Quarta-feira, 30 de Maio de 2018

Eutanásia

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Ontem o parlamento votou, e rejeitou, os quatro projectos do PS, do BE, do PEV e do PAN para despenalizar a eutanásia.

Eu sou a favor da despenalização da eutanásia. Em circunstâncias muito específicas. Quando alguém, seja o cônjuge, um familiar, um amigo, ou mesmo um enfermeiro ou um médico, ajuda a acelerar sem sofrimento a morte de alguém que quer morrer por se encontrar em estado terminal, irreversível, desesperado e em grande sofrimento, e posso repetir que quer morrer, não está a cometer um acto que eu consiga classificar como um crime, nem sequer censurável, mas simplesmente um acto de amor ou compaixão, valores que estão no núcleo daquilo de que se fala tanto actualmente sem sempre se fazer um esforço por se entender o que se diz, os valores humanistas e cristãos que definem a nossa matriz civilizacional. Está, acessoriamente, a correr o risco de vir a enfrentar consequências penais por cometer um acto que é classificado pela lei como um crime, o que acrescenta ao amor e à compaixão um desprendimento algo temerário dos seus interesses pessoais para acudir a quem lhe solicita essa ajuda.

E por mais exercícios de retórica dos conceitos teóricos de defesa da vida ou da liberdade de dispôr dela que se esgrimam, isto não é, aos meus olhos, um crime, é até um acto louvável. E que me atire a primeira pedra por condescender com este crime quem se tenha levantado indignado e saído da sala durante a projecção do filme Voando sobre um ninho de cucos quando o chefe Bromden eutanasiou Randle McMurphy, e que se abstenha de a atirar quem interpretou essa eutanásia a a fuga subsequente do chefe índio da instituição psiquiátrica onde ambos estavam aprisionados como um símbolo de libertação (do comunismo, porque era a opressão do comunismo que o filme metaforizava).

E se à luz da lei um acto louvável é considerado um crime a lei está mal. E devia ser alterada.

Posto isto, obviamente que se fosse deputado à Assembleia de República ontem teria votado contra os quatro projectos.

Porque se a situação específica em que eu defendo a despenalização da eutanásia é coberta por eles, e se foi amplamente usada pelo spin dos proponentes para procurar ganhar a empatia do público para os seus projectos, o que se faria a partir da sua aprovação seria certamente a montagem de uma indústria, pública ou privada, da morte assistida, seja para servir o suicídio em condições mais discretas e menos chocantes do que quando é praticado pelos próprios com os meios a que conseguem deitar mão, seja mesmo para fazer morrer pessoas sem capacidade para impedirem a sua própria morte, porque não há lei que não contenha, por mais cuidadosa que seja a sua formulação, alçapões que possam ser accionados para contornar as suas boas intenções, além de conceder um novo poder ao Estado, o de decidir administrativamente, arbitrando os casos de eutanásia, quem deve morrer e a quem deve ser permitido tentar sobreviver.

E a quem menoriza o risco da intervenção do Estado nos processos de decisão sobre a vida e a morte de pessoas aconselha-se uma reflexão sobre o caso muito recente do bebé Alfie Evans cujo estado decorrente de uma doença neurológica degenerativa incurável foi considerado irreversível pelos médicos do hospital britânico onde estava internado, que consequentemente tomaram a decisão de desligar as máquinas que o mantinham vivo contra a vontade expressa e levada até às últimas instâncias da justiça dos pais, e a quem, adicionalmente, os tribunais negaram a possibilidade de ser transferido para um hospital no Vaticano onde seria mantido vivo enquanto se procurasse uma cura para a sua situação, deste modo decretando a sua morte imediata, e não vale a pena dizer irreversível, porque a irreversibilidade da morte está na sua natureza. Quando o Estado tem legitimidade para decretar a morte de pessoas há mesmo a possibilidade de a vir a decretar, mesmo contra a vontade delas.

Isto para além de esta iniciativa fazer parte do conjunto de iniciativas legais no domínio da engenharia social promovidas por elites muito minoritárias mas muito activistas e muito acarinhadas pelos media que procuram mudar a sociedade à força, quer queira, quer não, quer tenha noção do que lhe está a ser proposto ou imposto, quer não. De uma maneira geral, aquilo que foi baptizado de causas fracturantes que são a base da sobrevivência política do BE desde que tomou consciência que como associação de velhos trotskistas, comunistas, estalinistas e maoistas nunca chegaria a lado nenhum.

Tudo junto, ainda bem que os projectos foram rejeitados.

