Sexta-feira, 29 de Janeiro de 2016

Canas de Vitalino

Suponho que o senhor embaixador sofrerá tratos de polé para conseguir dizer, diplomaticamente, que o reino da Dinamarca não tem que dar explicações ao Parlamento Português, muito menos em sede de comissão parlamentar, sobre decisões que toma no âmbito das suas competências e para aplicação no seu território. Essas explicações teria que as dar o governo dinamarquês ao parlamento dinamarquês, se a decisão, no caso, não fosse precisamente... do parlamento dinamarquês.

 

Ou poderia o senhor Embaixador ser informado pelo nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros da posição, se tiver alguma, do nosso Governo, caso em que decerto o diplomata e o país que representa tomariam boa nota e agradeceriam o cuidado.

 

Agora, o Partido Socialista, sob a esclarecida liderança de um tal Vitalino Canas, acha que o representante de um país estrangeiro deve ser convidado urgentemente a vir dar-lhe, e aos seus colegas, explicações sobre uma legislação que "não pode deixar de suscitar, desde já e inequivocamente, uma condenação”.

 

Sobre a legislação em apreço tenho uma opinião formada, e convoquei já o meu animal de companhia, de seu nome "Cacau", que me deve obediência, para o inteirar da minha indignação. E estava até disposto a consignar neste blogue o meu ponto de vista na matéria, merecedora de abundantes considerações.

 

Mas de momento perdi a vontade: que o assunto é sério mas tenho receio de que os meus escassos leitores me associem a Vitalino e ao PS. E posso ter razão ou não ter, acertar ou não, sair-me um texto escorreito ou uma mixórdia - mas ridículo não.

publicado por José Meireles Graça às 15:18
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Quinta-feira, 28 de Janeiro de 2016

Costa dos suspiros

Costa é um sobrenome fatal: O avô do salazarismo foi Gomes da Costa, como líder do 28 de Maio; e Costa Gomes foi uma equívoca rolha política que uns acham poupou o país a uma guerra civil no 25 de Novembro; e outros que permitiu a incrustação no aparelho de Estado, e nas instituições, do PCP - que dura até hoje.

 

Do Costa, actual e provavelmente efémero primeiro-ministro, é melhor nem falar: em nome da sua sobrevivência política alcandorou-se ao lugar que não ganhou em eleições, pelo expediente de se aliar a estalinistas e radicais okupas, com isso pondo em risco o futuro do seu partido de sempre; criou um precedente que altera, com a mesma Constituição, todos os arranjos de governo futuros; e trouxe para a esfera do Poder gente que vai aprofundar o pendor esquerdista do país, com isso reforçando a dívida, o atraso económico e os sacrifícios e dores que um dia outros terão que fazer para voltar a dar à gestão da coisa pública um mínimo de sanidade. Tudo em nome da gloríola de acabar a carreira como PM, em vez de como mero presidente da câmara de Lisboa, onde aliás se distinguiu por complicar o trânsito, aumentar as taxas, deixar intocado o monstro burocrático e fazer discursos de circunstância numa prosa chula.

 

O "Governador" do Banco de Portugal, outro prócere marcado com aquele sobrenome maldito, que tem uma marcada inclinação para dizer banalidades pomposas ou asneiras, fez umas declarações que merecem atenção, agora que exerce um segundo mandato como prémio por ter falhado clamorosamente no primeiro. Pediu ele que se acelerem "rapidamente" os trabalhos de construção da União Bancária europeia, porque o facto de esta estar “em construção” gera uma “esquizofrenia entre quem toma as decisões e quem paga e dá a cara por elas".

 

Está é claro a falar do desastre BES e do escândalo BANIF. Sobre o BES escrevi, por exemplo aqui, o que me parecia, que era o que não parece a quase ninguém; e sobre o BANIF, para já, ainda se espera perceber o que se passou, para que logo que fique claro que foram ordens da Europa as hostes se ordenem classicamente - de um lado a chamada direita porque na Europa dos credores a dominante não é o delírio da tontaria socialista; e do outro a esquerda comunista porque é nacionalista pela mesma razão de Estaline - socialismo num só país, se não puder ser nos outros - e o PS, que pendurará as despesas no peito do governo anterior, enquanto o BE dirá coisas indignadas, como diz sempre.

