Quarta-feira, 24 de Julho de 2019

Como estamos

Em resumo: António Barreto faz parte, e é porventura o membro mais ilustre, de uma variedade de pensadores muito respeitada, que são os que pairam. Desprezam os actores políticos, fugindo como da peste de manifestar preferências; quando se dizem de direita não cessam de a criticar, ao mesmo tempo que dizem coisas compreensivas e simpáticas para a esquerda; e quando se dizem de esquerda guardam para ela uma compreensível tolerância, não se esquecendo nunca de malhar na direita. São com frequência professores universitários, acham que essa condição lhes dá uma lucidez que escasseia ao comum dos cidadãos, leram quatro livros e planeiam, nas próximas férias, ler cinco. E nunca se dão ao excessivo trabalho de dizer como se faz

 

Gente céptica como eu é bem capaz de ir ao ponto de pensar que não dizem porque não sabem.

 

Isto escrevi há um ano. E hoje, onde estão os pairadores? Já lá vamos. Vejamos primeiro como está a situação política.

 

Está assim: Há os comunistas, que querem, com crescente descaramento,  guinar para 1975; há os bloquistas, que querem guinar para 1975 dentro da EU, numa sopa que inclui o feminismo, o aquecimento global e causas sortidas dos pobres contra os ricos e dos fracos contra os poderosos; há a direita do CDS de Cristas, que quer agradar muito às donas de casa e acha que, para governar o país, convém ouvir o papa Francisco; há o PSD de Rio, que quer disputar os favores do PS para reformar a Justiça e promover a regionalização; há o PS de Costa, que quer continuar a ter carro com motorista e lugares no aparelho de Estado para todos os que segurem o andor do poder socialista; e há, discretamente, os que estão no Movimento 5.7, isto é, toda a direita democrática que está farta de socialismo, seja nas versões hard seja na light, e de fazer vénias, na teoria e na prática, aos pairadores de serviço e aos mandarins da opinião. Esta direita votará disciplinadamente nos seus partidos de origem, ou ficará em casa, e levantará a monstruosa cabeça da hidra do fascismo em devido tempo. O seu líder natural é Passos Coelho, e o futuro dirá se o próprio quererá um regresso.

 

Tudo leva a crer que o PS ganhará as eleições, aventando-se até que o faça com maioria absoluta. E como não é impossível que uma reedição da geringonça tenha dois terços dos deputados, fala-se de revisões da Constituição. O próprio Costa, num “discurso” recente, mencionou a possibilidade dessa revisão para permitir tribunais especializados, no caso para tratar do crime de violência doméstica, o que, dado o evidente disparate da medida, causou grande comoção.

 

Calma: O PS de Costa, e o próprio, não têm outras convicções que não sejam a pertença à EU, o respeito formal pela democracia, os benefícios para a comunidade de preencher todos os interstícios do poder com pessoal da casa, e a crença inabalável nos poderes demiúrgicos do Estado para promover o desenvolvimento. Ora, dada a personalidade manhosa do PM e a sua flexibilidade táctica, consequência de uma quase completa ausência de escrúpulos, o regime só correria um verdadeiro perigo, através de revisões constitucionais, se Costa precisasse de ceder completamente ao PCP e ao Bloco para se manter no poder, e mesmo assim apenas no caso de Bruxelas dar luz verde a tais cambalhotas. Ou seja: o preço da reeleição de Costa é o deslizar suave do país para os últimos lugares do desenvolvimento na EU, na senda do que aconteceu neste mandato, e não um qualquer perigo para o regime. Isto se entretanto não chegar o diabo, caso em que, por o país de modo nenhum estar mais sólido para resistir a crises, Costa e a sua entourage irão para o caixote de lixo de onde, desde Sócrates, nunca deveriam ter saído.

 

Nada está perdido, portanto, batalhas não são guerras. E mesmo que nas próximas eleições eu vote no CDS, pelas mesmas razões que me levaram a votar nas anteriores, entendo que a vitória das esquerdas vai facilitar uma desejável clarificação. Tenho poucas dúvidas sobre os contornos de que ela se deve revestir, mas o assunto é inoportuno: no fragor de uma batalha, não deve o soldado dizer ao camarada que não tem a farda nas melhores condições.

 

Então, e os pairadores? Confesso: este post era originalmente para cascar num texto capcioso de Vera Maria Gouveia Barros, sobre o caso Bonifácio, que obteve grande aplauso junto daquela classe. Mas fica para outra maré, que sei por experiência que ninguém lê até ao fim textos com mais de duas páginas.

publicado por José Meireles Graça às 19:56
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Segunda-feira, 22 de Julho de 2019

Embutidos

Aos sábados, começo o dia com Vasco Pulido Valente e Alberto Gonçalves. Para um surfador de opiniões, como eu, é o melhor dia da semana: VPV interpreta o país, trazendo para a luz o que na nossa história explica as peculiaridades da nossa condição actual de portugueses e as razões por detrás das nossas escolhas e dos acasos semanais da vida colectiva, fazendo isso com uma inimitável economia de palavras e imperturbável elegância; AG ocupa-se sobretudo de costumes, e dentro destes sobretudo os políticos, que cobre de sarcasmo. Nenhum dos dois faz vénia aos ares do tempo, que em boa parte desprezam.

 

A propósito de um anúncio de mau gosto num talho em Vila Nova de Gaia, AG descreve a banalidade do reclame e o anódino da situação, e abre os olhos de espanto perante a reacção de um desses grupúsculos, dos quais há miríades, filiado no PCP e que veio a público disparar raios e coriscos contra a liberdade do talhante, da mulher retratada, que ninguém sabe quem é nem se foi ou não recompensada pela exposição, e dos passantes que tenham sorrido com a associação da carne de vitela a uma rapariga em bikini.

 

Que o PCP queira cavalgar a onda do movimento feminista, compreende-se. É o combate tradicional dos explorados (as mulheres) contra os exploradores (os homens), de mais a mais num contexto de publicidade, que é uma marca d’água do capitalismo, que odeia, e da livre iniciativa de um pequeno empresário, que execra. Que o feminismo no PCP seja um fenómeno recente, e que o partido nunca tenha sido exemplar na maneira de as tratar (ainda hoje no comité central menos de um terço são mulheres) não importa: cambalhotas leninistas todas as que forem precisas, que quando chegar ao poder a sociedade não terá classes, e portanto todos serão iguais por definição. A maluqueira feminista, porém, não se preocupa por aí além com quem se deita na cama, e esta articulista, Helena Tender de seu nome, furiosa, acha que Alberto Gonçalves faz lembrar uma salsicha branca. Nas palavras dela:

 

“Ou se, pese embora o sexo, a raça for impeditiva de conexação com este exemplo, sugere-se a fotografia do próprio sr. Gonçalves promovendo ‘salsicha branca’ em saldo. A ausência de cabelo do modelo é reminiscente do referido embutido”.

