Há causas "fofinhas" que podem servir bem para afirmarmos pontos de vista que servem a nossa causa maior. Câncio, paladin@ da relatividade moral progressista interessada, faz aqui mais uma utilização oportuna de uma dessas causas: Luaty Beirão.
Temos a certeza de que Luaty não estava a conspirar um golpe de estado? Do contrário, de que Luaty é perseguido por puro delito de opinião? Qual a probabilidade de cada uma das opções?
Ouvindo esta entrevista a Luaty para a Rádio Angola em Washington, percebemos que é um homem "à frente", crítico forte do regime espalhando claras ideias de insurreição. Além disso é um rapper popular com potencial grande impacto entre sectores jovens da população. Será um risco sério? O regime terá achado que sim. Nós temos a certeza das intenções e acções de Luaty?
Não sabemos, mas Câncio sabe: "Angola é a nossa Coreia do Norte". Subtil comparação entre o país que será o mais repressivo do mundo com campos de fome e morte, e outro país com um situação política étnica, social tendencialmente explosiva, mas em paz, com uma população hesitante entre o regime musculado ou o caos de uma convulsão política de ruptura.
África não é para brincadeiras. Regimes fortes são necessários para unir populações com divisões étnicas, e outras, potencialmente explosivas que quando deflagram causam muitas mortes e sofrimento. Os primeiros a reconhecer isto são os africanos. Sabem que o custo da paz=não morte, é a manutenção de poderes fortes instalados e que um grau de ditadura é aceitável face a perigo maior. Portugal tem democracia há 40 anos e os riscos ainda existem.
Qual é a nossa responsabilidade na vida de Luaty:
- Quando Soares, do partido que Câncio apoia repinpadamente, durante a atabalhoada descolonização, optou por não apoiar o movimento menos mau e mais forte, o MPLA, não favorecendo assim uma transição musculada, absolutamente necessária num território em guerra civil, ditou o destino actual do país. Soares sempre manifestou gostar de Savimbi e apoiou-o durante muitos anos. A guerra em Angola só terminou em 2002 com a morte dessa peste. Muito por causa de Soares, Angola perdeu 27 anos.
- Sabemos o que teria sido de Angola e como estaria agora a democracia se Soares tivesse contribuído para a pacificação em 1975? Seria possível que forçando a paz, apoiando o mais forte, os outros movimentos optassem por oposição não armada? Que seria de Angola e de Luaty hoje? 40 anos seriam suficientes para implementar uma verdadeira democracia num país com séculos de colonização? Olhemos para o exemplo da Namíbia e o que lá foi feito mantendo a população branca nacional.
Poderíamos ser mais cuidadosos nas críticas aos "filhos" das nossas acções e deixá-los fazer o percurso possível, não o que os nossos interesses locais acham oportuno.
A entrevista linkada é a demonstração em como alguma liberdade de opinião existe em Angola. E Luaty não é o único. Há mais opositores e lutam diariamente por uma Angola mais democrática. Que sejam livres e não ajudemos a piorar a sua situação.
Já agora, porque razão o artigo de Câncio não é dirigido a António Costa? Porque usa Câncio, Luaty, para pintar negativamente os responsáveis governamentais portugueses quando poderia apelar positivamente aos líderes da sua área de influência?
E vem a convite de um qualquer grupelho radical? - Sim. Vem a convite do Centro de Estudos Sociais do ilustre Prof. Boaventura de Sousa Santos.
Boaventura é português com sobejos disparates publicados e tem obrado bastante sobre Portugal. Não carece de apresentações.
Já Varoufakis, talvez seja bom recordar, foi o construtor da estratégica do Syriza durante 2014, ano que antecedeu o "último" resgate grego. A estratégia de Varoufakis foi tão bem sucedida que os gregos instalaram controle de capitais e o país esteve a um centímetro do abismo. Um homem de sucesso e claramente merecedor de ser transformado em referência para a nossa juventude académica. Em inglês, tão apreciado na nossa academia, um "role model for the young". Virá, com certeza, falar de estratégia.
Varoufakis vem a Portugal, convidado por um conhecido centro académico, fazer o quê? Que interesses de Boaventura e amigos serve?
