Domingo, 27 de Março de 2016

Que sera, sera

Um banco, toda a gente sabia o que era: um lugar onde, mediante uma recompensa, as pessoas que têm poupanças as depositam. O banqueiro emprestava os depósitos a quem tinha uma ideia para os fazer frutificar, mediante um preço, sendo este constituído pelo que era pago de recompensa ao depositante mais o que custava o pessoal do banco e restantes despesas de funcionamento, mais uma pequena margem - que era o lucro do banqueiro.

 

Claro que o banco serve para uma infinidade de outras coisas (como transferir dinheiro com segurança de um lado para o outro do mundo ou pagar comodamente serviços, ou converter umas moedas noutras, por exemplo). Mas, no essencial, há alguém que investe no capital, alguém que deposita o que lhe sobra ou poupa e alguém que utiliza o depositado.

 

Não foi sempre assim: as primeiras casas bancárias (os Medici, os Fugger) começaram por emprestar o seu capital a taxas de juro altíssimas, sobretudo a reis e imperadores, com garantia sobre rendas feudais ou do Estado. E ainda hoje a constituição de um banco requer um determinado capital, cujo montante elevado faz com que a iniciativa seja acessível a muito poucas pessoas e instituições.

 

Parece que a tentação de emprestar mais do que os fundos disponíveis esteve presente desde muito cedo. E hoje é um facto assente (que os depositantes não ignoram) que se houver uma corrida aos depósitos, ao mesmo tempo, banco nenhum detém os fundos necessários para reembolsar os credores.

 

Todo o sistema repousa assim na confiança - confiança de que quem deve vai pagar, não vai haver corrida ao levantamento dos depósitos e que, se houver, pelo menos uma parte do dinheirinho estará garantida - pelo Estado, pelo banco central, por fundos de garantia, pelo camandro.

 

Tudo isto é relativamente simples e, por o ser, deve rejeitar-se a ideia de que os arcanos do negócio bancário são uma coisa complicadíssima cuja regulação deve ser deixada a bancários, especialistas e políticos - porque a regulação em concreto exige conhecimentos especializados, sem dúvida, mas os interesses que se visam proteger são um assunto de toda a gente e não de uma coutada de iluminados.

 

Os banqueiros (sobretudo porque a espécie praticamente desapareceu, sendo substituída por bancários) têm dado, em toda a parte, abundantes provas de que privilegiam os lucros a curto-prazo, sobre os quais se baseiam os seus prémios de gestão, e não a viabilidade das instituições que dirigem; os especialistas concordam na divergência tanto sobre as causas dos problemas como sobre a sua solução, pelo que os estudos soi-disant científicos são na realidade teses que só convertem, em geral, os convertidos; e os políticos têm quase sempre pesadas responsabilidades na origem do mal porque o grau de intervencionismo do Estado na actividade bancária, como regulador, como tomador de financiamentos, como decisor arbitrário sobre a moeda e os investimentos, mesmo privados, que se podem fazer, falseia quase completamente, e de há muito, o funcionamento do mercado.

 

De resto, falar de mercado na actividade bancária é uma anedota triste: os bancos competiam até há pouco entre si no tráfico de influências para a conquista de negócios seguros que envolviam garantias públicas; no financiamento alucinado de actividades de futuro duvidoso, como a construção civil, à boleia da ideia peregrina de que as garantias reais sobre os empréstimos e o privilégio fiscal de que o serviço da dívida gozava bastavam para não se gerar uma bolha; na especulação financeira; e na publicidade acéfala para incentivar o consumo a crédito. Para o resto, que era a economia sustentável, ficavam as migalhas, e a competição não era dos bancos entre si, era dos clientes para o crédito escasso e proibitivo.

 

Esta loucura colectiva acabou mal, como se sabe, e estamos no rescaldo: os bancos estão falidos, a economia não cresce, os escândalos sucedem-se, o regulador emite opiniões, circulares, regulamentos e asneiras, e no país cresce o desejo de entregar a gestão desta merda ao estrangeiro, e a certeza de que quem nesta matéria esgrime argumentos nacionalistas (centros de decisão nacional e outras tretas) nem é desinteressado, nem tem credenciais, nem dinheiro, nem garante que, uma vez salvo o tal centro das garras do capital estrangeiro, não vá a correr empandeirar o bem, precisamente, ao estrangeiro - se houver mais-valias que possa embolsar.