 

Isto, a mim, não me caiu bem: que eu tenho a mesma tez de Gonçalves, a mesma falta de cabelo, e, se ele puder ser descrito como machista, estou com ele conexionado, sabe Deus se ainda em termos mais censuráveis. E como ele ainda disfarça apresentando-se de barba curta, mas eu perfeitamente escanhoado, estou aqui muito sentido com a tal Helena. Tanto que só não descrevo o tipo de embutido que ela me parece porque, lá está, o meu respeito pelo sexo antigamente belo não me autoriza a usar para com ela da mesma liberdade que usaria para com um idiota que escrevesse as tolices em que abundou.

 

Porque Helena não diz ao que vem, mas percebe-se que o que defende são proibições, isto é, que a opinião dela seja a opinião oficial e a liberdade de opinar se mantenha dentro dos limites do que acha tolerável. Agora que se diz para aí que a geringonça vai rever a Constituição, porque vai ter poderes para isso se as sondagens eleitorais estiverem certas, apresso-me a aproveitar a liberdade de opinião que ainda me resta, e que o artº 37º garante, para declarar que, na tua opinião, Helena, Alberto Gonçalves é um machista – é um direito teu; e que, na minha, és parva – é um direito meu.

publicado por José Meireles Graça às 16:49
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Sexta-feira, 19 de Julho de 2019

Uma história de teclados

2019-07-19 IBM 3278 keyboard.jpg

Eu vou contar uma história.

Quando acabei o curso comecei a carreira numa multinacional de informática e o primeiro cliente com quem trabalhei depois de um período de formação inicial foi a Polícia de Segurança Pública, que tinha acabado de montar um centro de informática no Comando Geral na Penha de França, e que tinha começado a informatização da sua actividade com a criação de uma base de dados de armas.

Na época os teclados normais não tinham cedilhas nem acentos, constituindo o suporte de hardware e software a teclados com esses caracteres uma opção que se chamava National Language Support que se pagava cara, na época tudo o que tinha a ver com informática era inimaginavelmente caro, e se tinha que instalar em acrescento ao sistema operativo.

Um dia perguntei ao pessoal da informática da PSP [e o pessoal da informática da PSP é outra história à parte que também merece ser contada, por ser quase exclusivamente composto por mulheres, porque tinha sido seleccionado entre os agentes que concorreram ao concurso interno através de testes psicotécnicos, e enquanto a maioria dos agentes tinha a escolaridade obrigatória muitas das agentes tinham o ensino secundário completo e estavam colocadas em locais onde o conhecimento de línguas era valorizado, como os aeroportos, e muitas delas estavam a completar o 12º ano para se candidatarem a cursos superiores, ou a candidatar-se à Academia da PSP para se formarem como oficiais da PSP, ou a frequentar universidades como trabalhadoras-estudantes] o motivo porque tinham optado pelo NLS.

Responderam-me "por causa das armas de caça".

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publicado por Manuel Vilarinho Pires às 14:55
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Terça-feira, 16 de Julho de 2019

DECO

Há muitos anos, frequentei um curso na Católica, em Lisboa, para “executivos”. Abominei: os testes dirigiam-se à memória (lembro-me de ser preciso empinar o “diamante de Porter”, salvo erro, mais uma data de coisas que não ganhavam em conhecer-se de cor); os professores eram da variedade doutoral, isto é, da que vomita uma receita e uma maneira de ver, aceitando mal diálogos com os alunos, que são tratados como uma massa bruta na qual é necessário gravar algumas crenças tomadas como definitivas; e a suposta disponibilidade, via internet, do corpo docente, existia muito na propaganda comercial do curso mas pouco na realidade. Numa palavra, professores de ciências sociais que tomavam por exactas, um equívoco que existe até mesmo em áreas supostamente apenas aritméticas, como análise financeira.

 

Numa cadeira, salvo erro de marketing, recomendava-se como leitura obrigatória o “Choque do Futuro”, de Alvin Toffler, um aldrabão que explorava a mania americana de o prever, identificando algumas tendências do presente que projectava com habilidade e falta de senso e de humildade. Este pastelão o professor tomava como ouro de lei. Hoje, se ainda for vivo e der aulas, deve recomendar o último guru que, com roupagem pseudocientífica, faz o papel dos áugures romanos. O facto de os áugures modernos se enganarem tanto como os antigos decerto não o impressionava, o que é a definição mesma de burrice – bater com a mesma cabeça sempre na mesma parede.

 

Aquilo era intenso, aos sábados, e a meio da manhã havia uma pausa para café. Várias mesas estavam cobertas de bolos – éclairs, tíbias, palmiers e o restante sortido das pastelarias rascas – mas de sandes honestas de fiambre ou queijo, nada.

 

O corpo discente era no geral de meia idade e tinha muitos licenciados de várias áreas que pouco ou nada tinham a ver com gestão. Como achasse absurda aquela dieta para quem já tinha barriguinha (não eu, por acaso, que tinha um corpo escultural) fui reclamar junto do director do curso, que abriu os olhos de espanto, não tanto pela reclamação em si mas pelo arrojo de um “aluno” se permitir, com liberdade, dizer claramente ao que vinha. Na Católica, a julgar pela minha experiência, imaginavam que o respeitinho é tão necessário como a esferográfica.

 

Lembrei-me desta história a propósito deste estudo da DECO – parece que as coisas não mudaram muito, excepto por agora haver maquinetas. Infelizmente, os diligentes empregados do catering foram substituídos (o que provavelmente tinha de acontecer, senão os preços ficavam incomportáveis), mas o cardápio não.

 

Um problema, na medida (e só nessa, a meu ver) em que haja alunos que queiram outra coisa que não seja lixo adocicado. Eu não queria, presumia que os meus colegas também não queriam, e reagi.

 

A DECO não acha isto bem, e pelo contrário entende (ou melhor, entende uma senhora nutricionista que tem os tiques dirigistas, autoritários e fascisto-higiénicos da espécie) que

 

“… seria importante regulamentar a oferta alimentar destas máquinas nas instituições de ensino, à semelhança do que já existe para as máquinas do género colocadas nas instituições do Serviço Nacional de Saúde. Era importante que a oferta alimentar fosse regulada com enquadramento legislativo porque ainda não há orientações nem nenhum documento de carácter legislativo publicado para as máquinas de venda das instituições do ensino superior”.

