Épá, toda a agente fala do Relvas, e da canção que está de novo no top of the pops, e eu aqui a trabalhar para salvar o País. Nada, vou parar as minhas mesquinhas actividades e dizer, com acerto e profundidade, da minha justiça.
Tínhamos um ministro que a oposição estimava porque conferia plausibilidade às suspeitas e insinuações de sobreposição de interesses privados a públicos. Mas que agora aprecia porque lhe facilita a criação de um clima insurrecional.
Já em Julho último pessoa excepcionalmente avisada recomendava: "Quanto ao bom do Relvas, é claro que se devia ter demitido há muito, no interesse próprio, no do Governo e no do País. Se o tivesse feito a tempo, perderia a auctoritas mas não a dignitas". E acrescento eu, agora: dignitas, onde estás?
A oposição faz o que lhe compete. O primeiro-ministro, porém, não fez o que lhe competia, por, imagina-se, acreditar que um governo é a mesma coisa que um clube de amigos; e agora não pode, para não dar parte de fraco.
Lindo serviço: não bastava a política seguida inspirar desespero e ódio a quem é por ela prejudicado; e dúvidas a quem, não acreditando que a sarna socialista que aqui nos trouxe seja a receita para evitar a coceira, tem medo de que o doente morra da cura. Fora ainda preciso que o principal trunfo da propaganda anti-situação tivesse assento no Conselho de Ministros.
Quanto aos incidentes que são o estralejar dos foguetes desta festa, reina a confusão das interpretações. A ver se nos entendemos: um grupo que interrompe os trabalhos do Parlamento com uma balada guevarista, ou qualquer outra coisa, deve ser expulso da sala e os seus membros punidos. Porque, se assim não for, podemos deitar fora a parafernália das eleições, e dos Partidos, e do Regimento, que a ordem dos trabalhos é determinada por quem acha que tem poderes de representação popular por nomeações de griteiro, arruadas e estratégias obscuras de comités centrais. O PM fez um comentário simpático à interrupção? Pois tem mau gosto em música, que é um problema dele, e um deficiente entendimento da dignidade do Parlamento, que é um problema nosso.
Já nas universidades o caso é diferente: os estabelecimentos também são dos meninos que lá estudam e quem lá vai sujeita-se tradicionalmente às reacções dos eternos soixante-huitards que aqueles moços com pouco que fazer são, e sempre foram. É uma questão de estômago. Se forem os meninos. Porque na recepção ao Ministro da Saúde, no Porto, os manifestantes já aparentavam ter idade para ser os paizinhos deles.
Paizinhos que têm, evidentemente, todo o direito a manifestar-se - na rua.
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