O Pacheco Pereira, antigo cão de fila do Durão Barroso que, between jobs milionários arranjados pelo Durão Barroso no Parlamento Europeu e na UNESCO, se prestou a trabalhos sujos como defender a invasão do Iraque, descobriu com as nomeações do Durão Barroso para a Goldman Sachs e do Paulo Portas para a Mota Engil que há políticos que "podem matar a mãe, a família toda (que foi de alguma maneira o que fizeram), que há-de haver sempre quem os defenda.".
Ah, pois há! Pagando bem, aparecem sempre defensores.
Há coisas que só consigo publicar com um grande constrangimento, por serem tão elementares e evidentes que os leitores podem suspeitar que os tomo por tontos ao passá-las a escrito. Mas ao longo de tempo tenho verificado que, apesar de serem elementares e evidentes, há muitas pessoas, mesmo de grande craveira intelectual, incluindo lentes de Coimbra, que parecem não ter capacidade de as compreender. E resigno-me a publicá-las, pedindo desde já aos leitores que estão fartos de as compreender que não se sintam ofendidos por lhes estar a repetir coisas tão banais. É isto:
Fumar provoca o cancro.
O cancro mata, é uma doença grave com elevada taxa de mortalidade, e tanto mais elevada quanto menos precocemente for detectado e curado.
Os tratamentos do cancro são todos muito agressivos para o organismo e penosos, e, em muitos casos, o sucesso é menos que garantido. Os cancros curam-se com recurso a quimioterapia, radioterapia ou cirurgia. Não se curam com férias nas termas. E, acima de tudo, não se curam continuando a fumar.
Quando, a um doente que conseguiu controlar à custa de tratamentos de quimioterapia que implicaram grande sofrimento um cancro que tinha apanhado por fumar muito, lhe aparecem curandeiros a dizer que o médico foi malvado por lhe ter prescrito quimioterapia, que a quimioterapia foi mal aplicada e o fez sofrer desnecessariamente, sugerindo que havia alternativas mas omitindo-lhe que as alternativas eram a radioterapia ou ir à faca, como se pudesse perfeitamente ter sido tratado com uma pacata passagem pelas termas, que obrigá-lo a abandonar os cigarros foi uma violência desnecessária e "passar para além da troika", estão a aldrabá-lo.
E, desde o notável consultor da ONU Artur Baptista da Silva, ídolo vivo dos jornalistas que se destacam na divulgação das alternativas à quimioterapia, a ex- colaboradores ou assessores de organismos internacionais, a legiões de investigadores, economistas e sociólogos das universidades portuguesas, onde há até observatórios de crises e alternativas, não têm cessado de aparecer relatórios técnicos a apontar e mesmo quantificar os prejuízos que a quimioterapia causou ao doente.
Se o doente for burrinho, cansado de sofrer e cheio de vontade de acreditar que há alternativas à medicina mais agradáveis, vota nos curandeiros e manda o médico para a oposição. Volta a fumar, e que bem que lhe sabem e lhe fazem as nicotinas e alcatrões nos pulmões? sabe que qualquer improvável recaída se deverá a motivos externos, o Brexit, as agências de rating, crises nos bancos americanos, ou simplesmente a maldade de Bruxelas, e que poderá ser resolvida recusando a doença, batendo o pé à medicina, com uma simples passagem pelas termas. Está de ver que, quando a recaída vier, e eu não disse "se" a recaída vier, o curandeiro que estimulou o regresso ao tabaco e a tratava com férias nas termas desaparece, e o doente chamará de novo o malvado do médico que antes encheu de impropérios por tê-lo feito sofrer com os tratamentos. Na esperança que a doença ainda seja curável, o que é menos que certo, e que a quimioterapia volte a resultar sem necessidade dos tratamentos ainda mais violentos, o que ainda é menos que menos que certo.
Se o doente conseguir resistir à recaída, com ainda mais sofrimento que no primeiro tratamento, é mais do que certo que os curandeiros lhe aparecerão de novo a denunciar a crueldade do tratamento e a reiterar a existência de alternativas. Se, dessa vez, o doente não partir os cornos aos curandeiros e se deixar de novo enganar por eles, é mesmo porque merece ir morrer longe.
