre a imagem e os conteúdos.
Não conhecia a peça, nem de nome. Mas tendo lido: "O Secretário de Estado da Agricultura defende a proibição do uso de galheteiros, diz ser uma medida com impacto positivo e considera que seria 'positivo' alargar a decisão a toda a União Europeia" - fui ver quem era o intrometido.
Mais um iluminado albardado de diplomas, cuja biografia na wikipédia diz que "fez o curso de formação avançada no programa de doutoramento de Alterações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável da Universidade Nova de Lisboa, com a colaboração da Universidade de East Anglia (2010)".
Uma formação temível, doutorado em fantasias. E este é o burocrata local, que sabe o que convém aos produtores de azeite, aos donos dos restaurantes e aos clientes deles.
Já o burocrata Capoulas, europeu de nacionalidade, que é o relator do Parlamento Europeu para a reforma da Política Agrícola Comum, considera o recuo de Bruxelas nesta matéria "tão absurdo quanto seria a declaração de obrigatoriedade da venda de whisky a granel".
Absurdo, é, Rastapopoulos? Pois olha, a tua comparação não faz sentido, porque invocas uma inexistente obrigatoriedade para justificar uma proibição, embora, por ínvios caminhos, tenhas razão num ponto: são ambas inadmissíveis numa sociedade livre, onde o Estado não se senta à mesa, não se deita na cama, e não regula relações entre cidadãos senão na exacta medida do necessário para defender interesses legítimos da comunidade ou de terceiros, ou dos próprios apenas quando seja razoável supôr que o legislador sabe o que o cidadão ignora.
Queres fazer trabalho útil, Rasta, para compensar a fortuna que o contribuinte gasta contigo e os outros parasitas bruxelenses? Dedica-te a revogar legislação - um quarto de quilo ao ano já seria precioso.
A vossa pesporrência, ó legisladores da bugalha, não tem limites: um cidadão íntegro tem direito aos seus gostos, às suas escolhas e à sua liberdade, que não consiste apenas no direito de dizer o que lhe vem à cabeça ou ir passear pelas ruas com tachos e panelas a protestar a favor da sobrevivência da raposa do Ártico, em risco por causa do aquecimento global, ou contra a legislação laboral, por causa de Abril.
Consiste também em deixar espaço para aqueles, mesmo que sejam poucos, que reservam para a opinião dos outros respeito mas indiferença, e para a própria modéstia mas independência. E que, confrontados com uma garrafa de azeite balsâmico e um livrinho a explicar as maravilhas da iguaria, de um lado, e um galheteiro sem livrinho nem petulância, do outro, provam primeiro do galheteiro.
OXFAM não é, a despeito das aparências, o nome de um medicamento para correcção de algumas afecções do trato intestinal, ou para regular o exsudato nasal. E menos ainda para combater a influência deletéria dos fungos nos espaços interdigitais. Nada disso: O que a OXFAM combate é a fome e a injustiça no Mundo. E para tanto tem delegações na Nova Zelândia ou em Espanha, nos Estados Unidos, Hong Kong e em muitos outros lugares. No seu corpus de embaixadores arrola gente como Baaba Maal, que não sei quem seja, mas também Scarlett Johansson, Colin Firth e outras luminárias do espectáculo, cujos méritos ninguém desconhece. Aparentemente, não tem Portugueses nos seus quadros dirigentes, uma grande injustiça em relação a Jorge Sampaio, que dava um presidente de comité ou embaixador de primeiríssima água.
Como não podia deixar de ser, as alterações climáticas são uma preocupação central, quer porque quando a água falta as pessoas morrem à sede, quer porque correm o risco de morrer afogadas na ocorrência de inundações. E os poderes públicos, entregues a si próprios, nem promovem a instalação de canalizações nem se certificam de que as fábricas de canos se abstêm de poluir, donde estas grandes desgraças.
Pois a OXFAM garante que "taxar paraísos fiscais daria para acabar com pobreza extrema no mundo". Com efeito, "contas desta organização não-governamental dizem que há 14 biliões de euros escondidos, que representariam uma receita fiscal de 120 mil milhões de euros".