 

Mas, curiosa história: eu compro o discurso a estes patriotas, apesar deles, porque não acho que gestores estrangeiros sejam melhores; não creio que os restos da independência, por serem débeis e cada vez menos, se devam alienar; e porque sou a favor da concorrência de estrangeiros em Portugal com portugueses - não sou a favor da concorrência de estrangeiros sem portugueses. Talvez haja alguma justiça histórica em transformarmo-nos, definitivamente, numa colónia, mas não me parece que o eleitor comum, se perguntado e de olhos abertos, votasse a favor de o país evoluir na Europa para o estatuto que S. Tomé teve antes da independência, e Ceuta tem agora.

 

Estamos num caco, do qual aliás ninguém reconhece a paternidade. Mas o resto da Europa não está propriamente a respirar saúde; tanto que o senhor Draghi, apavorado com o medo da deflacção, a economia que teima em não crescer, o desemprego que não baixa, as mulheres que não têm filhos, os milhões de imigrantes que batem à porta e querem emprego, resolveu acabar com os bancos.

 

Acabar sim. Porque se o banco, para se financiar, paga zero de juros, não precisa do depositante para nada, e este deixa de ter qualquer incentivo para poupar. E se o mesmo banco é apenas um balcão que empresta dinheiro que o BCE inventou, feito de ar e vento, toda a economia passa a ser de ar e vento, e o banco uma delegação do BCE com a missão de administrar correntes de ar. Que se espere neste contexto investimento que não seja especulativo, um Estado que se reforme e despesa pública que não seja manutenção de clientelas ou elefantes brancos, para mim, releva de loucura - uma loucura que se espera passageira.

 

Pois este louco, acolitado pelo seu empregado que "governa" o Banco de Portugal, foi agora convidado pelo presidente Marcelo para vir expor coisas ao Conselho de Estado, e aceitou.

 

Fez muito bem - um maluco, quando é expansivo, precisa de plateias. E a plateia é de estalo: temos frei Anacleto Louçã, que provavelmente achará que, se a coisa não resultar, o melhor mesmo é o BCE pagar para emprestar dinheiro, através da CGD, à economia real; Domingos Abrantes, que declarará, enquanto esfrega as mãos por baixo da mesa (estes capitalistas estão a torcer a corda com que se hão-se enforcar) que os bancos devem todos ser nacionalizados, porque assim a banca poderá prosseguir actividades nobres e produtivas, sem o pecado do lucro privado; Costa que, em chegando a sua vez, rebrilhará de satisfação enquanto expectora as suas conhecidas opiniões sobre competividade, a Conxituição, o pugresso, a reversão da austeridade e a descrispação; Soares que, se se conseguir manter acordado, lembrará que sempre disse que o dinheiro não é problema - faz-se; e Marcelo, que encerrará a reunião histórica com palavras oportunas e sentidas, realçando o afecto que o liga a Draghi, e que este decerto terá em conta moderando o impulso do BCE para diluir nos gigantones espanhóis as banquetas portuguesas e os seus problemas - os quais bancos espanhóis, recorde-se, foram saneados com mais fundos públicos do que os que a troica destinou à totalidade do último resgate português.

 

Nada disto interessa muito. É como dizem as canções: Que sera, sera.; When the Going Gets Tough, The Tough Get Going.

publicado por José Meireles Graça às 19:15
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Terça-feira, 22 de Março de 2016

Peça em dois actos, de duvidosa moralidade

ACTO I, no tempo do fássismo

 

(Gabinete do Secretário, uma antiga escrivaninha de mogno com o tampo forrado a percalina vermelha, apoiada em dois blocos de gavetas, uma estante ao correr da parede, rematada com vidros de correr e fechadura amovível, um móvel alto de gavetinhas e tampa ondulada de correr, também de madeira; espessa alcatifa vermelha, por baixo de um duvidoso tapete persa de motivos obscurecidos pelo tempo e o uso; dois maples vermelhos, de couro, duas cadeiras e a do Secretário, esta giratória).

 

O contínuo: Sr. Fulano, está aí uma senhora para falar consigo.

Que entre.

Boa tarde minha senhora, faz favor de se sentar. Em que lhe posso ser útil?

Olhe, meu senhor, tenho aqui este recibo, que é de uma consulta de um especialista em Coimbra, pr'ò meu marido, sabe, o F....., que é varredor, tá a ver, está muito doente. Dá-se o caso que eu não sabia que havia um prazo para entregar o papel, julguei que era no fim do mês e agora a menina diz-me que não senhora, não posso entregar. E o dinheiro faz-me falta, é daquilo da ADSE...

Quem foi a menina?

Parece que é D. F......, uma muito corada...

Estou a ver.

 

(Discando o telefone)

 

Estou, F.....? Faça-me um favor, chegue aqui com três ou quatro esferográficas azuis, mas olhe: pelo menos uma tem que ser esfera fina.

Esfera fina? Não estou a ver o que é.