 

Mas mais esta iniciativa de definição da agenda política pelo BE, é o BE que lança e dinamiza estas iniciativas e as participações de outros partidos e movimentos decorrem de terem entre eles satélites do BE, como é o caso do PS, ou são meros atestados de vida de existência política, como são os casos do PEV e do PAN, foi também um interessante caso de estudo no sistema político português.

A começar pela posição do PCP. O PCP está arredado do poder em Portugal há mais de quarenta anos mas continua a não ser, como nunca foi, um partido de protesto, mas sim um partido de poder, organizado e pronto a assumir o poder no dia seguinte, fosse em 25 de Abril de 1974, fosse agora, se lhe fosse dada essa oportunidade. E como é um partido de poder é socialmente conservador e não alinha nas modas, nomeadamente na das causas fracturantes. O PCP declarou-se, pois, prontamente e com uma fundamentação muito sólida, contra a despenalização da eutanásia. E defendeu-a solidamente no debate parlamentar através do experiente deputado António Filipe. Votou em bloco contra os quatro projectos.

Mas mesmo o PCP percebeu há trinta anos que o conservadorismo social pode ter custos eleitorais, e enquanto vivemos em democracia do tipo ocidental é por eleições que se chega ao poder, e deixem-me sublinhar que o termo que usei "vivemos" tanto é a primeira pessoa do plural do presente do indicativo como do pretérito perfeito, ou seja, tanto pode significar que ainda vivemos como que já vivemos mas entretanto deixámos de viver porque o acesso ao poder deixou de ser conquistado por vitórias eleitorais, e decidiu abrir um franchise para assegurar uma oferta política mais adequada aos novos tempos, o PEV.

O PEV é uma preciosa jóia de contradições. Nunca concorreu a eleições sem ser em coligação com o PCP, de modo que apesar de manter um grupo parlamentar de dois deputados desde que entrou no parlamento nunca teve um único voto e ninguém pode estimar a sua base eleitoral. Foi criado como um partido ecologista, era esta a causa fracturante dos anos 80 do século XX quando, entre outros assuntos, emergia o debate sobre a energia nuclear, justamente na época em que o descalabro do comunismo soviético também se manifestava em catástrofes ambientais, nomeadamente nucleares. Permitiu ao PCP alargar a cobertura do eleitorado a jovens ecologistas, e com o passar do tempo adeptos das outras causas fracturantes que foram emergindo, e duplicar os seus tempos de intervenção no parlamento por ter passado a ter, não um, mas dois grupos parlamentares aparentemente independentes. Apesar da sua postura quase sempre institucional foi uma chico-espertice a que o PCP recorreu e tem mantido. Uma vigaricezinha legal. Pois o PEV cumpriu o seu objectivo de diversificação de públicos do PCP e apresentou também um projecto de despenalização da eutanásia e votou favoravelmente os quatro projectos.

O CDS foi naturalmente conservador, não frustrou as expectativas de ninguém, e rejeitou em bloco os quatro projectos.

O mais curioso foi que, numa inversão do papel que desempenham tradicionalmente no sistema político português e nos das outras democracias, onde os grandes partidos definem os blocos basilares das decisões políticas e quando nenhum deles detém circunstancialmente maioria suficiente para fazer valer a sua são os pequenos partidos que determinam o resultado assumindo um papel de fiel da balança, na votação dos projectos de despenalização da eutanásia foram o PS e o PSD que, por terem votos divididos, assumiram o papel de fiéis da balança, sendo que, se votassem em bloco de acordo com as suas posições maioritárias tradicionais, o PS a favor e o PSD contra, os projectos seriam rejeitados.

No PS, onde no tempo da liderança Sócrates se percebeu que o crescimento fulgurante do BE de eleição para eleição se devia, não a um incremento da receptividade do eleitorado às propostas trotskistas, comunistas, estalinistas e maoistas, mas a ser o único partido que assumia claramente a defesa de causas fracturantes que os grandes partidos se esquivavam a assumir por considerarem um risco eleitoral que lhes podia fazer perder os votos dos seus eleitores habituais se as considerassem indesejáveis, e se esvaziou esse crescimento passando a assumir a defesa dessas causas e com isso conquistanto os votos dos eleitores que só votavam no BE porque as defendia isolado, as causas fracturantes passaram a fazer parte da imagem marca do partido. E o PS reforçou nas legislaturas mais recentes os seus quadros e os seus parlamentares com militantes e deputados que se distinguem apenas pela defesa destas causas e por mais nenhumas, ou, quando vão à discussão em temas políticos ou económicos, tendem a defender posições que não se distinguem em nada das defendidas pelo BE, desde renegar a dívida a depositar grandes esperanças no bolivarismo venezuelano a ver na Angela Merkel uma reencarnação da maldade do III Reich. Até a investir na telegenia.