Matutinamente tive tempo para ler as 101 páginas do Relatório que a imprensa nacional e internacional tendenciosa diz ser uma grande crítica à intervenção do FMI em Portugal. Varoufakhis embadeirou em arco, os jornais portugueses falaram em "Mea Culpa do FMI", todos os nossos esquerdistas foram unânimes em referir o aspecto crítico para o FMI.
Ora bem, da leitura do texto e anexos, o que se revela é que o documento é, depois do programa da Troika para o PAEF, talvez o melhor documento elaborado sobre a situação de Portugal. Considera, com grande vantagem para o enquadramento, os anos que antecederam a necessidade do programa e explica muito bem os motivos para a não satisfação dos requisitos iniciais do PAEF.
Se é uma grande crítica, o Relatório, é-o sobretudo da forma como foi implementado o programa e das dificuldades que a cultura portuguesa e preparação das suas gentes criaram ao ajustamento. Por diversas vezes menciona o Tribunal Constitucional para o falhanço na redução da despesa.
Espero que todos os esquerdistas que até agora foram tão lestos a partilhar as notícias dos nossos paupérrimos media sejam igualmente velozes na leitura e interpretação do paper que deveria ser lido por todos quantos se interessam por Portugal. E não vale apenas pela história recente, mas também para percebermos que os riscos que nos levaram ao PAEF permanecem e estão aí de novo a agravar-se.
Fiz um resumo com screen-shots do relatório em 4 páginas com os aspectos que achei essenciais para poupar a leitura das 101 páginas. Está, aqui.
O link para o relatório completo, aqui.
Boa leitura.
A decisão da Comissão Europeia está redigida em anglo-economês, um dos dialectos em uso nas instâncias da União, e requer portanto um esforço de tradução, primeiro para inglês e depois para português. A esta maçada não se dá geralmente a opinião publicada, que traduz directamente para luso-economês, uma prática que dá origem tradicionalmente a umas grandes moxinifadas no entendimento das pessoas normais. Torna-se assim necessário um trabalho abnegado, qual é o de verter o palavreado original para termos que aquela parte do eleitorado - estimada em menos de 10% - que presta atenção a estas coisas possa alcançar.
É este o meritório escopo a que me proponho, transcrevendo em itálico frases ou parágrafos respigados com critério e, a seguir, oferecendo uma tradução livre. A final, tecer-se-ão ainda algumas considerações decerto percucientes sobre o que o futuro próximo nos guarda.
"... additional consolidation measures with an estimated impact of 0.25% of GDP in 2016 are considered necessary, also in view of the structural deterioration identified in the Commission 2016 spring forecast".
O Orçamento que fizeram era uma grande merda, estava-se mesmo a ver que nos vossos pressupostos só acreditava o jornalista Nicolau, o filósofo Pacheco e o deputado Galamba. À previsão do cenário chamamos "deterioração estrutural" para disfarçar, a ver se ninguém se zanga com Centeno - não achamos positivo para a democracia que a opinião pública se dê conta de que se pode, num Estado da União, ser ao mesmo tempo ministro das Finanças e patarata.
"These savings would need to be complemented with other measures of a structural nature which could focus on the revenue side aiming at increasing the yields of indirect taxation by broadening the tax base and reducing tax expenditures. One way to achieve this could be by adjusting the still broad use of reduced VAT rates".
Como, hotelaria, medicamentos, bens de produção agrícola e sabe Deus que mais a 6%, quando a taxa normal é 23%?! Não pode ser, baralhem essa tabela toda e voltem a dar, de modo a que a receita cresça coisa que se veja. A gente, na realidade, não quer saber dos detalhes, e bem sabemos que aquela comunistada no vosso parlamento é capaz de rabiar. Portanto, se aumentarem a taxa para 24 ou 25% também serve, eles agora já não acham os impostos indirectos uma injustiça. Quanto a reduzir despesas não estamos a contar com isso, que não ignoramos do que a casa gasta.
