Temos os que defendem o Euro à outrance (recuar nunca, credo!), dos quais há duas variedades: os que temem que isso faça ruir o projecto europeu, com grandes riscos, imaginam, para a paz na Europa, a qual, aliás, para ter peso no Mundo, tem que "falar a uma só voz"; e os que se abstêm de grandes voos de especulação geoestratégica, mas acham que a sobrevivência dentro do Euro implica disciplina das contas públicas, coisa que a Democracia entre nós nunca deu sinais de garantir.
Uns e outros estão dispostos a alienar o mais remoto resquício de autonomia financeira, os primeiros porque supõem que no colégio europeu a voz portuguesa teria, logo que a deriva autoritária alemã esteja emendada, mais peso do que isolada no Mundo, e que a solidariedade entre países não é uma fantasia; e os segundos porque não veem a utilidade da independência, se for para nos condenar ao tipo de gestão orçamental e económica que nos pôs de joelhos, e à sociedade atrasada e pobre que, creem, é o corolário lógico de uma moeda fraca, que seria por sua vez o corolário lógico da gestão socialista a que estamos condenados.
Há mais factores, claro, desde o pavor do desconhecido (os precedentes que existem - Império Austro Húngaro, Checoslováquia, Argentina, outros ainda, nem são convincentes nem aliciantes) até à imensa burocracia que tem o prestígio e o bem-estar ancorados à "Europa", passando pelos nossos responsáveis que, tendo comprometido o País na aventura, não podem, sem perder a face, dizer hoje o contrário do que sempre disseram.
Depois, há os que defendem a saída do Euro. Fora os comunistas, são uma insignificante, ainda que crescente, minoria, tão pequena que é muito mais provável que o Euro se esboroe, ou dele sejamos convidados a sair, ou dele saiam outros e nós por arrasto, do que algum dos partidos que têm estado no Poder desde há mais de três décadas dê o dito há pouco mais de uma por não-dito.
Estes últimos, ademais, têm a vida consideravelmente dificultada porque se lhes exige que digam, expliquem, quantifiquem, o que se vai passar, e eles, coitados, não sabem, que Deus lhes perdoe. É como dizia há dias um economista, cujo nome não retive, para Ferreira do Amaral, com o dedo em riste: Mas reconheça que o problema conceptual da saída é muito diferente do da entrada! Ferreira concordou, e eu também concordaria: a entrada foi muito feliz, mas a sociedade engravidou de um problema, e agora resolvê-lo é conceptualmente - de facto - muito diferente. Para quem quiser inteirar-se do que nos espera, um bom começo é este livrinho e este estudo. Nem um nem outro responde à dúvida principal, que é esta: economia de horror durante quanto tempo?
Isto julgava eu: Ficar ou sair, eis a questão. E a ela dei há muito a minha resposta, previsivelmente minoritária.
Tropeço agora nesta declaração: "Sou partidário de uma saída provisória da união monetária por parte dos países mais débeis", disse Sinn ao jornal Fankfurter Allgemeine Zeitung.
Ele já havia um partido a defender a saída da Alemanha. Saídas provisórias, sem mais detalhes, parece-me à primeira vista fazer sentido nenhum.
Mas as brechas do edifício alargam-se; e aparecem novas. Talvez venhamos, mais cedo do que julgamos, os que contam com a Alemanha para pôr ordem na casa, e os que não querem ordem a preço e prazo incomportáveis, a ficar sem motivo para desentendimento.
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