Sexta-feira, 6 de Novembro de 2015

Curvas e contracurvas

 

Costa-02-640.jpg

 

Sem os adornos que servem para esconder a perplexidade geral, dois motivos são suficientes para o dr. Costa não ter sido claro a anunciar, antes de 4 de Outubro, os seus planos de se coligar com o PC e com o Bloco. Um deles foi o receio de afastar do PS o eleitorado do centro. Só que uma parte dessa gente não se deslumbrou com a linguagem ambígua de Costa e, mesmo sem ter a ameaça da Frente de Esquerda (chamemos-lhe FE) formalmente definida, fugiu das interpretações radicais que Costa luziu para se apresentar como o grande padrinho das "alternativas" contra a dureza da "austeridade".

 

Os ingratos que faltaram ao PS, moderados mas zangados com a coligação, dividiram-se entre os que não saíram de casa para votar e os que votaram na segurança do “protesto”, em partidos pequenos que ninguém imaginou poderem chegar-se ao poder. O centro, que é quase Portugal em peso, detesta a desordem e o descontrolo porque sabe que daí à pobreza vão meia dúzia de “reuniões técnicas”. Por cobardia mental e por incompetência política, António Costa competiu em radicalismo retórico com a extrema-esquerda, mentindo a condizer; e foi por ter-se encostado à extrema-esquerda que António Costa perdeu as eleições.

 

O outro motivo foi o receio de as ganhar. Supondo que a sua audácia acertava, e tinha de ponderar essa possibilidade, Costa arriscava-se a subir à Gomes Teixeira com uma maioria relativa, de relações cortadas com Passos e Portas. O PC e o Bloco teriam posto um carimbo de benemerência nos propósitos deste PS purificado, e para o novo chefe, acabado de ungir, não havia maneira de se desembaraçar destes dois atrasos de vida que ele nunca tolerou. O que Costa queria, na sobra de racionalidade política de “um excelente conciliador”, que vive na zona parda dos “acordos” há muitos anos, era “negociar” as medidas pop com a extrema-esquerda - e “apoiar-se” na coligação para fazer o país engolir as brutalidades mais azedas.

 

Ainda quer. A bendita FE que anda a cozinhar, se algum dia sair daqueles encontros sinistros, vai estoirar à primeira rosnadela dos credores, à primeira falta de comparência dos malvados “mercados financeiros”. Costa vai transpirar, espremer-se em entrevistas verbosas, e todo o jornalismo vai exigir de Passos e Portas o tão mal explicado “sentido de responsabilidade”.

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 17:55
link do post | comentar

"Les miserables" - Citando ipsis verbis ao cuidado do fascista da marmeleira.

"kafka2.jpg

Presumo que a quem não tem nada a perder, a golpada socialista estimule o sentido de humor. Para um emigrante na Irlanda ou um colunista no Telegraph tudo isto faz rir. Com muita pena minha nem sorrir consigo. Já estive em 2011, 2012, 2013 e 2014 e não me apetece nada lá voltar, o que é um dado adquirido, assim tenha tempo a Frente de Golpistas, Lunáticos e Totalitários que se avizinha e a quem, espero, o Presidente da Republica entregue o Governo.

O nojo que me suscita esta gente (que de gente tem muito pouco) e que chega a ser físico é bem justificado. Primeiro negam ter perdido eleições, a seguir prometem um coligação de esquerda no Governo, depois já não é bem coligação é um acordo para quatro anos, depois já não é bem assim, é só golpistas e lunáticos no governo com o apoio de totalitários, a seguir já é só um acordo (qual acordo?) para impedir um “Governo de direita”. Putedo rasca é o que são, do primeiro à última.

A alucinação e a golpada é de tal ordem que, no dia em que alguns decidimos gozar no twitter com o #PortugalCoup celebrizado pelo génio do Ambrose Evans-Pritchard (cujo deus ex-machina indígena ultrapassa todos os limites do nojo) no Telegraph, havia por essa Europa fora, pessoas genuinamente convencidas que teria havido uma coligação de esquerda a concorrer à eleições, que teria sido impedida pelo PR de formar Governo. Tal é a capacidade de mentir, aldrabar e vigarizar a pretensa democracia em que eu, infelizmente, vegeto.