Então, não se lembra do anúncio da Bic? Azul da china esfera fina, azul cristal esfera normal...

Ah sim, já sei. Vou já.

 

(Entra a funcionária)

 

Tem aqui um monte delas.

 

(O Secretário experimenta as esferográficas, rabiscando um papel. Sorri, satisfeito, e no recibo acrescenta ao dia da data um algarismo).

 

Está a ver, F....., afinal isto sempre está dentro do prazo.

 

(F..... sai, de lábios cerrados, explodindo de fúria).

 

Obrigado, meu senhor, tinham-me dito que era quem me podia valer, não me enganaram...

Vá à sua vida, minha senhora.

 

ACTO II, no tempo do Simplex

 

(Um enorme salão com mobiliário moderno de cores judiciosamente combinadas e material de natureza indefinível - o roxo domina. Há para cima de uma dúzia de cubículos, cada um com o seu funcionário, o seu computador e duas cadeiras de plástico. Na sala de espera há écrans, em frente a bancos de encosto corridos, desconfortáveis pelo espaldar demasiado direito, e neles vão-se sucedendo a espaços números, associados a letras - cada letra respeita à natureza do assunto e dos dois números um diz respeito à ordem de chegada e outro ao cubículo. Virado para a porta das instalações sanitárias, perpendicular aos bancos, um televisor, que algum cidadão mira desinteressadamente enquanto acaba de subir o fecho-éclair da carcela. Ao Secretário coube o nº P 55, mostrando o monitor, à chegada, que estava a ser atendido o cidadão P 47 no balcão 16).

 

Boa tarde, era para renovar a carta. Está aqui o atestado médico.

Hum, dá-me a sua carta e o cartão de cidadão, por favor.

 

(Examina detidamente os documentos e, com um esgar mostrando os dentes cavalares, fala).

 

O atestado não está bem. Aqui diz "com restrições", mas não diz que restrições são. Tem que ir ao médico para ele corrigir.

Trata-se de uma renovação. A menção pelo médico de restrições só pode querer dizer que se mantém a que existe e a carta menciona, que é o uso de óculos.

Pois, não está bem, o médico tem que dizer.

Acho que não, que não tem que acrescentar nada. E, já agora, quer saber? Trabalhei neste edifício onze anos mas nunca interpretei o meu papel como o de sendo atrapalhar a vida às pessoas. No seu lugar, não ligava o complicador, de mais a mais por causa de um papel que só existe para o Estado cobrar 60 Euros às pessoas.

Pois fazia muito mal.

Você nem sabe o que lhe falta.

 

CAI O PANO.

publicado por José Meireles Graça às 20:24
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Sábado, 19 de Março de 2016

Abominável César das Neves

João César das Neves é muito bem visto pelo meu lado do espectro político porque passa por ser um economista de direita, e é de facto - uma certa direita.

 

Ser de direita ou esquerda, hoje, não chega para fundamentar escolhas. Não chega porque ser conservador, ou liberal (no sentido europeu da palavra), ou libertário, ou democrata-cristão, não basta - é preciso ainda demonstrar que cada uma destas condições é a que melhor garante o crescimento económico. Sem isso nada feito, que o eleitor diz para os seus botões: ora bardamerda para as tuas tretas, que eu quero é saber se vou ter emprego e posso trocar de carro.

 

E também não chega apenas ser comunista, socialista ou social-democrata, em qualquer das múltiplas espécies que formam o género comuna e a família da esquerda, pelas mesmas razões.

 

Daí que haja economistas comunistas, uma evidente (para quem não for alucinado) contradição nos termos, que dão aulas de gestão do capitalismo e o querem aperfeiçoar tanto, mas tanto, que quando já está razoavelmente depurado dos seus defeitos se suicidou.

 

A comunistada é, aliás, além de desonesta, cómica nos seus esforços: querem eliminar o desemprego, e por isso extinguem o mercado de trabalho e comprometem a selecção dos melhores; aumentar a produção, a produtividade e a qualidade, mas sem concorrência; investir mas sem recompensa para investidores privados, que assim são substituídos por meros apparatchiks com essa função; e, sobretudo, conservar a liberdade amputando-a da económica, para garantia do que eliminam todas as outras. Tudo para assegurar a igualdade material entre as pessoas, no que fatalmente também falham porque a burocracia que instalam para reprimir em permanência o ressurgimento da dissensão e garantir a coerência do edifício acaba por reservar para si a melhor parte do bolo.

 

Mas num ponto quase todos os economistas são iguais, e esse é a suficiência com que, numa realidade que nunca abarcam completamente, isolam meia dúzia de gráficos, meia dúzia de números, meia dúzia de estatísticas, e daí ilustram uma tese que, por vir embrulhada em números, aparenta ser científica.