 

É fatal: Não há problema, real ou imaginário, em que a DECO não ache que precisamos de mais leis, mais orientações, mais regulamentos e, já se vê, mais coimas e mais fiscais. Como se o país não estivesse já soterrado em legislação que quem pode não cumpre, e como se houvesse algum défice de inúteis e improdutivos na função pública cuja missão é fiscalizar o próximo.

 

Senhora dra. Rita Luís, tenho o maior respeito pelas suas opiniões (na realidade não tenho, mas convém-me dizer que sim for the sake of the argument) mas as universidades são frequentadas por adultos e estes não precisam que lhes imponham na prática a dieta xis ou ípsilon. Mais: têm o direito de escolha. Faça V. Exª propaganda das suas certezas junto deles e dos fornecedores, convença-os e deixe o Diário da República e as polícias em paz.

 

Todos os maluquinhos, antigamente no café e hoje nas redes sociais, começam com frequência as frases com a expressão “se eu mandasse…” e a seguir vem a solução milagrosa para salvar o país dos seus males, ou as pessoas delas próprias.

 

É uma infeliz medida do nosso tempo que os maluquinhos tenham chegado ao poder.

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publicado por José Meireles Graça às 12:52
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Domingo, 14 de Julho de 2019

Quotas - Equívocos à direita

É pouco provável que o assunto das quotas Fátima Bonifácio desapareça do espaço público porque serve os discriminados, reais ou imaginários (as quotas são um atalho para a melhoria da condição, nuns casos, e a porta para lugares inacessíveis, noutros), e os radicais de esquerda porque precisam de bandeiras que lhes alimentem a fábula da superioridade moral e, de caminho, lhes garantam uma boa base eleitoral, e por sua vez lugares de eleição e nomeação. O assunto conta também com o interesse da mole das pessoas Maria-vai-com-as-outras, que compram a moda do pensamento bonzinho que andar no ar, e ainda daquelas de direita que têm um medo pânico de que as rotulem de racistas, ou machistas, ou negacionistas, ou outra coisa qualquer que os acantone como reaccionários.

 

Miguel Poiares Maduro, num interessante artigo no DN, vem dizer que a discriminação existe porque os processos de selecção são estruturalmente enviesados, embora não formalmente discriminatórios, e que o uso de algoritmos provenientes da inteligência artificial, alegadamente objetivos, veio expor esta discriminação subjacente: “A IA aprende com base no histórico e descobriu-se que em certos casos os algoritmos excluíam, por ex., os diplomas universitários em colégios femininos; era isso que lhes ‘ensinava o histórico".

 

Com base nesta constatação, propõe um armistício esquerda/direita, em torno da aceitação das quotas, colocando duas condições: “Primeiro, necessitamos de dados para conseguir apurar da existência dessa discriminação estrutural com base na raça ou género numa determinada área. Segundo, as quotas devem estar sujeitas a uma cláusula de caducidade. Devem existir apenas enquanto existir o risco dessa discriminação estrutural. Sem essa cláusula, irão consolidar-se numa nova forma de discriminação”.

 

Poiares parte do princípio de que o apuramento de dados é uma actividade inocente para apurar a existência de discriminação. Mas não é: os milhentos estudos que existem para demonstrar que as mulheres ganham menos do que os homens raramente comparam situações iguais, isto é, assentam no pressuposto de que se os homens, ou as mulheres, estão sobre ou sub-representados numa profissão qualquer, isso é uma fatal decorrência de práticas discriminatórias. Sê-lo-á, em muitos casos; e noutros não. E nada garante que o sistema de quotas não venha a trocar reais discriminações com base em preconceitos misóginos ou racistas por outras burocráticas em que o homem branco é o perdedor, em razão de critérios rácicos e sexistas in reverse.

 

No exemplo dado acima (o da discriminação apurada pela IA) acaso não haverá formas menos intrusivas, autoritárias e insusceptíveis de criar novas discriminações, para corrigir paulatinamente a situação? E acaso o assunto foi devidamente estudado, à luz da precaução metodológica, que se deve sempre ter, de que correlações nem sempre são causalidades?

 

Quanto à cláusula de caducidade, faz sorrir. Aberta a porta das quotas, é um caminho sem retorno porque é inesgotável a quantidade de profissões e lugares que não reflectem a exacta proporção de homens/mulheres ou brancos/pretos ou hetero/gays ou outra dicotomia qualquer. Apenas um exemplo: Poiares Maduro acharia bem quotas para juízes homens, sob pretexto de que a maioria dos magistrados são mulheres, na hipótese de a Inteligência Artificial vir a esclarecer que a maior parte dos seleccionados fazem chichi sentados?

 

Nisto como noutras coisas, nunca houve falta de consenso e de quem esteja em cima do muro.

 

Parece que o PS comprou, com décadas de atraso, a ideia simples de que as despesas do Estado não podem ser superiores à receita, ideia salazarista e europeia que servia para separar a esquerda da direita. Agora não serve. Claro que o equilíbrio não é obtido da melhor maneira, e o preço da escolha da dupla Costa/Centeno é o lento deslizar do país para o fundo da tabela dos rendimentos na Europa e os serviços públicos cada vez mais votados ao desserviço do público. Mas o eleitorado, que não pode ser enganado o tempo todo, ainda está na fase do benefício da dúvida, como se verá nas próximas eleições, à semelhança das últimas.

 

De facto, entre versões do mesmo socialismo edulcorado, prefere o original. E o discurso de que as eleições se ganham ao centro tem dois defeitos: um é que não vale a pena ganhar eleições para fazer a mesma coisa que faria quem foi derrotado; outro é que as derrotas de hoje, se em nome de escolhas seguras e claras de políticas alternativas, são as vitórias de amanhã.

 

Centro? Consenso? Não estamos em tempo disso: o PS que se enforque com a corda da sua vitória, acolitado pelos soviéticos e venezuelanos que lhe servem de bengala.

publicado por José Meireles Graça às 15:32
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Sábado, 13 de Julho de 2019

O Serviço Nacional de Saúde é para ricos

2019-07-13 Maternidade Afredo da Costa.jpg

Fulana (nome fictício), que não tem ADSE nem seguro de saúde nem dinheiro para pagar do seu bolso cuidados de saúde no privado, e que persiste em engravidar contra o bom-senso da matriz cultural europeia de inspiração cristã, atingiu as 40 semanas de gravidez no início da semana e dirigiu-se à Maternidade Alfredo da Costa onde lhe disseram que se não entrasse em trabalho de parto até ao final de domingo regressasse lá para lhe induzirem o parto e a mandaram embora.

No domingo à tarde dirigiu-se à MAC onde tirou uma senha e foi vista por uma enfermeira na triagem às 4 da tarde e depois de esperar a sua vez por um médico às 8 da noite, que lhe disse que se não entrasse em trabalho de parto até terça-feira regressasse lá pare lhe induzirem o parto e a mandou embora.