Estou farto destes miseráveis mas já só rezo para que tenham o que desejam. Todos eles. Do Ungido golpista, à actriz lunática, ao falso operário totalitário."

- Apoiado.

 

publicado por João Pereira da Silva às 08:56
link do post | comentar
Quarta-feira, 4 de Novembro de 2015

Una-se à iniciativa

12193776_1671832259695785_5757417126696197903_n.jp

 

publicado por João Pereira da Silva às 05:49
link do post | comentar | ver comentários (2)
Terça-feira, 3 de Novembro de 2015

Febre de todos os dias à noite

Nos tempos longínquos em que começou o PREC II, isto é, há três semanas, defendi a tese do governo-vacina, admitindo a inevitabilidade de um acordo revolucionário entre o operário fanático, a actriz cheia de si e o intelectual treteiro - não foi assim que os descrevi mas aquele trio pode ser apresentado de muitas maneiras, nenhuma lisonjeira.

 

Depois, Cavaco, irado, falou, e mudei de opinião, admitindo um governo de gestão até que possa haver eleições. E Cavaco voltou a falar, na posse do governo, mas uma oitava abaixo - e eu não disse nada, senão para os meus botões: mau, pá, em que é que ficamos?

 

Entretanto, Jerónimo deu uma entrevista notável à SIC Notícias, nela se percebendo que só a imensa lata de Costa lhe permitiu ir ao Presidente da República falar num acordo: não há acordo nenhum, se houver ou o preço é tão alto que os credores imediatamente darão sinal de si, ou é tão baixo que os comunistas nunca aprovarão o orçamento; o PCP não está pelos ajustes de deixar de ser...o PCP; e o BE não conta, para além dos delírios da patetinha que hoje o povo de esquerda, e as televisões, aplaudem, quando se chega ao proscénio no desempenho do papel de Pasionaria que julga ser o seu.

 

Entretanto, de vários lados fui vendo enunciar os custos assustadores do governo-vacina, consoante a quantidade de cedências que Costa faz ou não faz aos vermelhos. E vi, sem razão, escavacar as virtudes da vacina, sob o pretexto, precisamente, de que o não é: se o eleitorado não aprendeu nada com as três falências anteriores, porque aprenderia alguma coisa com a quarta?

 

Sucede que as duas primeiras falências - 77 e 83 - são explicáveis à luz das sequelas do PREC, cujas sombras, hoje ainda não inteiramente dissipadas, eram então muito presentes. E da segunda o país recuperou rapidamente, ajudado primeiro pela desvalorização da moeda quando ainda não havia nem globalização nem queda do muro de Berlim, nem países de leste a concorrer connosco, e depois pela cornucópia dos milhões que a adesão à CEE, em 1986, proporcionou. E se o eleitorado sempre deu o benefício da sua confiança ao PS, enviando-o para a oposição durante menos tempo do que o que coube à direita, convirá lembrar que o PS é portador da aura de ter sido, em 1975, o líder do anticomunismo e depois o campeão da Europa - precisamente o capital que Costa agora desbarata.

 

Quanto à terceira falência, a de 2011, o PS perdeu a maioria relativa e 23 deputados naquele ano. E, ao cabo de quatro anos de aplicação de um programa de ajustamento que a chamada direita foi forçada a seguir, conseguiu não ganhar as eleições, caso único para situações semelhantes.

 

A pedagogia da realidade, portanto, funciona. Não tanto como se desejaria, mas não tão pouco que se possa dizer que o eleitorado bate sempre com a mesma cabeça na mesma parede.

 

Hoje por hoje, tudo está nas mãos de Cavaco - o homem vai escolher o nosso destino próximo. E não fosse o caso de o seu provável sucessor, dada a panóplia dos candidatos, ser um irremediável saco de vento palavroso, tão incapaz de saber o que fazer nesta encruzilhada como de decidir se é ou não é a favor da despenalização do abortamento, recomendaria a Cavaco, em caso de aprovação de uma moção de rejeição do programa de governo, que se demitisse, por se recusar a nomear o governo vermelho do IV resgate. Com isso, forçaria a antecipação das presidenciais e transformá-las-ia num referendo ao caminho a seguir, acabando de vez com as dúvidas sobre o que queria realmente o eleitorado do PS.

