Sempre ouvi dizer que nos princípios não se pode transigir. Por isso, entre outras, defendi Sócrates quando foi preso como foi e interrogado apenas dias depois. Pode ser legal mas é imoral e, é bom que não nos esqueçamos, amanhã qualquer um de nós poderá ter que se valer dos princípios.
É exatamente por isso que compreendo mal a opção do PS.
O PS viu a oportunidade e transigiu nos princípios. Em vários, talvez mesmo em todos:
Desde logo transigiu na forma como, desde há 40 anos, se tem entendido a legitimidade popular ou política. Era terreno comum que era ao Partido mais votado que cabia governar (ou, pelo menos, ter a oportunidade de iniciar o seu mandato). Foi assim com Cavaco, Guterres, César e Sócrates. Não havia nenhuma razão para não o ser agora. Esta não é, nem nunca foi, uma questão constitucional. É política ou de autoridade, no que de mais nobre tem a política. Sempre assim foi porque qualquer tentativa de formação de coligações contranatura teve o contrapeso do respetivo Presidente da República (Soares e Sampaio). O PS, apercebendo-se da oportunidade de o Presidente da República não poder dissolver o parlamento, resolveu transigir nos princípios.
Não se diga, por isso, que esta é uma questão pouco relevante ou que o que vale é apenas a maioria parlamentar. O PS sempre soube que assim não era. Por isso, na campanha, quando havia a possibilidade de a Coligação ter mais mandatos e menos votos, o PS defendeu que o relevante era ter mais votos. Por isso o PS defendeu, depois (quando percebe que teria menos votos e menos mandatos que a Coligação), que o mais relevante é ser o partido com mais mandatos (na expectativa que sozinho tivesse mais deputados que o PSD). E, só quando se percebeu que a Coligação teria mais votos e mais mandatos e que o PSD sozinho teria mais deputados, passou a defender que o relevante era ter uma maioria parlamentar. Numa palavra: viu a oportunidade e transigiu nos princípios.
Bem se percebe: ganhar eleições não é um detalhe em democracia. É o essencial. Que o diga Santana Lopes.
E, de facto, pior que ser Primeiro-Ministro não eleito (ainda que apoiado por sólida maioria parlamentar), só ser um Primeiro-Ministro derrotado... Com menos votos, menos mandatos e menos deputados. E apoiado por uma maioria conjuntural e instável. Santana Lopes era, de facto, o Primeiro-Ministro de uma maioria parlamentar, Costa nunca será o Primeiro-Ministro do PCP ou do Bloco. Pior, Costa não é, sequer, o Primeiro-Ministro do seu grupo parlamentar e, muito menos, de muitos que nele votaram.
Tem um homem que tanto transigiu e tão pouca legitimidade apresenta alguma condição de ser Primeiro-Ministro? A única parte que não percebo é que porque se sujeita o próprio a tamanho vexame.
Blogs
Adeptos da Concorrência Imperfeita
Com jornalismo assim, quem precisa de censura?
DêDêTê (Desconfia dele também...)
Momentos económicos... e não só
O MacGuffin (aka Contra a Corrente)
Os Três Dês do Acordo Ortográfico
Leituras
Ambrose Evans-Pritchard (The Telegraph)
Rodrigo Gurgel (até 4 Fev. 2015)
Jornais