 

Neves é nisto pior ainda, se possível, que os seus colegas, porque exibe permanentemente o sorriso da sua imensa satisfação com a argúcia com a qual julga ter sido dotado pela Natureza (o próprio sem dúvida achará, dada a sua condição de teólogo católico amador, que foi Deus que se deu a esse trabalho), que verte na escrita sob a forma de qualificação como "palermices" de opiniões diferentes das suas.

 

Que diz então o preclaro? Que o consulado de Cavaco foi um tempo de leite e mel, decerto porque (adivinhamos nós) o tomou a ele, Neves, como consultor, em mais uma manifestação concreta do génio que aquele estadista tinha para seleccionar colaboradores. "Todos sabem, por exemplo, que foi no consulado governamental de Cavaco que a nossa agricultura, pesca e indústria foram desmanteladas a mando de Bruxelas" - diz, com fina ironia.

 

Todos? Os comunistas sem dúvida, frei Anacleto Louçã e as suas freirinhas do BE também; e decerto no PS, dos milhares de economistas que a seita acolhe e a muitos dá emprego - também a maior parte, seguramente. Mas daí para a direita as memórias que se guardam de Cavaco são a das privatizações, da abertura da televisão à iniciativa privada, da reforma fiscal e, sobretudo, da preparação do país para a adesão ao Euro.

 

Memórias boas, em parte. Mas também da consagração do dirigismo do Estado na economia (completo com o estatuto das carreiras dos funcionários públicos, uma bomba que Cavaco plantou, segundo Cadilhe veio a confessar muito mais tarde) e a escolha da Europa como o alfa e o ómega de todas as políticas - Cavaco nunca deixou de ser o deslumbrado que sempre interpretou o destino ideal do país como uma tradução em funcionalês do que de melhor se faz lá fora - para usar as expressões a que recorria no seu dialecto.

 

Sobre isto Neves diz nada, porque o destino traçado naquela época lhe parece ainda hoje inevitável e desejável. E compara, Deus lhe perdoe, o desempenho cavaquista na gestão dos fundos de coesão com a que fizeram os seus sucessores - como se ser melhor do que medíocre fosse necessariamente bom e não medíocre +.

 

Podia comparar com alguma época em que, sem fundos de coesão, sem défices, sem aumento sério do endividamento, e com moeda própria, a economia tivesse crescido muito mais, e nem precisava recuar muito - escusava de pesquisar no ridículo livrinho que escreveu há anos, que se intitulava, com característica petulância, "Dois milhões de Anos de Economia".

 

Triunfante, pergunta: "Deveríamos ter recusado a adesão à moeda europeia, ficando desligados do mercado único? E qual é a tal vantagem excelente de não ter o euro? Seria bom que o Estado continuasse a roubar-nos regularmente, desvalorizando o dinheiro que temos no bolso para beneficiar empresas exportadoras ineficientes? Querem eles que os trabalhadores e consumidores sejam habitualmente enganados, com salários mais baixos e preços mais altos, mascarados por moeda fraca? A desvalorização interessa muito a certos grupos de pressão, que influenciam os opinantes, mas não à população nacional, que bem sofreu nos anos da sua vigência".

 

Segundo Neves, a Noruega, a Suíça, que não estão na União Europeia, ou o Reino Unido ou a Dinamarca, que estão mas têm moedas próprias, não têm acesso ao Mercado Único. Trata-se de simples tolice: os que não estão na UE têm acesso via tratados; e os que estão nem de tratados precisam porque Europa do Euro e Mercado Único não são a mesma coisa.

 

Quanto às vantagens de não ter o Euro, faz tempo que deixaram de ser os comunistas e meia dúzia de eurocépticos (por cá; que noutras paragens sempre abundaram) a achar o passo da adesão desastroso e as consequências aterradoras; e pelo contrário é hoje relativamente pacífico que foi uma calamidade, que, segundo uns, urge corrigir com o reforço da integração das políticas orçamentais e financeiras e, segundo outros, assustados pelo abismo da saída, que será melhor não fazer nada, porque esses reforços não são populares e, adiando, sempre a realidade, qualquer que seja, se imporá.

 

Sem Euro, é mais do que provável que teríamos tido tanto ou mais défices do que tivemos, e governos de esquerda, e pântanos, e tangas. Mas o endividamento antes da falência nunca teria atingido a estratosfera a que chegou por trás da cortina do Euro, nem o desvio do investimento para sectores de bens não transaccionáveis teria sido o que foi, nem o desemprego tão elevado e tão duradouro, nem as empresas exportadoras eficientes teriam deixado de aparecer.