 

Hipótese louca, claro: que nem Cavaco tem cojones para se demitir, nem, do único candidato teoricamente aceitável, vêm ideias claras, nem os dados estão todos lançados: Assis ainda pode, quem sabe, infundir algum juízo na cabeça de um número suficiente de deputados.

 

Será assim, assado, ou doutra maneira. Que no PREC original, ainda me lembro, a gente pensava uma coisa de manhã, outra à tarde e à noite não sabia o que lhe reservava o dia seguinte.

Tags:
publicado por José Meireles Graça às 12:28
link do post | comentar
Segunda-feira, 2 de Novembro de 2015

Era o que faltava

Já há pelo menos 35 reguilas que estão "a exigir à Volkswagen a troca do seu carro por um novo ou a alteração das condições de garantia por causa do caso de manipulação das emissões poluentes por parte do gigante alemão da indústria automóvel, revelou a Deco, a associação de defesa dos consumidores".

 

A Volkswagen far-lhes-á, claro, um manguito. Porque a aldrabice no software consistiu em fazer com que os automóveis, poluindo mais em utilização normal do que quando em teste, andem um pouco mais e gastem um pouco menos. Ou seja, a ter havido danos, eles foram para o ambiente, não para os proprietários.

 

A seu tempo, os bons cidadãos, respeitadores das leis e crentes na bondade das regulamentações europeias, irão às oficinas da marca e virão de lá com carros piores mas "verdes"; as autoridades imporão multas cujos valores serão suficientemente altos para impressionar o cidadão aflito com as agressões ao ambiente, mas suficientemente baixos para não prejudicar os postos de trabalho, a criação de riqueza, a importância da indústria automóvel, das exportações e do pé-ré-pé-pé; a indústria de produção de normas, testes e pareceres, verá acrescidos os seus poderes e multiplicadas as suas exigências; e daqui a uns tempos já ninguém se lembrará do incidente.

 

Não é provável que vá alguém preso, porque a febre justiceira da opinião pública não manda ainda tanto no poder político, e no sistema penal, como no outro lado do Atlântico; apenas a cabeça de Martin Winterkorn rolou metaforicamente, ainda que 60 milhões de Euros tenham porventura amaciado a dor da decapitação; e um outro aldrabão lhe ocupará o lugar, com igual eficiência.

 

No pasa nada, portanto. Fica por esclarecer por que razão, se as normas europeias são tão indiscutivelmente boas, as que se aplicam nos EUA são a tal ponto diferentes que o parque automóvel local quase não tem diesel, enquanto no europeu é mais de metade; e isto quando, nos dois espaços, as autoridades desveladamente se ocupam do ambiente, num lado porque o CO2, seja lá essa merda o que for, nos vai fazer morrer afogados por efeito da subida do nível das águas, e no outro porque as partículas nos vão dar, além de tosse, uma fatal inclinação para morrermos de variados tipos de cancro.

 

Circulo a gasolina - sempre evitei o diesel porque o barulho me impede de ouvir música. E, sem sucesso, recomendei a alguns membros da família que se abstivessem de apurar se os respectivos automóveis têm ou não a aldrabice teutónica incorporada.

 

Nada, nada, aquilo é gente que cumpre as normas e regulamentos. E depois, um destes dias, não é verdade, as inspecções periódicas, e as operações stop, passarão a exigir o certificado de que a correcção foi feita.

 

A defesa do ambiente faz-se com certificados. E eu, se tivesse um diesel Volkswagen, não deixaria de pedir ao concessionário: passe-me aí o papel, chefe, mas não faça nada. A sua representada pode, mas eu não? Era o que faltava.

publicado por José Meireles Graça às 11:54
link do post | comentar | ver comentários (2)
Domingo, 1 de Novembro de 2015

Os princípios e a oportunidade (i)

Sempre ouvi dizer que nos princípios não se pode transigir. Por isso, entre outras, defendi Sócrates quando foi preso como foi e interrogado apenas dias depois. Pode ser legal mas é imoral e, é bom que não nos esqueçamos, amanhã qualquer um de nós poderá ter que se valer dos princípios.

 

É exatamente por isso que compreendo mal a opção do PS.