 

Infelizmente, a principal esquizofrenia não é a que Costa aponta: é o país oficial encarar com tranquilidade a perspectiva de, agora que já não tem moeda, deixar também de ter bancos; e acreditar, nisso como em tantas outras coisas, que estrangeiros farão por nós o que não formos capazes de fazer por nós mesmos.

publicado por José Meireles Graça às 12:19
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Sábado, 23 de Janeiro de 2016

Carta ao eleitor

O Professor Marcelo enviou uma carta aos portugueses, não sei se a todos ou quantos. Dos outros candidatos não recebi cartas, graças a Deus. E se Marcelo soubesse que, por ter nascido em Plutão, antes da despromoção como planeta, eu tenho opiniões de extraterrestre, decerto me excluiria da lista. Porque a carta, para me agradar, precisava de outra redacção. Corrigi-a assim a meu gosto, trancando o palavreado de chacha e acrescentando, a itálico, o que deveria dizer para garantir a derrota nas eleições, em vez de uma vitória que não serve para nada.

 

Caríssimo/a,

 

Estou consciente de como o estado do mundo e da Europa não deixam antever anos fáceis e de como Portugal tem de sair claramente de um clima de crise financeira, económica e social, pesada e injusta inevitável, que já durou tempo de mais ainda não durou o tempo suficiente.

 

Para isso, considero essencial que haja desejável que haja como nas democracias mais avançadas convergências alargadas sobre aspetos aspectos fundamentais. Considero ainda que não há desenvolvimento, nem justiça, nem mais igualdade com governos a durarem seis meses ou um ano, ou dois, ou uma legislatura, sempre que com ingovernabilidade governabilidade crónica à esquerda e sem um horizonte que permita aos governados perceberem aquilo com que podem contar no quadro da composição parlamentar resultante daquilo que votam que não se diminui a despesa aumentando-a nem se cria riqueza distribuindo-a. Mas a estabilidade e a governabilidade têm de estar ao serviço do fim maior e o fim maior na política é o combate à pobreza, é a luta contra as desigualdades e é a afirmação da justiça social a afirmação do Estado de Direito, o respeito intransigente dos direitos do indivíduo e a reafirmação da independência nacional possível nas actuais circunstâncias do país.

 

A minha ideia é a de um Portugal com mais justiça e mais igualdade Justiça a funcionar em prazos razoáveis e protecção nas situações de miséria, desemprego, fome e falta de recursos para acesso a ensino até ao secundário, bem como cuidados de saúde. Um Portugal que seja ao mesmo tempo mais justo e uma ponte universal onde haja crescimento económico sem que o Estado o tente promover por outra forma que não seja a remoção de obstáculos, consciente das suas limitações e de que as únicas pontes que vale a pena estabelecer são as do interesse mútuo.

 

Vivemos hoje uma época em que ainda não percebemos as capacidades de que dispomos, mas em que sentimos sempre que nos falta mais um pouco os políticos, que deviam ser uma elite que aponta o caminho, são uma classe que lisonjeia abjectamente quanto disparate tem acolhimento na opinião pública. Acredito que não nos faz falta estabelecer pontes e laços entre todos nós para que possamos encaminhar o País para um futuro mais risonho. E os consensos políticos são essenciais não apenas dispensáveis mas prejudiciais a esse caminho.

 

Para isso lanço um apelo à sua participação. À participação de todas as portuguesas e de todos os portugueses. Seja qual for o seu candidato, vote. Participe. Não abdique do seu direito. Não desista da democracia. Não desista do nosso país.

 

Conto consigo para trabalharmos juntos trabalhar honestamente na defesa do seu interesse próprio porque, ao fazê-lo, estará também a ajudar a comunidade. Um abraço amigo Respeitosos cumprimentos, Marcelo Rebelo de Sousa.

publicado por José Meireles Graça às 18:30
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Os media disto tudo e os ungidos

nóvoa popularidade.jpg

 

No desfile de idiotas a que se convencionou chamar "campanha para as presidenciais", Nóvoa, o pároco da Igreja Progressista do Tempo Novo, mais uma vez diz disparate. Sim, trata-se de um desfile de popularidade televisiva que será ganho pela maior estrela promovida na televisão mais popular.