 

As empresas exportadoras, sobre as quais tudo o que Neves sabe é de oitiva, e da leitura de colegas que constroem a moda do pensamento na Academia, devem ter a sua vida dificultada, porque isso enrijece-as, no caso de não morrerem, diz o iluminado. Os governos seguintes acharam precisamente o mesmo e por isso nunca deixaram de lhes pendurar pedras fiscais, regulamentares e burocráticas ao pescoço, tudo a compensar, em casos contados, com subsídios - moda que Cavaco inaugurou. Ramalho Ortigão achava o mesmo, aplicado às criancinhas, mas para o ramo dos banhos gelados nas manhãs de Inverno, com pequeno-almoço no fim.

 

João César das Neves podia, discretamente, refugiar-se na prognose do desastre da saída e ir adiantando maneiras de lidar com a situação - é o que fazem os melhores dos seus colegas, como Vítor Bento.

 

Mas não, prefere dizer as merdas que diz. Os meus amigos e correligionários aplaudem.

 

Fazem, quase todos, parte do clube dos reflexos condicionados - se o coelho sai daquela lura é porque é bom. Eu não.

publicado por José Meireles Graça às 01:16
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Segunda-feira, 14 de Março de 2016

Coisas de gringos

Partilho com Trump a aversão ao palavreado politicamente correcto, e mesmo detestando-lhe o prodigioso mau gosto no penteado, nas toilettes, nas casas, nos discursos e nos debates, sinto uma reflexa simpatia pelo homem: se a esquerda tão fervorosamente o odeia alguma coisa deve ter de bom; e se com tanta facilidade diz ao que vem, mesmo que sejam ideias peregrinas e impraticáveis como o muro para impedir a migração para norte de hispânicos, o bloqueio à entrada de muçulmanos e as taxas delirantes sobre a importação de produtos chineses, pode bem ser que os políticos de outras paragens aprendam que a língua de pau deixa os eleitores em casa.

 

Se os problemas que os americanos comuns têm não se resolvem com soluções simplistas, ainda menos se resolvem com o tributo aos mandarins do pensamento económico (que partilham a suficiência científica, ao mesmo tempo que propinam soluções diferentes para os mesmos problemas), com a treta calculista de quem não se quer comprometer com coisa alguma, e com a negação de problemas reais, como a diluição de um conjunto de valores anglo-saxónicos, que fizeram a América grande, num melting pot impossível de quem não quer falar inglês nem adoptar a mesma ética do trabalho.

 

Mas isso são lá coisas de gringos. Que a gente aqui, sensatamente, não se preocupa com as eleições americanas, mesmo que elas possam ter consequências para nós: Portugal, na Europa e no mundo, dança consoante a música, mas não escolhe nem a partitura nem a orquestra, e portanto o que tiver de ser - será.

 

Preocupamo-nos tão pouco, aliás, que o que está a dar, entre nós, são os bons sentimentos de solidariedade com os pobres e um arreigado amor pela igualdade, que serviram para fazer o governo que está, e o afecto incondicional que Marcelo nutre por todos os inscritos nos cadernos eleitorais, que serviu para o levar onde chegou.

 

Durante as eleições, que se saiba, nas mais recentes ou em qualquer das outras, não há notícia de um embaixador português se ter pronunciado sobre os candidatos da sua preferência. Pode imaginar-se o nosso embaixador nos EUA a declarar ao Luso-Americano Newspaper (é pouco provável que um jornal de grande divulgação fizesse uma tal entrevista): ai o dr. Passos é um neoliberal empedernido, não me parece que um tal discurso vá apelar ao eleitorado?

 

Não pode. Nem que a dra. Ana Gomes fosse embaixadora. Até ela, presumo, saberia que representa o país, não uma certa facção do país.

 

Pois o embaixador dos E.U.A. em Lisboa não sabe: o homem diz que o "discurso fraturante e intolerante não vai apelar ao eleitorado”, referindo-se a Trump. E acrescenta, não vá escapar-nos quais são as suas preferências, que, ao centrar-se no tema das desigualdades económicas, Sanders “trouxe um assunto e uma mensagem importantes e ele fê-lo de uma forma muito responsável e razoável”.