Na terça à noite regressou à MAC, onde lhe disseram que estavam lotados e não a podiam atender, e lhe entregaram uma carta a dizer que devia ser acolhida com urgência numa unidade de saúde para lhe induzirem o parto e a mandaram embora.

Foi tentar a sorte no Hospital Amadora-Sintra, que queria evitar por ter tido lá a primeira filha e o parto ter sido particularmente penoso, onde lhe disseram que estavam lotados e não a podiam atender, e lhe deram uma carta a dizer que devia ser acolhida com urgência numa unidade de saúde para lhe induzirem o parto e a mandaram embora.

[Estas sucessivas idas e vindas e ordens de ir embora tentar a sorte npoutro lado foram vividas, lembro aos mais distraídos, por uma grávida de 41 semanas]

Fez as contas com a família e depois de inventariarem as poupanças que podiam mobilizar foi para o Hospital CUF Descobertas. Onde foi acolhida na terça à noite, o parto lhe foi induzido na quarta de manhã e decorreu rapidamente e sem qualquer problema, e de onde teve alta com o bebé na sexta-feira.

A recusa do acolhimento nas duas unidades de saúde do SNS, que no entanto custam os olhos da cara aos contribuintes, custou à família cerca de 3.200 euros. Se não os tivessem, teria tido que parir na rua.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 11:49
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Sexta-feira, 12 de Julho de 2019

Os novos mártires

2019-07-11 São Sebastião.jpg

A direita não tem, graças aos bons préstimos do comunismo, falta de mártires, exactamente como a esquerda não a tem graças aos bons préstimos do fascismo, ou dos regimes autoritários de direita, para não melindrar os que por falta de rigor técnico ou por defesa da reputação própria não gostam que se designe genericamente de fascismo qualquer regime autoritário de direita, mesmo se o termo, mesmo que possa estar ferido de alguma inexatidão teórica, seja adequado para designar aqueles que designa por ser perfeitamente claro que são eles, e não outros, os nomeados.

Mas hoje em dia há uma direita que não se satisfaz com os mártires do comunismo, que no entanto ainda continua a produzir mártires, nem se revê mais no combate da direita clássica ao comunismo em defesa da democracia liberal com economia de mercado, até prova em contrário a organização de sistema político e de sociedade mais livre e próspera de todas quantas foram experimentadas ao longo da história da humanidade, mas se reclama vítima de outros totalitarismos que encontra exactamente nas democracias liberais com economia de mercado do mundo ocidental em que vive e que se dedica a combater. A direita clássica combatia em defesa deste sistema, esta nova direita combate-o. O mais denunciado de entre eles é o totalitarismo do politicamente correcto.

Infelizmente para quem quer à viva força encontrar mártires, e felizmente para os mártires propriamente ditos, o politicamente correcto não dispõe dos instrumentos clássicos do comunismo e do fascismo para os produzir. Não prende nem tortura nem assassina as suas vítimas, não lhes arranca unhas nem olhos nem lhes parte ossos para lhes arrancar confissões ou declarações de arrependimento ou de conversão, não as obriga sequer a passar horas ou dias de pé em torturas de sono, não as condena a trabalhos forçados em regiões inóspitas onde a probabilidade de sobreviver ao cumprimento da pena é quase nula nem a internamentos em instituições psiquiátricas de onde se sai doido ou morto. A ofensa mais frequente com que o politicamente correcto os martiriza é do domínio do name calling: chama-lhes racistas, xenófobos, homofóbicos, misóginos, ou mesmo fascistas quando os quer injuriar genericamente sem se dar ao trabalho de procurar a injúria mais adequadas a cada circunstância específica.

É verdade que os vigilantes do politicamente correcto se eriçam e exigem punições exemplares para os que, por descuido ou com dolo, dizem coisas que lhes violam a exigência de um discurso bactereologicamente puro de focos de racismo, xenofobia, homofobia, misoginia ou outras fobias que combatem, por vezes formando grupos de linchamento verbal, mas apenas verbal, é verdade que os governos formam Comissões para satisfazer as exigências destes grupos preenchidas por gente que pensa do mesmo modo que eles, é verdade que as campanhas mediáticas de sensibilização para essas desigualdades estimulam as queixas e fazem aumentar o seu volume de ano para ano, mas também é verdade que quando chegam a tribunal a esmagadora maioria das punições aplicadas por essas comissões são neutralizadas. São mais as vozes do que as nozes.

Podemo-nos queixar de eles serem irritantes, podemo-nos queixar de lhes ser dada mais trela do que merecem, podemo-nos queixar da evidência de que se pudessem e dispusessem dos meios de repressão apropriados nos infernizariam a vida, e se viessem a conquistar o poder o fariam, mas dificilmente nos podemos queixar de vivermos martirizados por eles. Até porque não têm esse poder.

E portanto, sentindo necessidade de apresentar mártires e à falta de vítimas de ossos partidos ou olhos arrancados, ou escondidas em valas comuns, ou desaparecidas no oceano depois de terem sido lançadas de helicópteros, esta direita que combate o sistema tem de recorrer à criatividade para criar os mártires do politicamente correcto. E o melhor que tem arranjado é um inglês que se tornou conhecido como Tommy Robinson.

E quem é Tommy Robinson?

É um activista político inglês da classe operária, de 36 anos, de nome verdadeiro Stephen Yaxley-Lennon, que fez parte em tempos da English Defence League, um movimento de protesto da extrema-direita com historial de activismo violento contra o Islamismo militante, que significa mais ou menos um grupo de jovens que dedicam o seu tempo a andar à porrada na rua com grupos de jovens muçulmanos. Tem cadastro com condenações por diversos tipos de crimes, da violência em recintos desportivos, ou hooliganismo puro e duro, à fraude hipotecária, passando por uma tentativa de entrar nos EUA com um passaporte falso para contornar a impossibilidade de obter visto para o seu passaporte com o cadastro criminal que conseguiu acumular. Em suma, não é flor que se cheire, nem ninguém que se ambicionasse para genro. Mas tem, para a extrema-direita populista, e eu chamo-lhe assim sem preocupações de grande rigor taxonómico mas porque identifica bem aqueles de quem estou a falar, a vantagem de personificar a virtude das origens humildes que combatem os pecados das elites, e o curriculum vitæ de denúncia persistente do islamismo reforçada com doses industriais de cacetada em muçulmanos.

E de que é vítima Tommy Robinson?

