Relvas tirou um curso de favor, porque era quem era; e Sócrates um curso de favor tirou porque era quem era. Os casos não são exactamente iguais: um aproveitou uma legislação que não devia existir e somou-lhe o jeitinho português; e o outro ficou-se pelo jeitinho, acrescentando-lhe, provavelmente, uma falsificação.
A blogosfera dos reflexos condicionados, que é quase toda, reagiu canonicamente, crucificando uns um e outros outro. Está bem: a previsibilidade, a mim, dá-me uma certa paz.
Os dois fait-divers foram porém positivos: vieram mostrar que um diploma de curso superior não certifica coisa alguma ou, melhor, que ele há diplomas e diplomas. A Católica ou Coimbra não são a Lusófona ou o Instituto de Estudos Superiores de Fafe.
E como o Estado, que deve certificar o ensino obrigatório, não deve certificar o ensino superior se quiser preservar a liberdade das universidades, fica o mercado para fazer a destrinça.
O mercado é muito imperfeito: o próprio Estado não distingue, para prover os seus quadros, a universidade A da B. Mas devia - nas empresas já isso se faz, diz-me em que te formaste e onde.
Depois há as doutorices: um perfeito imbecil pode não apenas licenciar-se mas inclusive dar aulas. Sempre assim foi - a diferença actual não é qualitativamente muita, ainda que em casos extremos se possa falar de pura e simples vigarice. Que a opinião pública se habitue a ligar mais aos argumentos per se, e menos aos de autoridade, é uma coisa boa.
Quanto ao bom do Relvas, é claro que se devia ter demitido há muito, no interesse próprio, no do Governo e no do País. Se o tivesse feito a tempo, perderia a auctoritas mas não a dignitas.
Mas o incidente tem um valor pedagógico, e esse vai ficar; a trapalhada esquecerá, como foram esquecidas as várias dúzias que há décadas alimentam o espaço público do nosso entretém.
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