A publicação pela Direcção-Geral do Orçamento da execução orçamental do primeiro semestre de 2016 é uma boa notícia para toda a gente.
Para os que sabem distinguir que políticas públicas são amigas dos agentes económicos e estimulam o investimento, o emprego e o crescimento, e sabem ler os sinais que chegam da economia e são cada vez mais claros, e percebem que isto é um embuste, e até já conhecem alguns dos truques usados no embuste, como o atraso nos pagamentos, nos reembolsos e nas transferências, é boa notícia. Porque se, como eles estão convictos, isto é um embuste que mais tarde ou mais cedo se vai tornar impossível de continuar a dissimular, também sabem que há quem conseguiu e conseguirá de novo consertar as contas, mesmo que à custa de ainda mais sacrifícios para os portugueses e ingratidão com eles do que durante o conserto anterior. E se isto correspondesse à realidade seria ainda melhor notícia, porque apenas teriam que rever as suas noções de políticas públicas amigas da economia sem sacrifícios adicionais para os portugueses que, actualmente, classificam no domínio dos milagres.
Para os que não têm essa noção mas querem acreditar que as políticas do governo são, além de agradáveis porque lhes devolvem rendimentos e obrigam os ricos a pagar a crise em vez deles, as boas, isto é uma notícia esplêndida, que lhes oferece o conforto de confirmar aquilo em que acreditam por ser mais confortável acreditar. E puxa pelas sondagens.
E para os que sabem que isto é um embuste e participam nele também é uma boa notícia, porque lhes dá tempo de o manterem de pé até, eventualmente, conseguirem provocar uma crise política e a antecipação de eleições antes de ele ser desmascarado, e enquanto as sondagens lhes são favoráveis.
Para os portugueses em geral a notícia não é boa nem é má, porque as coisas são como são e não como são noticiadas. Se for um embuste, são eles que o vão pagar, se fosse verdade eles teriam finalmente um alívio da austeridade que lhes foi imposta quando o governo do José Sócrates gastou o dinheiro até se acabar.
Mas pode ser má, se, comulativamente, for um embuste, se o embuste contribuir para reforçar a popularidade do governo nas sondagens, e se o governo conseguir provocar aleições antecipadas enquanto as sondagens lhe são favoráveis antes de o embuste ser desmascarado pela realidade. Nesse caso, o governo poderia conseguir uma reeleição com uma maioria ainda mais sólida que a actual, que lhe permitisse voltar a governar e manter, durante mais uma legislatura, as políticas inimigas da economia, do investimento, do emprego e do crescimento. A primeira condição é mais do que certa, e a segunda também parece estar a ser. Pelo que o melhor que os que acreditam que se trata de um embuste podem fazer pelos portugueses agora não é denunciar o embuste dando a sua palavra e os seus cálculos contra os do governo. É garantir que o governo não tem qualquer oportunidade nem hipótese de se esquivar a assumir as responsabilidades pelos resultados que a governação está a obter, demitindo-se e provocando a antecipação de eleições antes de a realidade vir ao de cima e revelar o seu embuste e a sua incapacidade para formular e implementar políticas que deixem a economia crescer e proporcionar uma vida mais decente aos portugueses, que vivem dela, e não da retórica nem dos números trocados entre o governo e a oposição.
Ora parece que os partidos da oposição deixaram cedo de apostar na queda do governo e no encurtamento da legislatura, e estão cada vez mais apostados em impedir o governo de fugir antes de enfrentar os reais resultados das suas políticas, mesmo que isso custe, e vai custar, um novo mergulho na crise. Se não em unanimismo, que são partidos muito plurais, pelo menos as lideranças. O que também é uma boa notícia.
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