Com figuras de proa na luta pelas causas fracturantes, a experiência de sucesso a capturar eleitorados bloquistas sem afugentar o seu eleitorado tradicional, e, porque não reconhecê-lo? o recurso aos marketing científico das sondagens e dos focus groups, o PS apresentou naturalmente a sua proposta, que antes do debate foi defendida publicamente pelo primeiro-ministro e pelos mais altos dirigentes do partido. E geriu com alguma destreza, a destreza por que se tem aliás distinguido o primeiro-ministro na gestão de equilíbrios entre interesses divergentes, as vozes discordantes. Se havia uma série de deputados que não concordavam com a despenalização da eutanásia, apenas dois assumiram o voto contra, tendo a generalidade dos restantes votado favoravelmente o projecto do PS e abstendo-se ou votando contra os outros projectos. Os outros deputados do PS votaram favoravelmente os quatro projectos.

Com o PSD foi diferente. O PSD defende tradicionalmente posições sociais conservadoras e tolera tradicionalmente posições individuais divergentes, concedendo habitualmente aos deputados liberdade de voto quando são votadas causas fracturantes. E assim foi na votação dos projectos da despenalização da eutanásia. Só que, ao contrário do que aconteceu no PS, o presidente do PSD defendeu previamente, e de modo um tanto ou quanto histriónico, a posição oposta à mais comum no partido e respectivo eleitorado, a despenalização da eutanásia, primeiro declarando que é um imperativo do Estado despenalizar a eutanásia, posteriormente lamentando hipotéticas pressões dos detractores da despenalização sobre os seus defensores. Já figuras de referência para os eleitores e militantes do PSD, ou para ser mais assertivo, as duas maiores figuras de referência actuais que são Aníbal Cavaco Silva, que é conservador, e Pedro Passos Coelho, que não é, manifestaram publicamente a sua oposição aos projectos. À destreza que tem distinguido o primeiro-ministro a gerir equilíbrios entre interesses divergentes, o presidente do PSD tem contraposto a mais completa inépcia a fazê-lo. É a vida.

E os deputados do PSD votaram esmagadoramente contra os quatro projectos, tendo apenas dois votado todos favoravelmente, mais dois o do PS, e um cada os do BE, do PEV e do PAN, assim como dois que se abstiveram em todos. Divergiram do chefe para se alinharem com as figuras de referência do eleitorado e dos militantes do partido.

O fiel da balança foi, pois, constituído pelos dissidentes dos dois maiores grupos parlamentares e determinou a rejeição dos quatro projectos.

Resta o BE. O grupo parlamentar do BE comportou-se no parlamento como o adolescente que está cheio de razão, ou pelo menos cheio de si próprio, e quer convencer das virtudes do comunismo, porque acaba com ricos e pobres, os pais, que sabem que o comunismo acaba mas é com os ricos e com os pobres, bombardeou os grupos parlamentares do PSD e do CDS com afirmações de superioridade moral a roçar a injúria da insinuação de desumanidade, chegou a esgrimir argumentos liberais, quiçá neoliberais? ao lamentar os excessos do Estado ao dispor da vida dos cidadãos, zurziu no PCP citando-lhe Saramago (vá lá, pelo menos variou um bocado das tradicionais citações do Sérgio Godinho pelo primeiro-ministro) e atirando-lhe às trombas que estava a votar como o CDS. E no fim fez uma birra ao ameaçar que se a Assembleia da República não aprovou agora a despenalização da eutanásia a há-de aprovar seguramente. A garotice habitual de fedelhos mal-formados e mal-educados.

Balanço? Ganharam a credibilidade dos dois partidos mais conservadores, o CDS e o PCP, ganhou o povo que vota no PSD e não quer ver o partido ir atrás das modas bloquistas, e perderam os líderes dos dois maiores partidos que não têm sido capazes, talvez por receio de aparecerem politicamente incorrectos, de cortar claramente as amarras que os prendem ao projecto populista de reengenharia social do BE.

E ganhámos nós. O que nos dias que correm já não é nada mau.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 17:18
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Sexta-feira, 18 de Maio de 2018

Mata-bicho

Já anteriormente tinha visitado o programa Mata-bicho, que passa nos diversos canais radiofónicos da RTP, com a eventual excepção da Antena 2, onde nunca o ouvi passar.

O programa tem a locução do humorista Bruno Nogueira e a autoria do guionista João Quadros, respectivamente o alto e o baixo na figura.