"In addition, Portugal should... further improvements in revenue collection and expenditure control may significantly contribute to achieving..."
Bom, essa espécie de país é um nó cego, sabemos que a probabilidade de darem com os burros na água é muito forte, vejam lá se endrominam o vosso eleitorado para pagar mais sem se aperceber e fazem uns cortezinhos que não deem muito nas vistas.
"Portugal should present a clear schedule and implement steps to clear arrears fully and improve efficiency in the health care system, to reduce the reliance of the pension system on budget transfers and to ensure fiscal savings in the restructuring of State-owned enterprises".
Não pensem que não estamos a topar o que se passa com a vossa dívida empurrada para debaixo do tapete; temos muita admiração pelo vosso Serviço Nacional de Saúde, mas ainda teríamos mais se o pagassem do vosso bolso; vejam se arranjam maneira de conservar o voto dos reformados sem cumprir as promessas que lhes fizeram; e privatizem de vez as empresas dependuradas no Orçamento.
"Portugal is requested to submit such a report before 15 October 2016, in parallel with its 2017 Draft Budgetary Plan".
Ora bem, para já a ocasião não é oportuna para vos dar uma martelada na cabeça: a gente bem queria, mas aquilo na Espanha está uma tourada, na Itália um minestrone, na França uma bouillabaisse, e nós por cá estamos com uma headache que só vendo. Vamos a ver se daqui a uns meses já haverá condições para vos soltarmos o Dijsselbloem.
"By the same deadline, Portugal should also present an economic partnership programme in accordance with Articles 9(1) and 17(2) of Regulation (EU) No 473/2013 of the European Parliament and of the Council of 21 May 2013. The economic partnership programme should describe policy measures and structural reforms that are needed to ensure an effective and lasting correction of the excessive deficit, as a development of the national reform programme and the stability programme, and fully taking into account the Council recommendations on the implementation of the integrated guidelines for the economic and employment policies".
A gente não era para pôr isto aqui, Moscovici até disse que não convém falar muito grosso porque lá no rectângulo dele as coisas também não andam muito bem, como também na bota italiana e no resto da Ibéria. Mas lembraram-lhe que se pode sempre salvar a face em fazendo um programa a fingir - dá-se o caso de que o PM português, por feliz coincidência, só os sabe fazer dessa variedade. E o Moscovici anuiu.
"Portugal shall stand ready to adopt further measures should risks to the budgetary plans materialise. Fiscal consolidation measures shall secure a lasting improvement in the general government balance in a growth-friendly manner".
Esta parte saiu um bocado cómica (should risks to the budgetary plans materialise, ahahah: não devia ser should, devia ser when), mas a ideia era dar a impressão de que a Comissão acredita que, com aumentos de impostos certos, cortes de despesa incertos, e comunistas associados ao governo, pode haver investimento e crescimento.
Há muito mais no papel mas é mais do mesmo, pelo que, agora que se traduziu, chegou a altura de interpretar o texto e imaginar as consequências. E as variáveis são simples: i) A Comissão não acredita que Costa vá cumprir nem sequer a maior parte deste programa, mas admite que tente cumprir uma parte; se em Outubro a situação na UE não se tiver alterado, jogar-se-á a mesma parte gaga que foi jogada agora, empurrando o problema, como agora, com a barriga, para a frente; ii) Costa tentará impingir às meninas do BE, e às feras do PCP, o que puder destas exigências, mas na realidade, tirando o aumento de impostos, não conseguirá quase nada; iii) Ninguém sabe o que se passa no PCP, por causa da tradicional opacidade das paredes de vidro, mas não faltará por lá quem ache que este negócio com o PS começa a mostrar, na prática, que o que havia a ganhar - poder da CGTP, bloqueamento das privatizações e das reformas do Estado, reversões - está ganho. E no processo foi ainda preciso assistir ao crescimento dos revolucionários de café que, aliás, no esforço de tornarem o PS verdadeiramente de esquerda, se mostram dispostos a embarcar na aventura de uma coligação pós-eleições; iv) Lá para mais perto do fim do ano, portanto, há boas probabilidades de Costa registar outra grande vitória sobre a UE, ou ganhar eleições porque o PCP fez cair o governo.