"É hora, devo ir!"
Costa ainda estará à frente do PS por horas? Dias? Chegará a congresso? A sua posição tornou-se completamente insustentável a partir de ontem: a posição firme de Passos, os resultados finais com a votação dos emigrantes, a "soprada" decisão de Cavaco, o tapete tirado pelo PCP, acabaram com qualquer veleidade.
Resta-lhe voltar para o parlamento onde será sempre um espinho cravado na credibilidade do PS, arrastando penosamente o peso da sua culpa por soberba, e recordando aquele que foi talvez o maior abalo democrático desde 75. Apanhámos um valente susto.
Quem será o homem que se segue no PS? Que obra gigantesca o espera? Recuperar a credibilidade desbaratada por Costa nesta campanha e pós, será trabalho muito duro.
O PS é necessário para a democracia portuguesa. Oxalá corra tudo bem no período cheio de incógnitas que se avizinha e se consiga reestruturar a tempo de participar com mensagem de realidade e esperança em futuras eleições.
Boa sorte.
Será melhor travar institucionalmente António Costa antes que faça mal sério ao país, ou será melhor deixar que se estampe sozinho e seus sócios?
Travá-lo forçadamente criará uma vítima que ficará agarrada ao poder no PS alegando ter tido tudo na mão e ter sido impedido por poucochinho pelos "maus". Os "maus" terão de continuar austeridade mitigada (as cedências - vitória de Costa - já foram feitas publicamente) sempre com a sombra de Costa e da sua união anti-natura de esquerda. Costa será o herói frustrado, mas a única esperança do PaSok para o retorno ao poder.
Deixá-lo espetar-se sozinho dará a vantagem de tornar claro na mente do eleitorado o custo de aventuras irresponsáveis. O custo para todos os portugueses será elevado, mas poderemos atribuir à rubrica do OE: "educação de adultos".
No curto prazo, parece-me melhor travá-lo e essa enorme responsabilidade cabe a Cavaco e ao eleitorado e sectores sociais conscientes. No longo prazo será melhor deixá-lo ir avante e, a responsabilidade será de todos, em primeiro lugar dos seus apoiantes, que assim ficarão completamente comprometidos.
- São opções de fundo, muito críticas.
PS.: Por dificuldades em formação de governos e fragmentação da esquerda, em Itália, foi criado o Partido Democrático, unindo Democratas-Cristão de esquerda, Partido Socialista, Partido Comunista e outras forças de menor representação. Desde a sua criação é um saco de gatos que contribui para a total distribuição em múltiplos pólos do poder nacional e autárquico com facções conflituosas e constantes lutas intestinas. Esta divisão foi explorada por Berlusconi. Está neste momento, o PD, numa união fingida. em torno de Renzi, com apoio da presidência, sectores conservadores liberais da sociedade e a UE. O equilíbrio é muito frágil e o estado a máquina de fundos ao serviço das várias facções. A dificuldade de Renzi em reformar tem maior origem na oposição interna no seu próprio partido. Foi vantajosa para a Itália a formação do PD? Eu acho que foi o enquistamento das forças da reacção.
Em Portugal é melhor deixá-los governar num ambiente muito instável, crítico e de grande exigência com alta probabilidade de estampanço, ou deixá-los motivados para se unirem a prazo quando a situação estiver mais equilibrada e poderem criar um PD "a la longe"?
A legitimidade legal de um governo de esquerda saído de forças que perderam as eleições é discutível? Naturalmente que sim. Podemos pedir opinião a especialistas em direito constitucional? Sim. Quantas opiniões diferentes teremos baseadas na nossa Constituição? Mais que uma? Quantas? Vamos ficar nas mãos dos senhores juízes do TC dedicados a interpretar princípios gerais? Daqui a quanto tempo e com que custos para a economia?
Artigo 187º
(Formação)
1. O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais.
Se se adivinha que a legitimidade, restrita à Constituição, é discutível e subjectiva, então, a questão ainda é um problema?
Nota: penso que o que Costa e afiliados estão a tentar fazer não tem qualquer legitimidade moral. Mas, desde quando isso interessa em política?