2018-05-18 Bruno Nogueira João Quadros.jpg

Na altura consegui fazer uma análise ao conteúdo do programa, porque era essencialmente um programa falado, e cheguei à conclusão que o sentido de humor era sofrível, as piadas muito básicas, a temática fútil, a orientação política evidente, e o estilo um bocado ordinário a pender para a misoginia.

Em resumo, e porque o humor é aparentemente uma disciplina cuja qualidade é determinada pela qualidade percebida por cada espectador e, portanto, dependente de critérios subjectivos, e portanto o que eu acho merdoso pode ser considerado genial por outros espectadores, ficaria encantado se eles passassem o programa como espectáculo de humor numa sala com entradas pagas por quem os quisesse ouvir e vivessem da receita de bilheteira, mas não fico nada encantado por serem contratados pela RTP que vive de taxas pagas por todos, e também por mim, quer queiram, quer não, como é o meu caso, quer gostem do programa, quer não, como é o meu caso.

E que aos humoristas devem ser tolerados, em nome da liberdade criativa, excessos de liberdade de expressão que, noutras circunstâncias, poderiam resultar no espancamento de quem recorre a ela por quem se ressente de ser alvo de quem recorre a ela. Por exemplo, se a referência à antiga deputada Zita Seabra feita no programa que ouvi fosse feita numa mesa de café e o marido dela estivesse na mesa ao lado não seria descabido o marido levantar-se e esmurrar a tromba do autor da piadola, mas num programa de humor a piadola deve ser tolerada e até encorajada.

E que o facto de terem uma orientação política marcada, tanto no programa humorístico em questão, como noutros, como nas opiniões que exprimem noutros meios de comunicação, por exemplo nas redes sociais ou em colunas de opinião em jornais, é, não apenas tolerável, como desejável como mostra de uma consciência cívica assumida sem medos nem vergonha.

E que os comportamentos que parecem indiciar doenças mentais evidenciados pelos autores noutros meios e noutras circunstâncias não devem ser usados como arma de arremesso para tentar insinuar que não lhes deveria ser oferecido palco na estação pública, até porque de génio e de louco todos temos um pouco, o que não significa, mas com algum esforço podemos fingir que significa, que de génios do humor é esperado que sejam também um bocado loucos, de modo que se queremos usufruir do humor deles também temos que lhes tolerar a loucura. E, mesmo que não queiramos, também temos.

Tudo junto, eles são avençados da RTP, que é sustentada com o nosso dinheiro, mas devemos comer a calar.

Ontem calhou de novo conduzir com o auto-rádio ligado à hora a que passou o programa na Antena 1, e ouvi mais uma edição do programa, esta chamada de "A arte do som". Desta edição é impossível descrever o conteúdo sem recorrer a onomatopeias, e eu não sou muito forte em onomatopeias, pelo que, pedindo antecipadamente desculpa aos leitores por abusar do tempo deles, proponho a audição integral da peça.

Conseguiram ouvir? Honestamente? Mesmo até ao fim?

Então estão habilitados a responder à pergunta que trago:

  • O humorista Bruno Nogueira e o guionista João Quadros são avençados da RTP para produzirem programas merdosos como este, ou como recompensa por injuriarem políticos de direita e respectivas famílias nas redes sociais e nos espaços de comentariado que lhes são proporcionados por outros orgãos de comunicação social?

 

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 14:38
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Terça-feira, 15 de Maio de 2018

O homem que sabia demais. E continua a saber.

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No tempo em que já tinha uma boa rede de conhecimentos na justiça portuguesa, já tinha sido Ministro da Justiça, mas ainda não era suficientemente cauteloso para evitar ser escutado a organizar crimes, o actual Primeiro-Ministro António Costa foi apanhado pela justiça a organizar uma conspiração para abafar um caso judicial que envolvia o camarada de partido e Deputado Paulo Pedroso, juntamente com o actual Presidente da Assembleia da República Ferro Rodrigues, que na altura se tornou conhecido por uma frase lendária, o então Presidente da República Jorge Sampaio, e o então Procurador-Geral da República, que o anterior deveria sensibilizar no almoço que tinham marcado para esse dia para abafar o caso, impedindo o processo de chegar ao Tribunal de Instrução Criminal que estava fora do alcance da rede de influências dos conspiradores.

A conspiração saiu frustrada porque à hora do almoço o procurador já tinha chegado ao Tribunal de Instrução Criminal e entregue o processo e já não seria possível evitar que o entregasse, mas os conspiradores foram escutados a conspirar e, além de as escutas terem proporcionado reveladores retratos de cidadania dos intervenientes e um inesquecível momento de humor político, também justificaram a prisão preventiva do camarada investigado por comprovada tentativa de perturbação do inquérito, uma das razões previstas na lei para decretar prisão preventiva.