Quando estou em Portugal, algo chama a atenção. Quem cá vive, talvez já tenha desistido de ver os nossos canais generalistas e aceita que são maus e pronto, mas, digo-vos, o nível, em comparação com o das televisões italianas, é atroz. Os nossos ainda conseguem ser muito mais medíocres do que os dos nostri amici.

Adicionando à porcaria de televisão de que acham que nós gostamos, temos em comunhão, a vergonha dos partidos que centripetam os maus, e centrifugam os bons, a seleccionar aqueles de quem podemos gostar. E assim, os candidatos aos lugares públicos estão ao nível a que a pior televisão os promove. Não há fuga. No PSD, o não ungido pelas TV, Passos das Oportunidades Perdidas, e no CDS Cristas, do partido Tuk-tuk, lutarão para fugir à inevitável irrelevância. À esquerda, os ungidos de nascimento e cultura fofinha do progresso e solidariedade, benditos pelos nossos jornalistas especializados em causas boas para apresentar nos intervalos da publicidade, têm uma vantagem invencível.

Não façamos algo rapidamente para criar e devolver esperança, não. Mais tarde poderemos sempre queixar-nos e dizer que "bem avisámos". Enfim, um sucesso de país que nunca depende de nós, afinal: somos apenas "espetadores".

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publicado por João Pereira da Silva às 08:25
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Terça-feira, 19 de Janeiro de 2016

Francesices

"Durante o seu discurso anual aos líderes empresariais de França, Hollande enfatizou que o plano vai custar mais de 2.200 milhões de dólares".

 

Por que razão, sendo o presidente e audiência franceses, o custo vem em dólares, a notícia não esclarece. Não é que interesse muito, é dinheiro para torrar.

 

É para torrar porque os 500 mil estágios subsidiados pelo Estado ou são para lugares necessários ou não são.

 

Se não são, logo que acabe o apoio do Estado aos ex-estagiários os patrões calçam-lhes uns patins, ou, se um ou outro se tiver revelado particularmente apto os patins vão para outro, menos apto, que o Estado não ajudou.

 

Se são, então o sector privado criá-los-ia de todo o modo e o apoio estatal apenas financiará a concorrência desleal, visto que se há apoios há candidaturas, se há candidaturas há selecção, se há selecção não há forma de garantir que as "boas" empresas serão apoiadas e as "más" não: quem separa as boas das más empresas não é uma agência governamental - essa entende, no melhor dos casos, a linguagem das tretas da moda em matéria de gestão e, no pior, a da corrupção - mas o mercado.

 

"Com mais de 10% de desempregados, a França situa-se acima dos 9,8% que constituem a média da UE. No Reino Unido a taxa era, em Novembro, de 5,2%, e na Alemanha de 4,2%".

 

A propósito, de onde vêm os 2.200 milhões? A notícia, lamentavelmente, não diz, mas adivinha-se: de impostos ou de dívida pública, que são impostos de cobrança diferida.

 

Ah, mas estes 2.200 milhões vão dinamizar a economia pela via do consumo e os trabalhadores, com as suas competências melhoradas, vão fazer um upgrade da produção, da produtividade e do pé-ré-pé-pé, ou não?

 

Não. O Estado, para inundar a economia de dinheiro, tem primeiro que o retirar da economia, ou endividar-se para retirar depois, e as competências profissionais, se o mercado local não as exigir, vão para onde haja quem as aprecie.

 

E onde fica isso, quem aprecie? Ora, um dos lugares é a Alemanha, e o outro o Reino Unido. Então não se está mesmo a ver?

 

Esperar que o milésimo programa de formação profissional insuflado a golpes de subsídios, discursos e voluntarismos políticos dê resultado diferente do que deram os outros 999 só não é uma loucura porque Hollande fez o seu número; os 500 empresários também, porque esperam meter ao bolso alguma esmola; e os eleitores, que não estavam na plateia, são os inocentes da história - não é o que são sempre?

publicado por José Meireles Graça às 22:03
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Domingo, 17 de Janeiro de 2016

Alternativas

Sim, Meritíssimos? Mas não pode ser.

 

Não pode ser porque não é concebível a existência de funcionários públicos que ganhem mais do que o seu chefe máximo, que é precisamente o Primeiro-Ministro. Ou, se acharem que o PM, por não ser funcionário público, não serve de referência - ficamos pelo ordenado de Director-Geral.