Claro que há, e é uma multidão, que inclui não apenas, naturalmente, a quase totalidade das pessoas que votaram PàF, mas também muitas pessoas que votaram PS e por cuja cabeça nunca passou que Costa fosse tirar da cartola esta pomba branca da união das esquerdas.
Não faltam por aí repescagens de discursos de Jerónimo, da Tininha, de Costa, durante a campanha, que falavam nesta possibilidade.
Mas era, como sempre foi, uma possibilidade retórica: o PCP sempre esteve aberto a alianças desde que o PS deixasse de fazer políticas de direita; e o PS sempre esteve aberto a alianças com o PCP desde que este aceitasse a UE, o Euro, o Tratado Orçamental e um longo etc., tudo coisas que aquele nobre partido nunca aceitou.
Não falemos do BE neste contexto, porque o BE, na realidade, só existe porque há umas boas almas que julgam ingenuamente que o comunismo é possível sem violência e preservando a democracia. Portanto, numa situação revolucionária, vai atrás de quem tem a organização, a força e a determinação; e numa situação normal serve para voto de protesto e para marcar a diferença com merdas fracturantes para fazer prova de vida. Não existe, portanto, na medida em que não conta, quer tenha quer não tenha mais deputados que o PCP.
Claro que, na hipótese de a Coligação (a verdadeira, a do PSD/CDS, a que não é contra-natura) não conseguir formar governo, por não poder contar com a abstenção do PS aquando das moções de censura ao programa, não se vê como poderá evitar-se a formação de um governo de Costa, com apoio comunista.
Não tenho disto grande receio: porque o programa de um tal governo será posto em prática apenas durante o tempo que os credores deixarem, como na Grécia; ou o PS, no esforço impossível de tentar casar o repúdio da austeridade com a diminuição do défice, acabará em rota de colisão com a comunistada - conforme o que ocorrer primeiro.
Em novas eleições, num caso ou no outro, o PCP regressa ao seu canto, e o PS, se entretanto não estiver esfrangalhado, à impotência.
Do que tenho medo é das cedências: no leilão que o PS faz - quem cede mais para que se aplique o programa do PS, em vez do que ganhou ou dos que ficaram em terceiro e quarto lugar?
É preciso ceder alguma coisa, mas pouco.
Porque, cedendo tanto que o programa da PàF fica descaracterizado, o resultado da governação será desastroso, como seria se o PS tivesse ganho as eleições, e o eleitorado, desnorteado, perguntará: de quem é a culpa, afinal?
Em princípio, não deveria citar um texto pateta para defender o meu ponto. Mas são tempos conturbados, estes: a gente, com a pressa, serve-se de qualquer porcaria, se der jeito.
Não vale a pena negar: a direita foi "comida" pelos jovens turcos das três forças de esquerda que agora se afirmam sociais-democratas. O PCP ainda não o disse, mas demorará pouco a mostrar o seu lado socialista moderado em muitas das propostas essenciais a uma revolução a longo prazo para bem do proletariado e derrota das forças imperialistas. Falta convencer os velhos do PC ainda agarrados às idiossincrasias que já estavam ultrapassadas no tempo de Cunhal.
Enquanto nos interrogávamos se haveria ou não maioria absoluta da coligação, os fautores do golpe democrático e legítimo (sim) exultavam silenciosamente na esperança de que o PS ficasse em segundo lugar e o parlamento permitisse uma maioria da nova troika.
É assim certo como o destino e condenado a repetir-se ad eternum: os jovens não têm a memória e os traumas do passado. São rebeldes e estão-se nas tintas para o que passaram e o que marcou as gerações ancestrais. Importa-lhes unicamente o futuro e, em política, o único futuro que existe é o imediato. A médio prazo existirá sempre crise, e esta, gere-se. Além disso, a memória é curta e a conveniência é longa.
Prepararam tudo cuidadosamente. Cientificamente, apoiados em conceitos de marketing político de última geração. Revelaram-se mais preparados e actualizados. Agora, resta apenas assistir ao inevitável.