Mais tarde, durante o inquérito, uma das testemunhas ouvidas, um antigo director da Direcção Central de Combate ao Banditismo à época em que a Polícia Judiciária tinha sido tutelada pelo Ministro da Justiça António Costa, um dos homens da tal rede de conhecimentos, revelou que, num almoço com o antigo Ministro uma semana antes de o caso vir a público no dia em que o Deputado foi detido na Assembleia da República, ele lhe tinha revelado que o Deputado estava referenciado no caso Casa-Pia de Lisboa com indícios consistentes, e o seu camarada de partido Ferro Rodrigues também, mas com indícios menos consistentes.

O actual Primeiro-Ministro foi portanto apanhado a conspirar para interferir num processo judicial envolvendo as mais altas figuras do Estado, incluindo a mais alta de todas, o que constitui um crime, e a ter conhecimento antecipado de processos judiciais de que nessa altura não devia ter por estarem em segredo de justiça, o que constitui outro crime, mas por estes crimes não foi incomodado pela justiça, exceptuando os danos de reputação que lhe possam ter sido causados pela revelação mediática das escutas onde foi apanhado.

Danos que, a avaliar pelo seu percurso político e mediático subsequente, Ministro da Administração Interna e número dois do primeiro Governo José Sócrates, Presidente da Câmara de Lisboa quando o então presidente do PSD Luís Marques Mendes forçou a queda da Câmara PSD pela demissão dos Vereadores que lhe acolheram a ordem de demissão, comentador residente no canal de televisão do Pinto Balsemão, e finalmente secretário-geral do PS, para não falar de Primeiro-Ministro apesar da derrota eleitoral, não lhe parecem ter sido fatais.

E alguma coisa deve ter aprendido, porque, desde essas, nunca mais foi apanhado com a boca nas escutas.

Se a rede de conhecimentos na justiça lhe tem dado jeito, para além de almoços ocasionais com antigos colaboradores, não sabemos? O facto de não haver conhecimento público de ter sido mais alguma vez mais apanhado na malandragem pode ter um de três motivos: ou nunca mais andou na malandragem; ou continuou a andar mas aprendeu a comunicar sem recorrer a meios de comunicação interceptáveis ou interceptados pela investigação judicial; ou continuou, e foi interceptado, mas tem a sorte de daí não lhe terem sido criados problemas. A sorte constrói-se, como dizia o seleccionador nacional Luís Felipe Scolari.

Mas uma coisa sabemos. Sabemos que ele tomou conhecimento da decisão do Tribunal da Relação de Lisboa de transferir para a justiça angolana o processo por corrupção do antigo Vice-Presidente de Angola Manuel Vicente uma semana antes da publicação do acordão. Sabemo-lo porque, todos os aldrabões têm aquele momento de descuido em que falam verdade correndo depois a desmenti-la com uma mentira para não habituar mal o público, ele revelou-o numa entrevista. O gabinete emitiu depois um comunicado a explicar que ele tinha dito na entrevista que sabia da transferência do processo há uma semana porque apenas tinha tido conhecimento no próprio dia mas pensava que a entrevista só seria transmitida na semana seguinte, explicação que deve ter sido suficiente para esclarecer os mais fiéis dos seus fiéis, os que não se importam de passar por tontinhos para mostrar a força da sua Fé no querido líder, e mostra que ele está em grande forma no exercício da aldrabice.

Não foi nada inesperado. Já percebemos que, pelo menos desde que passou pela pasta da Justiça, ele conhece algumas decisões judiciais antes de serem tornadas públicas. Tem artes de adivinhação. Ou então tem uma rede de magistrados que não se importam de o ir mantendo informado, directamente ou partilhando a informação com outros magistrados ou conhecidos que lha fazem chegar.

Isto é grave?

O Primeiro-Ministro não deve saber o resultado de uma decisão ou providência judicial um minuto que seja antes de ela ter sido tornado pública e, portanto, disponível para todos os cidadãos que estão interessados em tomar conhecimento dela. Mas tomar conhecimento de um acordão sem usar a informação recebida para qualquer iniciativa ou decisão, nomeadamente sem dar conhecimento público dela, não parece excessivamente grave. É como se o juiz tivesse confidenciado à mulher, ao jantar, neste caso vou mandar fazer buscas na casa do fulano, não achas que faço bem? e o segredo tivesse ficado ali entre eles.

Mas se fulano fosse das relações da mulher e a mulher aproveitasse a inconfidência para o avisar que ia haver buscas na casa dele já seria grave. A informação sobre o que a justiça anda a fazer permite aos malandros andar sempre um passo à frente dela e fazer as malandrices com impunidade.

