Este post será curto justamente porque quero seguir o bom senso que o título sugere.
Vem este a propósito de uma notícia do Público sobre a não validação de dois candidatos à Administração da Parque Escolar pela Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública (CRESAP), criada em 2012 para avaliar gestores públicos e dirigentes do Estado.
Esclareça-se que não conheço os candidatos em causa nem tão pouco as suas comepetências profissionais e sou favorável à existência de um crivo de avaliação e imparcialidade na apreciação de curricula para este tipo de cargos.
Mas não posso achar normal que as avaliações feitas - e que deliberadamente não repito - sejam publicadas em jornais, expondo despudoramente os candidatos, com potenciais consequências negativas para as suas carreiras.
Ou terá a CRESAP, para além de um legitimo papel avaliador dos candidatos, a missão de proclamar a moralidade - ou alegada falta dela- dos que são propostos aos cargos?...
Na sequência do que escrevi aqui, fiquei inquieta com uma nova reflexão que de seguida enunciarei.
Surgiu da circunstância de estar em casa a ver as notícias - em particular aquela em que a FNE anunciava que "vai aderir à greve de professores às avaliações e no primeiro dia de exames nacionais do ensino secundário" - no mesmo momento em que uma das minhas filhas, que está no 6.º ano e vai fazer exames nacionais, me entregava uma carta do colégio onde estuda, a dar nota das aulas de preparação para esses mesmos exames, precisamente nos dias de greve.
Vamos então por partes:
E eis que chego então à reflexão de ontem à noite: os alunos das escolas privadas estão salvaguardados. Só os alunos da escola pública - estatal, para ser rigorosa - serão potencialmente afetados.
Gritante desigualdade. Será esta greve anti-constitucional?...
Está marcada uma greve de professores para o primeiro dia de exames nacionais de 12.º ano. Calha a ser o dia do exame de Português - só um dos exames que movimenta mais alunos.
Segundo o Público: "Os professores não têm nada a perder", declarou Mário Nogueira, presidente da Federação Nacional de Porfessores (FENPROF), no final do encontro que reuniu os representantes dos principais sindicatos nacionais de professores."
Faz sentido. Aliás a escola existe para haver emprego para professores. Os alunos são uma coisa acessória. Parece.
A revolução dos cravos poderia ser sem flor.
Sei-o porque a mãe de uns amigos foi quem, nessa manhã, comprou as flores que, pela mão do mais perfeito acaso, chegaram ao cano da espingarda de um soldado.
A mãe destes amigos - a "patroa" de quem fala a protagonista deste video - comprou flores, cravos, para oferecer aos clientes do seu restaurante, ao pé do Marquês de Pombal, que comemorava um ano no dia 25 de Abril de 1974. Como se deu a revolução, o restaurante não abriu e os cravos foram oferecidos aos empregados.
Improvável patrocínio, ou como o acaso faz história.
Este post é escrito pela mãe de L.
A L é uma menina de 7 anos feliz e bem disposta, que estuda no 2.º ano de um colégio em Lisboa. É uma aluna regular, esforçada e que gosta de aprender.
Hoje foi dia de reunião de pais.
A professora - de quem muito gostamos por que sim, e também porque consegue um ótimo equlibrio entre exigência e suavidade, criatividade e disciplina - apresentou as metas curriculares para Lingua Portuguesa de 2.º ano. Que dizem assim (meus sublinhados):
"Ler em voz alta palavras, pseudo-palavras e textos:
1. Ler pelo menos 50 de uma lista de 60 pseudo-palavras monossilábicas, dissilábicas e trissilábicas (4 sessões de 15 palavras cada).
2. Ler corretamente, por minuto, no mínimo, 35 pseudo-palavras derivadas de palavras.
3. Ler quase todas as palavras monossilábicas, dissilábicas e trissilábicas regulares encontradas nos textos lidos na escola e pelo menos 12 de 15 palavras irregulares escolhidas pelo professor.
4. Decodificar palavras com fluência crescente: bom domínio na leitura das palavras dissilábicas de 4 a 6 letras e mais lentamente na das trissilábicas de 7 ou mais letras.
5. Ler corretamente, por minuto, no mínimo 65 palavras de uma lista de palavras de um texto apresentadas quase aleatoriamente.
6. Ler um texto com articulação e entoação razoavelmente corretas e uma velocidade de leitura de, no mínimo, 90 palavras por minuto."
Este post é escrito pela mãe da L.
A L é uma menina de 7 anos que devia estar a aprender o gozo de aprender. Em quem devia estar a ser estimulado o interesse pelas palavras, pelo que elas permitem falar de nós, dos outros e do mundo. Que são muitas. Que se escrevem de uma determinada maneira. E, claro, que captar tudo isto, torná-lo seu, implica esforço e trabalho.
