Quinta-feira, 12 de Julho de 2012

Elites e elites

"Está na moda fazer um retrato estranho dos portugueses. Mimados, 'piegas', mandriões, aldrabões, penduras, dependentes do Estado e dos subsídios. Não me espanto. Este é o retrato perfeito de uma elite que se habituou a viver do ouro do Brasil, das colónias, do condicionalismo industrial, das maroscas com os dinheiros europeus, da troca de favores entre o poder político e económico, das empreitadas das PPP, dos gestores mais bem pagos da Europa servidos pelos trabalhadores que menos recebem, do trabalho barato e semiescravo e de uma completa ausência de sentido de comunidade. De um país desigual."

 

Não percebo bem de que elite está Daniel a falar. A elite que esta notícia refere, constituída por empresários e gestores anónimos, e que é a mesma, ou da mesma massa, que nos anos 60 fez com que Portugal crescesse a taxas asiáticas,  apesar do condicionamento industrial, é demonstravelmente e demonstradamente a parte mais dinâmica do nosso tecido social. Mas não está dependurada no Estado, nem nas colónias (embora venda e invista lá - agora que elas são independentes até pode ganhar mais, que não corre o risco de ser considerada exploradora), nem no orçamento, nem em favores fiscais.

 

O Daniel Oliveira não os conhece, e pelo que deles sabe não os vê com bons olhos: pagam mal, são grunhos de província, não têm formação ... um desastre.

 

Faz mal, o bom do Daniel, que partilha com eles uma preocupação: aquilo que ganham - eles porque o querem guardar para consumo ou investimento, o Daniel porque o quer generosamente distribuir em nome da igualdade.

 

Mas quanto aos outros "empresários", os das PPPs e das empresas públicas majestáticas, e das privadas que vivem em conúbio pornográfico com o Estado, dou-lhe razão.

 

Vamos privatizar e promover a concorrência, então? Não, vamos nacionalizar e substituir a escumalha do Centrão pela nata do BE, do PCP e da parte "sã" do PS - é gente que recebe transfusões de competência e isenção por via ideológica. A esquerda verdadeira, já se vê, é moralmente superior, culta, generosa e muito versada nos arcanos da gestão. 

publicado por José Meireles Graça às 00:49
link do post | comentar
Quarta-feira, 13 de Junho de 2012

Os ladrões do centrão

Daniel Oliveira faz aqui uma extensa objurgatória contra as parcerias público-privadas, dizendo a certo passo, com fina ironia: "O esquema é hoje sobejamente conhecido e toda a gente era contra estas parcerias desde pequenino."


Daniel confunde tudo: Se toda a gente soubesse que as parcerias foram negociadas e renegociadas como foram, toda a gente teria sido contra, e não apenas o PCP e o BE. Mas aquelas pessoas que, como eu, partem do princípio que a gestão privada é mais eficiente do que a pública, pela comezinha e humana razão de que não pomos o mesmo empenho a gerir o que é nosso do que o que pertence a outrem, nada têm a objectar às parcerias enquanto princípio - ainda hoje, mesmo depois do desastre que muitas foram e são.


Um exemplo, unzinho, basta: Se o Estado não tivesse garantido em certas concessões de estradas um certo volume de tráfego, provavelmente não encontraria concessionários porque estes não estariam dispostos a correr o risco - e as estradas não se fariam, não nos queixando hoje de estarem desertas e termos que as pagar. Ou far-se-iam, mas assumindo o Estado o serviço da dívida mais a manutenção. E não é difícil perceber que o BE e o PCP, cuja receita para a crise de 2008 era, como ainda hoje é, mais despesa pública para "criar" empregos e "dinamizar" a economia, patrocinariam a obra que o privado não queria, se houvesse quem emprestasse.


Entendamo-nos: não faltam exemplos de empreendimentos privados ruinosos, tanto pequenos como grandes. Mas a sanção natural para investimentos com o risco mal calculado, ou bem calculado mas com alteração imprevisível de circunstâncias, é a falência. E terem os contratos das PPPs eliminado com engenharias jurídicas o risco para o privado, transferindo-o para a esfera pública, é justamente no que consiste o seu pecado original.


Neste processo houve, é claro, bastante calculismo e alguma corrupção de um lado, e bastante ingenuidade e alguma corrupção do outro. Porém, a referência expressa que Daniel faz a Paulo Campos, tornando extensivo a todos os governantes o mesmo anátema de que Paulo Campos é merecedor, é um salto lógico aventureiro com o propósito transparente de tirar a seguinte conclusão: o pessoal do centrão é, todo ele, desonesto. Nas imorredoiras palavras do próprio: "A ver se nos entendemos: não há, nesta matéria, entre o PS e o PSD, qualquer diferença. Fizeram o mesmo, da mesma maneira, pelas mesmas razões, com as mesmas desvantagens para nós e as mesmas vantagens para eles."


Não está mal como raciocínio. Se os eleitores comprarem a tese, temos comunistas, bloquistas e compagnons de route a enxundiarem o Governo e o aparelho de Estado; nos conselhos de ministros os governantes sentam-se na beirinha das cadeiras, para caberem as asas; e os investimentos serão lucidíssimos, porque não há nada que chegue a um cidadão que nunca investiu um cêntimo para decidir com competência o que fazer com o dinheiro dos outros mais o que em nome deles pede emprestado.

publicado por José Meireles Graça às 22:35
link do post | comentar

Pesquisar neste blog

 

Autores

Posts mais comentados

4 comentários
2 comentários

Últimos comentários

https://www.aromaeasy.com/product-category/bulk-es...
E depois queixam-se do Chega...Não acreditam no qu...
Boa tarde, pode-me dizer qual é o seguro que tem??...
Gostei do seu artigo
Até onde eu sei essa doença não e mortal ainda mai...

Arquivos

Janeiro 2020

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Links

Tags

25 de abril

5dias

adse

ambiente

angola

antónio costa

arquitectura

austeridade

banca

banco de portugal

banif

be

bes

bloco de esquerda

blogs

brexit

carlos costa

cartão de cidadão

catarina martins

causas

cavaco silva

cds

censura

cgd

cgtp

comentadores

cortes

crise

cultura

daniel oliveira

deficit

desigualdade

dívida

educação

eleições europeias

ensino

esquerda

estado social

ética

euro

europa

férias

fernando leal da costa

fiscalidade

francisco louçã

gnr

grécia

greve

impostos

irs

itália

jornalismo

josé sócrates

justiça

lisboa

manifestação

marcelo

marcelo rebelo de sousa

mariana mortágua

mário centeno

mário nogueira

mário soares

mba

obama

oe 2017

orçamento

pacheco pereira

partido socialista

passos coelho

paulo portas

pcp

pedro passos coelho

populismo

portugal

ps

psd

público

quadratura do círculo

raquel varela

renzi

rtp

rui rio

salário mínimo

sampaio da nóvoa

saúde

sns

socialismo

socialista

sócrates

syriza

tabaco

tap

tribunal constitucional

trump

ue

união europeia

vasco pulido valente

venezuela

vital moreira

vítor gaspar

todas as tags

blogs SAPO

subscrever feeds