Duas datas próximas muito importantes para a Itália:
27/11/2013 - O senado vota a "decadenza" de Berlusconi que marcará o fim da imunidade parlamentar e o início de cumprimento de pena do senhor. De seguida irá cumprir serviço cívico e fala-se por aqui que os serviços sociais lhe darão muitas fraldas de pessoas idosas para trocar. Haverá destinos piores.
08/12/2013 - O Partido Democrático vota em primárias abertas a todos os cidadãos a eleição do próximo secretário-geral e candidato a primeiro-ministro. Na linha está Matteo Renzi, a esperança que se segue para revolucionar a Itália (uma improbabilidade no país mais conservador do mundo ocidental, mas a única esperança).
De resto a vida política segue igual a sempre: discussões eternas, guerras intestinas e zero de avanço nas reformas de estado. Todos à espera de Godot, ou seja, de Matteo Renzi. Veremos se chega.
O Gremlin dará notícias.
Mario Monti, o ex primeiro-ministro italiano, demitiu-se hoje de presidente do partido que tinha formado para as últimas eleições. O partido faz parte da coligação de governo com o Partido Democrático e o PDL, partido de Berlusconi. Os onze senadores do seu próprio partido votaram contra Monti numa decisão em que Monti defendia pressão sobre o governo para implementação de reformas profundas do estado. Monti, seguramente farto de aturar as politiquices daqueles que chegaram ao estado pela sua mão, e que agora se lhe agarram com ânsia, desiste e manda tudo à fava. Um homem sério, certo ou errado nas suas convicções, mas honesto que fará falta à Itália, remete-se ao papel de senador à vida que lhe foi dado por mérito excepcional. Não há bons que resistam no ambiente da política italiana. São triturados e cuspidos. Faz lembrar outro país?
Entende-se agora e finalmente porque Berlusconi permitiu a continuação do governo italiano na semana passada.
O presidente Napolitano, muito preocupado com o estado lotado das prisões italianas, ontem enviou uma mensagem ao parlamento dizendo que achava melhor fazer uma amnistia e indulto.
Indulto-amnistia, M5S: “Napolitano padrino del salvacondotto per Berlusconi”
O gato tem mesmo nove vidas.
Lamento desiludir por agora algum leitor interessado em saber como vão as coisas por Itália: - Vão andando.
Mais uma vez, Berlusconi deu um "volte-face" e apoia a manutenção do governo. O PDL de Berlusconi está em divisão acentuada nos últimos dias e nos próximos alguns acordos internos permitirão clarificar a situação. É tudo o que posso dizer, pois, confesso-vos, tenho muita dificuldade em seguir a política italiana. O nível de banalidade, conflitualidade e total desrespeito pelos concidadãos eleitores é de tal ordem que é um execício de nojo seguir a espuma dos dias. Não vale a pena informativamente e é um desgosto.
Apenas uma nota: as contas públicas devem estar péssimas. Não se fala delas, a dívida aumenta, o défice mantem-se controlado, a pressão fiscal sobe (ontem o IVA passou de 21 a 22%). Estou convencido que quando se fizer o cálculo para 2013 haverá surpresas, contudo, sabe-se lá que manigâncias se vão fazendo na contabilidade nacional italiana.
Portanto, por obrigação profissional sigo o que vai acontencendo de fundo, mas já não encontro motivação pessoal para seguir o que vai acontecendo quotidianamente.
Deve ser isto a que chamam "alheamento da política por parte dos cidadãos". Deve acontecer a mais.
Ontem o presidente italiano, Giorgio Napolitano, chorou durante um discurso lamentando-se de como quanto mais se vai avante mais se sente o vazio de soluções políticas para a Itália.
O governo está à beira da crise pois os deputados à câmara, ao senado do partido de Berlusconi e os ministros do PDL (partido de Silvio) no governo ameaçam demitir-se até à próxima quarta-feira se a situação do seu "Capo" não for resolvida a contento.
Napolitano chora sobre os problemas que ele ajudou a criar quando permitiu a solução de entendimento para formação de governo. Chora por si mesmo?
Lá saltará mais um governo para a Itália. Grillo afia as garras e Matteo Renzi prepara o campo para ser o próximo novo-primeiro ministro. Uma guerra infinda onde o país está sempre em terceiro plano.
"É evidente para todos que a Itália não é a Alemanha"
"Claro, se assim não fosse, os nossos problemas estariam já na prisão".
Tenho dificuldade em sintetizar na dimensão de um post o que vai pela Itália. Não é que seja complexo ou haja enormes decisões nacionais que dificultem a explicação. Antes pelo contrário, nada de substancial acontece na governação.