 

Ai não são funcionários públicos, são magistrados, e portanto o limite deveria ser o do mais alto magistrado, que é o Presidente da República?

 

Perdão mas também não pode ser: o Presidente da República não tem sindicato, mesmo que lhe chame Associação Sindical, não pode declarar greve, e portanto tem que ganhar mais do que os senhores juízes, senão ficaria numa situação de inferioridade. Então o mais alto tem menos direitos e ainda por cima teria ordenado igual - aos mais baixos? Vossas Excelências decerto não defendem esta grande injustiça, para não falar do princípio de não sei quê, que a Constituição consagra.

 

Portanto, na qualidade de vossa entidade patronal (é certo que em comandita com outros 9.999.999 sócios) sugiro que, em alternativa:

i) Reivindiquem o aumento do ordenado do PM, para apanharem a boleia;

ii) Extingam o sindicato;

iii) Fechem a matraca.

publicado por José Meireles Graça às 15:50
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Sexta-feira, 15 de Janeiro de 2016

Liberdade mas

"Em nome da liberdade de expressão vão-se praticar os piores atentados contra essa mesma liberdade, por pessoas que não entendem que a decência e o respeito são suportes da liberdade". 

 

Isto diz um teólogo civil. E di-lo porque imagina que "decência" e "respeito" são valores absolutos cuja definição é igual para toda a gente e que, portanto, não há o direito de ofender uma crença religiosa, ou convicção política, ou de desrespeitar uma autoridade ou símbolo, porque todas as pessoas se sentem ofendidas.

 

Mas não sentem, o que ofende uns não ofende outros. Por exemplo, se eu dissesse (e é provavelmente verdade) que entre os comunistas há mais invejosos do que entre os liberais, haveria comunistas que, se o que escrevo tivesse importância, se sentiriam ofendidos - mas os liberais não; e se afirmasse que a igualdade entre os sexos, consagrada legalmente entre nós, é uma conquista das mulheres (e de muitos homens) contra a Igreja Católica, que aliás ainda não a realizou no seu seio, estaria a enunciar uma evidência que não poucos considerariam ofensiva; o mesmo se dissesse que não há qualquer indício, muito pelo contrário, de que as convicções religiosas tornam as pessoas mais bondosas, mais solidárias ou mais tolerantes.

 

Do lado de lá do direito a não ser ofendido está o direito à livre opinião. E como a lista daquilo com que cada qual se pode sentir, e sente, ofendido, é praticamente infinita, sobra que a única maneira de congraçar os dois direitos é limitar o direito a não ser ofendido à conjugação com outros direitos individuais - o direito ao bom nome é o que com mais frequência está envolvido.

 

Por exemplo, se eu disser que o prof. Cavaco (de quem João confessa ter sido consultor, numa louvável manifestação de sinceridade em relação a detalhes pouco lisonjeiros do seu passado) é um exemplo gritante do bom aluno marrão e manhoso não particularmente dotado, mas que teve muito sucesso na vida, estarei a enunciar a minha opinião. E se Cavaco dela tivesse conhecimento e se sentisse ofendido, pior para ele. Mas já se dissesse que Cavaco, no exercício de funções, foi corrupto, constituir-me-ia na obrigação de adiantar os factos que baseassem uma tal suspeita.

 

Tudo isto são platitudes, e cansa ver ayatollahs de banca posta na comunicação social a defender obscurantismos. Diz César das Neves: "Por outro lado, é hoje fácil no mundo muçulmano invocar as blasfémias e indecência da revista como prova da hostilidade ocidental ao Islão. Mais, ver a publicação atingir o estrelato, e aqueles que insultaram a sua fé receberem as mais altas honras nacionais, torna-se, em si mesmo, um ultraje agravado".

 

O Ocidente que se entende a si mesmo é hostil ao Islão, em todas as suas declinações, e faz muito bem. É com essa hostilidade, na exacta medida em que a sintam também, que os muçulmanos transformarão as suas igrejas, e as suas sociedades, para conseguirem duas coisas que ainda não alcançaram: uma é a separação da Igreja do Estado; e outra o dar às mulheres o estatuto que lhes pertence.

 

João César das Neves não entende nada disto, mas percebe alguma coisa de economia. Faço votos para que fale apenas do que alcança.