De limitações da sua liberdade de expressão, uma forma de os seus defensores designarem uma série de desobediências a ordens de tribunais, por exemplo por ter organizado uma manifestação à porta de um tribunal onde eram julgados muçulmanos por crimes de pedofilia que o tribunal proibiu por assumir que poderia ser aproveitada pela defesa para pedir a anulação do julgamento por pressão ilegítima sobre o juri, ou por ter sido apanhado em sessões de um julgamento de gangs violentos a filmá-lo e transmiti-lo online, ordens que eles consideram serem motivadas para calar as suas denúncias dos crimes dos muçulmanos e da protecção que o sistema lhes proporciona.

Ora nas ordens jurídicas das democracias liberais ocidentais, e exceptuando as sentenças dos tribunais cíveis a ordenar o pagamento de dívidas que não são automaticamente assimiladas a ordens do tribunal para as pagar mas apenas a um pretexto necessário para os credores instaurarem novos processos de execução com mais custas judiciais e de patrocínio, e estas são a aberração e não a virtude, a desobediência a ordens de tribunais é tratada com mais dureza do que o conceito que parece relativamente inócuo de desobediência sugere, com penas de prisão. E o Tommy Robinson, com a acumulação de desobediências a ordens de tribunais, acabou por ser mesmo condenado a uma pena de prisão nesta nova vida de activista político. Correndo, defendem os seus defensores, risco de vida por ficar internado em estabelecimentos prisionais onde também estão internados os seus arqui-inimigos, os muçulmanos, como se ele fosse uma flor de estufa frágil e não um calmeirão que passou boa parte da vida a rachar cabeças a golpes de matraca, e até já as veio rachar a Guimarães.

Acresce que ele recebeu convites de activistas da alt-right americana para visitar os EUA que não lhe foi possível satisfazer por estar impedido de entrar nos EUA, por causa de ter sido apanhado a tentar entrar com passaporte falsificado como se devem lembrar. O que junta às limitações à liberdade de expressão e ao encarceramento com risco de vida as limitações à liberdade de circulação.

E ficou instituído o mártir desta direita, censurado, encarcerado em risco de vida, impedido de voar para o mundo livre, como se estivesse num Gulag.

Só que não está.

Ser objecto de name calling pelos vigilantes do politicamente correcto, mesmo sabendo que eles, se pudessem, lhe limpavam o sebo, não faz de ninguém mártir, tal como ser olhado de lado por declarar homofobia não faz de ninguém vítima de heterofobia, tal como ser condenado em tribunal por crimes cometidos não faz do réu mártir, mesmo sabendo-se que as prisões estão cheias de criminosos, alguns deles violentos, mas apenas um criminoso aos olhos do tribunal que o condenou.

E se esta direita a que eu chamo por economia de palavras a extrema-direita populista anda à procura de mártires entre quem não é realmente martirizado como tantos foram ao longo da história por razões religiosas, políticas, raciais ou mesmo sexuais, e alguns ainda são, mostra uma pieguice insuportável. E se os procura entre hooligans anda mesmo aos caídos.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 10:20
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Domingo, 7 de Julho de 2019

Quotas da discórdia

Nunca aceitei, nem aceito voluntariamente, as quotas para mulheres – nos cargos resultantes de eleições, nos de direcção de empresas e em todas as situações em que estejam sub-representadas e essa sub-representação seja apresentada, com boas ou más razões, como advinda de preconceitos.

 

Não é que, no mercado de trabalho ou na dura competição pela obtenção do poder político, elas não tenham objectivamente handicaps, sobretudo se tiverem ou quiserem ter filhos. É que, legalmente, a condição de mulher já está reconhecida como de perfeita igualdade em direitos e portanto o inegável surgimento de mulheres em lugares de mando é uma legítima conquista fundada no mérito. Tão pacíficas hoje, a evolução e o mérito, que ninguém no espaço público e na opinião defende uma marcha-atrás nos direitos cívicos das mulheres, ou na igualdade entre os sexos, nem torce o nariz quando uma delas atinge lugares de topo, senão pelas mesmíssimas razões que torceria se fosse um homem – isto é, por se tratar de uma imbecil, ou ignorante, ou esquerdista, ou fascista, ou outra coisa qualquer que não tem nada a ver com sexo e tudo com ideologias, crenças, práticas e discurso.

 

Dito de outro modo: eu acho a senhora Úrsula von der Leyen um perigo e a senhora Lagarde uma estrela pop, uma por ser federalista e a outra por ser um saco de vento inconstante e superficial. Mas nada permite supor que desempenharão pior papel do que qualquer dos seus colegas, visto que na alta roda do funcionalismo supranacional não há falta de homens com aquelas características: lembremo-nos de Guterres, tão oco e esponja de ideias boazinhas que andam no ar que para ser ainda mais politicamente correcto só lhe falta usar saias, ser gay e vegan, tudo a tempo parcial. A tempo completo, continua a ser o perfeito patarata verboso que foi toda a vida.

 

Pois bem, o sistema de quotas para mulheres tem dois problemas:

 

Um é o de que, se uma mulher chega a um lugar por ser mulher e não por ser melhor do que qualquer outro candidato, a qualidade do desempenho só pode, se a lógica não for uma batata, ressentir-se. É certo que o preconceito pode, em circunstâncias iguais ou parecidas, fazer pender a balança para o lado dos homens, sobretudo se quem decide tiver, como muitos provavelmente terão, preconceitos inassumida ou inconscientemente misóginos. Sucede que confiar na evolução dos costumes é um caminho seguro – dificilmente farão marcha-atrás se entregues a eles próprios; mas acreditar na engenharia social e nos poderes do Estado para os reformar pode despertar, e desperta quando não haja consenso, a reacção dos que foram derrotados circunstancialmente – quem manda e legisla hoje são uns e amanhã outros. Tenham paciência, senhoras, o caminho da engenharia social é reversível.

 

Outro é o do precedente: se as mulheres estão insuficientemente representadas nos lugares de topo porque neles não figuram na mesma proporção que no conjunto da população, o mesmo raciocínio se pode aplicar a outros cidadãos com marcas distintivas já não de sexo mas de orientação sexual (gays ou lésbicas, p. ex.), origem étnica (pretos, ciganos, asiáticos, etc.), religião (muçulmanos, ateus, protestantes sortidos, etc.) e o mais que se queira que permita identificar um grupo social qualquer que não esteja, ou não se ache, adequadamente representado. E, é claro, se incluirmos no leque de instituições as do ensino, porque sem graus académicos numerosas carreiras estarão vedadas, então é apenas uma questão de tempo até termos quotas para homens, porque estes já estão hoje insuficientemente representados na maior parte dos graus de licenciatura.