Os italianos habituaram-se a testemunhar uma discussão permanente por motivos novos que surgem todas as semanas. A maior parte desses motivos actualmente e nos últimos 20 anos estão relacionados com Berlusconi e as suas desventuras. Vai preso? Perde o mandato de senador? Recebe a graça do Presidente Napolitano? Como vai a sua queixa ao Tribunal dos Direitos do Homem? Como dizem os meus “amici”: “non c'è più sacco”.
O governo não aparece, a não ser para anunciar novas “reformas” da educação, da segurança social, decretos “fare” (fazer) que demonstram uma grande sensibilidade social, grande preocupação com a simplificação da burocracia estatal (onde já vimos isto), decretos com vista a combater o violência sobre as mulheres e etc., de grandes causas que não saem do papel. As grandes promessas eleitorais de todos os partidos, reforma da lei eleitoral, custos da política, pagamentos das dívidas do estado às empresas italianas, foram todas metidas na gaveta.
Enquanto discorre a discussão perene, muito mediática e que oferece autênticos espectáculos circenses no parlamento, senado e programas televisivos, o país continua com impostos nórdicos e nível de serviço público grego, a ter uma das mais elevadas dívidas do mundo com um serviço (juros pagos) altíssimo e sem poder reformar ou investir no que quer que seja. Única certeza italiana: o que diz a Alemanha comanda a agenda.
Evidentemente, os políticos deixam correr a situação enquanto a Itália não voltar de novo à ribalta da comunicação internacional. Aí, aparecerão de novo em grandes declarações, mas a discussão e a conflitualidade são de nível tão gravoso que não se conseguirão entender jamais. Nem entre partidos, nem dentro dos partidos, todos profundamente divididos em várias correntes internas. Berlusconi e Grillo conseguem manter uma aparente mas frágil união nas suas hostes.
Face ao panorama governativo, verdadeiramente lastimável, o que faz correr a Itália? Tal como em Portugal, uma “sociedade civil” lutadora, profundamente resistente, que apesar da força que o estado faz para mandar abaixo todos os esforços de crescimento, labuta, produz, vende e distribui a riqueza que ainda vai resistindo ao saque público.
A Itália é o exemplo mais puro de país do Sul da Europa, onde: quanto mais estado menos riqueza. Naturalmente, o governo poderá cair a qualquer momento, dependendo dos caprichos de Berlusconi que continua a impor a sua vontade. Espantoso.
Itália e Aliados face à Síria
Entretanto o governo italiano já afirmou que só participa no ataque à Síria se a ONU sancionar. O que não sucederá. Posição estranha da Itália que terá sempre de dar as bases aéreas e deixar passar os bombardeiros e aviões de reconhecimento dos “aliados”.
Naturalmente o impacto do ataque e da situação internacional será tremendo na situação interna económica e no custo de gestão da dívida.
As contas do estado italiano são como um segredo de estado. Muito se fala em torno das questões supérfluas como a de se Berlusconi vai ou não para a prisão ou perde o mandato de senador, mas o que sucede de facto com os números da gestão pública está inacessível e parece propositadamente ocultado da opinião pública. Depois da gestão de Monti que terá introduzido alguma disciplina, mas que pela dureza da austeridade introduzida, também terá contribuído para agravar o stress, eu esperava que os números começassem a deslizar negativamente. Pelo que Grillo diz abaixo, a situação será muito difícil nos próximos tempos e talvez apenas um novo governo possa ter de fazer vir à luz a real situação das contas públicas.
"Napolitano blinda il governo e nasconde i conti sotto il tappeto. Per la prima volta nel suo mandato, il presidente della Repubblica ha incontrato il ragioniere generale dello Stato. Perché? Ve lo diciamo noi:
- Ammortizzatori: 80 miliardi erogati dall’Inps dall’inizio della crisi tra cassa integrazione e indennità di disoccupazione;
- Cassa integrazione: totale di ore di Cig richieste, da gennaio a giugno, supera il mezzo miliardo;
- Debito aggregato di Stato, famiglie, imprese e banche: 400% del Pil, circa 6mila miliardi;
- Debito pubblico: a giugno 2013 nuovo record a 2.075,71 miliardi di euro, dai 2.074,7 miliardi di maggio; oltre il 130% del Pil. Secondo le previsioni salirà al 130,8% del Pil nel primo trimestre 2014, rispetto al 123,8% del primo trimestre 2012.
- Deficit/Pil: 2,9% nel 2013. Peggioramento ciclo economico Imu, Iva, Tares, Cassa integrazione in deroga lo portano ben oltre la soglia del 3%;
- Disoccupazione: a giugno 2013 si attesta al 12,1%, dato peggiore dal 1977;
- Disoccupazione giovanile: il tasso nel segmento 15-24anni a giugno 2013 e' salito al 39,1%, in crescita di 0,8 punti percentuali su maggio e di 4,6 punti su base annua;
- Entrate tributarie: a maggio -0,7 miliardi rispetto allo stesso mese di un anno fa (a 30,1 miliardi, -2,2%). Nei primi 5 mesi del 2013 il calo è dello 0,4% rispetto ai primi 5 mesi del 2012;
- Gettito Iva: -6,8% nei primi 5 mesi del 2013, un vero disastro;
- Insolvenze bancarie: quelle in capo alle imprese italiane hanno sfiorato a maggio 2012 gli 84 miliardi di euro (precisamente 83,691 miliardi).