E Marcelo? Até agora o eleitorado divide-se entre a esmagadora maioria que lhe aprecia as vacuidades e a minoria que as acha apenas tácticas. O sorriso alvar que traz permanentemente afivelado, por sua vez, faz nascer a suspeita, num número escasso de cidadãos, que seja efectivamente o idiota que parece.
Tudo hipóteses, que na equação falta meter o BCE e a agência DBRS, o Brexit, os bancos, e a Espanha, e a Itália, e Trump, e um sem número de outras coisas. O que se vai passar só Deus sabe.
Nós, de seguro, apenas temos que Costa, se for de vitória em vitória, será até à derrota final - dele e do país.
Há uns meses, um tal de Marco Capitão Ferreira fez um tuíte onde apresentava um "relatório do FMI" que cascava forte e feio nas políticas austeritárias que o FMI tinha ajudado a implementar nos PIGS e nas recomendações para a gestão da crise italiana.
Duvidando, fui ver quem assinava: o autor era um jovem italiano que tinha feito um estágio no FMI e durante uma conferência no FMI apresentou um "working paper" a confirmar a sua visão ideológica.
Vai dai, o Marco, rapaz sagaz mas preguiçoso e ávido de publicar ideias que complementem e confirmem a sua posição ideológica, anunciou que aquilo era uma "posição oficial do FMI".
Pois não era, como uma rápida pesquisa no Google e no Linkedin confirmou.
Tal como não é o relatório que a imprensa pôs a circular hoje sobre os PIGS. É uma avaliação de um grupo de 3 pessoas que não trabalham no FMI nem o vinculam com as suas opiniões. Na primeira página diz assim:
Muita calma. Ainda não é desta que o FMI, austeritário como sempre foi nos muitos ajustamentos estruturais que já coordenou (grande parte com sucesso) se contradiz.
A nós, vítimas da imprensa e dos tubarões das redes sociais, cabe-nos estar com duas pernas atrás e não crer em metade do que dizem.
O link para o tal relatório, aqui.
A posição oficial do FMI está, aqui.
A publicação pela Direcção-Geral do Orçamento da execução orçamental do primeiro semestre de 2016 é uma boa notícia para toda a gente.
Para os que sabem distinguir que políticas públicas são amigas dos agentes económicos e estimulam o investimento, o emprego e o crescimento, e sabem ler os sinais que chegam da economia e são cada vez mais claros, e percebem que isto é um embuste, e até já conhecem alguns dos truques usados no embuste, como o atraso nos pagamentos, nos reembolsos e nas transferências, é boa notícia. Porque se, como eles estão convictos, isto é um embuste que mais tarde ou mais cedo se vai tornar impossível de continuar a dissimular, também sabem que há quem conseguiu e conseguirá de novo consertar as contas, mesmo que à custa de ainda mais sacrifícios para os portugueses e ingratidão com eles do que durante o conserto anterior. E se isto correspondesse à realidade seria ainda melhor notícia, porque apenas teriam que rever as suas noções de políticas públicas amigas da economia sem sacrifícios adicionais para os portugueses que, actualmente, classificam no domínio dos milagres.
Para os que não têm essa noção mas querem acreditar que as políticas do governo são, além de agradáveis porque lhes devolvem rendimentos e obrigam os ricos a pagar a crise em vez deles, as boas, isto é uma notícia esplêndida, que lhes oferece o conforto de confirmar aquilo em que acreditam por ser mais confortável acreditar. E puxa pelas sondagens.
E para os que sabem que isto é um embuste e participam nele também é uma boa notícia, porque lhes dá tempo de o manterem de pé até, eventualmente, conseguirem provocar uma crise política e a antecipação de eleições antes de ele ser desmascarado, e enquanto as sondagens lhes são favoráveis.