Três cenários em que a proposta de governo da nova troika se concretiza:
1. Se Cavaco empossa Passos em governo minoritário, Costa fica no PS, bradando injustiça e legitimado por ser o conciliador essencial à próxima união de esquerda e que pode permitir, o regresso ao poder do PS, em contrapartida à pasokização inelutável, se o PS se envolver em lutas intestinas de sucessão (Álvaro Beleza já disse que não vai avançar contra Costa). A Costa, basta esperar o fim rápido do governo PSD e CDS e apresentar-se a eleições, nem precisa de em coligação, com os novos sociais-democratas. A assembleia será um caldo de instabilidade.
2. Se Cavaco toma a iniciativa de um governo presidencial, é uma decisão a muito curto prazo que durará seis meses até que Costa se possa apresentar a eleições em troika. A assembleia será um caldo de instabilidade.
3. Se Cavaco empossa Costa em troika, então veremos o syriza português a implementar a austeridade "fofinha e inteligente". Costa tomará medidas com impacto no rendimento popular de iniciativa governamental e assim calará a indignação que se desviará para o sector centro-direita (alguns do centro-esquerda também verão igual), mas a relativa paz, considerando que estamos a passar, e continuaremos, uma revolução no regime, permitir-lhe-á fazer o que sempre se faz quando se ocupa o poder: ocupar lugares, controlar a administração pública e empresas ligadas, implementar políticas de crescimento onde os decisores pertencem ao grupo. Neste caso o grupo será mais extenso e heterógeno, envolvendo os neo-sociais democratas e socialistas moderados. A assembleia será uma dor contínua para os deputados do PSD e CDS mas viverá em relativa paz enquanto as lutas intestinas dentro da troika, causarão "mortos e feridos" em sucessivas purgas de purificação de facções. Um poder musculado terá tendência a impor-se, mas alguns cidadãos talvez possam continuar a lutar.
Em qualquer dos casos o nosso quadro macro-económico complicar-se-á muito. Parece-me que o menos gravoso, se Costa e troika tiverem juízo, à moda de Tsipras, será o último cenário.
Mais duas notas:
a) A eleição do próximo Presidente da República tem uma importância crucial, como talvez nunca antes, desde o 25 de Abril de 74. Marcelo parece ser o melhor que a direita tem. O PS parece satisfeito com a sua vitória declarada a priori.
b) Bem que podemos começar a pedir à UE ajuda para a situação em que nos encontramos, mas com uma maioria de população com inclinação à esquerda, uma proposta de governo democrática, e com precedentes em outros países europeus, não deveremos ter muita sorte, além de umas declarações que podem variar em graus de indignação. Na Grécia a UE também aceitou o Syriza.
"PS PORTO QUER AJUDAR A DESBLOQUEAR A ESQUERDA
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Cumprindo o que foi prometido aos militantes do PS Porto, Tiago Barbosa Ribeiro enviou uma carta aos líderes de outros partidos da esquerda do Porto, bem como sindicatos e movimentos sociais, para um diálogo aberto em torno das grandes causas para o futuro do país. Esta acção procura estabelecer pontes para lá de ciclos eleitorais de curto prazo, ultrapassando os bloqueios entre todas as esquerdas que em nada contribuem para a sua afirmação.
Aqui fica, na íntegra, a carta que foi endereçada às outras organizações, partidos, sindicatos e movimentos sociais.
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Ex.mos Senhores,
Vivemos tempos de excepção.
A governação da direita provocou um profundo retrocesso social e económico em Portugal. Todos os indicadores confirmam a fragilização do Estado e a degradação da qualidade de vida dos portugueses ao longo destes 4 anos.
Numa altura em que o Governo da direita entrou na fase da propaganda, apontando construção onde o país só vê ruína, urge a convergência entre os agentes políticos e sociais que propõem uma alternativa ao actual estado das coisas.
Nesse sentido, importa construir pontes onde outros querem cavar um fosso intransponível. É tempo de ousar.
Sem querer anular as naturais idiossincrasias de diferentes movimentos e partidos, é possível um diálogo entre as esquerdas para fazer melhor e diferente. É essa a expectativa de um país cansado e esgotado. Não há aí nenhum outro interesse que não a demonstração de que a esquerda portuguesa não está bloqueada nas divisões que a história tornou obsoletas e que é possível identificar interesses comuns para melhorar a vida dos portugueses: na defesa do Estado Social, do SNS, da Escola Pública, do trabalho digno, de tantos outros combates.
