Viriato Soromenho Marques é federalista e de esquerda. Eu sou nacionalista e sensato. Não sei se Viriato é há muito federalista, ou apenas desde que constatou que o Euro obscureceu a real performance de muitos países a tal ponto que a certos Estados, e aos cidadãos deles, foi concedido crédito muito para além do razoável. Mas sei que nunca fui federalista, e estou seguro que aqueles que sempre o foram não têm consciência que uma tal crença, se levada à prática, seria uma asneira ainda maior que o estúpido voluntarismo do Euro. Como cidadão, a minha opinião e o meu voto valem, na hora de escolher, tanto como o do Sr. José, meu empregado, que sobre estas matérias declara sobriamente que "eles estão lá é p'ra se encherem, que vão todos para a puta que os pariu". E o que eu digo, o que diz este excelente homem, e o que diz Soromenho, no que toca a escolhas básicas, vale o mesmo.
Sucede porém que, pese embora o estado de zanga permanente em que a classe dirigente vive com o País há gerações, somos estrangeiros em qualquer outro sítio que não naquele que se designa por Portugal; e, com excepção de lunáticos, literatos iberistas e cosmopolitas, que sempre houve, nunca seriamente, há muitos séculos, se pôs o problema de acabar com a nacionalidade. Põe-se agora, e de maneira caricata: o País deve o que não pode pagar, porque uma geração inteira de dirigentes políticos inventou a forma de comprar votos com despesa pública e privada sem que, aparentemente, houvesse limites; os hoje credores acreditaram na engenharia porque eram políticos e banqueiros, uns interessados nas grandes construções sociais que lhes compraram notoriedade e lugares, os outros em lucros rápidos e prémios gordos, todos crentes, com razão, que para eles, pessoalmente, não haveria consequências negativas.
Vem agora a segunda vaga: já que nem todos os países europeus perderam de vista que nem todo o empréstimo é virtuoso, nem todo o investimento reprodutivo, nem todo o crescimento são; já que a Europa, no seu conjunto, é uma economia ainda forte e equilibrada, e certamente em melhores condições que a Americana: adoptemos o princípio dos vasos comunicantes aplicado à Economia - com o crédito, as taxas de juro e o rigor e sobriedade nórdicas, voltamos à estrada do crescimento induzido pela dívida e esquecemos esta sombra negra da austeridade.
Os dirigentes dos países que não estão encalacrados respondem perante os respectivos eleitorados, não perante o eleitorado europeu, em si mesmo uma ficção apenas útil para o ritual das eleições para o "Parlamento" Europeu. Esta indignação do iluminado Soromenho contra a "gente pequenina", o "cínico Weidmann" (um "Torquemada monetarista", nada menos) e os "cobardes" que estão em silêncio, além de primária na sua crença de que a realidade objectiva se muda a golpes de inspiração de políticos que ocupam cadeiras temporárias e periclitantes, é também quase doentiamente cega: o caminho seguido pôs-nos de joelhos, exangues e pedintes? Pois então, em vez de mudarmos de caminho, digamos aos credores que eles é que devem mudar, adoptando a nossa maneira de estar.
Não vai ser assim. E que os Soromenhos abundem, e tenham audiência e prestígio, faz parte dos nossos problemas; não das nossas soluções.
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