Para os portugueses em geral a notícia não é boa nem é má, porque as coisas são como são e não como são noticiadas. Se for um embuste, são eles que o vão pagar, se fosse verdade eles teriam finalmente um alívio da austeridade que lhes foi imposta quando o governo do José Sócrates gastou o dinheiro até se acabar.
Mas pode ser má, se, comulativamente, for um embuste, se o embuste contribuir para reforçar a popularidade do governo nas sondagens, e se o governo conseguir provocar aleições antecipadas enquanto as sondagens lhe são favoráveis antes de o embuste ser desmascarado pela realidade. Nesse caso, o governo poderia conseguir uma reeleição com uma maioria ainda mais sólida que a actual, que lhe permitisse voltar a governar e manter, durante mais uma legislatura, as políticas inimigas da economia, do investimento, do emprego e do crescimento. A primeira condição é mais do que certa, e a segunda também parece estar a ser. Pelo que o melhor que os que acreditam que se trata de um embuste podem fazer pelos portugueses agora não é denunciar o embuste dando a sua palavra e os seus cálculos contra os do governo. É garantir que o governo não tem qualquer oportunidade nem hipótese de se esquivar a assumir as responsabilidades pelos resultados que a governação está a obter, demitindo-se e provocando a antecipação de eleições antes de a realidade vir ao de cima e revelar o seu embuste e a sua incapacidade para formular e implementar políticas que deixem a economia crescer e proporcionar uma vida mais decente aos portugueses, que vivem dela, e não da retórica nem dos números trocados entre o governo e a oposição.
Ora parece que os partidos da oposição deixaram cedo de apostar na queda do governo e no encurtamento da legislatura, e estão cada vez mais apostados em impedir o governo de fugir antes de enfrentar os reais resultados das suas políticas, mesmo que isso custe, e vai custar, um novo mergulho na crise. Se não em unanimismo, que são partidos muito plurais, pelo menos as lideranças. O que também é uma boa notícia.
Ontem, e ainda hoje para alguns, corria o "facto" de que o doido atirador Ali David Sonboly seria um alemão de extrema-direita. Bastou os media terem feito circular um vídeo onde alguém discutia com Ali e gritava quase ininteligivelmente "Malditos turcos!", para se caracterizar o atirador que saiu da casa de banho do McDonalds a berrar "Allahu Akbar" e a atirar sobre crianças como um fanático direitista.
E os nossos lunáticos progressistas começaram a circular a mensagem na esperança de mais uma vez retirarem os créditos do ataque ao terrorismo islâmico.
Quem alimenta esta desinformação? - Os lunáticos dos nossos media tradicionais infestados de cientistas sociais, "comunicólogos", sociólogos, historiadores, psicólogos e outros "ólogos" sempre desejosos de nos mostrarem como os "factos" são criados nas redacções ao sabor da ideologia dos jornalistas e opinadores.
Para alguém minimamente atento à desinformação sistemática que os media tradicionais promovem, a lógica não batia. Então um radical de extrema-direita, anti-terrorismo islâmico que mata inocentes ocidentais iria matar inocentes ocidentais para protestar contra o terrorismo islâmico? Não será mais lógico que um radical anti-Islão ataque uma comunidade muçulmana na Europa, onde há muitas a viver em segurança, protegidos pelas nossas polícias? Claro que sim. Mas a lógica fica de fora das agendas dos lunáticos progressistas politicamente correctos.
Os doidos atacam o asilo, e os lunáticos querem tomar conta da gestão.
Muito cuidado com o que dizem os nossos jornalistas é mera sanidade mental.
("David", é assim que os media o tratam agora, em acção)
Mais uma sessão do nosso MBA rápido para jovens socialistas que pretendam vir a assumir a pasta da Finanças em governos socialistas, os homens novos do tempo novo, desenvolvido em parceria entre a Universidade de Harvard e a Universidade de Verão do Partido Socialista.