A professora - de quem muitos gostamos - não devia ter que usar um cronómetro como instrumento de medição do que L, de 7 anos, já aprendeu.
Hoje foi dia de reunião de pais. Aprendi que o mundo é um lugar estranho. E embora consiga dizer isto em breves segundos, o "eco" destas palavras perdura por muito mais do que o tal minuto.
Li ontem esta notícia, sobre Alcides Santos, um gestor de sistemas informáticos que está no desemprego há dois anos e que, ao abrigo do artigo 21 da Constituição - que explicita ter lido integralmente -, reclama o direito de não pagar impostos dada a sua situação limite.
Não sou jurista e reservo para os peritos a avaliação quanto a esta pretensa, de resto entregue na Provedoria de Justiça onde seguramente será bem encaminhada.
Não sou, também, nem mais nem menos do que Alcides Santos, razão pela qual não me arrogo o direito de uma avaliação moralista sobre a sua atitude que, seguramente, terá contornos de desespero.
Mas a reclamação em si, não deixa de me fazer pensar... porque me causa estranheza, por exemplo: as crianças estarão na escola pública - pelo menos a de 15 anos- que é paga através dos impostos; em caso de necessidade de cuidados médicos, a família recorrerá porventura a um serviço público, pago através dos impostos; o próprio sistema judicial que analisará a reclamação é pago através dos impostos...
Mas então a recusa-resistente em pagar os seus impostos, mesmo que por incapacidade financeira real, não é uma quebra deste "contrato social"? Dizer que o Estado não tem cumprido as suas obrigaçoes- "O Governo não está a cumprir com o artigo que assegura o Direito ao Trabalho"- tem uma leitura unidimensional ou terá a consequência extrema, consistente com a decisão, de recusando contribuir também recusar beneficiar?
E se assim for, qual a lógica de solidariedade, de comunidade que subjaz a um Estado?
Confesso a minha estranheza. Confesso também a minha preocupação. Uma sociedade em que nos desvinculamos, deslaça-nos. Não acho que seja esse o caminho.
NOSSOS TEMPOS
(Passeo de las Carmelitas)
OUTROS TEMPOS
(Plaza Mayor)
TODOS OS TEMPOS
(Huerto de Calixto y Melibea)
TEMPOS INTERIORES
(Universidade)
Salamanca, 2013.
O Prof. António Borges terá dito hoje o seguinte:
"O responsável recorda que em 2009, quando o Governo de José Sócrates determinou um aumento do salário mínimo de 426 euros para 450 euros, Manuela Ferreira Leite, então líder do PSD, “teve o cuidado de dizer que as subidas dramáticas no salário mínimo que se fizeram nessa altura iam gerar muito desemprego mais tarde. Avisou e avisou bem e isso custou-lhe muito caro em termos de popularidade.”
Infelizmente, não parece que o contrário seja verdade, isto é: que uma diminuição do salário mínimo possa gerar muito emprego.
Veja-se aliás a correlação entre a queda dos salários reais (na casa dos 6%) e o aumento da taxa de desemprego (a rondar os 17%).
Por isso, esta outra declaração do mesmo Prof. - "O ideal até era que os salários descessem como aconteceu noutros países como solução imediata para resolver o problema do desemprego” é, no mínimo, argumentável, no máximo, escandalosa e, pessoalmente, chocante.
É domingo e hoje termina a exposição de fotografia "Casas Vazias", por Filipe Condado (Museu de História Natural. Sala do Veado).
O Filipe tem uma alma de artista, uma criatividade imparável, um olhar curioso sobre as coisas e uma estética que sempre me impressiona.
É um artista e, para minha sorte, um grande amigo.
Declarando, em consequência, que não sou objetiva, declaro também a beleza destas fotografias que aqui deixo para deleite de quem queira ver:
E, do malomil, uma entrevista para conhecer melhor o Filipe Condado.
Bom domingo.
O anúncio da resignação do Papa Bento XVI, levou-me até este texto, sobre a força da fragilidade...
"Não quero um Deus que se erga na justiça absoluta, no poder ilimitado, na perfeita inteligência. Seria um Deus que não sente a necessidade de se inclinar numa carícia, quando se eleva um gemido de dor. Pelo contrário, o meu Deus é Jesus: que conhece a pressão do medo, a dor da recusa, a paixão do abraço, o calafrio pela carícia dos cabelos embebidos em nardo da mulher pecadora e amorosa.
Um Deus que me concede o direito de ser débil, «cana rachada», frágil como um homem e não hirto como um herói. E não me condena se sou mecha fumegante, mas pega neste meu fio de fumo, presságio de fogo possível, trabalha-o e protege-o, até dele fazer irromper de novo a chama. Não acaba por quebrar a cana rachada que eu sou, mas enfaixa-a como se fosse um coração ferido. Deus da fragilidade."
(Ermes Ronchi, in Tu és Beleza)
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