A notícia não esclarece de que forma é que se podem taxar paraísos fiscais sem acabar com a soberania do Luxemburgo, Andorra ou Malta, só na Europa, por exemplo, e criar controlos de circulação de capitais em todo o mundo sem prejudicar o comércio e o investimento; como é que essas receitas fiscais chegariam aos pobres sem ficar mais de metade pelo caminho, em agências internacionais, e boa parte do resto na mão das oligarquias dos países pobres; como se evitaria a destruição de incipientes economias locais, obrigadas a concorrer com produtos a custo zero; e como é que 120 mil milhões resolvem de vez o problema da pobreza extrema, dado que, uma vez pilhados, os evasores fiscais não poderão continuar a produzir evasão, por diminuição de recursos e por não serem masoquistas.
Mas a ideia é bonita, o internacionalismo simpático, a companhia agradável e - vamos lá a ver, todos precisamos de viver - as gratificações decentes.
Agora falta passar à prática. E não referi Jorge Sampaio por acaso: é de uma pessoa assim, com rasgo, imaginação e discursos grandiloquentes em bom Inglês, que a organização precisa.
Com a Scarlett Johansson de um lado, e Colin Firth do outro, ouvintes não haveriam de faltar. E não é impossível imaginar que um mínimo de três toneladas de alimentos sempre haveriam de chegar aos pretinhos do Darfur, juntamente com uma revista da OXFAM a explicar em banda desenhada os malefícios das alterações climáticas e do capitalismo desregulado.
O irmão Nuno acaba de perpetrar uma entrevista na TVI. Sobre o último livro, "Em Nome do Pai". "Tu" cá, "tu" lá, José Alberto Carvalho enlevado como uma adolescente lasciva. Leu excertos daquela "literatura", possidónios sem excepção, ignorantes sem misericórdia. Lobo Antunes considerou "estranho" o que tinha escrito (alguns espectadores também), e desabafou: "Pensar que aquilo saiu de mim".
Bufou com as bochechas cheias, para ilustrar, naquela espécie de teatralidade de grupo experimental da província, como era profundo, introspectivo, e penoso ocupar-se daquelas matérias tão fundamentais. Disse que não tinha "pudor dos afectos" (algum, não lhe faria mal). Que "amava muito" a mulher dele, e que a achava "linda" (abençoada senhora). Que tinha com o filho mais velho "uma relação de grande cumplicidade" (de ser cúmplice de Nuno Lobo Antunes, já Deus me livrou). E desfiou pomposo, sobre a religião católica, uma abundância de "reflexões" tão idiotas quanto erradas. Por exemplo: "Nunca ninguém antes se lembrou de escrever sobre S. José". Se fosse num programa de humor, era a deixa para a plateia "presente em estúdio" arremessar contra ele todos os livros que já foram escritos sobre S. José.
Apoquentei-me ao saber que, a dada altura do livro, Jesus resolve sair do sítio onde está e abalar "de encontro ao deserto" (sic). Temi que Jesus, na fantasia de Lobo Antunes, acertasse nalguma acácia perdida e esmurrasse o nariz. Mas depois sosseguei: afinal é (pasme-se!) "um deserto interior", e "não podia deixar de ser" porque há "poucos relatos daquelas paisagens". Antes assim.
Daquele fenómeno tão fascinante de pertencer a uma família em que "todos são médicos e todos são escritores", disse que "cada um tem o seu percurso, e cada um escreve o seu livro". Informou que não tinha fé em Deus, mas sim que tinha "fé no privilégio de viver". À pergunta sobre se "as dúvidas de S. José eram as dúvidas dele" (aqui abateu-se sobre José Alberto Carvalho um tijolo de originalidade, talvez proveniente da régie) respondeu, após um silêncio prolongado: "Não podia ser de outra forma". E à pergunta sobre se o processo tinha sido "duro", respondeu: "Não; fui corajoso".
A presunção dos irmãos Lobo Antunes, especialmente na proporção do asneirol que escrevem, e do tédio que provoca a maneira como usam a língua, em Portugal dá direito a prémio. Deve estar por dias.