Hoje vou dar uma aula extra-curricular, subordinada a um dos temas mais interessantes que a governação socialista enfrenta sempre, e especialmente no momento actual:
A questão é tanto mais actual quanto o governo e a maioria que o apoia têm accionado todas as alavancas certas para promover o investimento, a criação de emprego e o crescimento económico:
Todas estas políticas são as mais eficazes para promover o investimento, porque toda a gente sabe que trabalhadores mais bem pagos, com mais tempo para o lazer e o consumo, e confiando aos sindicatos a defesa dos seus interesses e dos serviços que prestam ao público conseguem atingir produtividades mais elevadas, sendo mesmo provável que, se recebessem salários equivalentes aos dos trabalhadores alemães e trabalhassem tão poucas horas e tão poucos dias como eles, os trabalhadores portugueses a cozer sapatos seriam tão produtivos como os alemães a fabricar motores de avião. E que, com um ambiente de investimento tão estimulante, os investidores nem se ralam de pagar mais impostos, tamanhos os lucros que terão à mão de semear se investirem.
Só mesmo os neoliberais mais insensíveis são capazes de ter a mesquinhez de duvidar da eficácia destas medidas, com o pretexto de aumentarem os custos de produção unitários e tornarem a nossa economia menos competitiva, destruindo emprego e desincentivando a criação de novos empregos, assim como de aumentarem os riscos de negócio decorrentes da imprevisibilidade da legislação que modela o ambiente de negócios no país, nomeadamente a fiscal ou laboral. Mas o neoliberalismo é apenas um caso de polícia, e não devemos perder o precioso tempo lectivo de uma universidade de elite socialista a discutir as invejas dos neoliberais.
Acresce um factor ainda mais importante e ainda mais estimulante do investimento. Apesar de o caminho para o socialismo estar inscrito há mais de 40 anos na nossa Constituição, temos sido um bocado calões, talvez por culpa do Mário Soares que meteu o socialismo na gaveta, talvez por ter feito as contas, ou alguém que as soubesse fazer as ter feito por ele, e chegado à conclusão que não havia dinheiro para o socialismo, e só desde Novembro último é que estamos finalmente no caminho para o socialismo onde países como, por exemplo, a Venezuela, já chegaram.
Ora, e finalmente chegamos ao problema que pretendemos resolver nesta sessão, com esperança de acessoriamente contribuir para tranquilizar o meu companheiro João Pereira da Silva, a grande questão que temos pela frente é.
E a resposta não podia deixar de ser:
É claro que todos os jovens socialistas deram a resposta certa e estão dispensados de exame. Até à próxima.
Os próximos tempos até o país tomar uma decisão em eleições serão duríssimos.
Passaremos Agosto a carregar baterias para o combate que se avizinha.
Costa não pode permitir-se um resgate enquanto o PS está sozinho no governo. Quanto mais tempo passar mais longe fica a possibilidade de justificar o seu falhanço com as acções de Passos. De um modo ou de outro terão de ser provocadas eleições.
O próximo resgate está à vista em todos os dados económicos e financeiros. A dúvida é quanto ao que resta da almofada financeira de Passos que poderá dar para mais alguns meses (quantos?) de salários de funcionários e pensões. Não tenhamos dúvida que isso será a prioridade. As faltas de fundos para despesa do Estado são evidentes: não há dinheiro para pagar luz e água das escolas, para consumíveis básicos de higiene nos hospitais, pagar subsídios de doença e por risco clínico, os hospitais têm atrasos a fornecedores de mais de 600 milhões de euros.
O Estado está à beira da rotura e se em Outubro terminar o Quantitative Easing e a DBRS nos baixar o rating, teremos de começar a financiar-nos a taxas de 5 - 6- 7%?. O limite no qual Teixeira dos Santos exigiu o resgate a Sócrates.
Costa e Catarina abrirão um confronto público em que os media serão chamados a participar de modo activo. Todos os jornais, canais de televisão e rádios que passaram os quatro anos de Passos a bradar contra a austeridade de Passos e que viram em Costa (ajudaram-no a assumir o poder) liderar, com o Excel de Centeno, a viragem de página, pensa o leitor que agora criticarão Costa? Com certeza que não. A campanha de culpa e responsabilização do PSD de Passos pela falência actual será forte, impiedosa e sem limite de irracionalidade .