 

Ou seja, a derrogação do princípio todos iguais perante a lei, por generosa que pareça a bandeira sob a qual se acolhe (feminismo, anti-racismo, igualitarismo, etc.), é grávida de uma interminável guerrilha com vencedores hoje que serão os derrotados de amanhã, e abre uma porta de conflitualidade dispensável. E não se julgue que o facto de as mulheres serem a maioria impede qualquer reversão das conquistas do feminismo assanhado: porque precisamente porque as mulheres não são inferiores aos homens e não têm menos discernimento na avaliação das políticas públicas é que, a prazo, julgarão com severidade todas as distorções que, em nome delas, se operaram pela longa e intrusiva mão do Estado.

 

Maria de Fátima Bonifácio, em artigo no Público de sábado passado (disponível apenas para assinantes), verbera este estado de coisas e manifesta-se contra as quotas para negros e ciganos a propósito das declarações de um tal Rui Pena Pires, secretário nacional do PS, que terá declarado: “O PS quer discriminação positiva para as minorias étnico-raciais” e “Se fizermos uma política de alargamento de acesso ao ensino superior, já resolvemos parte do problema. Não faz sentido ter um ensino virado para os melhores alunos, mas sim para todos os que têm as condições mínimas para entrar”.

 

Por outras palavras: o PS quer votos cativos de pretos e ciganos e para o assegurar está disposto a meter no Parlamento, e eventualmente no governo, algumas personagens daquelas etnias que poderão até não fazer má figura, tendo em conta que num e noutro órgão do que não há falta é de personagens especialistas em patacoadas interesseiras e bons amplificadores de disparates bem-pensantes. Mas isto é o menos: abandalhar o grau de exigência do ensino (não há recursos para meter todos, e por conseguinte dar preferência a uns implica excluir outros melhores, para já não falar de uma discriminação ilegal à luz da Constituição, se bem lida) tem um custo oculto: as nossas pobres elites, cuja qualidade está ligada em parte à do ensino superior, levam mais um golpe.

 

Portanto, eu estou com Maria de Fátima Bonifácio. Mas apenas nas conclusões. Sobre os pressupostos, Rui Rocha escreveu no Facebook o seguinte:

 

Em artigo publicado hoje, Maria de Fátima Bonifácio afirma a não descendência (?) de africanos e ciganos da Declaração dos Direitos do Homem. Isto é usado para recusar um sistema de quotas. Mas, se admitíssemos o argumento, este serviria facilmente para negar-lhes também esses mesmos direitos fundamentais. Porque não “descendem”, teríamos que aceitar, por exemplo, que não se lhes aplica o princípio de que todos os seres humanos nascem livres e iguais. Aceitar esta tese abre a porta a um inquietante relativismo moral que parece ser, aliás, aquilo que Bonifácio queria combater. A proposta de quotas deve ser discutida a partir do entendimento sobre os princípios da liberdade e da igualdade, mas nunca da “descendência” ou não de valores fundamentais e universais”.

 

Subscrevo, ainda que qualificasse a “igualdade” acrescentando-lhe “perante a Lei”. E acrescento: O Estado não pode nem deve tolerar comportamentos e práticas que, em nome do multiculturalismo, ofendam valores axiais (com perdão da palavra) do tipo de sociedade que temos, desde logo a igualdade entre os sexos ou a liberdade de expressão da opinião, por exemplo. E isto sem complexos, porque comportamentos não são opiniões, salvo quando estas consistam no incitamento à prática de crimes. Opiniões, cada um tem as que tiver e é livre de as exprimir porque não é a mesma coisa ter opiniões racistas (que são perfeitamente legítimas, tanto como acreditar que a terra é plana, o comunismo o fim da História, ou outro disparate qualquer) e agredir, desconsiderar ou por qualquer forma discriminar um negro; e pode achar-se, e até acreditar por razões religiosas, que a excisão genital feminina é algo de positivo para a coesão social, mas isso não deve impedir que quem a recomende e pratique seja criminal e severamente punido.

 

Por mim, estou certo de que não é cientificamente defensável que por causa de características físicas genéticas haja alguma espécie de superioridade ou inferioridade de algum grupo humano, a viver entre nós ou algures; mas isto não é a mesma coisa que imaginar que todas as culturas se equivalem. Se fosse o caso, todo o progresso social seria impossível porque não haveria em nome do que mudar. E não estou certo, ao contrário de Fátima Bonifácio, que a integração de certas comunidades seja impossível: a tolerância em relação a comportamentos ofensivos dos valores que temos como essenciais, sob o pretexto da neutralidade cultural, é que pode atrasar a integração; e a discriminação positiva também, por ser o reverso da mesma moeda.

 

Finalmente, no dia seguinte o director do Público achou útil publicar um editorial lamentável, em que pede desculpa aos leitores por, em nome da pluralidade da opinião, dar guarida a um texto com “proximidade a teses racistas e xenófobas”.

 

Em vez de qualificar erroneamente um texto que tresleu, teria feito bem em não dizer nada ou, no máximo, esclarecer pela milionésima vez que a liberdade de opinião ou serve para exprimir pontos de vista dos quais se discorda ou não serve para nada.

publicado por José Meireles Graça às 23:11
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Quinta-feira, 4 de Julho de 2019

Casa assombrada

Em 13 de Maio último escrevi um texto sentido em homenagem à minha tia Fernanda.

 

Não sabia, e só soube há pouco, que ela tinha feito um testamento em que deixava ao irmão com quem vivia os bens móveis e dinheiro em banco, bem como o usufruto da casa de que era proprietária.

 

O testamento não dizia mais nada e portanto a casa ficava para os dois irmãos sobrevivos e uma rechimbada de sobrinhos (creio que 13 ou 14, incluindo-me a mim e aos meus cinco irmãos).

 

Dois dos meus manos renunciaram à herança e entre telefonemas e e-mails deles e de um dos dois tios, descobri com espanto que teria de pagar um montante indeterminado ao Fisco pelo privilégio, que confirmei no Portal das Finanças, de ser herdeiro. No mesmo Portal, diz-se ominosamente que sou “cabeça de casal”, mas pelo menos um irmão, e um dos tios, também são assim considerados, pelo que ou a classificação é um expediente para responder por dívidas de outros ou o Fisco ainda não ouviu falar de igualdade entre os sexos – duvido inclusive que até mesmo o meu cão me considere cabeça de coisa alguma.

 

Também quis renunciar à herança ꟷ uma vivenda com um pouco de terreno em Freamunde ꟷ mas fui informado de que em tal caso ela se transmitiria automaticamente para as minhas duas filhas, que igualmente teriam que pagar, a menos que também renunciassem. E como uma das filhas é deficiente profunda mas não está interditada, teria de a interditar primeiro – uma via dolorosa de papelada susceptível de me pôr, se os tivesse, os cabelos em pé.

