Em 1980 a economia britânica estava em recessão. Os números do desemprego tinham subido para 2 milhões, em relação aos 1,5 milhões no ano anterior. E continuariam a subir até ultrapassar os 3 milhões em 1982, ano em que acabou a recessão. Margaret Thatcher era chefe do governo desde 1979, e a oposição à liberalização da economia gritava por uma "inversão de marcha" (U-Turn). Ted Heath, ex-primeiro-ministro, protagonizava essa oposição dentro do Partido Conservador, que também tinha liderado até 1975 - ano em que perdeu as eleições internas para Margaret Thatcher, tornando-se um dos seus críticos mais activos.
No dia 10 de Outubro de 1980, durante o Congresso do Partido Conservador, Margaret Thatcher fez um discurso longo. E respondendo aos seus opositores, disse:
"To those waiting with bated breath for that favourite media catchfrase, the "U turn", I have only one thing to say: You turn if you want to. The lady's not for turning. I say that not only to you, but to our friends overseas as well, and also to those who are not our friends."
A frase "The lady's not for turning" passou a designar o discurso completo. E tornou-se um dos lemas mais conhecidos de Margaret Thatcher, que se manteve à frente do governo até 1990.
No passado dia 23, o Primeiro-Ministro reuniu-se com os deputados do PSD. Além destes, estavam presentes alguns ministros, a presidente da Assembleia da República, e mais uns quantos figurões do PSD.
Considerando que havia quem sugerisse que "já chega de ser bom aluno" e de "fazer sacrifícios" porque se aproximam actos eleitorais e não convém perder votos, Pedro Passos Coelho disse aos presentes que "a verdade é que nenhum dos senhores ou das senhoras foi eleito para esse mandato". E que "nenhum dos que aqui estão foi eleito para ganhar as próximas eleições, ou para ajudar a ganhar autárquicas, nem as regionais deste ano nos Açores, nem as europeias que aí vêm a seguir, não foi para isso que fomos eleitos. Foi para responder ao país."
Foi simples, foi directo e tem toda a razão: os deputados não são eleitos para voltar a ganhar eleições. São eleitos para fazer o que tem de ser feito pelo país. Quando a presente maioria foi eleita, sabia-se da situação trágica em que que o país se encontrava, sabia-se que era necessário pôr ordem nas contas, e era conhecido o programa da troika. E toda a gente sabia, porque foi afirmado repetidamente durante o período eleitoral, que o governo concordava com o programa e tencionava cumpri-lo até ao fim.
Para que não ficasse qualquer dúvida, Pedro Passos Coelho esclareceu ainda que "se algum dia tiver de perder umas eleições em Portugal para salvar o país, como se diz, que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal".
Ou seja, não basta pôr ordem nas contas. Para isso, é necessário pôr o PSD na ordem, e foi isso que o Primeiro-Ministro se mostrou na disposição de fazer. Para bem do país e para grande surpresa minha.
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