Que seja possível fazê-lo no Porto, para onde o país sempre olha quando é preciso rasgar os horizontes que tardam, seria especialmente feliz.
Assim, recusando quaisquer protagonismos estéreis e dando este primeiro passo que será comum a todos os destinatários desta carta (partidos, movimentos de esquerda, sindicatos), venho por este meio propor a realização de uma reunião com o vosso partido em data e local a agendar, tendo em vista um diálogo sério em torno do que nos une, que é muito mais do que aquilo nos separa.
Aceite as minhas calorosas saudações,
Tiago Barbosa Ribeiro
Presidente do PS Porto
#ps #psporto #esquerda #portugal"
A convergência à esquerda estava a ser preparada já há algum tempo. Não se sabe exactamente há quanto nas mentes de alguns socialistas, mas já havia sinais públicos em Julho de 2015.
Este artigo no JN "Vamos acabar com o PREC" de Tiago Barbosa Ribeiro lista justificações e aponta a estratégia. Extractos:
"A esquerda portuguesa vive um bloqueio histórico: sendo maioritária no país, não consegue encontrar as pontes necessárias para uma acção comum.
(...)
"Existem várias razões para que assim seja. Entre as mais evidentes estão uma maior ideologização dos partidos de esquerda, a notória dispersão eleitoral à esquerda (logo, mais factores concorrenciais que promovem o fechamento), a preservação de nichos, o entrincheiramento em famílias políticas com ramificações internacionais antagónicas e experiências históricas muito conflituantes. Porém, estes traços são comuns a toda a esquerda mundial, e em especial às várias tradições das esquerdas europeias, não impedindo entendimentos para a governação noutros países. Portugal é a excepção.
(...)
"A especificidade portuguesa resulta do PREC e do papel que o PS assumiu na estabilização revolucionária com a opção por uma democracia pluralista ocidental. Esse combate fez-se com democratas de muitas cores, com os socialistas e muitos outros, mas introduziu o anticomunismo (hoje um anacronismo da Guerra Fria) como matriz de uma parte do PS e, por outro lado, transformou o PS numa casa de inimizades comuns para outras esquerdas que, digladiando-se entre si, sempre se entenderam sobre o «revisionismo» (outro anacronismo) representado pelo PS como tampão a uma via revolucionária.
(...)
"Foi com esse espírito que, em nome do PS Porto, enviei uma carta a vários partidos, sindicatos e movimentos representativos da esquerda portuguesa. O caminho não é fácil, mas está dado um passo importante para o diálogo. As respostas até ao momento são encorajadoras e as reuniões que já ocorreram (com BE, Renovação Comunista, CGTP, UGT, APRE!, e outras agendadas) demonstram que não há interditos e que a esquerda pode somar à sua maioria social o capital de uma maioria política, sem preocupações com aritméticas eleitorais nem com ciclos de curto prazo. O objectivo, já conseguido, é alargar o campo de possíveis.
(...)
"A esquerda portuguesa não está condenada a manter-se dividida. As novas gerações de dirigentes dos partidos e movimentos de esquerda não têm as feridas da memória histórica e por isso não têm de carregar as suas cicatrizes. Vamos acabar com PREC.
..."
Sobre o autor, Francisco Assis, do PS, através de Miguel Noronha no Insurgente em 2014, refere:
"O autor deste texto, publicado nas redes sociais, é um jovem dirigente socialista portuense destinado a exercer a muito curto prazo altíssimas responsabilidades no plano local. Se o cito é porque descortino no seu pensamento algumas das principais características configuradoras da identidade de uma corrente política que me suscita enorme apreensão, pelas razões que passo a apresentar: insuportável arrogância moral, indisfarçável propensão para o simplismo doutrinário, preocupante valorização de uma linguagem emocional em detrimento da argumentação racional, inquietante incompreensão da realidade contemporânea. Se virmos bem, estamos perante um discurso construído a partir de clichés, de antagonismos puramente retóricos, de proclamações quase integralmente vazias."