 

PS: Por estes dias há abundantes motivos para comentar a grotesca palhaçada em que se vem transformando o governo do país, que vem delapidando metodicamente o pobre pecúlio, de dinheiro e sanidade, que o anterior amealhou, ao mesmo tempo que os derrotados do 25 de Novembro, que deveriam estar acantonados na sua aldeia gaulesa de curiosidades históricas, renascem das cinzas para garantir outro resgate. Mas falta paciência e ginástica: do governo de Costa só se pode escrever - com a mão no nariz.

publicado por José Meireles Graça às 15:08
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Sábado, 9 de Janeiro de 2016

Factos vs Lógica

Quando Keynes apresentou o seu Tratado sobre a Moeda, discutiu o conteúdo com Hayek. Num comentário, Hayek disse a Keynes: "o senhor argumenta com factos, eu argumento com lógica".

Ora bem, factos estão disponíveis nas árvores dos factos com diversas cores e tempos de maturação prontos a serem colhidos seletivamente por quem queira. Cada um dá uma imagem parcial e pode indicar coisas diferentes em conjunção com outros que escolhemos.

Vem isto a propósito da intervenção/comício de António Costa ontem na edição especial da Quadratura do Círculo sobre a solução encontrada para o Banif.

Costa gaguejando, e com interjeições (revejam a gravação, ainda não disponível), debitou alguns factos:

- a proposta da Apollo (que custava ao estado 4 vezes menos) era apenas de intenção;

- entre sexta-feira, 18, e domingo 20, não tinha sido tornada vinculativa;

- que o Banif tinha de ser resolvido até segunda-feira 21 de Dezembro, impreterivelmente, ou perdia a liquidez necessária para manter as portas abertas.

Breves questões:

- A que horas de sexta-feira 18, foi comunicado à Apollo que devia vincular a proposta? Os decisores da Apollo estavam disponíveis e tiveram tempo durante o fim de semana para a tornar vinculativa? Teriam recursos? Sabiam da emergência até à noite de domingo?)

- Segunda-feira 21, o BdP não poderia iniciar uma linha de emergência de liquidez para suportar o banco durante mais uma semana que permitisse poupar aos contribuintes os milhares de milhões de erros que a absoluta pressa terá obrigado a torrar gastar?

A técnica mediática muito bem dominada por Costa, após anos a treinar na Quadratura, de apresentar factos que suportem uma interpretação ou narrativa conveniente, pega? Pegará mesmo?

 

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publicado por João Pereira da Silva às 08:25
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Sexta-feira, 8 de Janeiro de 2016

Arsène Lupin banqueiro

"Há bancos que aumentam as comissões? O que não falta é outros bancos dispostos a ganhar mais clientes".

 

Falso. Se uns bancos aumentam as comissões os outros seguir-lhes-ão os exemplos a breve trecho. E para fingirem concorrência os aumentos não serão iguais, as comissões não terão os mesmos nomes e, sendo possível, podem até não cobrar por um "serviço" qualquer que o banco vizinho cobra, mas nessa hipótese fazem-se pagar por algo que o vizinho deixa de graça.

 

Como é que Paulo Ferreira não sabe isto e eu sei? Porque toda a vida profissional - longa vida - trabalhei com bancos e Ferreira, aposto, - não: tem uma conta, possivelmente de depósitos à ordem, e um empréstimo para compra de casa; conta que mudou de banco e que o velho era uma merda e o novo é excelente. So much como experiência.

 

Saberá Paulo Ferreira que uma PME pode pagar, se por exemplo um cliente incumprir e a conta ficar a descoberto, 25 ou 27% de taxa de juro? Ou que é possível recusar a emissão de um documento de distrate de hipoteca liquidada, sem porém o declarar por escrito, sob imposição de liquidação de um empréstimo terceiro, numa outra empresa, que nem sequer está em incumprimento? Nisto como no resto, os bancos podem contar com o reflexo condicionado acrítico da opinião desinformada: quem for de esquerda achará que o sector bancário não deve ser privado, ou que, se o for, deverá ser fortemente regulado; e quem for liberal dirá que a concorrência se encarregará de pôr no lugar o banco abusador, penalizar com falência a gestão imprudente, encontrar os melhores para a administração e remunerar os clientes de modo a que estes, face às alternativas de aforro ou investimento, confiem voluntariamente as suas poupanças.