E o Primeiro-Ministro é gente para usar a informação que lhe chega para ajudar amigos a fugir à justiça?

É. Já o fez.

Por isso, eu posso ficar indignado por ele nunca ter sido apanhado na malandragem mesmo quando eu desconfio que anda. Mas, surpreendido, não fico.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 16:16
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Domingo, 6 de Maio de 2018

O cartaz

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O cartaz criou uma tal comoção que durante quase dois dias milhares de pessoas o viram nas redes sociais; nas caixas de comentários dos jornais que o reproduziram uma quantidade de leitores insultou a moça com excesso de maiúsculas, pontos de exclamação e vernáculo, e défice de gramática, enquanto outros a defendiam com arreganho e as mesmas armas; e, consagração suprema, Pacheco Pereira requisitou a papeleta para a acrescentar, supõe-se que em lugar de destaque, ao depósito onde mistura algumas coisas úteis com quantidades prodigiosas de lixo, na biblioteca de Alexandria das irrelevâncias que designa como Ephemera.

 

Os dizeres, que mereceriam ser vertidos em bronze numa qualquer escultura pós-moderna instalada numa rotunda de um concelho progressista, eram os seguintes: “Farta até a cona de gerar a mais-valia dos homens. Trabalho reprodutivo sustenta o capital.”

 

Isto é forte, mas infelizmente não se percebe: até à cona porquê? Não deveria ser até à ponta dos cabelos, como está consagrado para significar que se quer ir de um extremo a outro? Porquê parar a meio, como se estivesse com as pernas fresquíssimas mas a cabeça, o tronco e os braços moídos, ou estes em estado de grande vigor mas as pernas num molho?

 

Leitores incautos como eu imaginaram que a azougada e simpática gorduchinha estivesse a falar de prostituição, e a identificasse com a mais-valia da satisfação sexual egoísta dos homens, aparecendo a reprodução e o capital no texto porque realmente não se pode negar que as putas não trabalham de graça, nem que, sem conas, não há partos e por conseguinte reprodução.

 

Raciocínio retorcido e altamente insatisfatório, decerto. Mas, que diabo, são vinte e dois aninhos de idade, é a geração mais bem formada de sempre, e no contexto do 1º de Maio e daquela boa gente festiva e demente do Bloco, querer senso e ideias escorreitas seria uma exigência despropositada.

 

Engano meu. Que, tropeçando por acaso nesta entrevista, fiquei a saber que as amigas da rapariga, que é espanhola, a ajudaram a traduzir os dizeres; que, ignorantezinhas como são, imaginaram que nestas praias onde a modernidade chega com atraso toda a gente soubesse que trabalho reprodutivo significa, no dialecto da seita, maternidade; e que há mercado para a ideia de que deve haver um salário para a reprodução biológica, mas também outras actividades como “cuidar das crianças, de quem está doente, limpar, lavar, cozinhar”. “Tudo isso é trabalho necessário para que sejamos indivíduos produtivos social e economicamente”. É por isso, conclui a activista, que este tipo de encargos “sustenta o capital”.

 

Temos então que os capitalistas, investindo, criam riqueza apenas para si, donde a sua existência é meramente parasitária; que os maridos, ou pais, não contribuem suficientemente para a educação e sustento da prole, mesmo que sejam trabalhadores por conta de outrem, razão pela qual se têm de ir buscar recursos a outro lado, e esse é o do capital; e que os capitalistas, a somar às suas outras perversões, têm a de esperar pela calada e traiçoeiramente que as mulheres tenham filhos com o inconfessado propósito de, logo que bem nutridos e tratados, os explorarem impiedosamente.

 

Donde virá o salário que as mulheres com filhos devem auferir Irene não diz, e o jornalista esqueceu-se de esclarecer esse detalhe, assim como ficamos sem saber qual o montante justo de semelhante retribuição, se será proporcional ao número de filhos, se não haverá diferenciação consoante a qualidade reprodutiva das futuras mães, e outros pormenores do maior relevo. Mas o assunto haverá de entrar na ordem do dia, visto que há em Lisboa uma organização, a Assembleia Feminista daquela localidade, que se encarrega de promover esta e outras causas femininas e sociais; assim como existe inclusive um organismo europeu, o Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE) que esclarece as massas sobre o que se deve entender por trabalho reprodutivo.

 

Sempre a aprender. Se bem que a activista Irene diga que “isso a que chamam amor é trabalho não pago”. Julgava, ingenuamente, que trabalho de amor pago era o das, com licença, putas.

