Gente ingénua acredita que as campanhas anti-tabágicas, as proibições, as coimas, têm que ver com a defesa do direito dos não-fumadores a não serem fumadores passivos.
E os próprios não-fumadores acreditam que, se por momentos sentirem nas narinas o horrível aroma inconfundível do tabaco, a palpitação que imediatamente os aflige é já o prenúncio do cancro no pulmão que, infalivelmente, os vai abater dali a uns anos.
Estas crenças nasceram nos Estados Unidos, acompanhadas dos devidos estudos "científicos" - a moda dos wacko studies é uma criação local, mais genuína aliás do que as aculturações, que consistem em pegar numa tradição qualquer estrangeira, retirar-lhe o gosto e o requinte, se o tiverem, e acrescentar-lhe a marca do rebotalho local. Daí que seja normal o Presidente deixar-se fotografar vestido de cow-boy e com os pés em cima da secretária - a grosseria fica automaticamente promovida a autenticidade. O Povo gosta, exactamente como gosta de junk-food e pelas mesmas razões porque ainda hoje não sabe usar em simultâneo o garfo e a faca.
Infelizmente, naquela terra onde se incrustou a moda dos bonés com a pala a proteger o pescoço - a ver se o cidadão, no caso de não ser negro, se tisna de modo a ficar com aspecto de garnizé - existe uma tradição puritana. E essa tradição, que a modernidade oficialmente nega, manifesta-se na obsessão com o sexo, o crime e o castigo, e a repressão dos vícios.
Daí que a defesa dos direitos dos não-fumadores nunca tivesse sido, nem seja, mais do que a desculpa bem-pensante para impôr a virtude do corpo são, a ver se a alma também fica - sã.
Não acreditam? Pois leiam. Fernando Leal da Costa, esse, já deve ter lido, e no original, que o homem é Americano avonde.
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