 

Olhe, senhor embaixador, um dos defeitos de Trump é não ter sentido de estado; e uma das qualidades é ser, ou parecer, sincero. Vossa excelência partilha-lhe a qualidade, que num embaixador é defeito; e o defeito também.

publicado por José Meireles Graça às 03:25
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Quarta-feira, 9 de Março de 2016

O discurso do Rei

Foi bom o discurso de Marcelo: nele não figuravam recados, não lançava farpas (senão a referência à “mão invisível”, possivelmente uma velada crítica ao suposto liberalismo da defunta coligação, pecha da qual a pobre nunca sofreu), não apontava o dedo, não continha frases jesuíticas (como os de Eanes, para simular a profundidade que não tinha), não atacava enviesadamente os partidos que não o apoiaram (como Soares, Sampaio e Cavaco fizeram), não foi revanchista (como Cavaco, no segundo discurso de tomada de posse), não estava redigido no abominável economês cheio de lugares-comuns com que Cavaco entediava a Nação, nem no palavreado supostamente culto e progressista com que Sampaio se imaginava líder de causas, nem na prosa chula de Soares, cultivando cuidadosamente a função de contrapoder, ao serviço dos verdadeiros valores de Abril dos quais cria ser fiel depositário.

 

Se quisesse escabichar defeitos, a expressão "... para cada Portuguesa e para cada Português que vai o meu primeiro e decisivo pensamento..." concede demais ao politicamente correcto da igualdade entre os sexos; e um "arquipélago com três vértices – Continente, Açores e Madeira" não parece uma imagem excessivamente feliz - os arquipélagos têm uma tendência muito marcada para terem vértices apenas na pintura cubista.

 

Mas, depois de Cavaco, qualquer texto parece saído da pena inspirada do Padre António Vieira; e o inegável à-vontade de Marcelo a navegar com mestria no mar das cerimónias públicas terá por certo agradado à legião imensa, e para já crescente, dos seus eleitores.

 

A única nota negativa deram-na o PCP e o BE, ao não se levantarem para aplaudir o discurso. E as opiniões divergem: uns dizem que o fizeram para aproveitar qualquer pretexto que não tenha consequências para marcarem diferenças em relação ao PS; e outros que aquela gente não tem sentido das proporções, nem respeito pelos rituais da democracia, nem simples boa educação - sou um dos que isto acha.

 

Rebrilhando de gordura e satisfação, o PM Costa declarou (cito de memória) que foi um discurso em que todos os portugueses se podem rever.

 

Pois foi - como deve ser o discurso de um rei constitucional.

 

Sucede todavia que a recente campanha foi para eleições presidenciais, não para um referendo à restauração da monarquia.

 

O Presidente da República tem competências políticas que excedem em muito as de um rei constitucional, e será chamado a exercê-las. Ao fazê-lo, não pode agradar a todos os portugueses, porque estes, em todas as matérias de relevo, têm o hábito detestável de terem opiniões várias, e até opostas. Na campanha, Marcelo disse que sim, não, e antes pelo contrário - disse, em resumo, não me comprometam, e com isso ganhou.

 

Ganhou para fazer o quê? Não sabemos.

 

Por mim, que não sou deputado, e não estou portanto em circunstâncias de ter que fazer o que a boa educação manda, guardo o meu aplauso para quando o Presidente o mereça. Suspeito que vai ganhar bolor.

publicado por José Meireles Graça às 23:38
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Sábado, 5 de Março de 2016

Sexo, asneiras e bacalhau

As mulheres, hoje, quase nunca sabem cozinhar, digo-o como quem enuncia um facto, não como quem quereria que o tempo voltasse para trás, senão nem precisava de sair do meu grupo de amigas para ter que pôr caneleiras e capacete.

 

A razão é simples: a Grande Guerra provou que, no mundo do trabalho, elas, que ficaram a substituir a carne para canhão que foi para as trincheiras, se desenrascavam igualmente bem, o que a II Guerra confirmou. E faltava assim apenas a pílula, que as libertou de um rancho de filhos, para, no início da década de 60, estarem reunidas as condições para darem um pontapé na dependência económica dos maridos, na escravatura das tarefas domésticas e na sociedade patriarcal.

 

Houve as sufragettes, a luta pelo voto, outras coisas muitas ainda, hoje há quem queira discriminações positivas a favor da igualdade entre os sexos no que toca a salários e postos de trabalho (uma reivindicação tola porque assenta no pressuposto de que os patrões são idiotas que, podendo contratar mulheres baratas, preferem contratar homens caros), no que toca a lugares no aparelho político, no comando das empresas, nos outros lugares de chefia, na educação das crianças e em todas as situações e estatutos em que estejam, ou pareçam estar, sub-representadas, condicionadas na sua liberdade ou menoscabadas nos seus direitos.

 

É natural que o pêndulo da história, que tanto tempo esteve inclinado para um lado, se incline agora para o outro, e não será decerto nos meus dias que se encontrará um ponto de equilíbrio; e, de resto, os exageros reivindicativos a que se assiste pela malta das causas, predominantemente de esquerda, soam com frequência ridículos, quer por confundirem igualdade de direitos com negação de diferenças (que, graças à divina Providência ou às leis da Biologia, existem), quer por, na maior parte do mundo, e desde logo nas sociedades muçulmanas, nem sequer a igualdade dos direitos dos dois sexos perante a Lei estar assegurada.