Raquel Baptista Varela é marida de um cidadão que também é mentalmente excepcional. À luz da legislação portuguesa, está visto que podem co-adoptar pareceres. Poderão adoptar crianças? Deixo esta pergunta no ar.
Estará o país preparado? Até certo ponto. Mesmo no Arrastão, instituto onde se observam e defendem excepções de todo o tipo, há dois cidadãos que, escurecidos de preconceito, não vêm a coisa com bons olhos. Naquela linguagem "cavernícola" (obrigada, Galamba), de quem convive mal com o "direito à diferença" e pactua, pela "passividade bovina", com certos "retrocessos civilizacionais", dizem da doce Raquel que ela é "alienada", que "usa a ideologia" como um "pronto a vestir", e que lhe falta "bom senso". Palavras fortes, que não levo a mal: são decisões difíceis, que inflamam os ânimos e necessitam de muita ponderação.
Enquanto pensamos fica um excerto, uma síntese do pensamento do filósofo, que se chama António Paço:
"Os grandes agradecimentos que a apresentadora Fátima Campos Ferreira fez à Raquel no final do programa só se explicam, aliás, por ser óbvio que a Raquel lhe «salvara» o programa."
Vai à atenção de André Azevedo Alves, este meu subsídio para o dorido trabalho de investigação que está a partilhar com o estimável público, biografando a "académica" Raquel, a nível d' O Insurgente.
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Leitura complementar: Doce Raquel e o horário "nobre"
Na sequência do que escrevi aqui, fiquei inquieta com uma nova reflexão que de seguida enunciarei.
Surgiu da circunstância de estar em casa a ver as notícias - em particular aquela em que a FNE anunciava que "vai aderir à greve de professores às avaliações e no primeiro dia de exames nacionais do ensino secundário" - no mesmo momento em que uma das minhas filhas, que está no 6.º ano e vai fazer exames nacionais, me entregava uma carta do colégio onde estuda, a dar nota das aulas de preparação para esses mesmos exames, precisamente nos dias de greve.
Vamos então por partes:
E eis que chego então à reflexão de ontem à noite: os alunos das escolas privadas estão salvaguardados. Só os alunos da escola pública - estatal, para ser rigorosa - serão potencialmente afetados.
Gritante desigualdade. Será esta greve anti-constitucional?...
Este excerto do Prós e contras de ontem é muito significativo. Pelas razões que a Margarida já aqui expôs mas também por outras muito fundas que bebem no âmago dos posicionamentos ideológicos e nas visões conflituantes de sociedade que nos trouxeram aqui e nos prendem a um presente pouco capaz de construir um futuro mais sorridente.
A esquerda radical de Raquel Varela é incapaz de entender, e pior, detesta e vê como um perigo, a capacidade muito humana de empreendedorismo que está na base do nosso sucesso como espécie. Empreendedor de sucesso era o caçador recolector capaz de melhor organizar o bando na caça, de escolher e dominar as ferramentas necessárias, de obter mais e melhor alimento para o grupo. A humanidade sem organizadores, sem pioneiros que liderassem onde estaria? Ao nível dos outros primatas? Provavelmente. Na agricultura, para além da subsistência, na explosão da indústria, sempre foram determinantes as figuras de alguns organizadores possuidores de visão excepcional que a todos trouxeram riqueza e desenvolvimento.
Raquel Varela abomina o tipo de homem que o rapaz Martim representa. Recorda-lhe o inverso da condição de ovelha contente e dependente do rebanho que ela almeja para todos nós. E o mais grave? Lendo o que se escreve no blog onde ela participa, o 5Dias, acham-se no direito de impor a mentalidade de rebanho a todos nós pela revolução.
Gente perigosa que nos pretende encaminhar para uma rua sem saída, aquela em que comunistas e seu produto evoluído, os socialistas, insistem em apresentar-nos como o amanhã sorridente e pleno de abundância sem esforço.
Fica registado o comentário de ontem para nos recordar o sonho que pretendem que abracemos como mundo maravilhoso: aquele em que o homem se diminui por vontade, escolha própria e se reduz a mais um animal passivo.
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