 

E só não me junto ao coro dos indignados que assim a trataram porque não tive, mas podia ter tido, uma filha assim voluntariosa, gordinha, blocazinha e patetinha. E, se a tivesse tido, veria estes dislates com a mesma ternura que suponho aos pais dos moços do Maio de 68, que se anda a celebrar: não lhes cortaram a mesada; sorriram às proclamações, aos desacatos, aos paralelepípedos levantados das ruas, e às abundantes libações. Sabendo que, um mês volvido, tudo ficaria na mesma, logo que os calceteiros consertassem os pavimentos e os lixeiros removessem as garrafas vazias.

publicado por José Meireles Graça às 17:51
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Sexta-feira, 4 de Maio de 2018

As trinta e sete razões para termos regressado ao pântano socialista

2018-05-03 Feios porcos e maus, veneno de ratos.jp

O Mário Soares tinha todos os defeitos do mundo, e algumas qualidades. E tinha ainda características que podiam ser classificadas em ambas as categorias. Uma delas era a lealdade aos amigos. Era capaz de visitar ostensivamente um amigo condenado por um crime infame como a corrupção, ou mesmo preso, para lhe manifestar a sua amizade e a sua solidariedade, sem olhar a inconveniências nem custos de imagem. E relativamente a eles não se escondia atrás da presunção de inocência, mantinha, sim, uma convicta presunção de culpa sobre quem os acusava. O último de visitou nestas condições foi José Sócrates, quando cumpria a "pena" de prisão preventiva em Évora.

Mas o Mário Soares morreu, e sucedeu-lhe um partido liderado por gente com qualidades diferentes das dele e com uma dimensão, para o bem e para o mal, muito diferente da dele.

[Nesta cena de "Feios, porcos e maus", a família Mazzatella conspira para assassinar Giacinto organizando um almoço de reconciliação, ele tinha levado para casa uma nova namorada, a menina Iside, uma prostituta de peito felliniano e modos delicados de princesa, acalmando-lhe a apreensão sobre a reacção da mulher com a explicação que a mulher era muito compreensiva, bastanto bater-lhe, e explicando à mulher que a levava para viver com ele e dormir com eles, em que lhe serviram um delicioso macarrão confeccionado pela mulher Gaetana, temperado com os ingredientes que ela lhe enumera e a avó complementa com quatro pacotes de veneno para ratos todos no prato dele, comprados ao vendedor de banha da cobra Cesaretto, que ele desconfia que é amante da mulher e mesmo pai de uma das filhas, como revela numa frase lapidar "non è figlia mia, é figlia di puttana". Giacinto foge e sobrevive ao envenenamento aplicando a si próprio uma lavagem ao estômago na borda do rio com uma bomba de bicicleta, após o que incendeia a barraca e trepa a uma árvore para assistir ao incêndio a tocar metaforicamente cítara, na cena de salvamento da avó de que vos falei antes, e depois vende a barraca a uma família de ciganos tão numerosa como a dele, formalizando a venda num documento. Quando os ciganos se apresentam na barraca para tomar posse e mostram o documento, o documento desaparece e o diferendo sobre a propriedade do imóvel derime-se à pancada entre as famílias. Na penúltima cena do filme, e a última da comédia, chega a manhã à barraca, agora ocupada pelas duas famílias. A última cena conhecem todos, é a da Maria Libera a ir à fonte, já engolida pelo sistema, que foi mostrada na publicação anterior].

Depois de dois anos e meio a gerir com o instinto de sobrevivência que já é lendário o equilíbrio instável de ter o antecessor acusado de actos gravíssimos, e cada vez menos disfarçáveis, de corrupção, recorrendo até agora ao tradicional princípio de separação dos poderes, à política o que é da política, à justiça o que é da justiça, e ao inocente até prova em contrário, para escapar a tomar uma posição clara sobre os aspectos éticos em questão, para não falar na sua participação directa nesse governo, o primeiro-ministro, talvez aconselhado por algum focus-group que lhe disse que a partir de agora, com a informação pública já acumulada sobre as façanhas do anterior primeiro-ministro e do seu ministro da Economia, manter a neutralidade começaria a ter custos políticos, decidiu quebrar a neutralidade, e com estrondo.