Preparemo-nos pois para uma discussão muito violenta onde dificilmente as posições não serão muito extremadas. Com os bloquistas a pedirem referendo ao Euro, sanções para acatar, fundos estruturais para reduzir, PCP perdido, o bloco central de interesses mais uma vez ameaçado pela nova possível chegada de Passos ao poder, teremos o pior espectáculo da baixa política e da manipulação.
Tempos interessantes aproximam-se.
Sempre fui, e sigo sendo, leitor de numerosos blogues de esquerda: há gente manifestamente inteligente que me fascina por, em economia, acreditar em disparates como supor que a existência de ricos é a razão por que existem pobres (e que, portanto, acabando com os primeiros se acaba com os segundos) ou que o capitalismo pode ser depurado dos seus defeitos sem que se lhe eliminem as vantagens; em política, que o Bloco seria capaz de gerir o país sem completamente o venezuelizar, ou que o PCP não faria o que os partidos comunistas, nos lugares em que conquistaram o Poder, fizeram - empobrecer todos, aprisionar uma parte dos cidadãos, expulsar outra, e todo um cortejo de horrores associados; e, em questões sociais, aderir a quanta moda fracturante ande no ar desde que o que quer que tenha o selo da tradição se extinga, as minorias vejam os seus valores não apenas reconhecidos como impostos às maiorias, e se afirme sempre o direito dos pobres contra os ricos, dos empregados contra os patrões, dos animais contra os caçadores, dos puros contra os poluidores, dos negros, ciganos ou asiáticos contra os brancos, dos comedores de tofu contra os comedores de bifes - em suma, desde que se realize a sociedade igualitária em que toda a gente tem direito à opinião, desde que dentro do leque autorizado, ao emprego desde que de funcionário público, à saúde desde que o tratamento seja tão mau como o do vizinho, à educação desde que não sirva para fomentar a competição, à cultura desde que subsidiada, e à justiça desde que o não seja.
Na época em que tinha tempo para ser comentador residente (fascista residente me chamaram algumas vezes, com exagero não isento de alguma propriedade) encontrei gente, pouca, com quem fiz genuína amizade internética; e tenho saudades de uma tal Morgada de V. que escrevia muitíssimo bem num blogue de comunas assanhados mas que - diabos a carreguem - nunca cheguei a saber quem era.
Agora não comento mas leio, quase sempre na diagonal. E não dou por desperdiçado o meu tempo porque encontro às vezes, no meio da virtuosa indignação e do palavreado típico de várias seitas de esquerda, informação útil: aqui, por exemplo, escaqueira-se a nova primeira-ministra do Reino Unido, e remete-se para as notícias que a vão tornar objecto de ódio do bem-pensismo de todos os quadrantes.
Transcrevo alguns parágrafos, deliciosos:
E sobre a bomba atómica Theresa May, em vez de dizer que - credo! - nunca, jamais, em tempo algum, a utilizaria, disse o óbvio: "O objetivo de meios de intimidação como esse é deixar claro aos inimigos que o país está preparado para os usar".
Como?! É eurocéptica, não é devota da religião do aquecimento global, não se deixa governar pelos lobbies das energias renováveis, não acha bem que o sistema de justiça europeu se sobreponha ao caseiro (uma medida que eu não aprovaria para nós mas aceitaria se fosse inglês), acha a caça um direito dos caçadores, ignora a sensibilidade citadina de gente que, de animais, aprecia sobretudo gatos fofinhos e cãezinhos giros, e não é pacifista militante nem tola contumaz?
Theresa, Ma'am, I wish you well.
Blogs
Adeptos da Concorrência Imperfeita
Com jornalismo assim, quem precisa de censura?
DêDêTê (Desconfia dele também...)
Momentos económicos... e não só
O MacGuffin (aka Contra a Corrente)
Os Três Dês do Acordo Ortográfico
Leituras
Ambrose Evans-Pritchard (The Telegraph)
Rodrigo Gurgel (até 4 Fev. 2015)
Jornais