- Manifattura: indice Pmi resta sotto i 50 punti, linea di demarcazione tra espansione e contrazione;
- Neet: 2,2 milioni nella fascia fino agli under 30, ragazzi che non studiano, non lavorano, non imparano un mestiere, totalmente inattivi;
- Pil: nel secondo trimestre il prodotto interno lordo dell'Italia ha subito una contrazione dello 0,2% dopo il -0,6% nei primi tre mesi dell'anno. Comparando il secondo trimestre del 2013 con gli stessi mesi dell'anno precedente il calo è -2,0% (fonte: Eurostat. S&P ha abbassato la sua previsione di crescita 2013 per l'Italia, a -1,9% rispetto al -1,4% previsto a marzo 2013 e al +0,5% stimato a dicembre 2011. Il Fmi ha tagliato le stime del pil Italia 2013 a -1,8%. Nel 2012 il Pil ha subito una contrazione di -2,4%;
- Potere d'acquisto delle famiglie: -2,4% su base annua, -94 miliardi dall’inizio della crisi, circa 4mila euro in meno per nucleo;
- Precariato: contratti atipici per il 53% dei giovani (dato Ocse);
- Prestiti delle banche alle imprese: -5% su base annua nei mesi da marzo a maggio. In fumo 60 miliardi di prestiti solo nel 2012;
- Produzione industriale : crollata -17,8% negli ultimi dieci anni, su base annua è in calo -2%;
- Ricchezza: bruciati circa 12 punti di Pil dall’inizio della crisi, 200 miliardi circa;
- Sofferenze bancarie: a maggio 2013, secondo il rapporto Abi, le sofferenze lorde sono risultate pari ad oltre 135,7 miliardi di euro, 2,5 in più rispetto ad aprile 2013 (+22,4% annuo);"
O que eu penso sobre o actual governo e situação italiana, como estrangeiro residente, fica bem descrito nas palavras de Gad Lerner, jornalista de intervenção posicionado à esquerda e com grande fé no Partido Democrático e no actual primeiro-ministro:
DOMENICA, 5 MAGGIO 2013
E atentem no primeiro comentário ao post:
Cari compagni di sventura è inutile prendersela con il Buon Letta. Sono finiti i soldi! Chiunque ci governi,(salvo Gesu Cristo che moltiplicava i pani ed i pesci) ci accompagnerà progressivamente verso la povertà fino ad incontrare il livello dei popoli emergenti del terzo mondo. Non a caso Grillo teorizza la decrescita felice, magari,sarà sicuramente infelice. Siamo come i polli di Renzo 1. La apparente ripresa del Giappone e dgli USA è drogata dalla liquidità creata stampando moneta. Attualmente il debito pubblico complessivo degli stati sovrani è 11 volte il PIL mondiale. La bolla finanziaria esploderà come una bomba atomica, quanto prima, è solo questione di tempo!"
Sabemos onde estamos.
1: "I polli di Renzo" ou "os frangos de Renzo" lutavam inutilmente entre si antes que inevitavelmente lhes fosse cortado o pescoço.
Na imagem, o "Onorevole" Maurizio Gasparri do PDL partido de Berlusconi, à entrada do parlamento durante a eleição do novo presidente da república italiana, “saúda” os simpatizantes do Movimento 5 Estrelas.
Pois é, a Itália tem um novo governo que segundo li em certos blogs e jornais portugueses é reconhecido como um “governo de união nacional”. Nada mais erróneo. O novo governo é a solução de recurso do PD e do PDL de Berlusconi para conter com uma almofada de tempo a evolução perigosa do Movimento 5 Estrelas. Como eleições agora representavam para aqueles partidos um risco demasiado grande de vitória de Grillo que ainda é o primeiro partido nas intenções de voto, os dois antagonistas crónicos resolveram criar um “governissimo” como aqui se diz.
As fragilidades são enormes e as dissensões já começaram com alguns ministros a dizerem que a retirada do imposto IMU (correspondente ao português IMI) não era possível na totalidade. Berlusconi diz que ou é cancelado o imposto como prometido por Enrico Letta (o novo primeiro-ministro) ou o PDL não apoia o governo e retira os seus ministros.
É evidente que é um governo de recurso, nascido apenas com o propósito de aguentar a situação e que será incapaz de reformar o que quer que seja. Tudo normal para a Itália portanto.
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