 

Sucede porém que para os bancos estarem em concorrência seria preciso que emprestassem apenas o que os depositantes lhes confiam; que os clientes pudessem optar por colocar o seu dinheiro em casa ou emprestá-lo a quem entendessem nas condições que entendessem; e que, na relação entre o banco e o cliente (o verdadeiro cliente, o que pede empréstimos, não o fornecedor, que é o depositante) não houvesse, como de facto há, uma desproporção de meios que leva a que os contratos sejam por regra leoninos, as práticas abusivas, os comportamentos com frequência criminosos, a inimputabilidade a regra e a legislação cativa dos interesses do sector financeiro, incluindo agência de cobranças paga com o dinheiro dos contribuintes e, na prática, foro privado que dá cobertura legal aos atropelos, que é a maneira correcta de interpretar o papel do Banco de Portugal.

 

Um banco não é uma fábrica de pentes ou ferros de brunir; a procura do bem que o banco vende não tem a mesma elasticidade que a de qualquer outro, porque os representa a todos; e os bancos detêm o poder de conceder crédito a partir de fundos inexistentes, que é outra forma de dizer que cunham moeda a partir de correntes de ar cujo gerador está nos bancos centrais.

 

Nada disto evitou que os bancos tivessem falido, os que faliram realmente, os que foram salvos pelo contribuinte e os que cairão, com ou sem perda directa dos contribuintes, na mão de ladrões estrangeiros, dos quais inexplicavelmente se espera que sejam menos patifes que os nacionais.

 

Dizer, sem se ser nem bancário, nem professor de economia, nem ideólogo fanático de uma direita mal entendida, que "é assim que funciona a economia de mercado quando há múltiplas opções, liberdade de escolha dos consumidores e a concorrência funciona sem entorses" é, no mínimo, ingenuidade: não há múltiplas opções porque, na prática, não se é livre de receber o salário ou outros rendimentos em dinheiro, ou sequer a restituição do IRS sem conta bancária - por exemplo; não há liberdade de escolha porque não há qualquer estratégia de diferenciação dos bancos, para além da que a publicidade finge e de diferenças de pormenor; e o banco de sucesso depende muito mais dos empréstimos às grandes empresas e aos Estados, e da bolsa aberta do BCE, do que da conquista de clientes, na selecção dos quais aliás tem dado reiteradas provas de um grau de cegueira que só se explica, precisamente, por os mecanismos de mercado, incluindo a selecção de dirigentes, estarem completamente adulterados.

 

Pode o cliente que se depara com um aumento de 20% da anuidade do seu cartão de débito optar por dispensá-lo e trazer parte do seu dinheirinho no bolso, para pagar em espécie? Não, não pode: o Estado quer, e disso não cessa de dar provas, combater precisamente as transacções em dinheiro vivo; e optar por meter a mão ao bolso e de lá tirar as pelegas necessárias é crescentemente raro, e não apenas porque o cidadão comum e pelintra gosta de exibir um rol de cartões de débito e de crédito.

 

Se este governo que nos condena ao quarto resgate bloquear este assalto terá feito pelo menos uma coisa boa; e para os meus amigos, dos quais a maior parte estou certo papagueia estas opiniões, tenho uma mensagem: tenham juízo, e falem do que conhecem.

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publicado por José Meireles Graça às 22:21
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Terça-feira, 5 de Janeiro de 2016

BANdo de Inginheiros Financistas

Nos longínquos tempos da crise do subprime corriam sketches como este, que tiveram merecido sucesso, e que interpretavam melhor a origem do descalabro do que muita análise sábia de especialistas nos arcanos da finança.

 

À época, houve quem explicasse a demência suicidária das decisões que conduziram à bolha pelo divórcio entre a propriedade dos bancos e os seus conselhos de administração, que detinham na prática o poder de atribuir a si mesmos prémios mirabolantes de desempenho, que incentivavam a assunção de riscos fora do razoável. E foram-se adiantando soluções que nunca, que eu saiba, chegaram a ver a luz do dia.