 

Mas adiante, que este post não é sobre o movimento de libertação das mulheres, nem sobre sexismo, nem sobre o uso ou não de soutiens e outras matérias controversas e apaixonantes.

 

Do que eu quero falar é de bacalhau.

 

Dantes, cada região tinha a sua tradição culinária, e o depositário principal dessa tradição era a dona de casa, que passava o segredo da confecção às filhas, que o perpetuavam. Os homens da casa serviam de provadores, confirmando, pela voracidade do apetite, o apuro do prato, ou pelo desabafo irritado - este bacalhau está uma pilha! - a dificuldade da demolha. Com senhoras da alta, de fino trato, e que por isso não faziam a ponta de um corno, a tradição passava pela cozinheira, mulher do povo, e o resultado era igual - alguém aprendia.

 

A tradição caseira está moribunda, e a única possibilidade de sobreviver passou para o restaurante. E lá poderá talvez, se as crianças aprenderem a gostar (a parte principal do gosto, e a mais duradoura, fixa-se nos verdes anos), perdurar se a cozinha de autor, a internacional, a estrangeira, a fast e a do empreendedor que quer enriquecer com uma cadeia de lixo alimentar moderno não a sufocar.

 

Isso é uma das condições, e das incógnitas. Mas há outra, que é a da qualidade do bicho propriamente dito. Fosse eu adepto da intervenção do Estado e recomendaria a preservação das formas tradicionais da preparação, antes da comercialização, através de gorda despesa pública, como se faz com o lince da serra da Malcata, neste caso propinando subsídios através de um qualquer Instituto para a Preservação da Seca do Gadídeo.

 

Mas não sou. E nisto como noutras coisas ao Estado peço que não estrague, que já faz muito.

 

É por isso que não se pode ler esta notícia sem indignação: O pescado em causa encontrava-se exposto ao meio ambiente, sobre passadeiras de redes para seca, não cumprindo assim, os requisitos legais de armazenamento e transformação, conforme estipulado em regulamento próprio.

 

Ó deuses, já não nos bastava essa organização terrorista que dá pelo nome de ASAE, agora a GNR compete no ramo do fascismo higiénico? Há um regulamento próprio para a seca do bacalhau, é? E o crime consistia em "estar exposto ao meio ambiente"?

 

VV. Ex.ªs puseram este escarro na tradição, no senso e no gosto na vossa página na Internet, sob a epígrafe "UMA FORÇA HUMANA, PRÓXIMA E DE CONFIANÇA".

 

Humana sê-lo-á, na medida em que a estupidez o é; próxima também, porque, por causa do trânsito automóvel, está por toda a parte; agora, de confiança? Da confiança dos louros legisladores que, em Bruxelas, vão sufocando toda a diferença, sem dúvida; da legião de cobardes, indiferentes, oportunistas, ignorantes e inconscientes que transpõem acriticamente a legislação, também; mas, dos apreciadores de bacalhau - não.

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publicado por José Meireles Graça às 14:09
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Vícios privados, públicas virtudes

"O objetivo é reduzir a sinistralidade".

Então não é? A prova do amor a este nobre objectivo é que "o sector inspeciona uma média de 5,7 milhões de veículos anualmente e factura cerca de 170 milhões. O dirigente associativo diz que todos os centros fizeram reconfigurações de zonas específicas que estarão concluídas neste 1º semestre".

 

Um sector dinâmico, portanto. Mas nem tudo são rosas: há casos em que “temos dois centros no mesmo local e isso não é vantajoso para a actividade e vamos manifestar preocupação à tutela”, diz ainda Paulo Areal.

 

Realmente, Paulo mede, com louvável contenção, as palavras - que, se eu fosse proprietário de um desses locais onde teoricamente se verificam as condições de segurança dos veículos, veria com indignação a circunstância de ter um concorrente por perto, por a dignidade do estabelecimento se ver atingida: quem leva a sério um serviço obrigatório num estabelecimento sem filas de espera, sem marcações, e que o cidadão pode trocar por outro se achar que lá é mais bem servido?

 

O número elevado de aberturas previstas para novos centros, embora as margens do sector tenham descido substancialmente, vai criar "instabilidade", acrescenta o presidente da ANCIA (Associação Nacional de Centros de Inspeção Automóvel), que nos interpela, na fotografia que ilustra o artigo, com olhos argutos e inegável distinção. E, também aqui, tem razão - uma manifestação dos trabalhadores, armados de chaves inglesas, contra o encerramento de um Centro, é uma perspectiva aterradora, que deve ser evitada aumentando as margens do negócio. Previdente, adianta soluções: "Todos os motociclos acima dos 50 cm3 deveriam ser sujeitos a inspeção periódica. O objetivo é reduzir a sinistralidade".