Duas considerações:
a) A maioria relativa da coligação e a posição de Costa serviram exactamente os propósitos;
b) não se pode dizer que no PS não se sabia o que vinha por ali.
PS: Se alguém souber onde está essa carta que "enviei (...) a vários partidos, sindicatos e movimentos representativos da esquerda", agradecia o link ou cópia do documento.
Há deputados de primeira e deputados de segunda? Não, admiti-lo seria o mesmo que dizer que há eleitores de primeira e de segunda - e não há.
Cavaco seria então obrigado a dar posse a um governo presidido por Costa, com ou sem ministros comunistas ou doentes infantis de esquerda, mas com aprovação da maioria absoluta do Parlamento, depois de a Coligação ver o seu programa rejeitado por uma moção aprovada pelo PS, o PCP e o BE? Tecnicamente, parece que não - podia dissolver o Parlamento e convocar eleições para a Primavera, ficando o governo da Coligação em gestão.
Mas o país entraria (entrará?) em convulsão, com a socialistada e a comunistada toda aos gritos de fascismo nunca mais, o major Vasco Lourenço rosnando ameaças, Joana Amaral Dias despindo-se novamente, as meninas do BE capitaneando, de botas e boina à Che, manifestações Avenida da República abaixo, enquanto os juros da dívida disparavam, os dirigentes da UE se desdobravam em declarações prenhes de ameaças, e o espectro de novo resgate pairava - um PREC burlesco, que as novas gerações também têm direito à revolução, versão festival.
Cavaco podia dizer, com razão, que a coligação de esquerda nunca passou pela cabeça dos eleitores, por não ter sido assunto de campanha, não haver precedentes ou indícios de qualquer convergência possível naquele lado do espectro, nem a história do PS autorizar, mesmo à mais destravada imaginação, que se contemplasse a possibilidade de trazer para perto do Poder um dos últimos partidos estalinistas do mundo, igualzinho ao que em 1975 foi, SOB A LIDERANÇA DO PS, derrotado.
E nem precisaria de abundar na descrição do que pode suceder à dívida pública, ao desemprego, ao crescimento, aos impostos, até mesmo aos meios para pagar o forró prometido - estaria a converter convertidos, por uma parte, mas a restante, que infelizmente inclui o tresloucado Costa e não se sabe que parte do PS, mas que será talvez maioritária por efeito da perspectiva de jobs - só veria reforçada a sua determinação.
Teríamos então um governo de gestão, a viver debaixo de uma berrata permanente, com um resultado eleitoral incerto no fim do percurso, por não ser possível prever como a economia se iria comportar nem se poder adivinhar como iria o eleitorado repartir as culpas da degradação da vida pública.
Esta é a primeira alternativa. A segunda é conquistar Costa com mais cedências do que as que seriam razoáveis, para o afastar das blandícias do subitamente macio Jerónimo e garantir a abstenção na votação de pelo menos um orçamento. Péssima escolha: o eleitorado responsabiliza pelo resultado o governo, e o PS contribuirá com nada para reformas, outro tanto para cortes, bastante para aumento de despesas e tudo o que puder para as suas queridas apostas.
Resta a coroa de glória do celebrado ex-presidente de Lesboa: chegar a PM e trair, sob desculpa das exigências do tratado orçamental, uma parte das promessas que fez; ceder, sob pressão dos parceiros, o suficiente para destruir a confiança; inverter a trajectória do défice e das dívidas, pública e externa; e, com a economia em cacos, acabar por desentender-se com os seus parceiros, por a raposa comunista não resistir a querer devorar galinhas quando se encontrar dentro do galinheiro, ou porque se materializa o espectro do IV resgate.
É esta última solução que prefiro, porque as soluções de meias-tintas não permitem ver com clareza a repartição de culpas. Se o preço para Costa salvar a sua miserável e gordurosa pele tiver que ser este, que ao menos o eleitorado retire sem ambages as devidas ilacções, atirando a prazo os comunistas para o gueto de onde nunca deveriam ter saído, e os bloquistas para a sua especialidade em causas fracturantes.
O preço é muito alto, claro, mas vale a pena se garantir duas legislaturas com um módico de lucidez.
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