Aproveitando a saída para uma visita de 4 dias ao Canadá, e saiba-se lá o que pode justificar uma visita de Estado de 4 dias do primeiro-ministro ao Canadá? borrifou-se no inocente até prova em contrário e largou-lhes às canelas os mais ferozes dos seus jagunços, o presidente do partido Carlos César e o trauliteiro João Galamba, que manifestaram, à vez, a sua indignação, primeiro com o antigo ministro Manuel Pinho, e depois, para tornar a coisa mais clara, com o antigo primeiro-ministro José Sócrates, cobrindo com pazadas de terra o caixão onde já estão sepultados. E ele próprio acabou por, no Canadá, simular indignação com eventuais casos de corrupção na era Sócrates, completando com as suas pazadas a terra que faltava para cobrir a cova. Passou de se manter em equilíbrio na corda bamba para evitar uma queda que lhe poderia causar danos políticos, a montar um cordão sanitário à volta dele e do seu inner circle para se imunizar e os imunizar contra os danos do fim cada vez mais expectável deste caso de polícia. Mandou-lhes dar veneno para os ratos para saírem de circulação, politicamente falando.

Convenhamos que nenhum deles é uma referência de ética, nem os assassinados, nem o padrinho e os esbirros, pelo que a condenação destes não é propriamente infamante, podendo até ser vista por alguns como um indício de virtude. Mas a reviravolta de dependentes, a apoiantes convictos, a observadores independentes, a carrascos, é certamente uma prova inequívoca do carácter deles.

Dos assassinados deixemos a justiça tratar, porque já o está a fazer. Da ética dos assassinos, do António Costa já tenho aqui falado, mais resumida ou mais detalhadamente, e muito mais haveria para dizer mas não vale a pena continuar, até por questões de higiene, a reputação que precede o Carlos César dispensa qualquer acréscimo de detalhes, e o João Galamba também já tem um caminho percorrido nas divisões secundárias que comprova talento e lhe assegura futuro na modalidade.

Têmo-los então a simular estupefacção e indignação se, e apenas se, se vierem a confirmar os delitos cometidos no tempo da governação de que eles próprios também fizeram parte como governantes nacionais ou regionais, dirigentes partidários ou membros a soldo de claques organizadas, fazendo parte da simulação o pressuposto que à época não deram por nada, como se fossem ingénuos apesar da evidência de serem espertalhões, tudo isto procurando delimitar os danos do caso aos que foram apanhados nas malhas da justiça, para não os atingirem a eles, que não foram, até agora. Têmo-los a assassinar o Manuel Pinho e o José Sócrates para se safarem sem mácula.

O BE e o PCP, que andam a explorar todas as oportunidades que lhes aparecem de se desmarcarem do governo PS para defenderem junto dos seus eleitores que, em vez de meras muletas que o sustentam, são imprescindíveis para o manter na linha correcta através de críticas e exigências, não vão eles ponderar que se é para sustentar governos socialistas podem antes votar no PS como já fizeram muitos eleitores do PCP nas eleições autárquicas de 2017, também trataram de se desmarcar mediaticamente deste pântano de corrupção que foi o anterior governo socialista. Foram até menos duros que os socialistas, porque tanto o BE como o PCP defenderam um alargamento do âmbito das investigações a outros governos e a outras empresas, diluindo o enfoque nos casos já em investigação até as investigações assumirem proporções impossíveis de gerir e chegar a conclusões.

Percebe-se que dediquem um grande empenho a desmarcarem-se do governo socialista, não só, mas também, por causa do pântano moral que parece alagar o chão que os socialistas pisam e a que eles não querem ficar associados.

Mas a demarcação não passa de uma farsa. Se hoje em dia Portugal é gerido por um bando de socialistas de que a maior parte, a começar pelo primeiro-ministro, já fazia parte do pântano do José Sócrates, é apenas por trinta e sete razões. E as trinta e sete razões são Carlos Matias, Catarina Martins, Ernesto Ferraz, Heitor de Sousa, Isabel Pires, Joana Mortágua, João Vasconcelos, Jorge Campos, Jorge Costa, Jorge Falcato, José Manuel Pureza, José Soeiro, Luís Monteiro, Maria Manuel de Almeida Rola, Mariana Mortágua, Moisés Ferreira, Pedro Filipe Soares, Pedro Soares e Sandra Cunha, do BE, Ana Mesquita, Ana Virgínia Pereira, António Filipe, Bruno Dias, Carla Cruz, Diana Ferreira, Francisco Lopes, Jerónimo de Sousa, João Dias, João Oliveira, Jorge Machado, Miguel Tiago, Paula Santos, Paulo Sá e Rita Rato, do PCP, Heloísa Apolónia e José Luís Ferreira do PEV, e André Silva do PAN. São os trinta e sete deputados que derrubaram no parlamento o governo da coligação que ganhou as eleições para o substituir pelo do partido que as perdeu, pelos governantes que estiveram no pântano José Sócrates e agora estão neste, e agora o sustentam sempre que a sua continuidade vai a votos, mesmo se o criticam nos discursos. É a estes trinta e sete que há-que pedir contas quando se fizerem as contas desta legislatura pantanosa.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 00:55
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