 

O tio que não ficou com o usufruto ligou-me hoje e diz o seguinte: Que ficou encarregado de recolher de mim e de cada um dos meus irmãos 334,27€ para pagar à Fazenda a título, parece, de imposto de selo; que lá lhe disseram que tem de pagar tudo, e que portanto se algum dos sobrinhos não pagar, paga ele, por ser cabeça de casal; que protestou perguntando a que propósito, e por nomeação de quem, passou a ser cobrador do Fisco, mas lhe foi respondido que “era a lei”.

 

Já fiz a transferência. É possível, mas não certo, que a informação do funcionário não seja completamente correcta, mas infirmar o que diz, ou aliás o que diga qualquer outro funcionário, não paga o esforço nem ajuda o concidadão – o funcionário é inimputável e se tem o hábito, por ignorância ou estupidez, de infernizar a vida a toda a gente, fá-lo-á tranquilamente até à reforma.

 

Parece que não há imposto sucessório – acabou. Mas é claro, pelo que se vê, que não acabou, apenas mudou de nome. E como desejo sinceramente que o meu tio que lá continua a viver o faça por muitos e bons anos, e não tenho portanto intenção de o assassinar, o imposto incide sobre um bem do qual só terei uma ínfima parte daqui a muito tempo, e que só servirá para alguma coisa se puder ser vendido.

 

Qual é portanto a taxa do imposto? Ninguém sabe, foi calculado sobre um valor que o próprio Fisco estima, mas que eu estimo em zero porque, senão, não me ocorria renunciar.

 

Mas já me foram prevenindo: é melhor nem perguntar sobre o IMI. Eu acho que só o usufrutuário é que paga, pela lógica, mas a lógica não tem nada a ver com isto.

 

O que tem a ver com isto é o socialismo. Os meus concidadãos, que alegremente o escolhem desde há quarenta anos, já começam a ver, pelo SNS que abre brechas todos os dias, que acaba quando acaba o dinheiro dos outros. E os filhos deles, que vão herdar as casas que os pais penosamente pagaram e penosamente mantêm, descobrirão a seu tempo que quando acaba o dinheiro dos outros o Estado vem buscar o deles.

publicado por José Meireles Graça às 00:12
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Quarta-feira, 3 de Julho de 2019

Os europeus, uma espécie em vias de extinção

2019-07-02 Ursula Von der Leyden.jpg

No dia em que foi escolhida para presidir à Comissão Europeia uma mulher com sete filhos, Ursula Von der Leyden, tenho andado a discutir nas redes sociais aquilo a que alguns gostam de chamar, e eu não, a invasão muçulmana.

Queixam-se os denunciantes da invasão muçulmana que a permeabilidade das fronteiras à imigração ilegal, o acolhimento de refugiados e os brandos costumes dos europeus, que não obrigam como eles pensam que deviam obrigar os imigrantes e refugiados muçulmanos a adaptarem-se à cultura europeia, ou àquilo que chamam a matriz cultural europeia de inspiração cristã, por exemplo impedindo o uso de vestes religiosas muçulmanas como as diversas formas de véu, que está em curso uma cruzada de islamização da Europa baseada na invasão do continente por muçulmanos, imigrantes e refugiados. Que por seu lado justifica um controlo rigoroso dos imigrantes e refugiados que se deixam entrar, numas versões, ou mesmo ao fecho hermético das fronteiras, noutras.

Tese abundantemente ilustrada nas redes sociais por histórias terríveis e odiosas, desde países em guerra civil travada pelos imigrantes e refugiados muçulmanos contra as populações locais, a surtos de crime, e de crime do mais odioso, como as violações em massa de mulheres brancas ou os casamentos forçados com crianças, a movimentos políticos organizados de imigrantes muçulmanos a exigir a instauração da sharia nos países europeus ocupados por eles. Histórias que raramente chegam aos mainstream media, ou não com a extensão e profundidade que as redes sociais lhes dão, para esconderem do povo as consequências do globalismo e do multi-culturalismo, dizem os que as divulgam nas redes sociais, porque são imaginadas, dizem outros que visitam esses países e não dão por guerras civis nem violações em massa nem casamentos de crianças. Ou através de teses que defendem que os voluntários que dedicam o seu tempo a tentar salvar náufragos no Mediterrâneo estão afinal coordenados com as redes de traficantes de imigrantes ilegais que lhes pagam a peso de ouro para levarem para portos europeus os imigrantes ilegais que eles embarcam em praias do norte de África.

Estas teses inspiram nas redes sociais inúmeros activistas anti-imigração, de que se podem destacar como exemplos conhecidos em Portugal a actriz Maria Vieira e a, não lhe conheço uma actividade certa mas posso-lhe chamar assim porque escreve em blogues, blogger Cristina Miranda, de que não estou em posição de identificar o perfil do Facebook por me ter bloqueado e portanto não lhe ter acesso mas que me dedicou estas simpáticas palavras que lhe agradeço publicamente, e partidos como o PNR ou o novo Chega (ou Basta? que me perdi nas mudanças de nome).

Para atalhar razões, defendem que o movimento de imigrantes e refugiados faz parte de uma conspiração muçulmana para invador e islamizar a Europa. E terão fundamento para pensar assim?

Do propósito e da orgânica do movimento migratório tanto podemos acreditar como acreditar que é uma teoria da conspiração. Eles, os imigrantes e refugiados, lá saberão se são soldados de um exército invasor para instaurar o islamismo na Europa, se meros seres humanos a fugir da miséria ou dos horrores de guerras mortíferas para tentarem oferecer às suas famílias um local decente onde consigam levar uma vida decente, como tantos portugueses fizeram em décadas passadas emigrando para a Europa e a América.

Sobre as consequências há quem tenha feito estudos.

Este, do Pew Research Centre, sobre o crescimento da população muçulmana na Europa, além de fazer um retrato da presença de muçulmanos em 2016, elaborou previsões baseadas em diversos cenários de políticas públicas relativamente à imigração, incluindo as mais radicais, a de fronteiras completamente abertas e a de fronteiras completamente fechadas à imigração.

2019-07-02 Pew 2016-2050.jpg

Sobre a presença de muçulmanos na Europa em 2016 apurou que ascendem a 4,9% da população, sendo o país onde ela é mais importante a França, o que é natural numa antiga potência colonial com colónias no norte da África, com 5,7 milhões de muçulmanos correspondentes a 8,8% da população. Os outros países onde há maior peso percentual de muçulmanos são os países prósperos do centro e norte da Europa que historicamente atraem imigração, nomeadamente a portuguesa, como a Alemanha, o Benelux, o Reino Unido, a Suíça e a Suécia. Com menos peso a Itália, que no entanto assumiu a vanguarda da resistência à entrada de imigrantes com o governo Salvini que criminaliza o salvamento de náufragos no Mediterrâneo a pretexto de os barcos que os salvam estarem envolvidos nas redes de traficantes de imigrantes ilegais. E com um peso próximo de zero e só semelhante ao dos países de leste Portugal, o que sugere que os portugueses que fazem da imigração muçulmana uma obsessão, e há-os como os que enumerei antes, parecem tomar como suas preocupações que têm relevância noutros países mas nenhuma em Portugal, ou seja, parecem engravidar pelos ouvidos nas redes sociais.