 

O PS viu a oportunidade e transigiu nos princípios. Em vários, talvez mesmo em todos:

 

Desde logo transigiu na forma como, desde há 40 anos, se tem entendido a legitimidade popular ou política. Era terreno comum que era ao Partido mais votado que cabia governar (ou, pelo menos, ter a oportunidade de iniciar o seu mandato). Foi assim com Cavaco, Guterres, César e Sócrates. Não havia nenhuma razão para não o ser agora. Esta não é, nem nunca foi, uma questão constitucional. É política ou de autoridade, no que de mais nobre tem a política. Sempre assim foi porque qualquer tentativa de formação de coligações contranatura teve o contrapeso do respetivo Presidente da República (Soares e Sampaio). O PS, apercebendo-se da oportunidade de o Presidente da República não poder dissolver o parlamento, resolveu transigir nos princípios.

 

Não se diga, por isso, que esta é uma questão pouco relevante ou que o que vale é apenas a maioria parlamentar. O PS sempre soube que assim não era. Por isso, na campanha, quando havia a possibilidade de a Coligação ter mais mandatos e menos votos, o PS defendeu que o relevante era ter mais votos. Por isso o PS defendeu, depois (quando percebe que teria menos votos e menos mandatos que a Coligação), que o mais relevante é ser o partido com mais mandatos (na expectativa que sozinho tivesse mais deputados que o PSD). E, só quando se percebeu que a Coligação teria mais votos e mais mandatos e que o PSD sozinho teria mais deputados, passou a defender que o relevante era ter uma maioria parlamentar. Numa palavra: viu a oportunidade e transigiu nos princípios.

 

Bem se percebe: ganhar eleições não é um detalhe em democracia. É o essencial. Que o diga Santana Lopes.

 

E, de facto, pior que ser Primeiro-Ministro não eleito (ainda que apoiado por sólida maioria parlamentar), só ser um Primeiro-Ministro derrotado... Com menos votos, menos mandatos e menos deputados. E apoiado por uma maioria conjuntural e instável. Santana Lopes era, de facto, o Primeiro-Ministro de uma maioria parlamentar, Costa nunca será o Primeiro-Ministro do PCP ou do Bloco. Pior, Costa não é, sequer, o Primeiro-Ministro do seu grupo parlamentar e, muito menos, de muitos que nele votaram.

 

Tem um homem que tanto transigiu e tão pouca legitimidade apresenta alguma condição de ser Primeiro-Ministro? A única parte que não percebo é que porque se sujeita o próprio a tamanho vexame.

publicado por Diogo Duarte Campos às 13:13
link do post | comentar

Pesquisar neste blog

 

Autores

Posts mais comentados

Últimos comentários

https://www.aromaeasy.com/product-category/bulk-es...
E depois queixam-se do Chega...Não acreditam no qu...
Boa tarde, pode-me dizer qual é o seguro que tem??...
Gostei do seu artigo
Até onde eu sei essa doença não e mortal ainda mai...

Arquivos

Janeiro 2020

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Links

Tags

25 de abril

5dias

adse

ambiente

angola

antónio costa

arquitectura

austeridade

banca

banco de portugal

banif

be

bes

bloco de esquerda

blogs

brexit

carlos costa

cartão de cidadão

catarina martins

causas

cavaco silva

cds

censura

cgd

cgtp

comentadores

cortes

crise

cultura

daniel oliveira

deficit

desigualdade

dívida

educação

eleições europeias

ensino

esquerda

estado social

ética

euro

europa

férias

fernando leal da costa

fiscalidade

francisco louçã

gnr

grécia

greve

impostos

irs

itália

jornalismo

josé sócrates

justiça

lisboa

manifestação

marcelo

marcelo rebelo de sousa

mariana mortágua

mário centeno

mário nogueira

mário soares

mba

obama

oe 2017

orçamento

pacheco pereira

partido socialista

passos coelho

paulo portas

pcp

pedro passos coelho

populismo

portugal

ps

psd

público

quadratura do círculo

raquel varela

renzi

rtp

rui rio

salário mínimo

sampaio da nóvoa

saúde

sns

socialismo

socialista

sócrates

syriza

tabaco

tap

tribunal constitucional

trump

ue

união europeia

vasco pulido valente

venezuela

vital moreira

vítor gaspar

todas as tags

blogs SAPO

subscrever feeds