 

Está coberto de razão. Porque se o legislador decidiu que "os motociclos acima dos 250 cm3 vão passar a ser sujeitos a inspeção obrigatória, tal com os ligeiros e os pesados na atualidade" não se percebe por que razão os motociclos com cubicagem inferior ficarão isentos - um veículo de duas rodas circulando a 20, ou 40, ou 80 km à hora é igualmente perigoso qualquer que seja a cilindrada.

 

Daí que Paulo, não lhe tendo escapado o escândalo dos reboques abaixo dos 3500 Kg e ainda os triciclos e quadriciclos acima dos 250 cm3, os tratores agrícolas e as máquinas industriais, tudo equipamentos que continuam isentos, deixou passar as bicicletas, que se estão tornando uma verdadeira praga e podem, no caso de os proprietários não conservarem os travões e os pneus nas adequadas condições, causar grandes danos à segurança rodoviária.

 

O caso das máquinas industriais é particularmente gritante: se não estiverem em boas condições podem não produzir os resultados que delas se esperam, facto do qual os responsáveis dos estaleiros não se apercebem, ao contrário dos inspectores da ANCIA, com a devida formação em retroescavadoras e martelos vibratórios.

 

Claro que, de longe em longe, algum estudo independente demonstra que não há qualquer garantia de que defeitos graves sejam detectados nas inspecções; que o estado de conservação dos veículos tem muito mais a ver com condições económicas dos proprietários do que com inspecções; e que não há nenhuma demonstração de que haja um ganho significativo para a segurança rodoviária em inspecções que têm uma componente marcadamente fiscal e obedecem a normas por vezes arbitrárias, quando não simplesmente cretinas.

 

Mas lá que Paulo faz bem o seu papel, que é defender o interesse dos seus associados a expensas dos cidadãos, embrulhando esse interesse na retórica da defesa de bens públicos - faz. E que o governo de Costa é o interlocutor ideal para este género de golpada - é.

 

publicado por José Meireles Graça às 13:14
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Quinta-feira, 3 de Março de 2016

O estranho caso dos perfis turcos

Capítulo I

 

Bom dia D. Fulana,

 

Conforme combinado, por favor notar abaixo valor de despesas à chegada relativas à carga proveniente da Turquia:

Despesas à chegada: 272,50€

In/Out Fee Warelog: 48,50€ + Iva

Caso haja interesse da v/parte em que tratemos também do despacho e entrega, podem notar abaixo os valores a que nos propomos para estes serviços:

Despacho Importação: 125€ + Iva

Entrega: 60€ + Iva

Aguardamos pela v/ confirmação.

 

Capítulo II

Bonjour Jonathan.

 

Voilà ce que va couter, ici-bas, l'importation de Turquie - un total de 559,71€, juste pour impôts et tracasseries administratives. La prochaine fois faudra penser à autre chose, l'État Portugais est un ogre.

 

Capítulo III

 

Pourquoi?!
Envoyé de mon iPhone

 

Capítulo IV

 

Bonjour Jonathan.

 

La valeur de la marchandise xxxxx est de 1.060,16€  (plus 340,00€ de coût de transport payé jusqu'à Porto).

La valeur totale à payer pour le dédouanement et transport jusqu'ici est de 559,71€.

Cela représente une augmentation du prix de 52,8%.

Désolé mais je ne sais pas répondre à ta question, faudrait demander à ces messieurs du gouvernement. Mais je suis convaincu qu'eux aussi ne sauraient pas répondre, sinon ils ne seraient pas au gouvernement.

 

José.

 

Capítulo V

 

̶  Allo, Jose?

̶  Oui Jonathan, bonsoir.

̶  Dis, cette histoire des profils turques est de la folie, la prochaine fois je peux en importer et te les envoyer, ici on ne paye rien de la sorte.

̶  Il vaut mieux, en effet, je t'avais prévenu qu'ici il vaut toujours mieux passer au large de l'État.

̶  Tu éxagères, mais même si tu as raison il y a le beaux temps à Fafe. Il fait chaud chez toi, aujourd'hui?

̶  Non, il pleut et il y a un brouillard déprimant.

̶  Ah.

 

---------------------------------

Nota: Este tipo, que aprecio muito, vai provavelmente comprar a empresa, não lhe escondo nada e julga que exagero.

publicado por José Meireles Graça às 12:11
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