 

Sem comprar a tese, por ser improvável que um só factor possa ser prenhe de tão graves consequências, resta que entre nós, com as nossas tradições de impunidade, a impotência do Ministério Público e das polícias para lidarem com algo mais complicado do que pilha-galinhas e crimes de faca e alguidar, e a anedota das supervisões, não seria mau que alguma providência fosse tomada preventivamente para impedir que a gestão desastrosa fosse recompensada com prémios e pensões milionárias para pataratas de fato risca de giz, a cabecinha cheia da última treta de management assimilada num workshop, e o lugar abichado por terem o diploma adequado (e mesmo isso nem sempre), conhecer as pessoas certas e ter algum poder de barganha.

 

Não é que isso nos pusesse ao abrigo das consequências do crédito na estratosfera, com ou sem gestores cretinos e gananciosos, supervisores invisuais e gurus da economia desnorteados, quais perus sem cabeça, cada qual a recomendar com absolutas certezas soluções opostas umas às outras; é que, pelo menos, os contribuintes que são chamados a encostar a barriga a todos os balcões não o fariam para garantir, ainda que em pequena medida no meio dos ziliões das perdas, indemnizações e reformas douradas a megalómanos como Jardim (o do BCP), a submarinos da Opus Dei como o seu sucessor, e toda uma longa teoria de nulidades mais ou menos discretas, incluindo os venais, que têm pululado pelos bancos, sem excluir o público, que entendem que os lucros que geraram inicialmente em negócios que vieram a revelar-se ruinosos uns anos mais tarde justificaram gordas prebendas, incluindo fundos de pensões que ainda duram.

 

Quem não parece pertencer a este clube é o gestor do malogrado BANIF, Jorge Tomé, que "defende uma investigação criminal ao caso e garante que não havia buraco nas contas".

 

Não sei se havia ou não. O que sei, e é pacífico, é que o Santander fez um excelente negócio, que a história do anúncio de rodapé da TVI que provocou uma corrida aos depósitos é um escândalo a justificar a rápida investigação policial que não vai haver (ou que será inconclusiva, se houver), que a pressa em poupar depositantes e os outros bancos para não poupar contribuintes é, na hipótese mais caridosa, um erro, e que o papel mal explicado que nesta escabrosa história desempenharam o Banco Central Europeu e a sua filial em Lisboa que dá pelo nome de Banco de Portugal significa, para quem não andar a dormir, que, a prazo, banca, em Portugal - será toda ou quase toda estrangeira.

 

Desgraçadamente, a Esquerda comunista queria nacionalizar, como quer sempre (ou integrar na CGD, que é a mesma coisa). E isto faz com que, por reflexo condicionado, a Direita ache que talvez a solução encontrada fosse a menos má, ou então que era melhor deixar a batata quente para 1 de Janeiro, e o BCE, e os depositantes "ricos", que se desenvencilhassem.

 

Sucede que o BANIF era um banco público, que é o que significa a maior parte do capital pertencer ao Estado. E que portanto o que a rotundidade Costa, a sua pandilha de socialistazinhos, o seráfico Costa "Governador", uma comunicação social acéfala e uma opinião pública esquerdizada pela propaganda e ensimesmada pelo futebol fizeram foi vender por dez réis o que podia com tempo ser vendido a bom preço, e isto porque a "Europa" mandou. Talvez: os miseráveis, quando estendem a mão, estão também dispostos a fazer o pino. Mas conviria ao menos fazer a demonstração, que o preço da brincadeira, 3000 milhões nas contas que andam por aí, justificaria que no mínimo se tentasse um braço de ferro e, se falhasse, se guardasse para memória futura o correspondente ressentimento.

 

Mas não: reina a maior das serenidades europeístas. Talvez, com um módico de raciocínio, que falha, de memória, que escasseia, e de patriotismo, que se ausentou para parte incerta, nos pudéssemos lembrar que os mesmos que defendiam o Euro, e que foram quase todos (com excepção dos comunistas, alegadamente por acrisolados sentimentos de amor à independência, que não vou aqui comentar), reconhecem hoje que sim senhor, efectivamente foi um desastre, mas sair seria ainda pior pelo que, não tendo tido razão, têm razão afinal.

 

Há portanto hoje, sobre o BANIF, unanimidade, como há sobre as abençoadas novas regras do BCE quanto a capital e outras condições que põem os bancários (banqueiros já não há) a suar. E eu penso melancolicamente que devo ser dos raros que, sendo anticomunista, reconhece num caso ou noutro àquela seita de fósseis alguma razão.

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publicado por José Meireles Graça às 11:58
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