Confesso que gostei da entrevista de Sócrates. Melhor; mais do que ter gostado foi-me útil. Com toda a certeza para me relembrar de como é possível subverter todos os números, mas também para ser relembrado de como quem trabalha em geral vai mais longe (a preparação de Sócrates face ao sistemático improviso de Passos faz pensar muito), ou como é bom voltar a ter política com alma.
Porém, foi, sobretudo, útil para perceber porque é que o memorando é o que é. Sempre me havia intrigado como é que um homem combativo e com forte senso político tinha sido capaz de deixar passar imensas incongruências do programa. O famoso mau desenho que quer o CDS que mesmo Gaspar já há muito vinham falando.
Tudo ficou claro. Foram duas as razões: primeiro, Sócrates, logo após o chumbo do PEC IV, as maiores atenções de Sócrates viraram-se para as eleições e não para a negociação de um memorando que nunca quis e que tudo fez para evitar. Por isso delegou a negociação no seu Ministro das Finanças (com quem, aliás, não mantinha nenhuma relação, o que não deixa de ser extraordinário). Segundo, porque mesmo que ganhasse, nunca passou pela cabeça de Sócrates cumprir o memorando.
A estratégia de Sócrates para a saída da crise sempre foi negocial e não de cumprimento. Sempre foi política e não económica. Simplificando: sempre foi mais próxima da Grega do que da irlandesa. Parece que o vejo: escrevam o que quiserem, depois logo negoceio isso….
Só assim se percebe que o documento seja um amontoado de velhas reivindicações do Ministério das Finanças, sem qualquer vertente política.
Todavia, muito mais importante, é a conclusão a retirar: não há outro culpado que não Sócrates para o que no está a acontecer. Pior só mesmo se tivesse ganho as eleições, pois, não só teríamos que cumprir o memorando na mesma, como a estratégia de tudo jogar numa solução política, seguramente que nos teria atirado para bem longe de qualquer flexibilidade.
Blogs
Adeptos da Concorrência Imperfeita
Com jornalismo assim, quem precisa de censura?
DêDêTê (Desconfia dele também...)
Momentos económicos... e não só
O MacGuffin (aka Contra a Corrente)
Os Três Dês do Acordo Ortográfico
Leituras
Ambrose Evans-Pritchard (The Telegraph)
Rodrigo Gurgel (até 4 Fev. 2015)
Jornais