Estes números para a proporção de muçulmanos e a sua diferença face à percepção das populações estão em linha com os resultados do inquérito realizado pela Comissão Europeia em 2016 sobre a assimetria entre o número de imigrantes percebido pelas populações dos diversos países da Europa e o real, que explicam melhor do que o número real de imigrantes a orientação das políticas públicas face à imigração.

2019-07-02 Perceived proportion of immigants.jpg

Mas a aferição da adequação e eficácia das políticas públicas faz-se pelos seus efeitos.

E o estudo prevê que no cenário radical de encerramento das fronteiras à entrada de novos imigrantes, que nem na Itália de hoje em dia está a ser praticado, a proporção de imigrantes na Europa crescerá dos 4,9% actuais para 7,4% em 2050, um aumento de 50%, e na Itália mais de 70%, de 4,8% para 8,3%.

Porquê? Por uma razão muito simples, os imigrantes continuam a ter filhos a taxas normais, enquanto os europeus têm cada vez menos e abaixo da taxa que garante a reposição dos níveis demográficos.

Para garantir a reposição dos níveis demográficos e a estabilidade da população todas as pessoas devem ter em média dois filhos. O número requerido é na realidade um pouco superior para compensar efeitos adversos para a demografia como a mortalidade antes de começar a ter filhos, mas para efeitos de simplificação pode-se admitir que são dois por casal. O que significa que por cada casal com apenas um filho deve haver outro com três. Ou por cada casal sem filhos, ou por cada duas pessoas que não chegam a formar casais, dois casais com três ou um com quatro. E significa também que se uma geração de casais tiver em média apenas um filho em vez de dois a população se reduzirá para metade a longo do ciclo de vida dessa geração, para um quarto ao fim de duas gerações, e para um milésimo ao fim de dez. E este parágrafo é simplesmente Aritmética que não está sujeita a opiniões nem preferências. É assim.

Já no caso extremo de a Europa escancarar as portas à imigração a população muçulmana na Europa poderá atingir os 14%, uma em cada sete pessoas, curiosamente a proporção que será atingida na Itália, com valores mais elevados na Suécia onde se aproximará de um terço e nos países mais ricos do centro da Europa onde se aproximará de um quinto. Cerca do dobro dos valores esperados com fronteiras fechadas, por seu lado 50% superiores aos actuais.

O que significa que mesmo com fronteiras abertas a população muçulmana ainda estará muito longe de ser maioritária em 2050, e com fronteiras fechadas ainda será substancialmente superior à actual. A invasão muçulmana está longe de parecer votada ao sucesso, e o fecho da Europa aos imigrantes não estancará o crescimento da população muçulmana na Europa.

Porquê? Pela razão apontada antes. A ameaça que a Europa enfrenta não é a invasão muçulmana para substituir a prazo a população europeia ou para lhe impor os seus valores, é a extinção da espécie por não se conseguir ou não se querer reproduzir aos níveis mínimos para assegurar a sua subsistência.

E porque é que os europeus têm cada vez menos filhos? Não é fácil encontrar uma explicação. Talvez porque se apaixonaram pela prosperidade material inédita na história de que usufruem actualmente e prefiram gastar o dinheiro em casas e carros bonitos e férias em destinos exóticos a gastá-lo em fraldas e pediatras e colégios se tiverem filhos? E água muito mais cara por metro cúbico, já agora? Talvez se tenham convencido que ter filhos é um serviço prestado à comunidade que não devem prestar gratuitamente, sem apoios, sem subsídios, sem condições? Por uma razão não é certamente, pelas condições materiais que têm à sua disposição, porque os imigrantes ganham em média muito menos, têm em média muito menos estabilidade laboral, e continuam a ter filhos a níveis normais. A razão da queda de natalidade dos europeus parece ser mais cultural do que material.

O problema da Europa não se resolve proibindo a imigração e deixando os imigrantes naufragarem e morrerem no Mediterrâneo, o que aliás está em grave contradição com os valores humanistas da matriz cultural europeia de inspiração cristã de cuja defesa contra a ameaça muçulmana se reclamam os detractores da imigração, não se resolve adoptando políticas de imigração adequadas às necessidades de mão-de-obra das economias, o que soa a planificação da economia que sempre foi um método de não resolver problemas mas de criar outros que se somam aos originais, e não se resolve submetendo os imigrantes à aceitação dos valores culturais europeus ou aceitando-os em função da proximidade entre os seus valores e os europeus. O problema da Europa resolve-se tendo filhos.

Se os europeus não os passaram e ter sistemática e sustentadamente a níveis que asseguram a reposição dos níveis demográficos, os tais mais de dois filhos em média por casal, continuarão a abrir voluntariamente um vazio demográfico que um dia será ocupado por quem lhes sobreviver, não lhes caberá a eles escolher quem os deverá substituir quando um dia se extinguirem, e é até patético pensarem que têm legitimidade e capacidade para o fazer. Se desaparecerem a Europa será de quem ocupar o vazio deixado por eles.

Em que é que os ajuda fecharem a imigração ou controlarem-na a níveis adequados às necessidades da economia e garantirem a integração cultural dos imigrantes? É um cuidado paliativo. Tem a vantagem de controlar a dor a níveis suportáveis ou cómodos e a desvantagem de retirar ao doente o sentido de urgência da cura para garantir a sobrevivência. É um engano, uma perda de tempo e energia que atrasa o ataque ao problema real.

Se a Europa quer sobreviver não tem que resistir à invasão muçulmana, tem simplesmente que ter filhos em vez de continuar a não os ter ao mesmo tempo que os imigrantes os continuam a ter, porque nesta história são eles as pessoas normais guiadas pelo sentido mais básico da biologia, o sentido de preservação da espécie.

Se não os tiver tanto lhe dá que quando se extinguir venham muçulmanos, como coelhos, ou moscas. Foi incacaz de sobreviver e não estará cá para saber quem lhe sucederá. Não mereceu sobreviver.

Neste cenário sombrio, muito mais negro, por conduzir a uma morte certa, do que o de uma invasão muçulmana, é de celebrar a nomeação de uma presidente da Comissão Europeia, um dos lugares com mais influência na definição de políticas públicas na Europa, de uma mulher com sete filhos. Talvez não esteja tudo perdido.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 00:52
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